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Análise das abordagens teórico-metodológicas da 

Educação Física escolar crítico-superadora e promoção da saúde

Análisis de los abordajes teórico-metodológicos de la Educación Física escolar crítico-superadora y la promoción de la salud

 

Graduado em Educação Física. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Pós-graduando (especialização) em Educação Física Escolar

pela Universidade Católica de Brasília

Wagner Barbosa Matias

wagneruesb@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física Escolar possui duas propostas teórico-metodológicas sistematizadas: crítico-superadora e promoção da saúde. Para este estudo têm- se como objetivo analisar estas propostas, explicitando suas lacunas e contradições. Como metodologia utilizou a pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo. Para desenvolver a discussão crítica, foram criados dois blocos de categorias: 1ª- quanto à concepção de: sociedade; escola; estudante; professor; educação física. 2ª- quanto à organização do trabalho pedagógico das propostas: objetivo; conteúdo; metodologia; avaliação. Com as reflexões desenvolvidas percebe-se a necessidade de construção de uma nova síntese, a partir da realidade dos professores.

          Unitermos: Promoção da saúde. Crítico-superadora. Escola.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Apontamentos iniciais

    Alves (2004) desenvolveu uma reflexão crítica sobre a proposta da promoção da saúde, para tanto selecionou as seguintes categorias para análise: 1) Aptidão física e força de trabalho; 2) Estado/ Saúde; 3) Homem/ Corpo e 4) concepção de EF. Já para este texto foi criado dois grandes blocos de categorias, onde subdividem em outras para serem analisados. As categorias são: quanto à concepção de: Sociedade; Escola; Estudantes; Professor; Educação Física. E quanto à organização do trabalho pedagógico: Objetivo; Conteúdo; Metodologia; Avaliação.

    O objetivo deste trabalho é realizar um diálogo crítico com a literatura sobre as abordagens, buscando as lacunas e contradições. Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico, de caráter exploratório sobre metodologia do ensino da Educação Física.

Proposta crítico–superadora

    Nesse momento aprofundaremos algumas questões que são necessárias para a compreensão desta obra em sua totalidade.

Visão de sociedade

    Nas sociedades de classe, como é o caso do Brasil, o movimento social se caracteriza, fundamentalmente, pela luta entre as classes sociais a fim de afirmarem seus interesses (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.23). Os autores acreditam que a sociedade seja formada pelos conflitos de interesses das classes sociais em todos os espaços.

    A presente proposta analisada alinha–se com os interesses da classe trabalhadora, pois segundo eles a perspectiva hegemônica de EF que vigorava até inicio dos anos 90 não mais conseguia explicar as nuances da prática social construída pelos seres humanos. Entretanto, tem-se claro que muitos dizem defender os interesses dos assalariados, os anarquistas, os sociais democratas, mas isso não que dizer que defendam a verdadeira transformação social.

Concepção de Escola

    A escola é o espaço que pode contribuir tanto para afirmação dos interesses da classe dominante ao reproduzir seus valores- individualismo, a seleção dos mais aptos, a competitividade, etc.- quanto para questioná-los. Como abordagem crítico-superadora diz que defende um projeto socialista, a escola na proposta configura-se em mais um espaço de resistência a expansão dos valores dominantes e para a construção do conhecimento em vista a superação do atual status quo. Isto fica evidente quando colocam que defendem “[...] para escola uma proposta clara de conteúdos do ponto de vista da classe trabalhadora, conteúdo este que viabilize a leitura da realidade estabelecendo laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 63).

    A escola na perspectiva da proposta deve apropriar do conhecimento cientifico, dando–lhe um tratamento metodológico de forma a facilitar a compreensão do aluno. Por isso, os autores crêem que na escola todas as disciplinas só terão sentido pedagógico à medida que “seu conhecimento” articular aos diferentes conteúdos das outras disciplinas (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Concepção de estudante

    Inicialmente percebemos que os estudantes que estão nas escolas serão vistos pelos críticos superadores como membros de uma determinada classe social. Portanto, o livro acredita na “[...] formação do sujeito histórico à medida que lhe permite construir, por aproximações sucessivas, novas e diferentes referências sobre o real no seu pensamento”. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 34). Apresenta-se aqui um equivoco do coletivo de autores, uma vez que, sob o ponto de vista marxista não há sujeito histórico, mas sujeitos históricos construindo seus “destinos”, ou melhor, sua história coletivamente .

