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O conceito/olhar da Educação Física Escolar para 

alunos e professores: refletindo sobre suas diversas faces

El concepto / mirada de la Educación Física para los alumnos y los profesores: reflexionando sobre sus diferentes aspectos

 

*Acadêmico do 5º período do curso de Educação Física da Univali

**Professor Orientador da Disciplina de Produção do Conhecimento

em Educação Física do 5º período

Universidade do Vale do Itajaí

(Brasil)

Diogo Marques de Melo*

Tiago Antonio de Souza*

Bruno Emmanuel Santana da Silva**

tiago_souzaunivali@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo elege como questão prioritária à reflexão sobre os conceitos da educação física escolar para alunos e professores de outras áreas do conhecimento através de uma pesquisa bibliográfica e de alguns relatos de experiência. Sabe-se que o caráter educativo da educação física é bem maior e mais abrangente do que se tem mostrado e vivenciado, sendo assim espera-se desvelar os diferentes conceitos existentes em relação à educação física escolar.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Alunos. Professores.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física na escola é entendida como uma área que trata da cultura corporal e que tem como meta introduzir e integrar o aluno nessa esfera, para propiciar a formação de um cidadão autônomo. Neste contexto o aluno estará sendo capacitado para usufruir de jogos, esporte, danças, lutas, ginásticas e de todo tipo de atividade para o seu desenvolvimento em busca de bem-estar e crescimento saudável (BETTI, 1991; FREIRE; SCAGLIA, 2003). Neste sentido o referido estudo surgiu de algumas situações acontecidas na escola em que professores de outras disciplinas e alunos referem-se à educação física como se fosse uma matéria descontextualizada com a formação do aluno, e que pode ser substituída por uma “bola”.

    Estes acontecimentos não são atuais, há que se levar em conta que a educação física vem tentando ao longo do tempo livrar-se deste contexto um tanto quanto cultural através de inúmeras justificativas em relação a sua existência na escola.

    Também podemos destacar a falta de interesse por parte dos alunos pela disciplina e na maioria das vezes não sabemos dizer se o problema está no aluno ou no professor. Todos os aspectos citados acima influem muito no conceito ou olhar que os alunos e professores tem da educação física.

    Para tal estudo utilizaremos a pesquisa bibliográfica que nos dará subsídios para conhecer os diversos olhares que existem sobre a educação física escolar.

    Sendo assim a educação física tem como expectativa de objetivo no âmbito escolar criar uma reflexão critica sobre a cultura corporal, desenvolvendo esta reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade, cooperação e expressão de movimentos, e para isso elegemos como pergunta de partida: quais olhares/conceitos os alunos e professores de outras matérias têm da educação física?...acreditando assim que o tema em discussão é um tema muito pertinente para novas mudanças na área levando em conta todas as contribuições que os estudiosos já têm dado em relação a este tema em busca de um conceito ou olhar cada vez mais correto e aceito no âmbito escolar.

Metodologia

    O estudo foi desenvolvido na busca do conhecimento em relação aos diversos olharemos sobre a educação física, e para isso nos utilizamos da pesquisa bibliográfica, ou seja, utilizando como base as pesquisas já feitas anteriormente por outros autores, que não são muitas se diga de passagem.

    Utilizamos autores como Bracht, Daólio, Sayão, Barbosa, entre outros, que deram base teórica para nosso estudo, na qual, (Barbosa 2001, apud Santos 2001, p. 1), nos fala que ao olharmos para Educação Física Escolar no contexto da Educação, tem-se como papel principal tornar os alunos cidadãos críticos, e autônomos responsáveis pelos seus atos, visando à transformação da sociedade. Mas será que os professores e alunos têm esse olhar em relação à educação física? Ou será que a educação física está inserida no currículo escolar apenas para que o aluno tenha um momento de lazer?

    Através da pesquisa bibliográfica veremos realmente que conceitos e olhares os alunos e professores tem da educação física.

A educação física escolar e seus vários níveis de ensino: compreendendo suas funções e finalidades

    Em primeira estância o que se pergunta é por que tão poucas pessoas praticam atividade física? Qual é o papel da Educação Física Escolar neste contexto?

