O brincar na educação infantil: relações entre o discurso e a prática docente do professor de Educação Física El jugar en el Nivel Inicial: relaciones entre el discurso y la práctica docente del profesor de Educación Física |
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*Prof. Dr. do Curso de Licenciatura em Educação Física Vice-Diretor do Centro de Desportos da UFSC **Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física do CDS/UFSC |
Edison Roberto de Souza* Juliana Maurício** (Brasil) |
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Resumo O objetivo desse estudo descritivo exploratório qualitativo foi o de estabelecer relações entre o discurso e a prática do Professor de Educação Física da Educação Infantil ao analisar os conteúdos e a metodologia utilizada no cotidiano de suas atuações docentes. Na consolidação dos objetivos utilizou-se a entrevista semi-estruturada com os educadores e a observação de suas aulas. Os dados coletados foram interpretados utilizando como técnica a análise de conteúdos de Bardin (1977). Foram sujeitos do estudo os professores de Educação Física que atuam com crianças de faixa etária de três a seis anos de idade de três instituições diferenciadas: uma particular, duas públicas (federal e municipal). Os resultados mostraram que em sua essência, o discurso é em parte, observado no contexto do fazer pedagógico em suas aulas. Porém as lacunas nas propostas pedagógicas denotam uma fragilidade na relação teoria e prática da disciplina. Mesmo que se possa compreender a Educação Física na Educação Infantil em diferentes perspectivas, seus olhares convergem singularmente para o desenvolvimento integral da criança. Assim, nos discursos, apontam para uma Educação Física que prioriza um espaço de vivências de desenvolvimento infantil. No entanto, ao analisar a prática, observou-se um desconhecimento pedagógico, principalmente dos componentes curriculares que possam atingir com plenitude os objetivos da disciplina na Educação Infantil. Unitermos: Educação Física. Educação Infantil. Desenvolvimento infantil.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este trabalho buscou estabelecer nexos entre o discurso e a prática docente a respeito do brincar nas aulas de Educação Física na Educação Infantil, nas instituições definidas como creches e pré-escolas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB9394/96.
A escola de Educação Infantil como compreendido, pode então ser caracterizada, como um lugar de descobertas e de ampliação das experiências individuais, culturais e sociais, através da inclusão da criança em ambientes distintos dos da família. Para Machado (1994), a criança é um ser social, o que significa dizer que seu desenvolvimento se dá entre outros seres humanos, em um espaço e tempo determinado. Um espaço onde se associa o desenvolvimento da criança, seu mundo de vida, com os contextos sociais e culturais que a envolvem através das inúmeras experiências que ela deve ter a oportunidade de vivenciar nesse espaço de sua formação.
Neste contexto, a Educação Física tem um papel fundamental pela possibilidade de proporcionar às crianças uma diversidade de experiências através de situações nas quais elas possam criar, inventar e descobrir movimentos novos. Além disso, é um momento onde através das experiências com o corpo, com materiais, as crianças descubram em suas relações sociais, seus próprios limites, enfrentem desafios, conheçam o próprio corpo, relacionem-se com outras pessoas, expressem sentimentos, utilizando a linguagem corporal, entre outras situações importantes para o desenvolvimento de suas capacidades tanto motoras, intelectuais e afetivas.
Assim, o conteúdo da Educação Física nesse espaço educacional não pode ser desenvolvido apenas com aplicação de atividades pré-estabelecidas, mas sim servir como um espaço de vivências onde a criança possa buscar através da sua própria ação significados, novas experiências e conhecimentos.
Porém, percebe-se ainda, a existência de barreiras, principalmente no que se referem aos conteúdos a serem desenvolvidos. Os conteúdos não são especificados com clareza permitindo que diversas outras atitudes pedagógicas sejam assumidas fazendo com que as atividades mais importantes e fundamentais para a criança não sejam contempladas em sua maioria, restringindo-se a atividades localizadas em parques e ou nos momentos de espontaneidade infantil. Portanto, com esta preocupação que o estudo foi desenvolvido, sobretudo na perspectiva de compreender o fazer pedagógico do professor de Educação Física ao estabelecer relações entre o discurso e a prática na docência na Educação Infantil.
