O treinamento técnico de jovens basquetebolistas: um estudo descritivo exploratório El entrenamiento técnico de basquetbolistas juveniles: un estudio descriptivo exploratorio Technical-sport training of young adults and kids in basketball |
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*Université du Québec, Trois-Revières, Canadá NP3 Esporte/UFRGS **UFRGS, IEFES/ UFC ***NP3 Esporte/UFRGS ****NP3 Esporte/UFRGS, FACOS (Brasil) |
Marcos Alencar Abaide Balbinotti, PhD.* Ricardo Hugo Gonzalez, Ms.** Carlos Adelar Abaide Balbinotti, Dr.*** Ricardo Pedrozo Saldanha, Ms.**** Marcus Levi Lopes Barbosa*** |
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Resumo O estudo trata do treinamento técnico-desportivo de atletas de basquetebol infantil e infanto-juvenil, na área da Pedagogia do Treinamento Desportivo. Caracteriza-se pelo delineamento Ex-Post-Facto, do tipo descritivo-exploratório. O objetivo é de verificar a freqüência de treinamento dos principais fundamentos técnico-desportivos do basquetebol. A amostra é constituída de 562 basquetebolistas (289 masculinos; 273 femininos), do estado de Santa Catarina. Foi aplicado o Inventário do Treinamento Técnico-Desportivo de Basquetebol (ITTB-50). Constatou-se que o treino técnico-desportivo dos atletas brasileiros (13 a 16 anos) não é realizado de forma equilibrada no aspecto técnico; existem a proeminência significativa de um aspecto: Arremesso e Drible (indissociáveis), Passe e Defesa (indissociáveis), seguidos pelo Rebote. Recomendam-se novos estudos controlando outras variáveis. Unitermos: Basquetebol. Treinamento técnico-desportivo. Infanto-juvenil.
Abstract This study is about technical-sport practice of young adults and kids in basketball in Pedagogy of Sport Training. It is an ex-post-facto exploratory-descriptive. The aim is to check the frequency of training of the main fundaments. The sample is made of 562 basketball players (289 male and 273 female) in the state of Santa Catarina. We used the Sport Technical Training (ITTB-50) and we observed that the sport technical training of Brazilian athletes (ages 13 to 16) is not done in a balanced way; there is a meaningful prominence of one aspect: Shooting and Dribbling (inseparable), Passing and Defense (inseparable) and then rebound. Other studies are suggested. Keywords: Basketball. Sport technical training. Youth.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O treinamento técnico-desportivo sempre foi conteúdo fundamental na formação dos mais jovens (MARQUES, 2000). A técnica desportiva é uma ferramenta importante em todas as fases do rendimento esportivo. Todo praticante de basquetebol procura aperfeiçoar a performance de execução dos principais fundamentos técnicos do esporte: o drible, o passe, o arremesso, o rebote e a defesa. Isso lhe proporcionará a base técnica necessária para a prática da modalidade.
A literatura especializada em basquetebol sugere que os atletas em formação tenham vivências técnico-táticas em todas as funções para, posteriormente, especializarem-se numa função específica, de acordo com seu talento e disponibilidade (GRAÇA et al., 2001; DE ROSE JR., 2006; DE ROSE JR.;TRICOLI, 2005; FERREIRA; MARKUNAS; Do NASCIMENTO, 2005). Nessa perspectiva, destaca-se a importância do treinamento de todos esses fundamentos, de forma a evitar a especialização de um grupo deles em detrimento de outros. Isso porque qualquer forma de especialização técnico-tática nas fases iniciais do treinamento desses atletas poderá ser precoce. Um exemplo ilustrativo é o jovem de 12 anos que se especializa na função de pivot por ter uma estatura superior aos demais colegas. Se esse jovem não continuar crescendo em altura durante a adolescência e a primeira fase adulta, poderá ter muitas dificuldades de continuar atuando nessa função. A conseqüência disso poderá ser o abandono do esporte, em razão das limitações que o treinamento técnico lhe impôs nas fases iniciais de seu desenvolvimento.
