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A participação do professor de Educação 

Física na gestão escolar em Macapá, AP

La participación del profesor de Educación Física en la gestión escolar en Macapá, AP

 

*Graduanda em licenciatura em Educação Física

Centro de Ensino Superior do Amapá – CEAP – AP – BR

**Doutor em Ciência da Educação – JAEN – ESP

Centro de Ensino Superior do Amapá – CEAP

(Brasil)

Elizuita da Conceição Mourão Moraes*

elizuita@bol.com.br

Fernando da Costa Ribeiro**

ecofernando@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O professor de Educação Física é envolvido durante a sua história de paradigmas sobre sua atuação no contexto escolar. Diante disso, o objetivo deste artigo foi analisar a participação do professor de Educação Física e sua importância pedagógica na Gestão Escolar. Para a coleta das informações foram realizadas entrevistas com os professores de Educação Física e Coordenadores Pedagógicos de quatro escolas estaduais e a análise documental do Projeto Político Pedagógico das mesmas. A partir dos estudos realizados, podemos indicar que os professores de Educação Física participam do que é acessível a eles no âmbito escolar e que o conceito de Gestão Escolar existe de forma equivocada. Indicamos ainda que sua participação na Gestão Escolar é importante pelas questões peculiares de sua disciplina. No entanto, existe a necessidade de repensar essas especificidades da Educação Física no Projeto Político Pedagógico e o papel desse professor como motivador da efetivação dos Conselhos Escolares. Só com essas questões resolvidas e o comprometimento do professor de Educação Física é que a Gestão Escolar Democrática pode existir na plenitude e melhorar a qualidade do ensino público.

          Unitermos: Gestão escolar. Participação. Professor de Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este artigo tem como foco de estudo a participação do professor de Educação Física e sua importância pedagógica na Gestão Escolar, buscando refletir sobre a consciência dessa participação, e verificando de que forma sua efetivação contribui para a qualidade do ensino nas escolas públicas.

    Ao tratarmos sobre Gestão Escolar, estamos nos referindo a um pensamento que segundo Menezes e Santos (2002) é:

    Expressão relacionada à atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino, orientados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos.

    Porém, existe dentro do sistema de ensino uma cultura da não participação dos professores nas ações pedagógicas, principalmente, nas reuniões de planejamento, em que todos acabam minimizando esse momento danificando o seu verdadeiro objetivo, a busca pela formação global do aluno através de uma educação de qualidade.

    Dentre os componentes curriculares obrigatórios da educação básica, a Educação Física encontra-se historicamente deslocada das atividades que envolvem o processo de educação escolar, sendo isso um resultado da não participação desses profissionais em práticas desenvolvidas por todos os gestores da escola, em meio a essas práticas encontramos o Projeto Político Pedagógico. Mas como entender a importância da participação do professor de Educação Física na construção do Projeto Político Pedagógico? O Projeto Político Pedagógico é um direcionamento das ações que serão desenvolvidas durante todo o ano letivo, e a não participação do professor de Educação Física representa ações específicas de sua área fora das atividades da escola, deixando esta à margem do educar.

    Equivocadamente, para uma parcela da sociedade a Educação Física e os professores desta disciplina são considerados como educadores à parte do processo de formação escolar. Esses profissionais, muitas vezes, não integram as discussões dos Conselhos de Classe e das Reuniões Pedagógicas, já que sua função, compreendida por muitos, é estritamente “recreacionista, corporal e prática”. Entendimentos estes, ultrapassados, fruto de sua história, mas que, no entanto, precisam ser superados. (ILHA e KRUG, 2008)

    Considerando o tema estudado e os objetivos propostos, buscamos na abordagem qualitativa descritiva os subsídios teóricos metodológicos para o desenvolvimento deste artigo, o qual foi realizado junto a quatro escolas do sistema público estadual de ensino na cidade de Macapá, sendo elas: Escola Estadual Barão do Rio Branco, Escola Estadual Cecília Pinto, Escola Estadual Mario Quirino da Silva e Escola Estadual Santa Inês, através da análise do Projeto Político Pedagógico e entrevistas estruturadas com um professor de Educação Física atuante da quinta a oitava séries do Ensino Fundamental e um coordenador pedagógico das referidas escolas.

