Potência aeróbia máxima de futebolistas profissionais difere entre as distintas funções táticas La potencia aeróbica máxima de los futbolistas profesionales difiere según las distintas funciones tácticas Maximum aerobic power of professional soccer players is different among the distinguished tactics functions |
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*Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS), Pouso Alegre, MG **Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG ***Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, MG (Brasil) |
Ranieri Ribeiro Barboza* Arthur Paiva Neto* Gustavo Ribeiro da Mota** Alessandro de Oliveira*** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi comparar a potência aeróbia máxima (VO2max) de atletas de futebol profissional, obtida pelo teste de 2400 m, a partir de diferentes posições (goleiros, zagueiros, laterais, meio-campistas e atacantes). Vinte e três atletas do Santarritense Futebol Clube (três goleiros, três zagueiros, quatro laterais, sete meio-campistas e seis atacantes) foram avaliados. Após verificação da normalidade as médias dos cinco grupos foram comparadas por meio da análise de variância (ANOVA ONE WAY) seguida do teste t Student para a identificação das diferenças (significância de 5%). Foram encontrados diferenças significativas de VO2max (mL.kg.min-1) entre goleiros versus laterais, goleiros versus atacantes, zagueiros versus laterais e laterais versus meio-campistas. Concluímos que a potência aeróbia máxima dos futebolistas é diferenciada de acordo com a função tática específica que o jogador executa em campo. Unitermos: Especificidade. Futebolistas. Desempenho aeróbio.
Abstract The aim of this study was to compare the maximal aerobic power (VO2max) of professional soccer players, obtained by the test 2400 m, from different positions (goalkeepers, defenders, sides, midfielders and attackers). Twenty-three athletes from Santarritense Football Club (three goalkeepers, three defenders, four sides, seven midfielders and six attackers) were evaluated. After verification of normality, the mean of the five groups were compared by analysis of variance (ONE WAY ANOVA) followed by Student t test to identify differences (5% significance). We found significant differences in VO2max (mL.kg.min-1) between goalkeepers versus sides, goalkeepers versus attackers, defenders versus sides and sides versus midfielders. We conclude that the maximal aerobic power of players is differentiated according to specific tactical function that the player performs on the field. Keywords: Specificity. Soccer. Aerobic performance.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Há grande preocupação com a preparação física de atletas de qualquer modalidade esportiva, pois um integrante de uma equipe bem preparado fisicamente, poderá desenvolver treinamentos técnico e tático com mais eficácia, visto que seu organismo está mais bem preparado para desenvolver as atividades propostas no treino e, consequentemente, irá render mais durante as competições.
Jogadores de futebol desempenham deslocamentos específicos dentro de campo que são determinados pela posição (função tática) que os mesmos ocupam. Essas funções causam alguns aspectos como, por exemplo, gasto energético superior ou inferior ao de seus companheiros e, provavelmente, maior desempenho físico.
Dentro de uma partida de futebol há grande utilização dos metabolismos aeróbio e anaeróbio. Algumas atividades como piques curtos, mudanças bruscas de direção, saltos e chutes exigem boa potência muscular. O desenvolvimento dessa capacidade está relacionado à força muscular e a quantidade e ritmo de ATP produzido por meio de vias metabólicas anaeróbias. Todavia, o metabolismo aeróbio é importante porque numa partida de 90 minutos um jogador percorre em média 11 km (FIFA, 2010), sendo primordial ter bom condicionamento aeróbio.
O consumo máximo de oxigênio (VO2max), também denominado de potência aeróbia máxima, é definido como o volume máximo de oxigênio que pode ser captado, transportado e utilizado pelas células, sendo comumente empregado como medida padrão de potência aeróbia e desempenho físico em atletas de endurance (Wilder, Greene et al. 2006). A quantificação do VO2max permite avaliar a integração entre os sistemas nervoso, cardiopulmonar e neuromuscular (Mollard, Woorons et al. 2007).
