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Percepções da infância aos olhos da criança: estudo de casos

Las percepciones de la infancia a los ojos del niño: estudio de casos

 

*Mestre em Ciências do Movimento Humano, UFRGS

**Mestrando em Ciências do Movimento Humano, UFRGS

(Brasil)

Luciana Martins Brauner*

Rafael Gambino Teixeira**

rafa.gambino@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A infância muitas vezes esteve no centro de nossas discussões e análises, tornando-se consenso que este é um período construído pela cultura e de difícil definição; afinal, o que faz parte da infância? O que significa ser criança nos dias de hoje? Assim, o objetivo deste trabalho O objetivo deste trabalho é discutir a percepção da Infância através da análise de entrevistas realizadas com as próprias crianças. Fizeram parte desta pesquisa, crianças participantes de três tipos de ambientes de ensino. Utilizou-se, para coleta dos dados, uma entrevista, constituído de questões relacionadas à temática Infância. Como resultados, interpretou-se que a visão da criança para os acontecimentos e passagens desta fase são muitas vezes diferentes dos olhos dos adultos quanto as questões.

          Unitermos: Infância. Criança. Percepções.

 

Resumen
          Muchas veces la infancia estuvo en el centro de nuestras discusiones y análisis. Es un consenso que es un período construido por la cultura y difícil de definir; después de todo, que es parte de la infancia? ¿Qué significa ser niño hoy? De esta manera, el objetivo de este estudio es analizar la percepción de la infancia a través del análisis de entrevistas realizadas con los propios niños. Formaron parte de esta investigación, tres niños participantes de diferentes ambientes de aprendizaje. Se utilizó para la recopilación de datos, una entrevista con preguntas relativas al tema de la infancia. Se interpreta de los resultados que la visión del niño por los acontecimientos y los atravesamientos de esta etapa son a menudo diferentes de las miradas de los adultos en cuanto a los temas.

          Palabras clave: Infancia. Niños. Percepciones.

 

Abstract
         
The illness often was the focus of our discussions and analysis, developing consensus that this is a term constructed by culture and difficult to define, after all, which is part of childhood? What does being a kid today? The objective of this study This study is to discuss the perception of childhood through the analysis of interviews with children themselves. They were part of this research, children in three types of learning environments. It was used for data collection, an interview consisting of questions relating to the theme Children. The results are interpreted that the child's vision for the events and passages of this phase are often different from the eyes of adults and the issues.

          Keywords: Childhood. Children. Vision.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Ao estudarmos a criança, estivemos em constante processo de desconstrução de conceitos e de reflexões, na tentativa de compreender o modo como a cultura influencia nosso modo de pensar e agir. A infância muitas vezes esteve no centro de nossas discussões e análises, tornando-se consenso que este é um período construído pela cultura e de difícil definição; afinal, o que faz parte da infância? O que significa ser criança nos dias de hoje?

    Neste caminho, também se tornou evidente a influência que os produtos da mídia exercem sobre esta construção, muitas vezes de maneira tão sutil e sem que percebamos, refletindo nos discursos apresentados e no modo que vivemos e compreendemos o mundo.

    Diante desta preocupação, muitos trabalhos vêm sendo realizados na tentativa de problematizar a construção da infância e de tornar claro alguns dos valores e representações que são divulgados e defendidos através de produtos da mídia, especialmente desenhos e filmes infantis em se tratando de pesquisas relacionadas à infância.

    Este tipo de análise é extremamente relevante, porém poucas vezes damos vozes àqueles que normalmente são os nossos objetos de análise: a própria criança. Dessa maneira, ignoramos um riquíssimo material de análise, visto que estes são os sujeitos construídos através dos tantos discursos que estudamos e tentamos compreender.