A Compreensão dos Professores de Educação Física sobre Gestão Escolar

    É necessário antes de qualquer análise percebemos qual é o entendimento dos professores de Educação Física sobre Gestão Escolar, pois esse tema vem sofrendo modificações em seu conceito acompanhando as transformações educacionais.

    “No meu ponto de vista, é a forma de administrar a escola quer seja pedagogicamente, administrativamente.” (Professor A)

    Percebe-se que, o professor tem como conceito de Gestão Escolar a administração escolar, o que mostra a noção equivocada do mesmo sobre o assunto, pois conforme o Menezes e Santos (2002) a expressão administração escolar é a utilização racional de recursos para a realização de determinados fins educativos, enquanto que Gestão Escolar tem uma visão mais ampla sobre tudo que envolve o espaço escolar.

    Como membro da equipe escolar, o professor deve dominar conhecimentos relacionados à organização e à gestão, desenvolver capacidades e habilidades práticas para participar dos processos de tomada de decisões em várias situações (reuniões, conselhos de classe, conselho de escola), bem como atitudes de cooperação, de solidariedade, de responsabilidade, de respeito mutuo e diálogo. (LIBÂNEO et al., 2009, p.311)

    A Gestão Escolar é mais abrangente do que administração escolar, a limitação desse conceito pelos professores está diretamente ligada à formação dos mesmos, onde estes acabam acomodando-se e por fim continuam com costumes ligados a sua atividade pedagógica. “A organização e a gestão do trabalho escolar requerem o constante aperfeiçoamento profissional – político, cientifico, pedagógico – de toda a equipe.”(LIBÂNEO et al.,2009).

    Diante disso, é importante destacar que o professor precisa entender que a sua formação continuada pode ser realizada em vários contextos, desde que o profissional esteja ciente dos objetivos a serem alcançados, tendo como pressuposto uma reflexão crítica sobre suas práticas e assumindo o compromisso com a sua mudança, a fim de melhor satisfazer seu desenvolvimento profissional. (ILHA e KRUG, 2008)

    Poucos são os profissionais da educação interessados em todos os assuntos que permeiam a escola, a maioria deles, inclusive os professores de Educação Física, se preocupa com a parte que é compreendida como sua responsabilidade e o que seria da responsabilidade do outro cabe só a ele.

    Contudo, os professores de Educação Física demonstraram ter a noção de que a Gestão Escolar tem que ter caráter democrático, mas ainda foi possível notar que existe uma relação de poder na escola, onde o diretor é considerado o gestor maior, nos remetendo ao pensamento de uma hierarquia dos componentes da escola.

    “É a forma de administrar a escola, cabe ao gestor maior da escola, que é o diretor e junto com ele todas as pessoas, corpo técnico, professores, todo mundo deve participar dessa gestão, porque todo mundo tem a obrigação de participar da gestão da escola, participar muito bem, todas as pessoas que estão envolvidas no contexto da escola.” (Professor D)

    Em razão disso, a escolha do diretor de escola requer muita responsabilidade do sistema de ensino e da comunidade escolar. Infelizmente, predomina ainda no sistema escolar público brasileiro a nomeação arbitrária de diretores pelo governador e prefeito, geralmente para atender conveniências e interesses político-partidários, colocando o diretor como representante desses interesses, inibindo seu papel de coordenador e articulador da equipe docente. (LIBÂNEO, 2008, p.113)

    No Amapá tramita na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei para Regulamentação da Gestão Democrática Escolar do Sistema Estadual de Ensino, onde no seu Capítulo II que trata da composição e escolha da equipe gestora- entendida como diretor, diretor adjunto e secretário escolar- deverão ser eleitos mediante votação direta e não indicação. Não estamos aqui descartando a importância do diretor ou diretora, acreditamos no que Libâneo (2008) afirma quando diz que as decisões tomadas coletivamente têm a necessidade de serem colocadas em prática, mas para isso a escola tem que está bem organizada, assim o diretor procurará articular essas decisões para que elas se efetivem. Mas isso não quer dizer que o sucesso da escola dependa só do diretor.

