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Administração oral de isotônico na hidratação de jogadores de futebol

Administración oral de bebida isotónica en la hidratación de jugadores de fútbol

 

Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Bruno Prestes Gomes | Bruno Cattelam Dell’Aglio

Kenji Fuke | Viviani Ruffo de Oliveira

Bruno Prestes Gomes

bruninhogomes_@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi avaliar a forma de hidratação mais adequada para evitar a perda de massa corporal (MC) em jogadores de futebol amador. A amostra foi composta por 10 jogadores amadores de futebol, adultos, do sexo masculino. Os atletas foram divididos em dois grupos (Grupo 1: Hidratados com Bebida isotônicas; Grupo 2: Hidratados com Água). Foi avaliada a massa corporal (MC) dos atletas antes (Pré), no intervalo (Int) e após (Pós) a partida. Observou-se que os atletas tiveram diferentes perdas hídricas, sendo que alguns jogadores tiveram perdas acentuadas de peso corporal devido à desidratação. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas com relação a hidratação em ambos os grupos, porém no grupo que ingeriu bebida isotônica a diferença foi apenas quando comparados a MC Pré x Pós jogo e o grupo que se hidratou com água apresentou diminuição estatisticamente significativa nos períodos Pré x Pós e Int x Pós. Conclui-se que a administração oral de isotônico não foi capaz de evitar a perda de MC durante os 90 minutos de jogo.

          Unitermos: Hidratação. Futebol. Atletas.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Manter um balanço entre a perda e a ingestão de líquidos é de extrema dificuldade devido à absorção intestinal, esvaziamento gástrico e as limitações na freqüência do consumo de líquidos. A hidratação é indispensável pelo fato da água ser necessária para múltiplas funções fisiológicas e do corpo perder água mais rapidamente do que produz (ALBIERO et al., 2005).

    O turnover de água no organismo do indivíduo varia de acordo com o clima, a prática de exercícios e o sexo. A perda de água é em torno de 2 a 4L por dia em indivíduos que habitam em locais de clima ameno e que são sedentários, enquanto um atleta que pratica atividade física em clima quente pode perder mais de 10L de água por dia. A forma dessa perda de água pode ser por diurese, sudorese, respiração e fezes (GUERRA et al., 2005).

    O objetivo da hidratação antes do exercício é o indivíduo iniciar a atividade física hiper-hidratado, ou seja, mais hidratado do que o “normal”. Isto se alcança com a ingestão de água pura ou bebidas esportivas contendo carboidratos e eletrólitos, que, além de hidratarem, aumentam os estoques de carboidratos (BACURAU, 2007).

    Para que ocorra uma reposição de fluídos eficazes, a corrente sanguínea deve absorver a água, fazendo com que a redução de volume sanguíneo e a produção de suor durante um exercício prolongado sejam minimizadas (WILLIAMS, 2002).

    A desidratação é caracterizada por uma excreção excessiva de água em relação ao consumo, o que gera um desequilíbrio hídrico no organismo. Para evitar a desidratação, a reposição de água é fundamental, tendo como objetivo a manutenção do volume plasmático, para que a circulação e a sudorese ocorram perfeitamente (KATCH e MCARDLE, 1996).

    A performance de um jogador de futebol depende de um conjunto de características técnicas, táticas, físicas e psicológicas que devem ser desenvolvidas por profissionais das mais diferentes áreas da sociedade como: dirigentes, professores, empresários, médicos e nutricionistas (LEAL, 2000; SILVA et al., 2005).

    Durante uma partida de futebol o estado crônico de desidratação e o estresse térmico podem diminuir o desempenho e prejudicar o jogador. Com a perda de 5% a 6% do peso corporal, o desempenho do atleta durante jogos ou treinos pode diminuir em até 30%. Se a perda for maior de 5% do peso corporal, pode não se completar entre 48 e 72 horas a recuperação das reservas hídricas. O peso corpóreo depois do jogo pode continuar reduzindo mesmo após 24 horas de ingestão de água e alimentos. A perda pode chegar a 2 litros ou mais de suor por hora, dependendo das condições ambientais durante o jogo (GUERRA, 2005).

    O futebol é um esporte que não possui interrupções regulares durante a partida para que os jogadores possam ingerir líquidos, causando um grande desafio quanto à hidratação, porém é muito importante para a performance dos atletas, o consumo eficaz de líquidos, muitas vezes com o acréscimo de carboidratos e eletrólitos em adequadas concentrações, o que irá minimizar os efeitos da desidratação (RABELLO e KAPAZI, 2005).

    De acordo com Monteiro et al., (2003) o ideal é que um jogador reponha as perdas de líquidos entre as sessões de exercícios, por isso, devem-se educar os jogadores, sobre o quanto é importante uma ingestão de líquidos antes, durante e após uma partida de futebol.

    O objetivo desse trabalho foi verificar se a administração oral de isotônico seria a forma de hidratação mais adequada para evitar a perda de Massa corporal (MC) em jogadores de futebol de campo.

