Mentalização e aplicação em atletas Entrenamiento mental y su aplicación en deportistas |
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*Ms Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina **Prof. Dr. em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Patrícia Barbosa Martins Trichês* Emílio Takase** |
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Resumo A mentalização ainda é pouco conhecida por atletas e técnicos, sua aplicação pode trazer diversos benefícios para a prática esportiva. Este trabalho tem por finalidade apresentar através de uma revisão de literatura a definição de Mentalização, seus benefícios, áreas em que é empregada. E como se pode aplicá-la. Ela é utilizada em diversos segmentos com resultados bem significativos. Unitermos: Mentalização. Esporte. Atletas.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A mentalização pode ser conhecida por diversos termos, como por exemplo: treinamento mental, imaginação guiada, visualização, prática mental. E tem como objetivos o controle da ansiedade, o estabelecimento de metas, o aumento da autoconfiança e o desenvolvimento da concentração a partir de simulações de situações (Weinberg & Gould, 2003). Esta técnica se baseia nas idéias da Teoria Cognitiva na qual se caracteriza pela geração de estímulos e envolve respostas, ou seja, a imagem é um estímulo gerado que irá, em contrapartida, gerar uma resposta positiva em algum determinado comportamento que se almeje alterar (Sternberg, 2000).
Ao imaginar uma determinada situação a pessoa reconstrói eventos anteriores, experiências que são fruto da memória, por isso a mentalização pode ser conceituada como sendo uma simulação.
A teoria que melhor explica os benefícios da mentalização é a Teoria Bioinformativa proposta por Lang em 1977. Como ao mentalizar o cérebro produz uma imagem. Lang cita que esta imagem possui dois tipos de informações, uma informação de resposta que é denominada proposições de resposta, e uma informação de estímulo que é denominada de proposições de estímulo. As proposições de estímulo são todos os aspectos que uma pessoa tem que imaginar para formar as imagens, e as proposições de respostas são as respostas psicológicas e fisiológicas que essas imagens podem provocar de reação no indivíduo que podem acabar gerando a redução de ansiedade, melhora da concentração, enfim os benefícios associados à mentalização (Samulski, 2002; Weinberg & Gould, 2003).
A mentalização melhora a concentração, desenvolve a autoconfiança, o controle das respostas emocionais e faz com que a pessoa adquira e pratique estratégias para melhorar algum comportamento, a mentalização geralmente enfoca um determinado comportamento com a finalidade de alterá-lo. Estudos desenvolvidos observaram que a mentalização auxilia na melhoria de pacientes com insônia (Nelson, Harvey, 2002), controle de dores no pós-operatório (Hult, Broome, 2004), auxiliar na reabilitação de pacientes com problemas de coração (Krucoff, Crater, Green, Maas, 2001), no tratamento de câncer de mama (Targ, Levine, 2002) e na melhora da performance esportiva (Roure, Collet, Molinaro, 1998).
As imagens devem ser nítidas e a pessoa deve tentar controlar as imagens segundo as instruções que recebe. A pessoa deve estar visualizando no tempo real de uma atividade, ou seja, se quer a visualização do ato de comer um pedaço de uma fruta, o tempo da visualização deverá ser mais ou menos o mesmo que a pessoa levaria para comer este pedaço de fruta (Weinberg & Gould, 2003).
A mentalização geralmente possui quatro fases de execução: a) Relaxamento Mental: nesta fase a pessoa deverá relaxar fazendo respirações profundas; b) Informação e Orientação sobre um Comportamento: a pessoa ouvirá atentamente as instruções do psicólogo que fala com uma voz baixa, calma e de forma lenta. O psicólogo irá dar as instruções de melhor atitude, melhor motivação, melhor comportamento; c) Preparação Mental: a pessoa reproduzirá mentalmente as imagens de acordo com as instruções do psicólogo e se concentrará nestas imagens e atitudes e serão propostas algumas alterações de comportamento na qual a pessoa deverá tentar executá-las na sua rotina de uma forma melhor e d) Ativação Psicomotora: alongamento. Essa mentalização dura em média 20 minutos , e são freqüentemente utilizadas e programadas para serem executadas em um determinado esporte (Seyer & Connolly, 1987).
A pessoa imagina a situação antes de realizá-la ela consegue realizar estratégia de controle do comportamento que ela queira alterar; entretanto fica enfatizado que a mentalização deve estar associada a outra atividade e não ser realizada de forma isolada.
Existem estudos utilizando a mentalização e exercícios aeróbios com a intenção da redução de ansiedade, massa de gordura corporal, depressão e melhoria da saúde mental, assim como melhora da performance esportiva (Atlantis, Chow, Singh, 2004; Roure, Collet, 1999).
A obesidade se caracteriza pelo excesso de gordura corporal, em relação à massa corporal total (Luciano , 2003). Esta relação que pode ser feita inclusive, pelo conseqüente desequilíbrio existente entre a ingesta calórica e o gasto energético de um indivíduo (Troiano, 2002; Kain, 2003).