    O Coletivo de Autores ressalta que os alunos são “pessoas concretas, com níveis de aspiração, interesses e motivações diferenciados. O que faz que cada atribua um sentido pessoal ao jogo, à ginástica, a dança etc. [...]” (1992, p. 86). Os críticos reprodutivistas também acreditam que cada ser humano possui características diferentes, o livro apenas confirma o óbvio.

Concepção de Professor

    No início do livro os autores caracterizam um professor com vários problemas, no entanto, para este professor trabalhar na perspectiva crítico–superadora necessita ser um “polivalente do conhecimento”. O coletivo de autores acredita que o docente de EF necessita ter o domínio de conhecimento de várias áreas do conhecimento (história, fisiologia, sociologia, biomecânica, etc.). A obra exige uma formação docente para os professores que nem os cursos superiores possibilitam.

    Além de ser um docente que deve ter a facilidade de transitar facilmente entre as várias áreas do conhecimento, este deve ser aquele que medie o processo de construção do conhecimento por partes dos estudantes. O mediar da obra é direcionar a reflexão para a superação dos valores da sociedade capitalista.

    Como os autores crêem na existência da luta de classes e inclusive dizem que defendem os interesses dos trabalhadores, logo, os professores das escolas também devem possuir a mesma linha de pensamento. Como coloca Rocha Junior “[...] é possível acreditar que o livro não se coloca aberto a quem pense em outra perspectiva ou mesmo que não possua domínio sobre a lógica marxista”. (2000, p.33).

Concepção de Educação Física

    Na proposta a EF é vista como prática pedagógica que através da reflexão sobre a cultura corporal, realiza uma ação pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que os seres humanos constroem no decorrer da história, exteriorizados pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.38).

    Na perspectiva da abordagem crítico-superadora o conhecimento é tratado de forma que possibilite os estudantes à compreensão dos princípios da lógica dialética materialista: totalidade, movimento, mudança qualitativa e contradição (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.40). Ver-se mais um marco normativo da obra. Pois, como uma criança poderá, em sua juventude, compreender a ordem mundial se passou, pelos menos mil horas por ano, inerte frente à "tela trágica" produzida pelos curtos circuitos eletrônicos dos sistemas televisivos burgueses? Encharcada durante anos e anos pelo “veneno” ideológico dos enlatados estrangeiros, invariavelmente norte-americanos, destruída em suas singularidades e globalizada em desejos, necessidades do capital, essa criança tem todas as chances de crescer e, certamente, crescerá carregando as marcas indeléveis de uma sociedade retrógrada.

Proposta da Promoção da Saúde

    A obra de Guedes e Guedes está pulverizada em vários artigos contudo, o foco da abordagem é possibilitar os estudantes o conhecimento sobre a saúde biológica.

Concepção de sociedade

    Os autores percebem a sociedade como um organismo vivo que passa por problemas patológicos, principalmente relacionados ao aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT's) que crescem com as transformações tecnológicas da modernidade. Segundo Ferreira o texto de Guedes e Guedes “transparece a idéia de que o todo (organismo social) é positivo e funcional, não devendo ser questionado; há, entretanto, uma definição neste causada, digamos, pela não incorporação de estilos de vida ativos [...]” (1997, p. 214).

    Os autores confirmam isso quando abordam que no momento atual em que há uma maior mecanização das tarefas do cotidiano destinadas ao ser humano vem induzindo modificações significativas nos padrões de vida de toda a população, registrando uma grande incidência do fenômeno da hipocinesia entre as pessoas, e, em conseqüência o aparecimento das chamadas doenças da civilização. (GUEDES e GUEDES, 1994, p. 6).

    Acreditam que o quadro doentio da sociedade traçado por eles no artigo poderá ser revertido a partir do momento que os programas de EF começar preparar os estudantes para um estilo de vida permanentemente ativo. Essa visão é algo que está sendo reproduzida também na Europa e no restante da América latina, que é o chamado processo de medicalização da sociedade, onde os problemas sociais são pensados como doenças (CARVALHO, 2001, p.82 apud GARCIA, 1983).

    Em síntese, podemos constatar que os autores assumem uma suposta neutralidade cientifica, fato que gera uma naturalização das dificuldades da sociedade e assim buscam negar a existência da luta de classes.