    Hoje em dia vemos que em muitas situações a população não tem acesso a educação que no caso já seria um dos fatores para o afastamento da pratica de atividade física regular.

    Outra hipótese seria das experiências anteriores dos indivíduos vivenciadas nas aulas de Educação Física nas escolas sendo que nestas não encontram prazer e acabam se afastando da prática de atividades físicas quando adultas.    

    Atualmente conceitua-se a Educação Física escolar como uma área que trata da cultura corporal com finalidades de formar um cidadão que vai produzi-la e reproduzi-la perante a sociedade.

    Os conhecimentos e o prazer que a prática da atividade física nos proporciona não teriam tanto valor se não fosse pela aprendizagem e as vivencias vinculadas ao âmbito escolar, desta forma vemos mais uma vez a importância da Educação Física Escolar.

    Mesmo tendo uma grande importância no quesito motor e cognitivo, o que se vê muito nas aulas de Educação Física são alunos deixando a educação física de lado preferindo conversas paralelas, não dando à devida importância a mesma. Por outro lado, percebe-se o afastamento desses alunos por motivos motores, ou seja, por não serem tão habilidosos acabam se afastando evitando serem alvos de gozações.

    Direcionando esta pesquisa para um panorama geral da Educação Física escolar, segundo Vermeil (1994), inicialmente, a escola foi criada para atender certa escolarização que, no entanto, estava voltada apenas para a educação intelectual. Assim, vendo-se acuada pelas exigências da sociedade, o sistema escolar foi deixando de lado os aspectos como o físico, emocional, moral e social, direcionando suas principais idéias e estrutura didática à apropriação do desenvolvimento biopsíquico dos alunos.

    Para DAÓLIO apud MATTOS & NEIRA, 2000, p.94, a Educação Física Escolar precisa fazer o aluno entender e conhecer o seu corpo como um todo, não só como um conjunto de ossos e músculos a serem treinados, mas como a totalidade do indivíduo que se expressa através do movimento, sentimentos e atuações no mundo.

    Para entender a Educação Física em todos os níveis de ensino, faremos uma breve explanação de cada nível, começando pela Educação Infantil que para a educação física é relativamente recente e muitas das vezes, apesar de estar nos termos da lei, essa prática pedagógica não recebe a devida atenção.

    Apesar do crescimento da produção acadêmica em nossa área relacionada a este concordamos com Sayão (2002) que assinala que a produção teórica da educação física para faixa etária de zero a seis anos e suas intersecções com os espaços educativos como creches e pré-escolas é carente de pesquisas e estudos específicos.

    Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, alguns dos objetivos gerais são: desenvolver uma imagem de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações, conhecer e descobrir progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar. Esses são alguns dos objetivos da Educação Física para a Educação Infantil.

    Para o Ensino Fundamental, os PCNs apontam para 3 reflexões: principio da inclusão: através da cultura corporal de movimento com o objetivo da participação de todos. Deixando de lado a seleção à sujeitos aptos ou inaptos existente anteriormente segundo a história;

    Principio da diversidade: usa diversas formas de ensino e aprendizagem, bem como visa diferentes objetivos tais como atingir as dimensões afetivas, cognitivas, motoras e socioculturais;

    Categorias de conteúdos: onde podem ser conceituais: fatos, conceitos e princípios; procedimentos ligados ao fazer e atitudinais: normas, valores e atitudes.

    Para o ensino médio a Educação Física destaca ser o momento em que o desenvolvimento é “acelerado” em todos os seus aspectos, acorrendo várias mudanças frente as quais os/ as adolescentes vêem-se em um momento de crise. Neste sentido a Educação Física deve atuar e direcionar seus conteúdos a expressão corporal enfatizando a atividade física como meio de buscar e promover a saúde, nunca enfatizando a busca pelo corpo perfeito fazendo com que estas práticas possam servir a todos.

    Fala-se muito em práticas e teorias renovadas para a Educação Física Escolar, mas será que o ensino superior atende a estes quesitos em alta escala?