A opção pela pesquisa exploratória descritiva se deu em função de um levantamento de dados, com a intenção de buscar situações ou opiniões dos professores entrevistados na perspectiva de esclarecer conceitos e idéias sobre suas percepções a respeito da Educação Física na Educação Infantil, que possa servir para estudos posteriores.
Buscou-se identificar algumas características da prática pedagógica a partir da utilização de uma entrevista semi-estruturada aplicadas aos docentes de que atuam com crianças de três a seis anos de três instituições diferenciadas: uma particular, uma pública federal e uma municipal e pelos dados coletados pela técnica da observação no período de três semanas por escola.
Análise dos dados ocorreu através da transcrição das entrevistas gravadas, coma interpretação qualitativa a partir da técnica proposta por Bardin (1977) que se a refere à análise de conteúdo como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.
O ponto de partida da análise de conteúdo foi o tentar buscar o entendimento do conteúdo da mensagem respectiva às comunicações dos sujeitos do estudo, buscando, sobretudo compreender seus sentidos e significados. Sua sistematização seguiu basicamente três etapas: pré-análise, exploração do material e interpretação referencial.
A pré-análise oportunizou sistematizar as idéias, baseado nas respostas obtidas aproximadas aos objetivos do estudo e na elaboração de indicadores que fundamentam a interpretação final. Na exploração do material, os documentos foram analisados, tomando como base suas questões em íntima relação com o referencial teórico do estudo. A partir desse momento foram estabelecidas as categorias de análise, ocorrendo à codificação e identificação das unidades de registro das entrevistas. Na interpretação do referencial a partir dos dados empíricos e informações coletadas se estabeleceu as devidas relações entre o objeto de análise e seu contexto mais amplo.
Apresentação e análise dos resultados
A seguir, a partir das observações e das entrevistas com os professores de Educação Física da Educação Infantil das instituições educativas investigadas, apresenta-se a análise dos mesmos, numa abordagem qualitativa, sob a luz da teoria do fenômeno investigado.
O planejar
O planejamento é essencial para conduzir um trabalho organizado e eficaz, serve para ordenar as atividades e para se conseguir estabelecer os objetivos que desejam atingir com seus alunos. Nessa perspectiva, Nasário (1999, p. 65) explica que “deve-se entender que é o planejamento que orienta e conduz de forma organizada, as ações do conteúdo mais perto da concretização dos objetivos propostos”.
De acordo com a prática vivenciada nas escolas pesquisadas e os dados obtidos nas entrevistas percebe-se que cada profissional utiliza um procedimento metodológico para o desenvolvimento de suas atividades.
Segundo o relato do educador A, as aulas de Educação Física são desenvolvidas a partir de conteúdos baseados em um planejamento anual, que é desenvolvido pelo próprio professor de Educação Física através das suas experiências, recebendo modificações anualmente.
No primeiro bimestre ou o primeiro ciclo, como relata o educador, encontra-se um momento de observação e interação com as crianças. A sua fala ilustra essa situação:
- nesse primeiro ciclo é uma formação do grupo, é para o professor conhecer bem o aluno, para criar laços e ter essa distância diminuída, para eles terem uma confiança grande em mim. Não é muito repreendido no início para não criar algum estereótipo, ou a criança não gostar do professor. A primeira fase minha é uma fase de conquista, o aluno tem que confiar em mim, tem que ser meu amigo, então eu acredito que eu tendo a confiança deles essa amizade depois eu consiga fazer alguma modificação.
Sob o ponto de vista do educador, esta fase, consiste no processo de relação e de aproximação entre as crianças, de formação de grupo para que eles possam conhecer o aluno e também o professor e ter a total liberdade de conversar e de se expor. Durante as observações constatou-se que há um bom relacionamento entre professor e aluno, há um respeito mútuo, as crianças sabem o momento de ouvir e falar, compreendendo facilmente o que está sendo exposto pelo professor.
O mesmo ficou evidenciado nas três instituições investigadas, onde ter um bom relacionamento com as crianças se apresentava como intenção por parte dos educadores em sua prática pedagógica, visto que a resposta das crianças era imediata.