    Cabe lembrar que não é a eleição em si, como evento, que democratiza, mas sim o que ela representaria, como parte de um processo participativo global, no qual ela corresponderia apenas a um momento de culminância num processo construtivo e significativo para a escola. Ao se promover a eleição de dirigentes estar-se-ia delineando uma proposta de escola, um estilo de gestão e se firmando compromissos coletivos para levá-los a efeito de forma efetiva (LUCK, 2008, p.77)

    No entanto, repensar a escola como espaço democrático é uma grande provocação aos professores de Educação Física que tem que romper e/ou reavaliar todos os tipos ações que estão ligadas ao funcionamento da escola. Para a gestão ser verdadeiramente democrática, é necessário que todos os que estão direta ou indiretamente envolvidos no processo escolar, dentre eles o professor de Educação Física, participem das decisões que dizem respeito à organização e ao funcionamento da escola. “A omissão permite que outros decidam por nós, e estas decisões provavelmente atendem aos interesses dos que decidem e não daqueles que delegam ou se omitem de participar.” (CARMARGO, 2006)

    Assim, a Gestão Democrática que vai surgindo vagarosamente nas escolas, poderá se reafirmar e o professor de Educação Física como educador poderá realmente contribuir com o ensino sabendo o que é, como deve ser utilizada e o porque de uma Gestão em que todos podem participar pelo bem da educação pública.

A Importância do Professor de Educação Física na Gestão Escolar

    É importante discutimos a importância da Educação Física na Gestão Escolar, pois a partir dessa observação podemos reafirmar a participação dos professores desta área neste processo.

    “A gente procura amenizar os problemas individuais dos alunos, porque eles não conversam com o professor de sala, eles conversam com a gente, eles são mais chegado a gente.” (Professor B)

    “Pra mim é fundamental porque a educação física não é vista só como a questão de movimento de corpo, ela envolve as relações entre os alunos.” (Professor C)

    Não é de hoje que se acredita na diferenciação da Educação Física em relação às outras disciplinas não somente pela cultura corporal do movimento, mas pela relação direta de aluno-professor. Quem quando criança nas aulas de Educação Física nunca abraçou o professor de Educação Física ou lhe confidenciou um dos seus maiores segredos? Quem nunca o viu como um pai, mãe ou parente qualquer? Esta relação é apresentada pelos entrevistados (professores e coordenadores pedagógicos) como um dos motivos pelos quais a inserção da Educação Física na Gestão Escolar é importante.

    Mesmo a Educação Física se afirmando na escola pelos mais variados motivos durante os últimos anos, ainda foi possível verificar na fala dos entrevistados a necessidade de reafirma a Educação Física como um disciplina igual às outras.

    “A importância do professor de Educação Física é a mesma importância de qualquer outro profissional da escola, que tem que participar da vida da escola, do dia a dia da escola, é tão importante como qualquer outro ele vivenciar, ele participar da gestão da escola.” (Professor D)

    “Ele é importante porque a Educação Física é uma das disciplinas do núcleo comum. Ele tem que gerir toda a parte de currículo dessa disciplina, idêntica aos outros professores.” (Coordenador Pedagógico A)

    Muitas vezes, a Educação Física era entendida apenas como o ato de recrear minimizando a sua importância como disciplina na escola, hoje a partir do seu desenvolvimento ela apresenta-se como aquela que pode contribuir com a escola, principalmente no que se referi à Gestão Escolar, pois assim como as outras disciplinas suas intervenções nas reuniões pedagógicas têm o mesmo valor.

    Além de se identificar nas entrevistas o aspecto da Educação Física ter importância igual as demais disciplinas na Gestão Escolar, os entrevistados também apresentaram que a Educação Física é importante pela a peculiaridade de seus conteúdos.

    “Assim como os demais ela contribui com o andamento do projeto político da escola cada um deles tem a sua especificidade, ela contribui principalmente com os projetos da sua área” (Coordenador Pedagógico B)

    “Como parte do processo educacional ela é peça fundamental também em tomadas de decisões que vem atender as necessidades não só especificas de sua área, mas nas em prol do bem comum.” (Coordenador Pedagógico D)

    A Educação Física é um diferencial na Gestão Escolar porque pode apresentar propostas referentes a sua área oportunizando uma educação de/para todos.