Para se evitar problemas dessa natureza, recomenda-se que o treinamento técnico-desportivo do basquetebol seja equilibrado, de forma que o jovem possa executar com competência e qualidade todos os fundamentos do esporte (WILLIAMS; HODGES, 2005; GONZALEZ, 2008). No treinamento desportivo infanto-juvenil, a variedade ou multilateralidade é um elemento bastante referenciado por teóricos e pedagogos, no entanto, é pouco utilizado no Brasil (BALBINOTTI et al., 2003, 2005; BARBANTI, 2005). O desenvolvimento multilateral específico do esporte é um dos princípios de treinamento mais importantes no treinamento em crianças e adolescentes (FILIN; VOLKOV, 1998; BOMPA, 2002; BARBANTI, 2005, BALBINOTTI, 2006).
Segundo Joch (2005), no treinamento com jovens ainda se comete o erro de realizar um treinamento precoce (unilateral), objetivando o rápido sucesso e a vitória em torneios e campeonatos. São raros os atletas que, conseguindo elevados níveis de rendimento na formação, conseguem também, manifestá-los com a mesma excelência quando adultos. Iniciar cedo a preparação esportiva não pode e nem deve ser confundido com especialização precoce. O autor acrescenta que, embora alguns investigadores julguem oportuno iniciar a preparação esportiva cada vez mais cedo, esse fato não é interpretado da forma mais conveniente. Isso leva a preparação esportiva para uma especialização em idades impróprias, ignorando os seus prejuízos.
A especialização precoce permite a obtenção de resultados em curto prazo, mas limita a evolução posterior dos jovens praticantes (GONÇALVES, 1999). No entanto, quanto mais precoce for realizado esse processo de especialização, mais reservados serão os prognósticos dos jovens virem futuramente a obter resultados esportivos de excelência (TSCHIENE, 1990).
O objetivo central dessa pesquisa é verificar com que freqüência é realizado o treino dos fundamentos técnicos do basquetebol – drible, passe, arremesso, rebote e defesa – durante o treinamento de jovens de 13 a 16 anos. A questão central do estudo se apresenta da seguinte forma: “Existem diferenças significativas (p < 0,05) em escores obtidos na descrição da freqüência do treinamento dos principais fundamentos técnico-desportivos do basquetebol infanto-juvenil (13 a 16 anos)?” Para bem responder esta questão foram empregados os procedimentos metodológicos apresentados a seguir.
Métodos
O estudo possuiu características de uma pesquisa com delineamento Ex-Post-Facto, descritivo-exploratória. Para responder ao objetivo desta pesquisa foi utilizada uma amostragem acidental não aleatória (MAROCO, 2003) de 562 basquetebolistas, do estado de Santa Catarina (289 masculinos; 273 femininos), todos participantes de competições de Jogos Escolares Municipais, Jogos Escolares Regionais, Campeonato de Ligas Regionais, Campeonato da Federação Catarinense de Basquetebol.
Foram utilizados dois instrumentos: um Questionário de Controle de Variável (apenas para controle das variáveis dependentes: sexo e categorias) e o Inventário de Treinamento Técnico-Desportivo do Basquetebol (ITTB-50). O ITTB-50 (GONZALEZ, 2006) avalia a freqüência do treino dos cinco principais fundamentos técnicos do basquetebol: Drible, Passe, Arremesso, Rebote e Defesa. Trata-se de 50 itens agrupados cinco a cinco, observando a seguinte seqüência: o primeiro item do primeiro bloco de cinco apresenta uma questão relativa ao fundamento Drible (ex.: drible em velocidade com mão direita); o segundo é o Passe (ex.: passe de peito sem oposição); o terceiro é o Arremesso (ex.: lances livres); o quarto é o Rebote (ex.: antecipação e bloqueio defensivo); e o quinto é a Defesa (ex.: marcação do jogador com bola). Esse mesmo modelo repete-se no segundo bloco de cinco itens, até completar dez blocos (perfazendo um total de 50 itens).