A relação de afetividade é significante nesta fase da vida, pois nesse período as crianças estão descobrindo um novo espaço e começando a ser relacionar com pessoas distintas ao da sua família. A existência de uma boa afinidade serve para romper qualquer barreira e é a principal ferramenta para desenvolver um bom trabalho e proporcionar as crianças o desenvolvimento de outras capacidades como o cognitivo e o motor. Sobre essas palavras Souza (2001, p.180) esclarece que “a afetividade desempenha um papel fundamental na constituição e no funcionamento da cognição infantil, determinando os interesses e as necessidades da criança”.
Os educadores entrevistados apresentaram ainda em suas práticas métodos diferenciados para conduzir suas atividades. Dos três educadores, um apresentou uma melhor metodologia. As atividades tinham como princípio a explicação do que seriam realizado, as crianças eram instigadas ao que seria proposto e as mesmas possuíam uma maior liberdade para questionar e dar idéias, as atividades começavam a partir do momento em que elas saiam da sala de aula. Pode-se observar um trabalho organizado e criativo que tinha como base as necessidades que as crianças apresentavam.
Isso vai de encontro ao que destaca Volpáto (2002) ao enfatizar que a metodologia deve ser aquela que coloca o professor como mediador no processo de conhecimento, ao mesmo tempo em que leva o aluno a interagir com o conteúdo de forma dinâmica, reflexiva e aberta.
Segundo o autor cabe ao professor utilizar metodologias que possam despertar no aluno curiosidade e interesse oportunizando na criança a busca de respostas que possibilitaram a troca de experiência favorecendo sua aprendizagem.
O mesmo não foi observado nas outras instituições, onde puderam ser observadas atividades que começavam e terminavam da mesma maneira, tornando-se uma rotina e que de certo modo não entusiasmava mais as crianças ao que estava sendo proposto.
Ainda em seu relato o educador A explica que o objetivo de seu trabalho é proporcionar as crianças atividades lúdicas, sendo prazerosas, como as brincadeiras, pois a faixa etária o qual se encontram as crianças pesquisadas necessitam desse conteúdo. As palavras do educador se comprovaram nas observações, onde a brincadeira se fazia presente, porém, nas outras instituições investigadas os educadores apresentavam em suas atividades brincadeiras com maiores possibilidades e oportunidades de experimentar diferentes movimentos e descobrir o próprio corpo, utilizando diversos materiais e explorando o próprio espaço.
No trabalho da educadora B identificou-se um planejamento semanal, ocorrendo três aulas por semana quatro grupos de manhã e quatro grupos à tarde. As atividades são planejadas de acordo com a faixa etária, mais ou menos as mesmas atividades só que adequadas a cada faixa etária. O mesmo não foi demonstrado nas observações onde as atividades eram as mesmas para todas as turmas de faixas-etárias diferentes sem ocorrer nenhuma modificação. Mesmo sendo as brincadeiras iguais para todas as faixas-etárias as crianças apresentavam interesse pelo o que estava sendo proposto.
Ainda de acordo com o seu relato ocorrem também os planejamentos estratégicos para os dias chuvosos, pois segundo a educadora não há espaço grande e coberto para a prática das atividades, esse problema de não ter espaço adequado causa um desvio na condução das atividades, pois a aula compete com o parque e as outras crianças que estão em torno.
De acordo com as observações pode-se notar essa dificuldade de espaço. Espaço esse que divide a atenção de todas as crianças com acontecimentos externos ao da aula. Esse problema também foi identificado em uma das outras instituições onde as aulas de Educação Física eram realizadas em uma quadra de esportes localizada na parte externa da escola. Conforme os educadores relataram há sempre que ter um plano estratégico para os problemas encontrados, seja por causa da localização ou do tempo climático.
Relata ainda, que ocorrem nas sextas-feiras um projeto chamado sexta-feira divertida, que conta com a ajuda das professoras de sala de aula e que ocorrem quinzenalmente. Sua fala explica o projeto:
- nessas sextas-feiras a gente faz oficinas eu planejo as oficinas e distribuo entre as salas onde será cada oficina e as professoras e auxiliares de sala que se responsabilizam em executar, então eu fico coordenando as crianças porque não fica cada grupo em uma oficina eu pego um pouco de cada grupo e faço uma turma só tendo crianças de várias faixas etárias participando de determinada oficina naquele momento, não é cada sala separada da outra é tudo misturado. Na reunião pedagógica a gente já escolhe as atividades que vão acontecer e vamos listando ai eu escolho quatro atividades (oficinas) por cada sexta-feira.