    Inserido nesse processo de ensino, o professor de Educação Física, como os demais educadores, deve cumprir com o seu papel na formação dos alunos, em relação ao conhecimento de que trata a sua área de estudo. Ainda que, atue ativamente na gestão escolar nos diversos repartimentos que a compõem. (CRISTINO et al.,2008)

    A Gestão Escolar envolvendo todos os que buscam o objetivo da formação cidadã do aluno tem a Educação Física como um elo importante desta corrente, onde todos têm a mesma importância, e se um elo quebrar, a corrente se desfaz.

A participação do Professor de Educação Física na Gestão Escolar

    A Gestão Escolar está em forma de lei, na Constituição Federal do Brasil (CF), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e no Plano de Carreira dos Profissionais da Educação Estadual do Amapá. Na CF no art. 206, no inciso VI, coloca a gestão democrática do ensino público como um dos princípios da forma como o ensino deve ser ministrado, além de dizer que essa gestão deve ser regulamentada em forma da lei. A partir disso, a LDB 9394/96 no art. 14 regulamenta a Gestão Democrática de forma que os sistemas de ensino decidirão as normas dessa gestão de acordo com as suas especificidades e de acordo com os princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola e da participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares ou equivalentes. No Plano de Carreira dos Profissionais da Educação Estadual do Amapá Lei no 949/05 encontramos também no Capitulo IV que trata da Gestão Democrática nos artigos 6º e 7º como deve ser realizada essa a gestão do ensino público estadual.

    De acordo com a LDB 9394/96, dos seus princípios o Projeto Político Pedagógico surge como o guia do caminho a ser percorrido pela escola que se deseja a parti daquela que se tem. Segundo Vasconcellos (2008) ele é um instrumento que tem uma grande abrangência, uma duração longa por ter atividades previstas para todo o ano, possuindo uma participação democrática e sendo concretizado no processo.

    O Projeto Político Pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definida, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar, a partir de um posicionamento quanto à sua intencionalidade e de uma leitura da realidade. Trata-se de um importante caminho para a construção da identidade da instituição (VASCONCELLOS, 2008, p.17)

    A partir disso buscamos ter conhecimento se o professor de Educação Física participa da construção do Projeto Político Pedagógico e como seria essa participação.

    “Aqui na escola todos os professores participam inclusive nós professores de educação física. Que nas reuniões que tem, acontecem as discussões dos projetos em assembléias, e existem os grupos de estudos formados , então nós fazemos parte das assembléias e durante essa atividade a gente contribui, colabora dar sugestão das coisas que estão acontecendo.” (Professor D)

    “A nossa escola tem o PPP desde 2000, de lá pra cá esse projeto vem sendo atualizado. Em 2009 nós fizemos uma avaliação pedagógica e todos estavam presentes inclusive o professor de educação física. Eles participam dando sugestões fazendo as críticas.” (Coordenador Pedagógico A)

    De acordo com o que foi dito pelos entrevistados, os professores de Educação Física participam da construção do Projeto Político Pedagógico de suas escolas dando opiniões e discutindo sobre os problemas, o que vai de encontro com a ideia de que o professor de Educação Física está afastado das atividades que envolvem o ato de educar.

    Quando foi realizada análise documental dos Projetos Políticos Pedagógicos foram encontradas duas ações em um projeto, de jogos internos e saúde, que conteriam especificidades da área de Educação Física, infelizmente nos outros três Projetos Políticos Pedagógicos só existiam o conteúdo comum a todas as disciplinas. Surge então a necessidade do professor de Educação Física começar a realizar projetos que serão incluídos ao Projeto Político Pedagógico, podendo ser esses interdisciplinares ou não, mais que visem a inserção da cultura corporal de movimento na escola.