As respostas aos itens do ITTB-50 são dadas conforme uma escala bidirecional, de tipo Likert, graduada em cinco pontos, indo de “isto treino pouquíssimo” (1) a “isto treino muitíssimo” (5). Cada fundamento é analisado separadamente, mas um resultado total também pode ser obtido. Considerando que todos os fundamentos técnico-desportivos têm o mesmo número de questões, os escores obtidos em cada fundamento são comparáveis. O escore bruto elevado, seja em cada um dos fundamentos ou na escala total, indica alto grau de treinamento técnico do basquetebol.
A confiabilidade (fidedignidade) dessa medida, para os atletas desse estudo, foi determinada pelo viés da consistência interna. Assim, o coeficiente Alpha Cronbach obtido para a escala total foi de 0,931. A fidedignidade foi avaliada em cada fundamento em particular: Drible (0,85), Passe (0,75), Arremesso (0,72), Rebote (0,81), Defesa (0,80). Esses resultados demonstram escores significativamente satisfatórios, podendo ser interpretados de forma altamente positiva. Trata-se de um instrumento preciso de medida do treinamento técnico-desportivo dos fundamentos do basquetebol.
Quanto à validade, esta foi avaliada pelo viés da análise fatorial confirmatória. Num estudo com 148 atletas de basquetebol participantes da Federação Catarinense de Basquetebol, Gonzalez et al. (2007) avaliaram a validade do ITTB-50. Seu resultado apresentou um qui-quadrado significativo (X2 = 2211,90; gl = 1165; p < 0,001), resultado que é tipicamente encontrado em grandes amostras (COLE, 1987; MARSH; BALLA; MCDONALD, 1988). As outras quatro medidas de adequação ao modelo pentadimensional estão de acordo com os critérios padrões, garantindo-se assim, a adequação do modelo para a amostra estudada: X2/gl = 6,89; GFI = 0,90; AGFI = 0,89; RMS = 0,08. Essas medidas indicaram que o modelo de avaliação do treinamento técnico-desportivo do basquetebol pentadimensional, proposto pelo ITTB-50, é válido pelo viés da validade de construto.
Inicialmente, foram contatados os responsáveis pelos jovens basquetebolistas. O contato ocorreu no ambiente de treinamento. Considerando que os atletas não são acompanhados pelos pais, o pesquisador se identificou e explicou, por meio de um comunicado por escrito, o tema da pesquisa, os objetivos, e a relevância do estudo. Os basquetebolistas foram, então, convidados a participar da pesquisa. O ITTB-50 foi aplicado coletivamente em pequenos grupos, de acordo com a disponibilidade, a todos os jovens que optaram por participar. O preenchimento dos inventários teve a duração aproximada de 20 minutos.
Com a concordância verbal acordada, pedimos que o (a) treinador (a) ou o (a) responsável assinasse o termo de consentimento informado (livre e esclarecido). Os atletas que concordaram em participar também assinaram o termo de consentimento. Foi reforçado que, mesmo tendo assinado tal consentimento, o atleta poderia requerer em qualquer outro momento futuro, que seus dados fossem retirados das análises. Somente após essas importantes formalidades, foi iniciada a investigação. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS, reunião no. 14, ata no. 94 de 06/09/2007, por estar adequado ética e metodologicamente consoante à Resolução 196/96 e complementares do Conselho Regional de Saúde. O número de protocolo é 2007720. A aplicação do ITTB-50 ocorreu no período de descanso entre os jogos, durante os eventos realizados no Estado de Santa Catarina, entre os meses de outubro a novembro de 2007.
Resultados
Para responder adequadamente à questão central dessa pesquisa, procedeu-se à exploração dos escores obtidos pelo ITTB-50, segundo princípios norteadores comumente aceitos na literatura especializada (BALBINOTTI, 2005; PESTANA; GAGEIRO, 2003; REIS, 2000). Caminho feito, segue-se à apresentação dos resultados e a comparação das médias. Utilizou-se o programa estatístico SPSS 15.0 para a análise dos dados.