Notou-se que a participação das professoras de sala de aula apenas eram observáveis neste projeto da sexta-feira divertida, nos momentos das aulas de Educação Física não havia participação das mesmas.
O educador C apresentou em sua entrevista um planejamento também baseado nas experiências, partindo do dia a dia com as crianças, absorvendo e aperfeiçoando as atividades para preencherem as necessidades das mesmas. Observou-se a utilização de um tipo de metodologia diferenciadas das demais escolas, suas atividades são agendadas semanalmente, diferente das outras instituições as aulas de Educação Física não apresentam horários definidos, as atividades são agendadas pelas professoras ou pelo professor de Educação Física de acordo com as necessidades que as crianças apresentam. O educador ainda relata que:
- há um registro em um quadro que me dá uma panorâmica de tudo que proponho com os diferentes grupos. E quase sempre fazemos uma avaliação do que foi experienciado, uma vez que as professoras participam de todo o processo. Planejamento, execução, e avaliação.
Verificou-se uma integração bastante significativa entre os professores, de acordo com as observações e o relato do educador, as professoras de sala sempre estão presentes nas aulas de Educação Física, não só observando mais participando das atividades. Isso ficou muito evidenciado a partir das observações onde se pode notar que as professoras estão inteiramente presentes nas atividades, questionando, ajudando e avaliando. Fato que não foi demonstrado nas outras instituições visto que as professoras ficavam fora das atividades e do que estava sendo realizado. Nasário (1999) comenta que a realização do planejamento em conjunto com os professores é uma das melhores formas de envolver todo o grupo para refletir, discutir, organizar e conduzir com eficiência um trabalho e, em função disto, ter um melhor desempenho.
Pode-se observar um trabalho coletivo, de cooperação, de comunicação, de socialização onde as atividades passam a ter significados positivos e de grande importância no desenvolvimento da criança. Este revela a essência da Educação Física na Educação Infantil apresentando um conteúdo o qual possibilita a criança o seu desenvolvimento em várias dimensões.
A concepção pedagógica
De acordo com as pesquisas, constatou-se que a maioria dos profissionais não segue uma linha teórica específica, muitos utilizam como referencial seu trabalho diário, a partir das suas experiências pessoais e profissionais.
O educador A em seu relato explica que a sua forma de trabalho não segue nenhuma linha de pensamento, seu referencial parte da sua experiência, e o mesmo ainda afirma que, a própria instituição tenta captar o que tem de melhor em cada concepção.
- A minha forma de pensar eu não adoto uma linha, eu vejo o que mais se adapta. E modifica muito, às vezes eu vejo que uma turma eu preciso ser um pouco mais rígido de repente a outra eu tenho que deixar mais solta mesmo. O colégio não adota nenhuma linha de pensamento, nas nossas reuniões ela diz que gosta de pegar todos os pensadores e tentar aproveitar cada um deles da melhor maneira possível.
O mesmo se fez presente no que foi exposto pela educadora B, que em sua entrevista relata que sempre trabalhou na rede pública e as concepções mudam a cada instante nessas instituições.
- vai ao longo mais pela experiência e por aquilo que tu aprende com as crianças, mais isso não é muito baseado na teoria a gente aprende a teoria da faculdade e também já mudou muito o currículo da educação física desde a época que eu fiz, então é mais assim um apanhado de vários educadores e pensadores que a gente propõe.
Diferentemente dos educadores citados o educador C em seu relato destaca uma linha de abordagem pedagógica que é adotada pela instituição e que ele segue já que seu trabalho é realizado em grupo. A concepção é a sociointeracionismo, correntes influenciadas nas discussões e reflexões dos trabalhos de Vigotsky, Wallon, e ainda nos estudos da psicomotricidade relacional seguem Lapierre.
Ficou mais do que evidenciado nas observações realizadas a importância de se ter uma linha de pensamento que conduza as atividades. O educador C apresentou propostas de atividades organizadas e bem conduzidas que contemplassem a criança, respeitando suas características e seu desenvolvimento partindo das contribuições de Vygotsky e Wallon como foi mencionado em seu relato.
Os objetivos da disciplina
Constatou-se nas entrevistas e observações que cada profissional compreende os objetivos da Educação Física na Educação Infantil de forma diferenciada.
