Relação entre variáveis antropométricas, capacidades físicas, com alcance vertical total em atletas de voleibol |
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Especializando UFSM* Graduando em Educação Física, UFSM** Prof. Dr. do Curso de Educação Física, UFSM*** (Brasil) |
Rodrigo Ghedini Gheller* Lorenzo Lop Laporta* Pablo Schutz de Vargas** Diego Rodrigo Both** Antônio Guilherme Schmitz Filho*** |
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Resumo O voleibol é um dos esportes que mais tem se destacado no cenário nacional. No entanto nos últimos anos passou por algumas reformulações nas regras, as quais deixaram o jogo mais dinâmico e desgastante para os atletas. O objetivo desta investigação foi correlacionar variáveis antropométricas e de capacidades físicas com o alcance vertical total em jogadores de voleibol. Participaram do estudo 11 jogadores de voleibol de uma equipe universitária do Rio Grande do Sul (média de idade 21,5 ± 1,6; estatura 182,7 ± 6,8; massa corporal 84,9 ± 10,1; % de gordura 17,8 ± 7,3). Foi encontrado nível de correlação entre Impulsão Vertical e Impulsão Horizontal de 0,72; Impulsão Vertical e Alcance Vertical Total de 0,45 e entre Estatura e alcance vertical total de 0,72. Concluímos que a estatura foi a variável que mais influenciou no alcance vertical total no grupo pesquisado. Unitermos: Treinamento. Potência muscular. Voleibol.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Devido ao grande sucesso das seleções masculina e feminina de voleibol nas últimas décadas, o esporte tornou-se muito popular no Brasil, e atualmente é o segundo mais praticado no país. O voleibol é um esporte em que a capacidade aeróbia, não tem grande influência na performance do jogador, pois durante o jogo ocorrem períodos de deslocamentos em alta intensidade, intercalados por períodos de baixa a moderada intensidade e por períodos de repouso. No entanto outras capacidades físicas merecem destaque nesse esporte, como por exemplo, a potência muscular de membros inferiores, importante para a realização do salto vertical, pois este permite ao jogador realizar ataque (cortada), o bloqueio, saque em suspensão, levantamento em suspensão, entre outras situações que acontecem durante o jogo. Para Fortunato et al., (1991) e Eom e Schutz (1992), o ataque e o bloqueio, são os principais fundamentos do voleibol atual e os fundamentos que mais contribuem para as equipes vencedoras nas competições, sendo que o sucesso desses dois fundamentos dependem grandemente da potência de membros inferiores para que o atleta atinja a maior altura possível, além da técnica desportiva.
Smith et al. (1992) afirmam que o excelente salto vertical do jogador de voleibol depende da força e da velocidade dos membros inferiores, a potência muscular. A potência muscular possibilita o atleta saltar mais rápido e alto, porque ocorre rápida contração muscular (Tricoli et al., 1994). No entanto a boa técnica desportiva e coordenação motora também otimizam a altura do salto. Boa parte do jogo de voleibol é constituído por saltos, segundo Berriel et al., (2004), na disputa de um jogo de voleibol o jogador realiza em média 470 saltos, 117 por set, estudo realizado durante a Superliga de 2002/2003.
Marques Junior (2001) lembra que no voleibol a maior parte dos saltos acontece de forma oblíqua (salto com trajetória curvilínea), comum no saque em suspensão, cortada dos 3 metros e também na cortada dentro da zona de ataque. Para o atleta atingir a máxima impulsão, ele deve gerar grande velocidade na fase de aproximação para o ataque ou para o saque, e transformá-la em impulsão vertical. Segundo Wilkerson (1985), a corrida horizontal de aproximação, contribui em 36,05% na impulsão vertical para o ataque. O salto em trajetória curvilínea exige do jogador uma boa capacidade de impulsão horizontal, além da impulsão vertical.
O objetivo desta investigação foi correlacionar variáveis antropométricas e capacidades físicas com o alcance vertical total em jogadores de voleibol.
Materiais e métodos
Participaram do estudo 11 jogadores de voleibol de uma equipe universitária que disputou os Jogos Universitários do Rio Grande do Sul no ano de 2009.