Metodologia

População e amostra

    Optamos por nos aventurar no mundo infantil e tentar captar, através dos discursos das próprias crianças, o modo como elas percebem a infância e as diferenças de gênero, bem como seus interesses em brincadeiras e produtos apresentados pela mídia, procurando observar a reprodução de construções culturais em suas falas e conceitos. Para esta análise, realizamos entrevistas semi-estruturadas com crianças entre 8 e 11 anos em três ambientes distintos de trabalho. A idade dos participantes foi assim delimitada porque julgamos que nesta faixa etária as crianças conseguiriam compreender mais facilmente as perguntas elaboradas, fornecendo assim um material de análise mais consistente.

Instrumento. Questões de análise

    Os tópicos abordados nas entrevistas foram os seguintes:

  • o significado de ser criança;

  • a diferença da infância atual para a infância dos pais e avós;

  • diferenças e semelhanças entre crianças e adultos;

  • diferenças e semelhanças entre meninos e meninas;

  • o significado de "brincar" e quais as preferências das crianças;

  • preferências relacionadas a programas de tv, desenhos animados, filmes, literatura,

  • etc.

    Na seqüência do trabalho serão apresentadas as análises dos discursos infantis em cada um dos locais investigados, as conclusões do grupo em referência aos depoimentos coletados e as relações com as práticas profissionais dos integrantes do grupo.

Análise e discussão das entrevistas

Ambiente 1 = Projeto Quero-Quero

Entrevistas

    O projeto de extensâo, Quero-quero é um Programa de Educação pelo Esporte, realizado nas instalações da ESEF-UFRGS. Atende diariamente 120 crianças (entre 5 e 14 anos), com aulas de esportes (tênis, natação, basquete, voleibol, futebol, ginástica artística,), artes (exploração da criatividade, danças), inglês e informática.

    Para o desenvolvimento deste trabalho, selecionamos 10 crianças do projeto, todas possuíam idade dentro da faixa etária de 8 a 11 anos. As crianças formaram um grupo e sentados em círculo, debateram as questões anteriormente apresentadas.

    Com relação à 1a questão (O que é ser criança?), podemos constatar que as crianças, em sua maioria, relatam primeiramente que ser criança é ter a possibilidade de brincar, rir, mas levam em consideração que, crianças também tem seus deveres, creditam o estudo como sendo o “trabalho” das crianças, deixando claro a preocupação com os estudos, muitas vezes, freqüente nos adultos.

    Todos são unânimes em relação à infância de seus pais ser diferente da sua.

    ...”Eu acho que eles não eram tratados iguais a mim, e eles eram bem mais educados.” (Shaiane 9 anos). Os alunos, no momento de descrever a infância dos pais, acabaram por citar a convivência dos mesmos com seus parentes. Dizem não ter a infância igual pois eles não “apanham” ou tem “castigos” iguais aos que seus pais recebiam em sua época. Poucas crianças relataram as brincadeiras como sendo o diferencial em relação a seus pais. Acreditamos esta imagem estar ligada ao fato de a criança descrever a infância de adultos que vem na tv, filmes,etc, deixando claro a falto de comunicação com os pais, pois muitos relatam não ter perguntado este fato aos seus cuidadores.

    De acordo com a questão onde perguntamos a diferença existente entre os gêneros, meninos e meninas logo pensam no aspecto fisiológico, citam o sexo, órgão, como sendo a principal diferença entre eles. Apontam também os aspectos relacionados aos estereótipos, como: “meninas têm cabelo comprido”; “meninos são mais fortes”; “meninas gostam de rosa”; e, o comportamento. Na diferença entre adultos e crianças, deixam claro o fato de adultos ter de trabalhar, enquanto eles estudam e brincam.

    ...”criança pensa bobagem e adulto pensa sério.” (Josiane 8 anos).

    Para as crianças, brincar esta relacionado ao fator diversão. Brincam de jogos, em grande parte, com jogos influenciados pela mídia, como por exemplo: brincar de super heróis, X-men, batman, heróis da tv além é claro, jogar computador e vídeo game, etc.

    Poucas crianças dizem brincar ainda de atividades como amarelinha, esconde-esconde, pega-pega, entre outros, jogos populares.