Metodologia

    O Grupo estudado foi constituído por uma equipe masculina amadora de futebol de campo, que consta de 10 atletas ao total, com idade média (21 ± 5,6 anos). Estes atletas foram selecionados intencionalmente por pertencerem a um clube local e por possuírem um programa de exercícios semelhantes. Os dados foram coletados durante uma partida de futebol em Santa Maria-RS, no turno da tarde, com início às 17 horas, com temperatura de 31°C e com umidade relativa do ar de 46%. Todos os jogadores assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), e o estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA (Registro CEP/Unifra: nº: 205.2007.2).

    No início dos procedimentos, 2 horas antes de iniciar a partida houve um rápido sorteio para dividir os 10 atletas em 2 grupos (grupo 1 e grupo 2), sendo que o grupo 1 ingeriu água (grupo controle) e o grupo 2 ingeriu bebida isotônica (Gatorade).

    O sorteio foi feito de tal forma que possibilitou que cada grupo tivesse os 5 jogadores de diferentes posições táticas do time. Cada jogador do grupo 1 ingeriu 500mL de água pura, 2 horas antes do começo do aquecimento, e cada jogador do grupo 2 ingeriu 500mL de bebida esportiva, também 2 horas antes do começo da partida. Antes do início do aquecimento, foi mensurada a massa corporal (MC) de cada atleta com o mínimo de roupas possíveis e essa MC foi registrado em um documento, que constava seu nome, posição tática/nº da camiseta, líquido ingerido, MC antes da partida, no intervalo da partida e após a partida. Durante o primeiro tempo da partida aos 23 minutos de jogo, houve uma rápida pausa para os atletas do grupo 1 ingerirem 250mL de água e os atletas do grupo 2 ingerirem 250mL de bebida esportiva. No intervalo da partida novamente foi MC dos atletas e após essa medida, os atletas do grupo 1 ingeriram 250mL de água pura e os atletas do grupo 2 ingeriram 250mL de bebida esportiva. Durante o segundo tempo da partida aos 23 minutos de jogo, houve novamente outra rápida pausa para os atletas do grupo 1 ingerirem 250mL de água pura e os atletas do grupo 2 ingerirem 250mL de bebida esportiva. Após o término da partida novamente os atletas tiveram um tempo para eliminar o excesso de líquido pela urina, logo em seguida cada atleta foi pesado com o mínimo de roupa possível e teve seu peso corporal anotado no documento.

    Durante os procedimentos foram usadas 13 garrafas de bebida esportiva de 500mL cada e 13 garrafas de água com 500mL.

    Para determinar MC foi utilizada uma balança mecânica pessoal da marca Plenna com precisão de 100g.

Análises estatísticas

    Os procedimentos utilizados envolveram estatística descritiva (médias ± DP). A normalidade dos dados foi analisada através do teste de Shapiro-Wilk e os resultados comparados através da ANOVA para medidas repetidas e confirmadas com post hoc de \tukey. O nível de significância adotado foi de p<0,05, sendo utilizado o programa estatístico STATISTICA 7.0 Stat Soft para analisar os dados.

Resultados e discussão

    De acordo com os resultados obtidos sobre a forma de hidratação mais adequada para evitar a perda da MC em jogadores amadores de futebol de campo, foi observado que os atletas tiveram diferentes perdas hídricas pelos fatores individuais, como: condicionamento físico, aclimatação, características fisiológicas e biomecânicas, e pela variedade de trabalho total realizado durante uma partida. Sendo assim, as formas estipuladas de se hidratar antes, durante e após a partida não foram suficiente para evitar a desidratação dos jogadores durante a partida. A capacidade de se exercitar com alta temperatura por tempo prolongado é reduzida, e nesse caso a fadiga tende a decorrer mais por problemas com a termorregulação e a desidratação que por depleção dos estoques de energia (GUERRA, 2005).

    Estudos mostraram que maratonistas de elite durante uma competição sofrem com freqüência, perdas de líquidos acima de 5 litros, que representam entre 6 a 10% da massa corporal. Em jogadores de futebol, ocorreu uma perda média de 2 litros de líquidos durante uma partida de 90 minutos realizada em clima temperado, com temperatura de 10°C aproximadamente (McARDLE et al., 2001).

    Como mostra as tabelas 1 e 2, os jogadores de ambos os grupos tiveram perdas acentuadas de MC durante os 90 minutos de jogo de devido a desidratação.

Tabela 1. Distribuição das MC antes, no intervalo e após a partida de futebol (grupo 2), e a quantidade de MC perdido durante a partida de futebol

 

Tabela 2. Distribuição das MC antes, no intervalo e após a partida de futebol (grupo 1), e a quantidade de MC perdido durante a partida de futebol

    Os resultados encontrados no presente estudo mostram uma perda acentuada de MC em ambos os grupos, ou seja, as ingestões de água e isotônico não foram suficientes para evitar a perda MC, consequentemente, a desidratação. Perdas hídricas da ordem de 5% do peso corpóreo diminuem a capacidade física em 30%, se a desidratação progredir com perda de água acima de 7%, ocorre risco de colapso circulatório e, em extremo, a hipertermia pode ocasionar choque térmico e levar à morte. Uma perda leve a moderada de 2% a 4% do peso corpóreo em clima quente, resulta em significativa diminuição da capacidade aeróbica máxima (GUERRA et al., 2005).