Para mensuração da Impulsão Vertical (IV), utilizou-se uma superfície de madeira de cor preta com 30 cm de largura e 4 metros de altura e uma fita métrica no centro e no sentido longitudinal (tábua de marcação), fixada em uma parede. O teste consiste em saltar o mais alto possível. Inicialmente media-se a altura máxima que o atleta poderia atingir sem utilizar impulsão vertical, para isso o atleta posicionava-se lateralmente a esta superfície de madeira com o membro superior em abdução (180°) e junto à fita métrica, com as plantas dos pés em contato com o solo, sem flexionar os joelhos e quadris, e registrava-se o ponto mais alto visualizado na tábua de marcação, estando os dedos sujos de giz para facilitar a leitura. Após o registro da altura máxima, o atleta posicionava-se lateralmente à tábua de marcação, com os joelhos e quadris flexionados, realizando movimentos de balanceio dos membros superiores para auxiliar na impulsão, e saltava o mais alto possível, tocando os dedos na tábua de marcação no ponto mais alto do salto. Não foi permitido qualquer salto ou deslocamento dos pés antes da realização do salto. Cada atleta realizou o salto três vezes, sendo utilizado para o estudo o de valor mais alto. O Alcance Vertical Total (AVT) foi medido como sendo o ponto mais alto que o atleta conseguia tocar a tábua de marcação, contando desde o ponto zero da tábua que está situado junto ao solo.
A avaliação da Impulsão Horizontal (IH) foi realizada em local com solo plano e não escorregadio, o atleta posicionava-se com os joelhos e quadris flexionados, pés ligeiramente afastados e paralelos no ponto de partida, demarcado com o ponto zero da fita métrica fixada no solo. O avaliado deveria saltar, no sentido horizontal, com impulsão simultânea das pernas, objetivando atingir o ponto mais distante da fita métrica, foi permitida movimentação livre dos braços e foram realizadas três tentativas (Neto et al., 2005).
Para análise estatística, foi utilizada análise descritiva para relatar a média e o desvio-padrão. Utilizou-se análise de correlação de Pearson para estimar a relação entre as variáveis e regressão linear. Foi adotado nível de significância p<0,05. Todos os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
As características antropométricas dos atletas estão descrita na tabela 1, através da Média e Desvio Padrão (DP).
Variável (n=11) |
Média e Desvio Padrão |
Valor Mínimo e Máximo |
Idade (anos) |
21,5 ± 1,6 |
19 - 24 |
Massa Corporal (Kg) |
84,9 ± 10,1 |
100,2 – 70,3 |
Estatura (cm) |
182,7 ± 6,8 |
173 - 192 |
% de Gordura |
17,8 ± 7,3 |
9,1 – 25,89 |
Tabela 1. Dados antropométricos dos atletas
Podemos observar grande disparidade quanto aos valores máximos e mínimos, tornando o grupo bastante heterogêneo. Com características antropométricas muito distintas entre os atletas, estas podem ser determinantes no desempenho durante os testes e na quadra.
Na tabela 2 estão os resultados da avaliação da Impulsão Vertical (IV), Impulsão Horizontal (IH) e o Alcance Vertical Total (AVT), representados pela Média e Desvio Padrão (DP).
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Impulsão Vertical (cm) |
Impulsão Horizontal (cm) |
Alcance Vertical Total (cm) |
Média ± DP |
56,6 ± 7,4 |
226,3 ± 21,6 |
288,5 ± 10,4 |
Tabela 2. Resultados da Impulsão Vertical, Impulsão Horizontal e Alcance Vertical Total
No voleibol algumas capacidades físicas como impulsão vertical, horizontal e alcance vertical total são de suma importância e muitas vezes decisivas no desempenho de alguns fundamentos do atleta, como por exemplo no ataque, bloqueio e saque. Estas capacidades físicas são características de jogadores que se destacam em um jogo de voleibol, pois quanto maior for o alcance vertical, mais chances ele tem de realizar efetivamente o ataque, o bloqueio ou saque, além é claro desses fundamentos dependerem da condição técnica do atleta. Em relação à impulsão vertical resultados semelhantes aos nossos, foram encontrados por Porto et al., (2005), (média 54,3 ± 5,1 cm) e Salgado et al., (2007), (média 56,17 ± 7,9 cm), em jogadores de voleibol. Resultados superiores são esperados em atletas profissionais (Kronbauer et al., 2008; Marques Junior, 2005).
Atletas de elite possuem grande potência de membros inferiores, e a impulsão horizontal é outra boa medida para expressar essa capacidade física, em nosso estudo encontramos uma média de 226,3 cm, enquanto que atletas de elite possuem valores mais elevados, Silva e Rivet (1988), encontraram valores médios de 294 cm, em jogadores de voleibol profissional.