    Os entrevistados assistem muita TV e apresentam preferência por desenhos e programas infantis (TV Xuxa, TV globinho, desenhos como X-men, Power Rangers e novelas como Floribela e Rebeldes).

    Na preferência por filmes, destacam os filmes da Disney como sendo os mais assistidos. Também demonstram gosto por filmes de comédia e ação.

    A leitura preferida das crianças são as historinhas em quadrinhos. Os contos de fadas são mais comuns de serem assistidos em filmes. Alguns entrevistados admitiram não gostar de ler e este hábito foi adquirido de seus familiares que também não costumam ler.

    Na música, muitas vezes são influenciados pelo gosto musical dos pais ou irmãos mais velhos ou até mesmo pelo que está tocando nos seus programas preferidos na tv. Escutam Rebeldes, Funk, Hip Hop, Pagode.

    Como recurso alternativo à entrevista, foi realizado com um segundo grupo de 10 alunos do Projeto Quero-Quero uma atividade em que, através de recortes de jornais e revistas, as crianças deveriam selecionar imagens para formar dois murais; o primeiro seria formado com imagens que “fazem parte da infância” e o segundo seria composto por imagens daquilo que “não faz parte da infância”. Dessa forma, os murais foram intitulados, pelas próprias crianças “Ser criança” e “Não ser criança” (identificado pelos alunos como a fase adulta).

    O primeiro mural foi composto por 25 imagens, sendo 10 referentes a personagens de desenhos animados e 2 referentes a personagens de programas voltados ao público infantil, mostrando a importância e influência desta temática na vida das crianças, parecendo estar fortemente associada a suas rotinas. Entre os outros recortes, 3 deles estão relacionados à escola, exaltando a forte relação apresentada por estes alunos entre a infância e a aprendizagem, aquisição de conhecimentos e “sabedoria”, de acordo com William, 10 anos. Segundo este grupo de crianças, esta é uma “fase de aprender”.

    No segundo mural, das 30 figuras selecionadas 11 são referentes a bens de consumo (bolsa, carro, telefones celulares, máquinas fotográficas e relógios), evidenciando o poder de compra que os alunos relacionaram à idade adulta. Outra temática presente nesta montagem foram os relacionamentos amorosos, sendo 5 imagens de casais, 1 de preservativo e 1 relacionada a casamento (selecionada por uma menina). Outras 3 imagens são de jogadores de futebol (selecionadas por meninos) e foram justificadas por Willian Matheus, 9 anos, “porque é coisa de adulto”. Quando questionado se ele mesmo não praticava esportes, inclusive o futebol, o menino ficou confuso mas acabou por justificar que só os adultos “ganham dinheiro jogando”, evidenciando o sonho de muitos meninos de se tornarem jogadores de futebol.

    Algumas imagens causaram discussão entre as crianças, pois ao serem selecionadas para um dos murais, alguns alunos contestaram que elas poderiam fazer parte de ambas as categorias. Este foi o caso dos telefones celulares, da figura de um surfista e de cosméticos; sendo assim, as crianças decidiram relacionar estas imagens às fases de “ser criança” e “não ser criança”.

    Ao final do trabalho, foi realizado um fechamento da atividade com uma roda de conversa, onde os alunos expuseram os motivos que as levaram a escolher determinadas figuras. Algumas discussões surgiram quando as crianças foram questionadas acerca da diferença entre “ser criança” e “não ser criança”. Percebendo a ocorrência de figuras iguais em ambos os murais, os alunos foram aos poucos percebendo a dificuldade de categorizar as fases da vida. Paulo Henrique, 10 anos, deixou bem claro esta idéia quando afirmou “meu pai tem 39 anos e gosta de assistir o desenho do Naruto, mas mesmo assim ele é adulto!” Diante da dificuldade, as crianças partiram para diferentes justificativas como as de Luis Felipe, 10 anos, dizendo que “beijo de adulto é mais demorado que o de criança” , salientando novamente a presença constante desta temática na vida dos alunos, e de Josiane, 8 anos, concluindo que “a diferença é que criança faz bobagem e adulto faz coisa boa!”, afirmação que desperta atenção e preocupação pelo que parece ser a reprodução de um discurso dirigido a esta criança no seu dia-a-dia e que reforça a idéia vista durante a disciplina da infância como uma parte de preparação para a vida adulta.