Os resultados obtidos foram descritos, a partir das estatísticas de tendência central (média, mediana, média aparada a 5% e a moda); de dispersão (desvio-padrão e amplitude total); e de distribuição da amostra (normalidade, assimetria e achatamento). Inicialmente, são apresentadas as estatísticas de tendência central e de dispersão da amostra. Como se pode observar na tabela 1, os índices obtidos nas médias dos fundamentos técnicos do basquetebol (independente da variável controlada) variaram muito pouco; em valores nominais o fundamento técnico do basquetebol treinado com maior freqüência foi o Arremesso, seguido, respectivamente, pelo Drible, Passe, Defesa e Rebote.
Tabela 1. Estatísticas de tendência central, de dispersão e distribuição
Em todos os casos foram observadas medianas com valores nominais muito próximos às médias. A média aparada a 5% em todos os fundamentos técnicos apresentou valores nominais muito próximos à média dos respectivos fundamentos. Esse fato sugere que os casos extremos não estão afetando as médias dos fundamentos técnicos. Conforme o esperado, os cinco fundamentos técnicos do basquetebol apresentaram distribuição com apenas uma moda. Igualmente, no caso das modas, não houve um grande afastamento entre os valores nominais das modas e os valores nominais das médias. A proximidade dos valores nominais das estatísticas de tendência central sugere tratar-se de distribuições normais (o que será testado logo a seguir). A seguir, serão apresentadas as estatísticas de dispersão e distribuição da amostra.
Gráfico 1. Distribuição das médias obtidas pela avaliação dos fundamentos técnico-desportivos do basquetebol em valores nominais
Sobre a dispersão da amostra, percebe-se que não houve grande variação entre o desvio-padrão dos diferentes fundamentos técnicos. Destaca-se, ainda, que em nenhum fundamento o desvio-padrão ultrapassou a metade do valor nominal das médias, indicando que a variabilidade e a dispersão dos dados são satisfatórias. No que se refere aos valores máximos, destaca-se que não houve variação (50 pontos). Isso indica que há homogeneidade nos casos extremos à direita da curva. Quanto aos valores mínimos, a variabilidade observada é relativamente baixa (de 10 a 19 pontos), considerando, é claro, o valor nominal expresso. Essa pouca variabilidade encontrada (oito pontos), independente da variável em estudo, indica certa homogeneidade nos casos extremos à esquerda da curva.
Discussão dos resultados
Antes de comparar as médias encontradas, conduziu-se o teste de Mauchly (p < 0,01), no qual seu resultado demonstrou que a homogeneidade da variância foi rejeitada. Sendo assim, conduziu-se um teste t pareado com o intuito de verificar fundamentos técnicos que melhor descrevem o treinamento técnico de basquetebolistas. A tabela 2 apresenta estes resultados.
Tabela 2. Fundamentos técnicos dos basquetebolistas
Os resultados do teste t pareado demonstraram que não existem diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05) entre os fundamentos técnicos Drible e Arremesso, e, Passe e Defesa. Entre todos os demais fundamentos técnicos do basquetebol, as diferenças foram estatisticamente significativas (p < 0,01). Portanto, o fundamento técnico mais treinado por basquetebolistas infanto-juvenis é o Arremesso e o Drible, indissociáveis estatisticamente (p > 0,05), seguidos por outra dupla de dimensões estatisticamente indissociáveis (p > 0,05), Passe e Defesa, e, por fim, pelo Rebote.