Na compreensão do educador A os objetivos da Educação Física se caracterizam em suprir necessidades da criança que a afetam no seu desempenho escolar e até mesmo no seu dia a dia. A necessidade de se trabalhar o domínio motor é destacado pelo educador, conforme suas palavras:
- A educação física contenta todos esses aspectos, tenta suprir alguma necessidade, alguma carência, como eu posso citar na lateralidade, de repente a criança que confunde a letra p com a letra b, provavelmente ela não tem uma boa lateralidade, provavelmente ela não sabe o que é esquerdo e o que é direito, acho que a educação física pode estar contribuindo com isso, para que ela possa ter mais facilidade para melhorar a escrita, controle espacial, então de repente na escrita ela come umas letras, não segue a linha, de repente não tenha essa capacidade específica bem apurada podendo se trabalhada mais.
O mesmo não foi observado nas atividades propostas, que foram apresentadas com brincadeiras que não tinham somente a intenção de suprir as necessidades apresentadas pelo educador, mas sim contemplar o desenvolvimento da criança em diferentes dimensões. Foram proporcionadas as crianças brincadeiras como: pega-pega, salva-bandeira, pega-rabo, pega-congela entre outras.
Na visão da educadora B o objetivo da Educação Física se apresentou como pertinente ao desenvolvimento global da criança, partindo do princípio que a brincadeira é uma possibilidade de desenvolver aspectos como a socialização, a integração, mas principalmente o eixo para se conseguir desenvolver, como destacado, a motricidade.
- eu acho que tudo parte da brincadeira se eu tenho objetivo de trabalhar com equilíbrio, com a criança, coordenação eu procura utilizar a brincadeira para atingir esse fim. A educação infantil tem que ser muito diferente da educação fundamental, então eu procuro fazer com que as crianças estão ali brincando e não estão nem percebendo que estão trabalhando toda a motricidade, equilíbrio, a coordenação motora.
Igualmente ao que foi relatado, a prática foi desenvolvida com brincadeiras que possibilitavam o desenvolvimento motor da criança a partir das diversas possibilidades, onde a criança experimentava o próprio corpo, superando seus limites. As brincadeiras eram realizadas através de circuitos, formados por momentos onde a criança saltava, equilibrava, agachava, pendurava entre outros e também atividades com diversos materiais onde a criança jogava a bola dentro do arco, pulava em arcos com pés juntos, alternados, em um pé só, andavam de perna de pau entre outros. O momento de socialização e cooperação relatado pela educadora foi pouco evidenciado nas atividades, a maioria eram realizadas individualmente não havendo interação entre as crianças.
A educadora B ainda ressalta que a organização do espaço para a realização das atividades é fundamental, visto que a criança quando vê o local da atividade organizado ela possui uma menor possibilidade de se sentir perdida e você tendo materiais, espaço organizado e delimitado as crianças podem criar a partir disso.
Isso vem de encontro ao que aponta Fantin (2000) ao esclarecer que o professor pode construir um ambiente que estimule a brincadeira, pois a criança brinca com o que ela tem nas mãos e com o que tem na cabeça e, desta forma, a diversidade de materiais e o espaço organizado orientam a brincadeira.
De acordo com a autora proporcionar as crianças um ambiente organizado e com diversas possibilidades, sejam elas os materiais ou o espaço, incentivam a criança a brincar e ainda possibilita seu poder de imaginação e criação.
O educador C destaca em seu relato uma visão diferente dos outros educadores, seus argumentos já começam enfatizando que o trabalho com essa faixa etária não prende somente ao desenvolvimento motor o trabalho deve contemplar o corpo como um todo, que possa trazer o desenvolvimento da criança de uma forma harmônica. A abordagem educativa deve se baseada na interação, superação de limites, na reflexão das questões ambientais, na saúde e hábitos salutares. O educador ainda ressalta a importância de compreender a criança e suas características:
- cada grupo, em cada momento nos dá pistas de qual caminho, ou projeto a seguir, tornando-se um trabalho personalizado. O professor tem que ter compromisso com aquilo que está fazendo, saber entender a necessidade da criança. E não apenas ficar na mesmice, não pode se levar pelo sistema.