Na figura 1 está o resultado da correlação entre impulsão vertical e impulsão horizontal nos atletas de voleibol. Foi encontrada forte correlação (0,72) e diferença estatisticamente significativa para p<0,05 confirmando o citado acima.
Figura 1. Correlação entre Impulsão horizontal e Impulsão Vertical.
* Estatisticamente significativo.
Segundo Tomas e Nelson (2002), há uma alta correlação entre as duas variáveis sendo encontrados valores de correlação entre 0,70 a 0,80.
A figura 2 observa-se a correlação entre estatura e o alcance vertical total, sendo encontrada forte correlação (0,72) e diferença estatisticamente significativa para p<0,05.
Figura 2. Correlação entre Estatura e Alcance Vertical Total.
*Estatisticamente significativo.
Na figura 3 estão os resultados da correlação entre Impulsão Vertical e Alcance Vertical Total, estas duas variáveis tiveram moderada correlação e não houve diferença significativa.
Figura 3. Correlação entre Impulsão Vertical e Alcance Vertical Total
Como já mencionado quanto maior o alcance vertical total, maiores chances tem o atleta de efetuar com sucesso alguns fundamentos, no entanto esta variável depende de alguns fatores, como por exemplo, da estatura, do comprimento dos membros superiores e da capacidade de impulsão do atleta.
Discussão
O voleibol é um esporte que evoluiu muito nos últimos tempos, várias regras foram criadas com o objetivo de deixar o jogo o mais dinâmico possível, no entanto isso exige ao máximo o condicionamento físico dos atletas e cabe ao departamento técnico verificar quais os “pontos” que cada jogador deve aprimorar.
O nível de correlação encontrado entre IV e IH foi forte, Tomas e Nelson (2002), no entanto esclarecem que a pontuação do salto vertical neutraliza a altura da pessoa, pois o alcance em pé é subtraído do alcance do salto, entretanto no salto em distância (horizontal) talvez a pessoa mais alta tenha alguma vantagem, pois não é subtraído nenhum valor referente a estatura.
Em se tratando de equipes de voleibol não-profissional como foi o caso de nosso estudo, as variáveis antropométricas e de desempenho físico podem apresentar grande disparidade entre os jogadores, mesmo entre os que atuam na mesma função, isso torna o grupo bastante heterogêneo (Ferreira e Paula, 2006), acreditamos que esta é uma das causas de algumas variáveis antropométricas influenciarem mais do que as variáveis de capacidades físicas no alcance vertical total e na impulsão vertical. Estes são fatores que tornam necessário um treinamento direcionado as peculiaridades de cada atleta.
Segundo Marey et al., 1991, características antropométricas, principalmente a estatura, tem se tornado determinante para o voleibol, esta variável somada com o comprimento dos membros superiores podem representar um maior alcance vertical total. Resultados similares aos nossos foram encontrados por Massa et al. (2003), na relação entre estatura e o AVT em jogadores de voleibol juvenil. Ainda segundo o mesmo autor na atualidade pode-se observar valores médios de estatura em equipes juvenis maiores que valores médios de equipes olímpicas da década de 70, demonstrando a importância que se dá a esta variável no voleibol contemporâneo.
O % de gordura é outro fator que pode influenciar no desempenho do salto vertical, segundo Tricoli, Barbanti e Shinzato (1994) a gordura corporal representa uma desvantagem ao desempenho, uma vez que não contribui ativamente para a execução dos movimentos, causando uma sobrecarga negativa para o atleta deslocar nas atividades físico-desportivas. A média do % de gordura encontrado em nosso estudo está acima dos valores médios esperados para atletas. Segundo Glaner (1999), o atleta masculino para conseguir um melhor desempenho, geralmente atinge um % de gordura inferior a 12%.
Conclusão
Concluímos que a estatura foi a variável que mais influenciou no alcance vertical total no grupo pesquisado, no entanto ressaltamos que os indivíduos estudados não são atletas profissionais, o que causa grande heterogeneidade quanto a varáveis antropométricas no grupo. Outro fator decisivo para o desempenho da impulsão vertical é o % de gordura, que em alguns indivíduos de nosso estudo ficaram acima do recomendado para atletas. Este estudo demonstra a importância de treinamentos específicos para cada atleta, principalmente onde são encontrados grupos heterogêneos.
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