Os resultados demonstram, primeiramente, que a freqüência de treinamento nos principais fundamentos técnicos desportivos não são homogêneos, ou seja, alguns fundamentos técnicos desportivos são treinados com maior freqüência. Seguidamente, na comparação entre as médias, as dimensões Arremesso e Drible são fundamentos ofensivos treinados com maior freqüência. Provavelmente, por ser a maneira ofensiva de dar melhores oportunidades ou condições imediatas para obter resultados positivos nas futuras partidas. De maneira geral, pode ser aceito que a eficiência nos arremessos combinada com os rebotes de defesa parecem ser fatores preponderantes para a vitória (DE ROSE JR.; GASPAR; SINISCALCHI, 2002; WISSEL, 2006). O arremesso tem sido considerado o fundamento mais importante na prática do basquetebol e entre as técnicas de arremesso, o jump (arremesso em suspensão) tem demonstrado ser a mais eficiente e utilizada, independente da posição que o jogador desempenha (OKAZAKI; RODACKI; OKAZAKI, 2006).
É comum observar técnicos de equipes adultas e técnicos de categorias formativas utilizando grande parte do tempo do treinamento com exercícios de arremesso, mais especificamente com arremessos de longa distância (de três pontos) e arremessos livres. Segundo Ortega et al. (2007) diversos estudos relacionados à eficácia do arremesso de longa distância em diferentes amostras, afirmam que há uma maior porcentagem de eficácia no arremesso de três pontos à medida que incrementa a categoria de jogo, apontando valores de referência em torno a 17% na categoria infantil, 17% na categoria infanto-juvenil, 32% em juvenis e 34% em sênior. De modo que esses trabalhos indicam que o número de arremesso de 3 pontos é superior em adultos que em categorias de formação. No basquetebol moderno, cada vez mais esse fundamento apresenta-se como essencial para jogar contra sistemas defensivos com atletas mais altos e mais fortes.
Em relação aos lances livres (que é um dos tipos de arremesso), o que se observa na prática (como treinador de basquete), é que esses são fundamentais na decisão de uma partida, mais precisamente se as equipes sofrem muitas faltas. Um exemplo prático pode ser relacionado quando a equipe que cometeu a falta ultrapassou o limite das faltas coletivas; falta no momento do arremesso; faltas técnicas; etc. Na prática dos arremessos é necessário que os exercícios sejam de forma mais real possível em relação à característica do fundamento durante a competição (GUTIÉRREZ, 1998). Outro ponto em relação ao arremesso é a que os expectadores e mídia em geral dão, aos cestinhas das equipes, um valor maior comparados com os demais jogadores. Isso poderia estar levando muitos jovens a praticar exercícios de arremesso após os treinos.
Para Claret (2005), no desenvolvimento da perícia no basquetebol para a formação do atleta de alto rendimento, as aprendizagens técnicas são muito importantes, em especial aquelas relacionadas ao arremesso à cesta. A prática polivalente, de outros fundamentos técnicos, relacionados com a tática, dá uma maior riqueza motora e maior eficiência na partida (CLARET, 2005). Há relação entre a freqüência na utilização dos fundamentos técnico-desportivos no basquetebol e as funções específicas dos jogadores, como por exemplo, o armador utiliza muito bem o drible e o arremesso de média e longa distância e tais informações podem contribuir para otimização do processo de treinamento da modalidade (DE ROSE JR.; TAVAVES; GITTI, 2004; OKAZAKI; RODACKI; OKAZAKI, 2006).
No caso do fundamento Drible, que forma um grupo estatisticamente indissociável com o fundamento Arremesso (embora tenha sido nominalmente o segundo fundamento mais freqüentemente treinado em nossa amostra), representa a única alternativa em que permite que o atleta, com bola, possa se deslocar na quadra. Esse resultado está, possivelmente, associado à importância que esse fundamento tem na dinâmica do jogo. Esse recurso técnico deve ser bem dominado pelo atleta, pois a falta do domínio desse fundamento pode levar a violações (BELTRÁN, 1999).
O Drible é muito útil quando utilizado de forma racional e objetiva como progredir na quadra, criar espaços ou melhorar os ângulos de passe (WISSEL, 2006). Esses poderiam ser alguns dos motivos pelo qual esse fundamento é o segundo mais treinado pelos atletas catarinenses. No entanto, é comum observar, em jovens praticantes, a utilização inapropriada e abusiva desse fundamento, ou seja, com defeitos técnicos na sua execução, como por exemplo: driblar olhando para a bola. Ao driblar olhando para a bola, pode-se perder a oportunidade de passar a um colega livre de marcação.