Concepção de Escola

    Guedes e Guedes apontam à necessidade de toda a escola organizar programas de ensino que desperte em todos os estudantes à atitude consciente de adoção de um estilo de vida saudável (1994, p. 4). Ver-se que os autores percebem a escola como um veículo que deve colaborar para conscientizar os estudantes para a prática regular da atividade física e a adoção de hábitos de vida saudáveis não possibilitando a estes uma leitura das contradições existentes na sociedade.

    A abordagem da promoção da saúde, possui fortes aproximações com a perspectiva tecnicista de educação. Assim, a escola “ajudara” aos estudantes a inserir no mundo do trabalho adestrando– os através de seu currículo.

    As disciplinas na percepção dos autores devem alicerçar na valorização e relevância de seus objetivos em direção a uma formação integral e consciente dos educandos, despertando neles a consciência para a necessidade deles se adequarem ao momento histórico em que vivem fazendo com que sejam portadores de uma capacidade crítica e reflexiva ajustada a uma sociedade moderna e democrática. (GUEDES e GUEDES, 1994, p. 6).

    Em síntese, percebe-se que apesar dos autores não deixarem explicito um projeto político pedagógico para a escola, é possível identificar nas entrelinhas do texto um direcionamento da escola para a consolidação dos interesses imediatos e históricos burgueses, pois concebem a escola simplesmente como um mosteiro isolado das nuances sociais.

Concepção de Professor

    Como possui princípios da pedagogia tecnicista, a abordagem da promoção da saúde possui como foco central a organização dos meios de aprendizagem, ficando em posição secundaria o professor e o aluno (SILVA, p.11). Assim, o professor de EF seria um mero organizador de atividades físico– desportivas que possibilitaram os discentes e toda a população a conhecerem e aderirem os supostos estilos de vida saudáveis.

    O docente será aquele que desenvolverá meios para os estudantes possuírem as informações precisas quanto às respostas e adaptações fisiológicas do organismo ao esforço físico, os efeitos e o significado para a saúde, dos diferentes programas de atividades motoras (GUEDES e GUEDES, 1994, p. 7).

Concepção de Estudante

    Os estudantes são vistos na proposta como seres simplesmente com características biológicas, tanto que defendem a necessidade dos programas de EF serem repensados pelo fato de que não mais que 15% das crianças e adolescentes conseguem apresentar as exigências motoras mínimas para um critério de saúde satisfatória ou ainda porque cerca de 13% a 15% já demonstram índices de adiposidades elevados (GUEDES e GUEDES,1994, p. 4).

    Além disso, os discentes na proposta são percebidos como adultos em miniatura que desde a infância devem ser preparados para vida adulta, sendo simples receptores de informações “seres sem luz”, que devem reproduzir os conhecimentos recebidos no processo de ensino–aprendizagem, organizado pela escola.

Concepção de Educação Física

    Alves crer que a EF na perspectiva da promoção da saúde possui grande proximidade com os princípios higiênicos, principalmente na visão de sociedade- capitalista associada aos ideais liberais. Para ela trata–se de uma EF fragmentada, fruto de um processo fragmentário que a constituiu (2004, p. 49).

    A concepção dos autores da EF na escola seria aquela disciplina responsável por preparar os estudantes para terem melhores estilos de vida e por isso Guedes e Guedes anunciam que os programas de EF não podem ficar na superficialidade das atividades praticas, mas sim aprofundar numa base de conhecimento que pudesse oferecer aos educandos o acesso à informação dando oportunidade para eles terem o domínio de conceitos e referenciais teóricos que subsidiam a vivência das atividades físicas.

    Sabe–se que a EF desde sua gênese possui fortes vínculos com a área médica, e uma visão de mundo cartesiana. Séculos passaram e com eles novas roupagens dessas relações foram construídas, como as terminologias de estilo de vida e promoção da saúde. No entanto, as bases que alicerçam essas teorias continuam com os mesmos princípios da perspectiva cientifica positivista ligada aos interesses burgueses.

Quanto à organização do trabalho pedagógico

    Toda a ação dos seres humanos requer planejamento, seja para realizar a mais simples atividade ou até aquela mais complexa, portanto neste tópico iremos tratar acerca dos elementos que atinge diretamente o professor que está na escola, ou seja, abordaremos os elementos que constituem o plano de aula do docente. Diferentemente do bloco anterior de categorias, nesse será discutido a percepção de objetivo, conteúdo, procedimentos metodológicos e avaliação em um único texto, até mesmo para consolidar que um depende do outro.