Santos (2001) realizou estudo entre jogadores de futebol e ficaram evidenciadas diferenças significativas entre os atletas de cada posição. Dourado (1999), no mesmo sentido, demonstrou também que há distinções nas variáveis antropométricas e no VO2max de futebolistas juvenis e juniores de diferentes funções táticas, corroborando também com os dados de Reilly et al. (2000). De forma interessante, atletas com maiores índices de VO2max tendem a participar mais das partidas e apresentam menor índice de fadiga (Helgerud et al. 2001).
Apesar disso, poucos estudos foram realizados com jogadores de futebol profissional de categoria estadual no Brasil. Assim, o objetivo deste estudo foi comparar os resultados do teste de VO2max a partir das seguintes posições de jogo: goleiros, zagueiros, laterais, meio-campistas e atacantes, ocupadas pelos atletas do Santarritense Futebol Clube, da cidade de Santa Rita do Sapucaí (MG), utilizando-se do protocolo proposto por Cooper para a distância de 1,5 milha (2400 m).
2. Metodologia
Delineamento do estudo e voluntários
O estudo foi realizado com 23 atletas profissionais da equipe do Santarritense Futebol Clube da cidade de Santa Rita do Sapucaí, dividindo-se em três goleiros, três zagueiros, quatro laterais, sete meio-campistas e seis atacantes que foram avaliados.
Foi realizada inicialmente a coleta do peso, altura dos voluntários para caracterização antropométrica do grupo. Após isto, foi medido o VO2max através do Teste de Campo de 1,5 milha, protocolo de Cooper, descrito por Farinatti e Monteiro (2000), em que consiste percorrer a distância de 2400 m (em superfície plana) no menor tempo possível. O local utilizado para a realização do teste foi a pista de atletismo (400m) da Universidade do Vale do Sapucaí.
Inicialmente realizaram um aquecimento e logo em seguida foram instruídos a percorrer seis voltas na pista (2400 m) no menor tempo possível dentro de suas possibilidades. Houve um grupo de seis pessoas para marcar o tempo dos atletas e orientá-los sobre o número de voltas que cada um estava percorrendo, assim como para ajudá-los no caso de algum problema de ordem física.
Análise estatística
O delineamento estatístico foi pareado comparativo entre os 5 grupos. Os dados são apresentados em medias e desvio-padrão (X ± DP). Após verificação da normalidade as médias encontradas nas diferentes faixas etárias para VO2max foram comparadas por meio da análise de variância (ANOVA ONE WAY) seguida do teste t Student para a identificação das diferenças. O nível de significância para todas as variáveis foi de 5%.
3. Resultados
A caracterização antropométrica permitiu verificar que a equipe do presente estudo apresenta um perfil homogêneo, embora existam diferenças significantes de média VO2max. A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra. A Tabela 2 ilustra a classificação da avaliação da aptidão aeróbia do teste de 2400 metros proposta por Cooper.
Tabela 1. Caracterização da amostra
Tabela 2. Classificação da aptidão aeróbia em futebolistas profissionais (por posição)
4. Discussão
O principal achado do presente estudo é que o VO2max mensurado por meio do teste de 2400 m é diferente entre as diferentes posições ou funções táticas que os atletas desempenham nos treinamentos coletivos e jogos, em futebolistas profissionais de categoria estadual. Tal constatação é importante para o processo de avaliação e prescrição do treinamento físico nesses atletas.
Estudos demonstraram que um jogador de futebol percorre em uma partida a distância de 10 a 12 Km. Porém, os vários componentes de uma equipe percorrem diferentes distâncias de acordo com a sua função na partida. O futebol moderno exige certa aptidão aeróbia que e está parece se relacionar com a categoria competitiva da equipe (Ekblom et al. 1986 citado por Santos, 1999). Além disso, ao longo das últimas décadas verificou-se um aumento progressivo da distância total percorrida em jogo. Para se ter ideia, segundo Santos e Soares (2001), houve incremento maior do que 100% entre os mundiais da Suíça (1954) e da Itália (1990), ou seja, de 4500 m para 10000 m por jogo, respectivamente.