    No entanto, encontramos em um Projeto Político Pedagógico, quando se dirige a formação básica que deve ser dada ao aluno, algumas habilidades de leitura, escrita e cálculo. Porque não seria possível, a partir de um professor de Educação Física participante da construção do Projeto Político Pedagógico propor que dentre essas habilidades básicas a compreensão da cultura corporal do movimento fosse inserida? É verdade que a priori o professor de Educação Física deveria sustentar essa ideia, porque é papel do mesmo garantir que os alunos possam ter uma formação global e crítica, entretanto, essa formação só será dessa forma se, também, o aluno conhecer e vivenciar o movimento.

    Contudo, também foi possível identificar nas entrevistas que o professor de Educação Física também está presente em todas as reuniões que envolvem a escola.

    “Eu felizmente participo de maneira ativa, em todo encontro pedagógico em toda a reunião de professores e de pais e mestres estou presente, me faço ouvir e sou ouvido.” (Professor C)

    A reunião é fundamental para despertar e/ou enraizar a nova postura educativa. Na medida em que possibilita a unidade entre o sujeito da ação e o da reflexão, este espaço é revolucionário. Devemos nos empenhar para consegui-lo, pois desta forma há condições para se criar na escola uma nova prática pedagógica e um novo relacionamento. (VASCONCELLOS, 2008)

    As reuniões pedagógicas são de extrema importância para o desenvolvimento da atitude de ensinar e da relação entre todas as disciplinas.

    “Nós somos chamados pra reunião e são colocados os assuntos da área de educação física para o grupão, mas eu não decido, o grupão é quem decide, se outros professores não estiverem de acordo eles falam, a gente participa integrando todos as áreas da escola.” (Professor B)

    Devemos lembrar que apesar do professor de Educação Física sofrer com a marginalização da sua disciplina na escola no decorrer da história, existe outros professores de disciplinas variadas que não acreditam na importância das reuniões pedagógicas, mas sim apenas na execução do cronograma. Muitos deles acreditam que essas reuniões são perda de tempo, só um momento para que simbolicamente todos estejam juntos.

    As reuniões pedagógicas são momentos de avaliação que ocorrem durante o processo do educar, os professores assim como todos os que estão comprometidos com a educação devem se libertar do que lhes impedem de acreditar na educação que eles próprios constroem. Professor comprometido com a sociedade e principalmente com o aluno, não pode em hipótese alguma perder a esperança na educação.

    O outro princípio da Gestão Democrática colocado pela a LDB 9694/96 é a participação da comunidade escolar e local no conselho escolar. Ele é composto por representantes dos professores, de funcionários, alunos e pais respeitando a proporcionalidade onde o objetivo é a equidade das relações de poder. O conselho escolar ou conselho de escola, de acordo com Libâneo et al.(2009, p.340):

    Tem atribuições consultivas, deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação estadual ou municipal e no regimento escolar. Essas questões, geralmente, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros.

    A partir disso ao perguntarmos aos coordenadores pedagógicos se existia o Conselho Escolar em suas instituições eles responderam:

    “Não tem, ainda ta em estudo” (Coordenador Pedagógico A)

    “Ainda tá em estudo, tentamos implementar este semestre mas não deu.” (Coordenador Pedagógico B)

    “Não tem, a gente começou o estudo, mas paramos.” (Coordenador Pedagógico C)

    “Não temos.” (Coordenador Pedagógico D)

    A existência dos Conselhos Escolares está regulamentada pelo Plano de Carreira dos Profissionais da Educação Estadual do Amapá, Lei no 949/05, no Capitulo II dos Princípios, na alínea “a” do inciso II do art. 4º e no Capítulo IV da Gestão Democrática, no inciso I do art. 7º. No entanto, não se observa a existência desses Conselhos Escolares dentro das escolas no estado do Amapá, não sendo essa apenas a realidade das escolas aqui pesquisadas, mas uma consequencia das dificuldades como reunir a comunidade em torno das ações da escola e motivação daqueles que são pertencentes a ela para que esse conselho seja concretizado.

    A população deve incentivar a criação e efetivação dos conselhos escolares, pois de acordo com que diz Libâneo (2008, p. 138 e 139) “A participação da comunidade possibilita à população o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos e a intervenção organizada na vida da escola.”