Proposta Crítico-Superadora

    Como a abordagem não amarra uma seqüência de objetivos, de conteúdos, de procedimentos metodológicos e de instrumentos de avaliação para a EF, apresenta-se apenas como eles pensam sobre esses elementos. Sem dúvida, essa é mais uma das lacunas da obra, pois está foi construída justamente para alicerçar a prática pedagógica do professor, e no entanto, fica muito mais nos apontamentos superficiais.

    Os autores expõem que o professor de EF trabalhando na perspectiva da Cultura Corporal deveria promover uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo exteriorizado pela expressão corporal: jogos, dança, capoeira etc. (COLETIVO DE AUTORES, 1992,p. 38).

    Resende e Soares comentam que a EF na abordagem crítico-superadora possui como objetivo geral:

    Possibilitar aos alunos a vivência sistematizada de conhecimentos/ habilidades da cultura corporal, balizada por uma postura critica, no sentido da aquisição da autonomia necessária a uma prática intencional e permanente que considere o lúdico e os processos sócio – comunicativos, na perspectiva do lazer, da formação cultural e da qualidade coletiva de vida (1996, p.4).

    Ver-se que a proposta do Coletivo de Autores estabelece para a EF a obrigação desta contribuir para que os estudantes apropriem das diversas manifestações em suas várias dimensões de forma crítica, percebendo– as contradições sociais que existem na sociedade. No entanto, esse objetivo é extremamente difícil de ser concretizado no atual modelo social, uma vez que, a escola constitui num aparelho ideológico do Estado, logo é ele que dita como a educação institucionalizada deve ser desenvolvida.

    Em relação ao conhecimento a ser tratado na escola, percebe-se que a EF ao longo dos anos priorizou como conhecimento às manifestações esportivas e a ginástica com ênfase nos aspectos motores. Na abordagem crítico-superadora outras manifestações são incorporadas (jogo, capoeira, dança, mímica, música, etc.), sendo elas nessa perspectiva tratadas em todos os seus aspectos, apesar de um certo preconceito da proposta com a dimensão biológica/motora do homem.

    O Coletivo de Autores não estabelece um programa fechado para EF, não definem uma seqüência de conteúdos e nem quais devem ser, apenas citam alguns com suas possíveis formas de distribuição nos ciclos de escolarização. “Os conteúdos da cultura corporal a serem apreendidos na escola devem emergir da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno”. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 87).

    O professor para trabalhar os conhecimentos da cultura corporal com os estudantes não precisaria de um espaço definido. Os autores apenas defendem que a aula seja um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a apreensão do estudante do conhecimento especifico da EF (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.87). Este é mais um engodo da proposta. Além disso, ver-se também nessa passagem do livro mais uma contradição dos autores, uma vez que, nela defendem que os professores trabalhem apenas os “conhecimentos específicos” da EF, perdendo a totalidade da dialética, que dizem acreditar, ao fragmentar o conhecimento “especifico” e o que chamamos de conhecimentos “gerais”.

    Resende e Soares comentam que nessa abordagem as aulas são desenvolvidas através do dialogo entre os professores e os discentes, centrando num processo de co – decisão, em que o docente decide e sistematiza a proposta a ser trabalhada, a partir da mediação entre as experiências e expectativas concretas dos estudantes (1996).

    Os professores trabalhando com a crítico-superadora iniciam as suas aulas com a problematizarão, apresentação, justificativa dos objetivos a serem atingidos e levantamento (discussão e prática) das experiências, expectativas e dificuldades dos estudantes, depois a vivência das atividades planejadas e por fim a avaliação coletiva (professor e alunos), apontando possibilidades para as próximas aulas.(RESENDE e SOARES, 1996). Sem dúvida, esta é uma forma positiva para o professor trabalhar, mas não pode ser ingênuos e nem esquecer que existem turmas diferentes, com características próprias. Têm-se o exemplo do professor de EF que ministra aulas para crianças de 1ª a 4ª ele dificilmente conseguirá realizar o que coloca Resende e Soares.

    Por fim a avaliação, que constitui num processo ou uma ferramenta indispensável na educação. “Se traçarmos determinados objetivos tem que saber se eles foram alcançados ou não, se ocorreu erro, onde ele aconteceu, [...], sem a avaliação corre – se o risco de repetição burra de aulas mecanizadas”. (RIBEIRO,1996,p.6). Assunção e Xavier Neto acreditam que ela implica em conhecer a realidade, traçar planos de ação e ampliar referências reflexivas críticas sobre a formação humana (2003, p.37).