É necessário que os atletas dominem o Drible da forma mais natural possível, utilizando o maior número de recursos, como por exemplo: a ambidestria, as mudanças de ritmo, entre outras. Para Okazaki e outros (2004), a técnica do Drible deve ser treinada por todos os jogadores. A experiência na área do basquetebol tem demonstrado que os armadores e alas devem ter maior domínio dessa técnica, pois nas suas funções, ela é determinante para o melhor rendimento. Diferentemente, no caso dos pivôs, por estarem muito próximos à cesta e jogar em zonas congestionadas, o uso do drible não é o fundamento mais recomendado. Durante o ensino do Drible é necessário proporcionar ao atleta o maior número de variações de exercícios com tipos diferentes de Drible, essenciais para cada situação do jogo que se apresente.
As dimensões Passe e Defesa aparecem no segundo lugar na ordem da freqüência de treinamento, essas dimensões, representam fundamentos técnicos desportivos essenciais para o jogo em equipe. Os passes podem incrementar as oportunidades para arremessar, mas, em todos os casos, será necessária uma prática freqüente, a fim de melhorar sua performance (GOLDSTEIN, 2003).
O passe ajuda na relação que se estabelece entre dois atletas ou mais atletas, portanto, o atleta com a bola deve procurar o colega, que realiza as ações necessárias para que o passe seja eficaz. É um fundamento peculiar, por ser essencial na cooperação entre os atletas de uma mesma equipe (BELTRÁN, 1999). Da qualidade do passe dependerá o êxito de uma ação posterior, por exemplo: um arremesso à cesta ou a saída no contra-ataque. A freqüência do treino do passe deve-se a que ele está associado à rapidez com que a bola se desloca na quadra. Possibilitando colocar a bola em qualquer local, às vezes sendo a única forma de fazê-lo. Nas partidas, as perdas da posse de bolas são, muitas vezes, por causa de passes mal feitos. É importante relatar aos atletas que um bom passe traz grandes possibilidades para que uma cesta seja convertida a favor.
Para Beltrán (1999), o passe é um fundamento que todo atleta sabe executar, mas poucos o dominam, a técnica perfeita para se beneficiar ao máximo em uma partida. Por exemplo, um atleta com uma boa bagagem de experiências desenvolvidas nas fases anteriores de aprendizagem, poderá utilizar o passe a serviço da equipe, colocando na partida uma série de recursos técnicos relacionados com ele.
A defesa representa o fundamento por meio do qual a equipe procura recuperar a posse da bola. Provavelmente por este motivo que, embora seja um fundamento tão importante, tenha sido o penúltimo (quarto) na freqüência de treinamento. Os fundamentos defensivos ou de marcação caracterizam-se pela execução sem a posse da bola (DE ROSE JR.; TRICOLI, 2005).
Outra explicação para esse resultado pode estar relacionada ao fato de que muitos treinadores treinam com mais freqüência os fundamentos ofensivos em detrimento dos fundamentos defensivos. Muitas vezes incentivados pelos próprios atletas, que encontram mais motivação nos momentos em que estão com a posse da bola. Para Wissel (2006), uma boa marcação é fundamental para ganhar uma partida, pois exige mais que habilidade; requer vontade e inteligência.
Segundo Lopes (2007), o primeiro sistema defensivo que deve ser praticado pelo iniciante é a defesa por zona da quadra. No entanto, observa-se que essa atividade é pouco trabalhada nessa fase. Normalmente, o sistema mais treinado é a marcação individual, em virtude do interesse da maioria dos treinadores em desenvolver as habilidades de ataque individual. Significa dizer que o interesse direto em trabalhar o ataque implica na exigência de trabalhar as habilidades de defesa.