    Sem o conselho escolar não há a efetivação da gestão democrática, e consequentemente, não existe a participação do professor de Educação Física na Gestão Escolar. Sendo assim, o professor de Educação Física só pode participar, além da construção e realização do Projeto Político Pedagógico, das ações pedagógicas dentro do âmbito escolar.

    A partir disso, foi possível verificar através dos entrevistados que o professor de Educação Física está presente nestas ações pedagógicas e através destes atos acaba contribuindo para a qualidade do ensino público.

    “Eu acredito que contribuo porque toda sugestão, toda proposta que é colocada pelos professores, a gente coloca em pratica aqui na escola. Tenho certeza que elas são importantes pra educação de modo geral crescer.” (Professor D)

    “A disciplina em si é atrativa para os alunos então, a gente pensa que o professor deve direcionar o conteúdo da disciplina pra realidade do aluno, trabalhar com temas transversais, por exemplo, a questão da saúde, da ética, do trânsito. Eu acredito que a disciplina pode contribuir muito pro ensino de qualidade, pra que o aluno possa desenvolver suas habilidades.” (Coordenador Pedagógico A)

    A Gestão Escolar Democrática tem o Projeto Político Pedagógico e o Conselho Escolar como princípios, mas tudo começa a partir dos momentos de discussões e de ações que possibilitem solucionar problemas da escola e que façam a máquina do ensino público funcionar adequadamente, não com partes fragmentadas. O professor de Educação Física deve ajudar a impulsionar essa máquina, mas para isso, primeiramente, ele deve está comprometido com a escola.

    “Ele contribui quando ele desenvolve uma atividade que esteja ligada a realidade da comunidade, pra atender a necessidades esportivas e corporais, estejam relacionadas a cultura da comunidade local. Buscando a melhoria da qualidade de vida.” (Coordenador Pedagógico C)

    “Tendo compromisso, responsabilidade e desenvolver seu trabalho de forma competente, a fim de oferecer uma metodologia adequada, conhecimentos metodologia adequada, conhecimentos consistentes, atendendo e contribuindo para uma boa formação dos educandos.” (Coordenador Pedagógico D)

    O professor de Educação Física que está comprometido com o seu fazer pedagógico em conjunto com os outros elementos da escola, está dando um passo para o verdadeiro pensamento de Gestão Democrática. Gestão essa que deve ser construída por todos, sendo que a sua participação permitirá uma melhor formação do aluno e o desenvolvimento de uma sociedade crítica.

Considerações finais

    Construiu-se neste artigo um estudo focado na participação do professor de Educação Física na Gestão Escolar, aonde se verificou que os mesmos possuem um conceito mínimo de Gestão Democrática, no entanto, ainda assemelham este conceito com o de administração escolar.

    Foi possível perceber que o professor de Educação Física se torna importante na sua atuação como gestor escolar porque mantêm uma relação aluno-professor diferente das demais disciplinas o que permite um diálogo direto com aquele que será mais atingido pelos resultados do sistema escolar. Além disso, a Educação Física se difere das outras disciplinas pela peculiaridade da cultura corporal do movimento e se não estiver presente no processo de formação do aluno, esse terá uma formação distorcida e não global.

    No que se refere ao Projeto Político Pedagógico foi possível identificar que o professor de Educação Física contribuiu com a construção do mesmo discutindo e dando opiniões. No entanto, é necessário propor que a Educação Física esteja especifica no Projeto Político Pedagógico com o objetivo de ser ativa nas ações que serão realizadas durante o ano letivo.

    Entretanto, verificamos uma realidade triste da educação pública amapaense, a não efetivação dos Conselhos Escolares. O Conselho Escolar é o que afirma a participação de todos na Gestão Escolar, pois nele são participantes os elementos ligados a educação, por isso, os professores – dentre eles o de Educação Física – devem se mobilizar para que a existência dos Conselhos Escolares saia do papel e se torne realidade.

    O professor de Educação Física contribui com a qualidade da educação quando está comprometido e participando das ações pedagógicas, é importante cada um assumir a sua responsabilidade, mas contribuindo para que o outro realize também. A educação deve ser vista a partir de uma Gestão Escolar Democrática em que todos são responsáveis pelos resultados obtidos sejam estes positivos ou negativos.

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