    As universidades vêm cada vez mais se atualizando para atender a estas perspectivas de ensino para a escola em um momento em que a educação física atravessa uma fase de questionamentos e de buscas, com aspiração de ver efetivada sua identidade e a sua caracterização, uma vez que é comumente vista como um agente de instrução física, carente de um conhecimento pedagógico-educacional específico.

Os olhares/conceitos da Educação Física escolar para alunos e professores

    Desde 1851 quando a Educação Física foi introduzida oficialmente na escola, toda sua prática tinha cunho tecnicista e masculinizado e somente em 1882 passou a ser obrigatória para ambos os sexos, naquela época chamada de ginástica.

    Várias foram às tentativas de justificar a presença da Educação Física no currículo escolar ao longo da constituição da escola moderna. Estas justificativas estabeleceram-se como tendências da Educação Física.

    Segundo Bracht “com a superação da ditadura militar e os destinos da educação mais nas mãos dos educadores, era provável que a presença da educação física nos currículos escolares passasse a ser fortemente questionada”. Não se tratava mais de preparar o corpo para a guerra, ou para o trabalho através da repetição de exercícios metódicos (2001, p. 67).

    Até meados da década de 80, a Educação física era inserida na escola com práticas tecnicistas e somente após esta data é que alguns estudiosos vieram romper com este modelo tecnicista, rumo a uma concepção mais completa passando a ser entendida como instrumento de educação integral ao qual aparecem os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e motores.

    Com esses aspectos aparecem novas concepções para a Educação Física, tornando-se uma prática pedagógica, no âmbito escolar, tematizando formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura do corpo.

    Para Bracht, “[...] diferentemente das outras disciplinas que tratam especificamente de um saber conceitual, a Educação Física possui um duplo caráter “a) ser um saber que se traduz num fazer, num realizar corporal; b) ser um saber sobre esse realizar corporal” (1997, p. 18).

    Mesmo sabendo e reconhecendo a importância da Educação Física na escola, grande parte dos professores de outras disciplinas associa a mesma, a prática esportiva e a um momento de maior liberdade, dado que as aulas ocorrem, predominantemente, fora da sala de aula.

    Santos, afirma que “os professores destas disciplinas também desconhecem o valor da atividade física na idade escolar e, naturalmente, vão se distanciando, em nível de trocas de experiências e de planejamento, dos professores de educação física” (2008, p. 1). Nesse sentido as aulas de Educação Física, aparecem conectadas e reduzidas ao ambiente da “quadra”, desprovidas das necessidades de lousa ou caderno, visto seu perfil puramente prático, ausente de qualquer conceito teórico à priori, sendo que a Educação Física transcende a movimentação do corpo, o movimento padronizado e a obediência a regras rígidas. Para tanto, é necessário privilegiar a cooperação; resgatar a ludicidade perdida em favor do alto rendimento, e estimular o movimento expressivo, criativo e consciente em detrimento do movimento corporal puramente imitativo, oportunizando, assim, o desenvolvimento das diversas dimensões humanas para que o aluno se entenda como um ser no mundo, consciente das circunstâncias existentes e das ações que, provocadas por tais circunstâncias permitam ultrapassá-las.

    Como a pesquisa tem cunho bibliográfico, buscamos autores que relatassem de forma objetiva a opinião dos indivíduos participantes de suas pesquisas, sendo assim, Perfeito 2008, “em sua pesquisa feita com 496 alunos afirma que a maioria dos alunos do ensino fundamental (55,3%) praticam as aulas de educação física destacando seu interesse pela saúde e já no ensino médio, grande parte dos alunos (62,0%) praticam as aulas em questão da oferta de diversão. Ainda na mesma pesquisa, ao perguntar quais eram suas avaliações sobre a educação física, ele obteve como resposta da grande maioria que as aulas eram legais e animadas, e quando perguntados sobre a importância da mesma, o ensino fundamental (99,6%) respondeu que as aulas são importantes, já o ensino médio (80,5%) respondeu não ver tal importância”.