    O Coletivo de Autores dedicou um capítulo exclusivamente sobre avaliação. Segundo eles, ela “é muito mais que simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos” (1992, p.98).

    Resende e Soares corroboram com a posição dos autores da abordagem crítico-superadora e expõem que a avaliação na perspectiva da cultura corporal não deve ter o caráter somativo, ou seja, conferir notas e conceitos que impliquem na aprovação ou reprovação dos alunos. No entanto, essa concepção não dispensa o professor da necessidade de submeter os alunos a diferenças técnicas e instrumentos de medida/avaliação, no sentido de constatar e fornecer informações sobre o grau de assimilação dos conhecimentos/habilidades que foram socializados (1997, p.6).

    No entanto, eles não conseguiram construir uma proposta de avaliação diferente, apenas lançou alguns apontamentos de como esta poderia ser desenvolvida pelos professores algo superficial.

Proposta da promoção da saúde

    Guedes e Guedes (1994 apud FERREIRA, 1997, p.212) propõem a educação física o objetivo de proporcionar “[...] informações precisas e seguras quanto às respostas e adaptações fisiológicas do organismo ao esforço físico, os efeitos e o significado para a saúde, dos diferentes programas de atividades motoras”. Ver-se que a abordagem da promoção da saúde direciona para a EF a preocupação com o aspecto biológico do ser humano, fato que levanta o questionamento sobre a relação da EF e a proposta das escolas de formação do cidadão. Sabe– se que é cada vez maior a preocupação com a qualidade de vida, mesmo que seja para alguns setores possuírem mais lucros. Mas, para além das contribuições dos professores de EF no combate do sedentarismo de grupos populacionais, o que eles poderiam esta fazendo para a formação dos cidadãos que outras disciplinas não poderiam sozinhas?

    Essa é uma questão relevante que os professores necessitam refletir. Guedes e Guedes, por exemplo, não ver a importância da EF tratar dos grandes problemas sociais e não valoriza as manifestações culturais (capoeira, dança, esporte) como conhecimento construído historicamente pelos homens em suas relações. Para eles o essencial é a formação de hábitos de vida saudáveis, mesmo quando muitas das crianças vão para a escola simplesmente por causa da alimentação escolar. Resende e Gonçalves (1996) comentam que no Rio de Janeiro tem sido comum as escolas ficarem vazias nos dias que não possuem a merenda escolar, pois a maioria das escolas públicas são compostas de estudantes das camadas populares, aqueles que mais sofrem as desigualdades sociais.

    Em síntese, têm que os autores restringem o papel da EF em passar informações, sobre a atividade física, aptidão física e saúde da mesma forma que os veículos de comunicação já o fazem. Estes aspectos devem estar no programa curricular da EF, no entanto, diferentemente dos meios de comunicação à escola possuir como principio e objetivo a promoção da reflexão critica dos alunos acerca dos conhecimentos apresentados. Se as aulas de EF reduzir a prática de atividades físicas ou a “conscientização” da sua importância através do ensino dos conteúdos retirados da dessa temática, os professores perderão a percepção do todo social que os estudantes estão inseridos, por isso da mesma forma que os “conhecimentos específicos”, como referem os autores, devem ser desenvolvidos pelos professores os “conhecimentos gerais” também devem.

    Segundo Guedes e Guedes (1994) a seleção e organização dos conteúdos da proposta da Promoção da Saúde são feitos a partir da superação dos modelos de EF que os professores possuíam até a década de 90 e pela crença da saúde como categoria didático– pedagógico com pólos positivos e negativos.

    Os autores colocam que os conteúdos nessa perspectiva de EF escolar são dispostos em diferentes unidades do currículo escolar, buscando apresentar uma disposição seqüencial e ordenada apropriada para o nível de desenvolvimento dos educandos, de tal forma que, o que é ensinado no presente numa determinada serie anterior e aquilo a ser aprendido no futuro em séries subseqüentes tenham relação. (GUEDES e GUEDES, 1994,p.8).

    Na proposta apresentada os conteúdos mantém um forte vinculo com as ciências naturais faltando o necessário diálogo com as ciências sociais e humana, pois, o movimento humano é desenvolvido a partir dos aspectos orgânicos fisiológicos, mas nele também estão impregnados os signos históricos – sociais, expressando relações de hegemonia político econômica em uma dada sociedade e este também constitui num conhecimento necessário de ser socializado. (FERREIRA, 1997, p. 214).