Figura 1. Efeito da administração de água na MC (Pré, Intervalo e Pós jogo). Valores apresentados em média+DP. ANOVA para medidas repetidas 

completadas com post hoc de Tukey. Símbolos foram empregados para indicar tais diferenças: a(Pré x Int), b(Pré x Pós), C(Int x Pós) com p≤ 0,05

 

Figura 2. Efeito da administração de bebida Isotônica na MC (Pré, Intervalo e Pós jogo). Valores apresentados em média+DP. ANOVA para medidas repetidas 

completadas com post hoc de Tukey. Símbolos foram empregados para indicar tais diferenças: a(Pré x Int), b(Pré x Pós), C(Int x Pós) com p≤ 0,05

    Os resultados deste estudo corroboram com os encontrados por Rabello e Kazapi (2005) no quais os jogadores de um mesmo time também apresentaram padrões de perda hídricas bem diferentes entre si, o que mostra diferença no condicionamento físico e biótipo de cada atleta. Sendo assim, torna-se importante criar uma forma de hidratação padronizada e individual para cada atleta com o objetivo de minimizar os efeitos prejudiciais da desidratação.

    A administração de ambos o líquidos (água e isotônico), não foram capazes de amenizar a perda de MC levando os jogadores a um estado de desidratação, o que pode vir a ocasionar diminuição do rendimento atlético e outras complicações de ordem fisiológicas. Porém os resultados mostram que o grupo que ingeriu isotônico apresentou diferença estatisticamente significativa apenas do Pré x Pós, enquanto que o grupo que ingeriu água apresentou diferença estatisticamente significativa do Pré x Pós e do Int x Pós indicando um maior nível de desidratação.

    Em estudos de revisão McArdle et al., (2001) apontam que uma pequena quantidade de sódio presente em uma bebida esportiva torna possível uma reidratação mais completa do que com água potável ocasionando a retenção pelo corpo do líquido ingerido, e Bertolucci (2002) explica que os benefícios do consumo de bebidas esportivas quando comparados a água, dependem da quantidade de fluído ingerido, do tempo que o líquido leva para ser esvaziado do estômago e quanto tempo leva para ser absorvido no intestino.

    É importante ressaltarmos que os líquidos administrados nesta pesquisa não foram comparados entre si. Assim, os resultados encontrados no presente estudo são de extrema importância, pois servem como ferramenta prática para que os preparadores físicos ou os nutricionistas levem em consideração a questão da hidratação no futebol, sendo este um fator importante em se tratando de melhoria de desempenho na modalidade.

    Uma possível limitação do estudo pode ser atribuída ao fato de não ter sido controlado a dieta alimentar dos atletas, a ingestão de cafeína e álcool (pré-teste). Nessa direção, considerando as limitações do desenho adotado neste estudo, sugere-se a realização de novos trabalhos com controle de outras variáveis e com a adoção de análises comparativas entre água e isotônico a fim de definir os níveis de eficiência, e também correlacionar a perda me MC com as posições dos jogadores para analise mais fidedigna de tais evidencias.

Conclusões

    De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que as formas estipuladas de hidratação avaliadas nesta investigação (água e isotônico), não foram suficientes para evitar a perda de MC dos jogadores durante a partida de futebol de campo.

    Embora o isotônico não tenha apresentado eficácia no estudo proposto, os resultados encontrados no grupo 1 mostraram-se promissores em se tratando de hidratação no futebol, ou seja, o isotônico foi capaz de atenuar (Int x Pós) a perda de MC.

Agradecimentos

  • Ao Esporte Clube Atlético pela concessão do grupo de estudo.

  • Ao Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, por tornar possível esta pesquisa.

Referências bibliográficas

  • ALBIERO, K. A.; STÜRMER, K.; KAZAPI, I. A. M. Aspectos para minimizar os efeitos adversos da prática esportiva no calor. Rev Nutrição em Pauta, São Paulo, v.13, n.72, p.19-24, mai/jun.2005.

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  • RABELLO, F. H.; KAZAPI, I. M. Avaliação das perdas hídricas e necessidades de hidratação em jogadores profissionais de futebol da cidade de Florianópolis-SC. Rev Nutrição em Pauta, São Paulo, v.13, n.75, p.48-53, nov/dez.2005.

  • SILVA, A. S. R. da et al. Comparação entre métodos invasivos e não invasivo de determinação da capacidade aeróbia em futebolistas profissionais. Rev. Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v.11, n.4, p.233-237, jul/ago.2005.

  • WILLIAMS, M. H. Nutrição para saúde, condicionamento físico e desempenho esportivo. 5.ed. São Paulo: Manole, 2002.

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