Partindo do que foi relatado pelo educador ficou mais que comprovado nas observações a importância do desenvolvimento da criança como um todo nas atividades propostas. Os momentos de integração, de cooperação estavam sempre presentes na aula, havia uma ampliação de conhecimentos, onde as crianças questionavam sobre o que iria ser realizado e também eram questionadas. Aspectos essências para o desenvolvimento da criança, descobrindo e entendendo não só o corpo mais os colegas, o ambiente, o mundo.
As abordagens educativas citadas pelo educador vão de encontro ao que esclarece Vaz, Sayão e Pinto (2002, p. 59) ao que explicar que “a interação, a brincadeira, e as diferentes linguagens da criança são eixos fundamentais num processo educativo no qual a criança é vista como um todo indissociável”.
Sob o ponto de vista dos autores a criança deve ser compreendida em sua totalidade e as propostas educativas devem contemplar todas as características e necessidades das crianças.
O brincar e seus significados
Identificou-se nas entrevistas e observações de grande parte dos profissionais entrevistados que o brincar possui uma importância significante para conduzir o trabalho com crianças nessa faixa-etária. Mas de acordo com um dos educadores pode-se identificar a utilização da brincadeira com outras finalidades.
Conforme o relato do educador A a brincadeira é fundamental para essa faixa etária, porém o que foi ressaltado pelo o educador em sua entrevista foi à duração que as brincadeiras possuem. Segundo o educador devem ser com baixo tempo de duração, para manter a atenção total das crianças.
- eu tento propor de quatro a três atividades aquela que abaixa um pouco o interesse já passo para outra e assim sucessivamente, para ta sempre mantendo a atenção total sei que é difícil, é uma maneira de estar 100% na aula, porque se a coisa é interessante eles querem participar, na medida que participaram pouco vai perdendo a graça vamos dizer assim e já vai diminuindo atenção ai qualquer coisa que passa já chama a atenção eles largam isso e vão para outra. Eu acredito que bastantes atividades com pouco duração, terminou uma já reuni o grupo e já começa outra.
Os argumentos do educador se contrapõe a concepção de Fantin (2000) ao explicar que não é suficiente “dar” às crianças o direito ao jogo. Para ser uma atividade significativa, é preciso despertar e manter nelas o desejo do jogo, e para isso não basta somente ampliar o tempo de brincar ou o tempo de recreio, mas sim aumentar as possibilidades de experiência.
Segundo a autora citada, fica evidenciado que a questão não transcorre pelo tempo da atividade, mas sim, sobretudo, por sua qualidade. As atividades devem possuir significado para criança e não somente ser um momento de “passar o tempo” ou ter atenção das crianças.
Ficou provado nas observações que o educador utiliza de um número de brincadeiras e que essas vão sendo mudadas de acordo com o interese da criança, a atenção das crianças ao que está sendo realizado é muito solicitado pelo educador. O principal interesse aqui constatado foi ter a atenção das crianças presente em todo momento da brincadeira, diferente das outras instituições pesquisadas que se preocupavam em proporcionar a criança um momento de alegria e experimentação, sem cobrar delas participação nas atividades e querer atenção a todo o momento, respeitando o tempo da criança e seu interesse.
Nas palavras da educadora B a brincadeira é muito utilizada em seu trabalho assim como diversidades de materiais, o esporte algumas vezes é trabalhado, porém sempre de maneira lúdica utilizando a brincadeira. Segundo a educadora o espaço e sua organização são fundamentais para um trabalho bem orientado, com bastantes materiais onde as crianças possam criar.
- eu gosto muito de organizar o ambiente, a minha monografia foi sobre a organização do espaço da brincadeira na educação física na educação infantil, eu acho que se tu não organizas o espaço a criança se senti perdida mesmo na brincadeira você tem que ter materiais, espaço organizado e delimitado para que as crianças possam criar a partir disso.
Comprovado pelo o que foi relatado pela educadora, nas observações pode-se verificar espaços sempre organizados para as atividades, com bastantes materiais, esses utilizados de formas diferenciadas, proporcionando a criança diversas possibilidades.
O educador C em sua entrevista relata que possui como eixo metodológico em seu trabalho a brincadeira, os desafios e a fantasia. Para ele essa tríade é fundamental no processo, que impulsionam as crianças, pois são crianças que apresentam essas características.