Ambiente 2 = Colégio Marista Champagnat

Entrevistas

    Para realizar as entrevistas na escola, selecionou-se 4 alunos do ensino fundamental (3 alunos da 2a série e 1 aluno da 1a série).

    Na questão do que é ser criança por exemplo, podemos evidenciar o enfoque das crianças ao brincar. Diferentes das crianças do primeiro grupo, estas não dão muita importância ao fato de possuírem deveres, o “trabalho das crianças” com relação a estudar. Porém, em relação aos outros tópicos questionados, as crianças demonstram uma certa semelhança.

    Seus gostos de leitura, Tv, desenhos, etc, são bem parecidos, algumas crianças deste grupo, evidenciaram um gosto por filmes de terror.

    O aspecto que se mostrou um pouco diferente, foi a preferência deste grupo por brincadeiras mais populares como, pular corda, jogar bola, pega-pega, talvez por seu nível econômico lhe permitir um maior contato social, seja com amigos seja com seus pais que lhe ensinam determinadas atividades.

Ambiente 3 = Fundação Tênis

Entrevistas

    Para debater as questões abordadas foram selecionadas dez crianças com faixa etária de 8 a 11 anos de idade, sentadas em círculo, as crianças foram respondendo e discutindo cada questão.

    Através das respostas apresentadas podemos perceber que “ser criança” para as próprias, vai além do “brincar” e se “divertir”. Ter de cumprir com algumas responsabilidades (entrar na hora certa para dentro de casa), precisar de proteção (precisar de ajuda de alguém) e a distinção entre fase de infância e a fase adulta (nunca + crescer) são alguns dos aspectos que aparecem de forma bem consciente na visão do grupo.

    Quando questionadas quanto à infância de seus pais e avós, todas as respostas apontaram para uma visão muito difícil e sofrida em relação de como era a infância antigamente (apanhavam dos pais e professores, tinham de dar dinheiro, etc...).

    Em relação ao gênero, a questão comportamental foi à questão que mais se apresentou para distinguir meninos de meninas (meninas tem medo de baratas, meninos não; meninas brincam de boneca, meninos de carrinho, etc.).

    Quanto à diferença entre crianças e adultos as respostas do grupo apresentaram uma visão de impotência da criança em relação ao adulto (os adultos podem bater nas crianças, as crianças não) e ao mesmo tempo uma vontade de chegar à fase adulta (os adultos podem ficar até tarde na rua as crianças não).

    Para o grupo o “brincar” é “essencial”, todas as respostas foram dadas com grande entusiasmo (é legal, é se divertir, é muito importante, etc.).

    O grupo assiste aos mais variados programas de TV, desde desenho e filmes a novelas e seriados (“Paraíso Tropical”,...), o mesmo acontece com a leitura que vai desde gibis a jornais.

3.     Conclusão

    A idéia de infância não existiu sempre e muito menos não existia da mesma forma, uma vez que essa representação dependia de uma visão social e cultural. (FISCHER,...)

    Segundo FISCHER (...), hoje, para nós professores da infância, é urgente revisar nossas idéias pré-concebidas e convicções a respeito da infância e, dar voz às próprias crianças pode ser um caminho promissor as descobertas, talvez mais óbvias para elas, mas nem tanto para os adultos. Essas mesmas crianças já possuem poder de compra, de escolha, consumindo e reproduzindo como se já fossem adultos.

Referência bibliográfica

  • FISCHER, Cristina Pereira. A Visão da Infância Vista a Partir da Própria Criança. Trabalho de conclusão de curso de especialização em educação – UFPEL.

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