Finalmente, o Rebote foi a dimensão treinada com menor freqüência. Esse resultado parece ser uma negligência com um fundamento tão importante, tanto para as ações defensivas quanto ofensivas. Santos e Tavares (2007) afirmam que o rebote ofensivo é uma ação fundamental no jogo de basquetebol, podendo constituir-se como a segunda “vida” do ataque. Se, em situação de jogo, o atleta consegue pegar um rebote ofensivo, essa ação possibilitará oportunidades de arremessos em áreas próximas à cesta, possibilitando diversas situações a seu favor como, por exemplo, faltas cometidas por adversários e evitando que o adversário possa contra-atacar com facilidade. Para os mesmos autores, os treinadores, de uma maneira geral, reconhecem a importância do rebote no jogo de basquetebol, considerando a elevada percentagem de lançamentos não concretizados (em média superior a 50%). No entanto, não obtém o cuidado necessário por parte dos intervenientes no jogo, continuando a ser uma ação negligenciada e subaproveitada no basquetebol português.
Acredita-se que os jovens dominem as bases técnicas da modalidade escolhida no começo da etapa de especialização esportiva, cuja tarefa é o aperfeiçoamento da técnica individual, a qual permanecerá pelo resto de suas vidas. De acordo com a faixa etária dos atletas de Basquetebol infanto-juvenis (13 a 16 anos), Oliveira e Paes (2001) destacam duas etapas: a etapa de especialização esportiva, que percorre fases diferentes no aprendizado e a etapa do trabalho esportivo especializado, a qual deve acontecer após os 14 anos de idade, em que os movimentos relacionados às habilidades esportivas passam do estágio específico geral para o estágio especializado. Dessa maneira, acontece o aperfeiçoamento do aprendizado anterior, na fase de iniciação, porém, com maior intensidade e dedicação nos treinamentos e competições. Para os mesmos autores, a especificidade do gesto técnico ou a definição de uma função na quadra, como o pivô no basquetebol, deve estar de acordo com a idade biológica e com as experiências vividas anteriormente.
O exercício diversificado das funções dos jogadores é muito importante, principalmente na faixa etária dos 13 aos 16 anos. Os atletas devem ter experiência nas diversas posições técnico-táticas do basquetebol para que no momento da especialização tenham mais recursos técnicos (DE ROSE JR.; TAVARES; GITTI, 2004). Essas atividades sãs essenciais no treinamento de atletas de basquetebol da atualidade.
Conclusão
Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam que o fundamento técnico-desportivo do basquetebol treinado com maior freqüência (em valores nominais) na faixa etária de 13 a 16 anos é o Arremesso, seguido pelo Drible, Passe, Defesa e Rebote.
As comparações de médias (teste t pareado) demonstraram que não existem diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05) entre dois pares de fundamentos técnico-desportivos do basquetebol: “Drible e Arremesso” e “Passe e Defesa”. Entre todos os demais fundamentos técnico-desportivos do basquetebol, as diferenças foram estatisticamente significativas (p < 0,01). Portanto, conclui-se que a ordem seqüencial da freqüência de treinamento dos fundamentos técnico-desportivos – da maior para a menor freqüência – é iniciada por dois grupos estatisticamente indissociáveis (p > 0,05): “Arremesso e Drible”, “Passe e Defesa”, seguidos pelo Rebote. Esse resultado responde ao objetivo geral do estudo.
Em síntese, o treino técnico-desportivo dos atletas brasileiros (13 a 16 anos) não é realizado de forma equilibrada. Existem alguns fundamentos técnico-desportivos treinados com uma maior freqüência em comparação com outros. O treino, da forma como está sendo conduzido, poderá levar o atleta a especialização técnico-tática demasiadamente precoce. Isso implica na formação de um atleta que no futuro não terá os recursos técnicos necessários para desenvolver todas as suas capacidades para desenvolver a performance de alto rendimento. Espera-se que esse estudo possa contribuir para melhorar os métodos de ensino e treinamento técnico-tático de jovens atletas de basquetebol.
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Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires,
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