O mesmo é evidenciado nas observações onde foram desenvolvidas brincadeiras proporcionadas pelo desafio e pela fantasia. Impulsionando as crianças a momentos prazerosos os quais apresentavam prazer pelo o que estava sendo realizado.
Uma das características apresentadas pelo educador vão de encontro ao que explica Piaget (1964) ao destacar que nesse período a criança domina um pensamento mágico, onde os desejos se tornam realidade.
Conforme o autor as crianças nessa faixa etária possuem um grande poder de imaginação o qual deve ser explorada pelo educador com o objetivo de cada vez mais desenvolver na criança essas características.
A resposta infantil
Verificou-se durante as observações que as crianças recebem muito bem as aulas de Educação Física e possuem um relacionamento bastante recíproco com os profissionais. O mesmo foi relatado pelos três educadores entrevistados que afirmaram positivamente sobre participação das crianças em relação às aulas de Educação Física e demonstraram entusiasmo com o trabalho desenvolvido.
A esse respeito o educador A relata que as crianças sentem falta das aulas de Educação Física, há uma cobrança por parte delas. Segundo ele sair do sistema de sala de aula é para as crianças um momento onde seus limites se abrem, ainda mais pelo espaço que eles possuem para suas atividades. Conforme relatado:
- eles saem de uma sala de aula para uma coisa muito maior que é um campo de futebol uma quadra, eu acho que os limites abrem muito mais, tem a possibilidade de correr de ficar mais solto acho que isso é muito atrativo para eles. Mesmo porque nessa idade eles gostam de se movimentar, de se mexer, é mais um motivo para eles estarem gostando, sobre a educação física nessa idade eu acho que seja isso.
O mesmo relata a educadora B que explica que as crianças esperam o momento da Educação Física como único. A questão de estar realizando as atividades no parque pode ser por algum momento um pouco difícil, mas segundo o educador é gratificante ver que as outras crianças que não estão na aula de Educação Física também se interessem pelo o que está sendo realizado.
- o que acho legal é isso, eu estou trabalhando com um grupo as outras crianças que estão envolta começam a vir e querer participar.
Para o educador C as crianças entram no clima, há uma boa receptividade e elas gostam das atividades. De acordo com o que foi relatado, as suas aulas não são formatizadas e engessadas, as aulas são colocadas como possibilidade e a partir daí vêm como a criança reage, e assim vão construindo o processo.
- as aulas não são colocadas de forma estanque, ropomos e vemos como as crianças reagem e por ai, ou por ali vamos construindo o processo em cada encontro.
Os pontos positivos levantados nos levam a analisar que a Educação Física é bastante significativa para as crianças e que nesse momento elas se divertem, se desenvolvem e acima de tudo sentem prazer por o que estão fazendo. E este se resume no grande e importante papel que a Educação Física possui na Educação Infantil.
Considerações finais
O estudo buscou investigar e identificar o compromisso e a inserção do professor de Educação Física no desenvolvimento infantil, partindo da relação entre o seu discurso e o proposto na Educação Infantil. Nos momentos de observações e entrevistas foram levantados aspectos importantes, que serviram para compreender melhor a forma como os profissionais de Educação Física estão desenvolvendo seu trabalho nesse campo de atuação.
Conduzir um significante trabalho requer compromisso e responsabilidade, ainda mais quando essas atitudes estão relacionadas ao desenvolvimento infantil. Cuidar e educar são a essência da Educação Infantil e como educador o professor de Educação Física deve estar ciente de sua responsabilidade, desenvolvendo sua função da melhor maneira possível. A criança deve ser compreendida e respeitada em todas as suas dimensões. Mas infelizmente, nem sempre isso acontece por parte de alguns profissionais que acabam sendo influenciados e condicionados pelo sistema.
Assim, partindo dessas reflexões foi constatado que o objetivo principal desse estudo foi atingindo, visto que grande parte das propostas relatadas pelos educadores pôde ser realmente observada nas práticas apresentadas. Porém as lacunas encontradas na proposta pedagógica denotam uma fragilidade na relação teoria e prática da disciplina. Esta identificação ocorreu de forma especificada, através das respostas que os educadores puderam relatar nas entrevistas foi possível relacionar ás observações realizadas em suas práticas.