    Os autores trabalham na perspectiva da seriação e dentro desta abordagem conseguiram estabelecer objetivos e conteúdos para cada série, uma forma que propõe uma homogeneização da EF em todas as escolas do país. “Artigos como o de Guedes e Guedes tem a contribuir para que seja suprida uma lacuna na teoria da educação física e que diz respeito a sua sistematização curricular com base numa teoria do currículo”. (FERREIRA, p. 215).

    Uma das maiores dificuldades dos professores é fazer o conhecimento que pretendem desenvolver nas aulas ser apreendido por todos os estudantes. Com turmas de 30 a 50 discentes as dificuldades são ainda maiores, já que são todos diferentes com uma história de vida própria.

    Guedes e Guedes como não trabalha com a historicidade dos discentes, observam os como organismos em movimento que devem apreender o conhecimento da atividade física, aptidão física, saúde em aulas teóricas – práticas. As diversas manifestações culturais construídas ao longo dos anos são utilizadas como elementos metodológicos, pouco importando a história de construção do esporte, da dança, da capoeira e as nuances sociais que as envolvem.

    Silva (2005, p.14) coloca que o professor na perspectiva da abordagem de Guedes e Guedes deveria desenvolver nas suas aulas “práticas”, para atingir seus objetivos, atividades físico– desportivas que proporcionassem o desenvolvimento das capacidades motoras dos alunos, além da aptidão física para o bem estar e a saúde. As atividades necessitavam ter um caráter motivacional para que os discentes pudessem interessar em praticá-las em outros ambientes. Um dos mecanismos de motivação para os estudantes estarem participando das aulas segundo os autores são os testes motores que na proposta são também meios para a verificação dos conhecimentos técnicos, do desempenho dos alunos nas atividades físicas, observando assim o desenvolvimento dos estudantes.

    Silva (2005) ver que os seguidores da abordagem da atividade física e saúde utilizadores da avaliação tradicional são os defensores do paradigma tradicional / esportivista / biologicista na EF. Para ele os autores que utilizam esse modelo de avaliação não vêem seu modelo de avaliação como punitivo ou sem relevância para os alunos, professores e escola, muito menos como forma de cumprimento das exigências burocráticas (p. 30).

    Silva comenta que a utilização dos testes pode ser incorporada na proposta da EF como instrumento metodológico ou como conhecimento a ser desenvolvido. Ele considera que eles são parte imprescindível em qualquer trabalho que se utilize conteúdos como atividade física, saúde e exercícios físicos. (2005, p.34).

    A avaliação escolar é necessária na ação pedagógica do professor, uma vez que é através dela que ele poderá continuar o que planejou ou reelaborar sua proposta. No entanto, na perspectiva apresentada à utilização de testes como instrumentos avaliativos vem apenas beneficiar os mais condicionados, reafirmando as diferenças existentes dentro da escola.

Considerações finais

    A reflexão efetuada neste estudo revelou algumas lacunas e contradições das abordagens crítico-superadora e promoção da saúde. A proposta do Coletivo de Autores é marcada pela dualidade idealismo x racionalismo, pelos argumentos abstratos e por muito pouco propor. Na verdade parece mais um aporte para a construção de uma proposta do que uma própria.

    Em certos momentos questiona-se realmente que a obra está sustentada pelo Materialismo Histórico Dialético, pela pedagogia Histórico-Crítica, pois os autores possuem o medo de assumir o marxismo como sustentação para suas idéias, apontando para uma falsa transformação social.

    Uma das lacunas da proposta da promoção da saúde é a ausência de um projeto político pedagógico claro para a disciplina de EF, pois diferentemente do Coletivo de Autores que pontuou como ele caracterizava, Guedes e Guedes no texto não emitiu nenhuma informação explicita.

    Abordagem percebe a EF como disciplina que na escola deve ser a responsável por transmitir conhecimento da atividade física e incentivar os estudantes a adotarem os hábitos de vida saudável. A saúde é vista como algo de responsabilidade individual desconectada das condições materiais da vida, bastando à mudança de estilo de vida para cercear os riscos. Na verdade o que Guedes e Guedes propõem é um “novo” higienismo na EF.

    Este estudo não tem a pretensão de encerrar o debate, acerca das propostas sistematizadas da EF, mas apenas tentar acalorá-lo, pois sabe-se da necessidade da re-elaboração ou construção de outras possibilidades.

Referências

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