    A Educação Física mostra-se também como disciplina da área da saúde, pois grande parte dos alunos a entende nesta perspectiva, diferentemente dos adultos entrevistados na pesquisa da Folha de São Paulo (1997) que responderam buscar a atividade física por razões estéticas. (Para Caviglioli 1976, apud, Perfeito, 2008, p. 9) “os alunos tem uma imagem valorizada da disciplina de Educação Física, relacionando-a com liberdade, alegria e prazer”. (Já para Darido 2004, apud Perfeito, 2008, p. 9) em um estudo feito com alunos de escolas públicas, observou-se que 20% deles acreditam que a Educação Física tem menos importância do que as outras disciplinas curriculares, o que corrobora o observado no estudo de (Zuliani, 2002, apud Perfeito 2008, p. 9), o qual declara que os escolares não vêem o que a educação física tem de comprometimento com a educação.

    Vários podem ser os motivos para esse olhar “enfraquecido” em relação a educação física, podemos pensar nos conteúdos que são trabalhados nas aulas, na qual vemos práticas descontextualizadas e quase sempre relacionadas a prática desportiva, o que colabora para as aulas serem um tanto quanto esportivizadas, tendo como conseqüência o afastamento de muitos alunos.

    Para Krebs:

    A Educação Física perdeu seu contexto pedagógico e não existe uma verticalização dos conteúdos que respeite os níveis de desenvolvimento motor humano. O aluno aprende sempre os mesmos conteúdos desde a quinta série do Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio. O mesmo autor defende que os conteúdos e estratégias escolhidos devem sempre propiciar a inclusão de todos os alunos. (1997, apud PERFEITO , p. 9, 2008).

    A escolha dos conteúdos deve ser pensada de forma geral, ou seja, pensando em todos os temas como, jogos, lutas, ginástica, dança, esporte, etc. Outro ponto importante é sobre o professor que muitas vezes é o que faz o aluno gostar da matéria ou não, pois sua conduta, autonomia e estímulo fazem com que a aula tenha forte validade e conseqüentemente os alunos darão mais valor à matéria. Nesse sentido, o professor como “ator” principal e condutor de tais práticas corporais deve propiciar atividades lúdicas em todos os níveis de ensino fazendo com que os alunos menos habilidosos participem das aulas.

    A escola é um espaço que propicia várias práticas e cabe ao professor fazer com que isso aconteça e não basta apenas dizer que os alunos não participam ou não gostam de tais práticas, pois, os mesmos estão ali prontos para aprender e vivenciar todos os aspectos e práticas relacionadas a cultura corporal.

Considerações provisórias

    O papel da Educação Física na escola é a forma como seus profissionais incorporam o caráter especial da área e suas diferenciações em relação às outras disciplinas são significativas para compreendermos sua prática escolar.

    O caráter diferencial da Educação Física em relação às outras disciplinas é bem mais abrangente do que se tem destacado no âmbito escolar, bem como, a quantidade de praticas corporais que se dá num ambiente cultural, com pessoas que fazem parte de uma realidade social, e isso é infinitivamente maior do que a escola poderá oportunizar para seus alunos.

    Além disso, a educação física escolar considera o princípio da alteridade como um de seus pontos principais, sabendo reconhecer as diferenças, não só físicas, mas também culturais mostrando sempre as condições de igualdade e aceitação do outro, ou seja, destacando sempre as plenas condições de exercício da cidadania “pois os homens são iguais justamente pela expressão de suas diferenças” (Daólio, 1995, p. 100).

    O que mais fica evidente a partir deste estudo é que o verdadeiro papel da educação física se efetivará a medida que as instituições e os professores souberem incorporar o verdadeiro valor e significado da mesma.

    Quanto ao olhar/conceito de alunos e professores para a educação física podemos relatar tanto no senso comum como também nas bibliografias estudadas que os conteúdos que o professor irá passar para os alunos faz muita diferença e não apenas na prática, mas também nos aspectos relativos a aceitação dos alunos pela disciplina. Outro ponto pertinente é a forma como estes profissionais irão trabalhar os conteúdos previstos, pois não basta apenas reproduzir tais conteúdos, o que realmente faz a disciplina ter o valor devido é fazer com que os alunos reflitam sobre os conteúdos trabalhados tanto na teoria como na prática.

Referências bibliográficas

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