Ficou claro neste estudo, que há grandes diferenças de atuação neste espaço educacional e também do compromisso profissional. Foi constatado entre os educadores diferentes objetivos e metodologias de trabalho, cada educador apresentou uma visão diferenciada da função que a Educação Física deve exercer na Educação Infantil, variando do suprir necessidades de sua formação, de suas necessidades básicas, do desenvolvimento motor e do contemplar a criança em todas as suas dimensões.
Conforme as preocupações com o desenvolvimento infantil apresentadas pelos educadores, pode se estabelecer uma relação com as teorias e concepções da Educação Física. Dos educadores entrevistados dois, além de não indicarem uma concepção definida, se aproximam de uma abordagem desenvolvimentista, destacando em seus trabalhos uma maior preocupação com o desenvolvimento de habilidades motoras das crianças com o objetivo de resolver problemas motores. Apenas um dos educadores pode apresentar em sua metodologia de trabalho uma abordagem mais construtivista-interacionista que tem como intenção a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo.
De acordo com a pesquisa, enquanto dois não utilizavam nenhuma concepção para a orientação de seus trabalhos, justificando suas propostas pedagógicas alicerçada em suas experiências profissionais, o outro se diferencia qualitativamente ao basear sua prática nas teorias dos estudiosos Vygotsky (1984) e Wallon (1979).
Em relação ao desenvolvimento infantil alguns educadores apresentaram falta de conhecimento. Este problema foi identificado nesse estudo através do discurso e da prática realizada por eles. Foram identificadas algumas atividades que não apresentavam em sua essência objetivos que contemplassem a criança como um todo. Em suas falas, pode-se constatar esse problema, ao associarem os objetivos da Educação Física apenas ao desenvolvimento motor, suprindo necessidades e dificuldades da criança. Aqui fica caracterizada a falta de compreensão por parte de alguns educadores em relação ao desenvolvimento infantil, visto que o entendimento deste é de suma importância para profissionais que atuam na Educação Infantil.
Quanto à utilização das brincadeiras nas aulas de Educação Física percebeu-se que os educadores há utilizam em suas práticas. Conforme o que foi visto na análise das entrevistas cada educador tem seu propósito em utilizar o brincar como atividade. De acordo com a pesquisa a utilização da brincadeira com essa faixa-etária é fundamental, para que se possam atingir os objetivos propostos de maneira lúdica, ou seja, utilizando o brincar. E Ainda, que a brincadeira, o desafio e a fantasia são aspectos que impulsionam as crianças nessa faixa-etária já que elas apresentam essas características.
No que diz respeito às Propostas Curriculares Nacionais da Educação Infantil pode-se verificar que os professores de Educação Física tentam contemplar ao máximo em seus planejamentos os princípios educativos mencionados, visto que poderiam abranger mais esses aspectos, ressaltando as capacidades de expressão, comunicação, interação social e a inserção as mais diversificadas práticas sociais, aspectos que não foram tão evidenciados na pesquisa.
As aulas de Educação Física apresentaram-se como destaque para as crianças. Constatou-se pelos educadores e pelas observações que o momento da Educação Física provoca alegria, ansiedade e entusiasmo. Isso nos leva a refletir sobre o quanto a Educação Física pode contribuir para o desenvolvimento das crianças, uma vez que é a criança que senti a falta e a necessidade desse momento.
Embora se tenha encontrado limitações no estudo, em razão da greve dos professores municipais que se estendeu por algumas semanas, o que diminuiu o período de coleta de dados, acredita-se que as entrevistas e algumas aulas práticas tenham sido suficientes e capazes de atingir os objetivos propostos na investigação.
Os resultados obtidos nessa investigação revelaram que a Educação Física na Educação Infantil pode ser analisada em diferentes perspectivas, mas que essas apresentaram em sua particularidade a preocupação com a criança e seu desenvolvimento partindo da compreensão de cada educador.
Diante do exposto, considera-se importante a realização de futuras investigações, pois é preciso ter em mente a necessidade de se refletir sobre a Educação Física e sua atuação com crianças de zero á seis anos. Nessa perspectiva, as questões apanhadas servem como diretrizes para darem continuidade à discussão e novas pesquisas.
Referências
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WALLON, H. Psicologia e educação da criança. Lisboa, Vega/ Universidade, 1979.
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Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires,
Septiembre de 2010 |