O futebol e o treinamento desportivo tiveram uma grande evolução nas últimas décadas e a potência aeróbia passou a ser peça fundamental para o bom desenvolvimento das capacidades físicas quanto técnicas e táticas do jogador. Segundo Weineck (2000) o desempenho aeróbio tem influência sobre o tempo de reação tanto em repouso quanto na sobrecarga e no período de recuperação. Ademais, conforme o mesmo autor, parece que a recuperação entre os diversos esforços existentes numa partida de futebol com pausas relativamente curtas são mais rápidas nos jogadores com boa potência aeróbia e isso possibilita o atleta realizar mais acelerações, participar ativamente de mais disputas de bolas, dribles e enfrentar situações energeticamente desgastantes.
É conhecido o fato de que o VO2max tende a diminuir progressivamente com a idade, a partir dos vinte anos. No entanto, um atleta de alto rendimento, bem treinado, poderá atenuar bastante essa diminuição (Ley et al. 2002). Tal situação pode ser percebida pela existência atual de jogadores acima dos 35 anos de idade, atuando em grandes equipes da 1ª divisão do futebol brasileiro e mundial, o que não era tão comum no passado. De acordo com Weineck (2000) o VO2max aumenta no decorrer da vida até um valor máximo, permanecendo constante até aproximadamente os 30 anos. Com o treinamento regular e intenso o VO2max pode ser mantido constante até aproximadamente os 50 anos. O problema é que muitos atletas não conseguem se manter em treinamentos de alta intensidade por muitos anos, principalmente por problemas como lesões que impossibilitam tal participação.
Em nosso estudo, o valor médio de VO2max dos atletas foi de 47,6 mL.kg.min-1 e corrobora com os encontrados por White et al. (1988), em 17 jogadores da 1ª divisão inglesa que apresentaram valores médios de VO2max de 49, 6 ± 1, 2 mL.kg.min-1 e o mesmo ocorre com os jovens futebolistas norte americanos que exibiram um VO2max de 52,9 ± 1,2 mL.kg.min-1 (Vanderford et al. 2004).
No que se refere ao VO2max em diferentes posições, encontramos diferenças significantes entre laterais e meio-campistas, zagueiros e laterais, goleiros e laterais e goleiros e atacantes. É óbvio que as diferenças entre goleiros e outras posições eram esperadas considerando que sua atividade física no jogo de futebol é predominantemente anaeróbia alática, quando o mesmo é solicitado, e aeróbia de baixa intensidade nos demais momentos.
Segundo Frisselli e Mantovani (2000), o goleiro no futebol se constitui numa exceção, já que é o único futebolista do elenco que possui seu próprio treinador e preparador. A diferença encontrada entre zagueiros versus laterais é possivelmente explicada pelo maior índice de massa corporal dos zagueiros. Além disso, normalmente esses atletas têm como principais características físicas à resistência, força, impulsão para saltar, velocidade de reação e atuam normalmente no seu campo de defesa, principalmente à frente da grande área. O bom zagueiro é aquele que se antecipa à jogada e não aquele que tem de correr atrás do atacante.
Por sua vez, a diferença encontrada entre laterais versus meio campistas pode ser explanada pelo maior volume (distância) normalmente encontrado nos laterais quando comparados aos seus congêneres meias (FIFA, 2010). Entretanto, essa diferença é muito pequena e pode não ocorrer dependendo da especificidade do jogo e esquema tático das equipes. Frisselli e Mantovani (1999), por exemplo, reportaram valores de VO2max para laterais de 59,2 mL.kg.min-1 e de 58,1 mL.kg.min-1 para meio-campistas o que pode em termos práticos ser bem equivalente.
5. Conclusão
Os dados encontrados neste trabalho podem colaborar no sentido de que as requisições, em termos de potência aeróbia, são diferenciadas de acordo com a função específica que o jogador executa em campo, o que foi comprovado com o tratamento estatístico de VO2max. Esses valores foram encontrados por outros autores que corroboram a ideia de que a potência aeróbia é diferenciada de acordo com a função tática (posição de jogo). Entretanto, com os nossos resultados, fica claro que o futebol moderno exige boa potência aeróbia dos jogadores e que as funções desempenhadas nos jogos, associadas com outros fatores como genética e tipo de treinamento, proporcionam valores de VO2max diferentes para diferentes posições.
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