No Brasil, nas últimas décadas, ocorreu uma mudança no que diz respeito ao padrão de alimentação, aumentando drasticamente o consumo de alimentos com alto teor de gordura e a queda de ingesta de verduras, legumes e frutas. A partir de então o país passou a se preocupar também com os índices de obesidade em sua população e não somente com os índices de desnutrição (Oliveira, 2003).
O consumo de salgadinhos, frituras, fast-food, refrigerantes, bolachas recheadas, é muito característico na obesidade e sobrepeso e na fase da adolescência. Assim como, o baixo ou ausente consumo de legumes, verduras e frutas caracterizando o péssimo estilo de vida dos adolescentes obesos (Sigulem, 2000).
Os transtornos alimentares podem aparecer na adolescência, gerados por baixa auto-estima, depressão, transtornos de ansiedade, padrões de interação familiar, ideal cultural de magreza (Morgan, 2002). A compulsão alimentar pode estar presente nos casos de obesidade, e geralmente quando se apresenta maiores índices de depressão e ansiedade. Pesquisas sugerem que a adolescência precoce pode ser um fator de risco para os transtornos alimentares, pois o aumento da gordura corporal provoca uma reorganização rápida da imagem corporal e pode reforçar as preocupações com o peso (Morgan, 2002; Claudino, 2002).
A fase da adolescência pode ser entendida como sendo uma etapa evolutiva ou no desenvolvimento que está relacionada ao ser humano, é nesta fase que se encontra o processo de transformação somática, psicológica e social de cada indivíduo; nas últimas décadas a adolescência tem sido vista como uma fase importante devido à aquisição da imagem corporal definitiva como também a estruturação da personalidade do indivíduo (Vitalle, Tomioka, 2003).
Em relação às modificações biológicas o adolescente lida com um novo corpo, muito diferente do corpo infantil que estava acostumado. Nas meninas em volta dos doze anos acontece o estirão de crescimento; logo vem o desenvolvimento dos seios, dos pelos pubianos, a menstruação com ciclos irregulares, cólicas, nervosismo, inchaço, dores de cabeça, problemas de pele, acnes (Vitalle, Tomioka, 2003).
A adolescente também passa por alterações psicossociais como: a) uma redefinição da imagem corporal na perda do corpo infantil; b) redução/perda da dependência com os pais, uma maior autonomia; c) elaboração de lutos infantis; d) estabelecimento de valores próprios; d) busca de identificação com grupos; e) estabelecimento de uma identidade sexual e f) deve assumir uma capacidade de assumir compromissos profissionais (Lostein, Baur, 2004).
Exercícios aeróbios, mudanças de hábitos alimentares, terapia, apoio familiar são as sugestões para amenizar os problemas desenvolvidos nessa fase (Campbell, Waters, 2001).
A ansiedade pode ser diferenciada em dois tipos: a) Ansiedade-Estado: que se caracteriza por ser um estado emocional temporário, variável e b) Ansiedade-Traço: que seria uma tendência comportamental de perceber como ameaças determinadas circunstâncias (Weinberg & Gould, 2003).
Existe uma relação entre o nível de ansiedade estado e traço de uma pessoa, isso pode ser melhor entendido voltando a pensar em termos de escalas de auto-relato, geralmente uma pessoa que obtêm altos escores nas medidas de ansiedade traço, também obtêm escores altos de ansiedade estado (Weinberg & Gould, 2003).
É importante saber o nível de ansiedade de uma pessoa sendo útil prever como esta pessoa reagirá às avaliações, competições e condições que possam de certa forma ser ameaçadoras para ela inclusive, intervir tanto com exercício físicos como técnicas para a redução e controle dos níveis de ansiedade (Rudolph, 2002; Weinberg & Gould, 2003; Samulski, 2002).
Em relação às pessoas com sobrepeso ou obesidade o exercício aeróbio tem várias funções ele serve para aumentar o gasto energético contribuindo para a queima de gordura, para a redução dos níveis de ansiedade, melhora da auto-estima, redução das emoções desagradáveis, redução da depressão, aumenta a sensação de controle e redução das tensões musculares (Thorburn, 2000). Os exercícios aeróbios aumentam a atividade dos sistemas pulmonar e cardiovascular. Durante esta atividade o corpo transporta e utiliza oxigênio para os músculos e sistemas, a fim da manutenção da atividade. Podem ser considerados exercícios aeróbios aqueles que são realizados por, no mínimo, 30 a 60 minutos, de 2 a 5 vezes na semana, e com uma intensidade de 60% a 80% da freqüência cardíaca máxima (ACSM, 1998).
O exercício físico pode estar associado a uma outra técnica que complemente e intensifique seus efeitos benéficos, como por exemplo, a mentalização. Esta técnica é de fácil aplicação e pode ser utilizada inclusive para que a pessoa tenha uma melhor adesão ao próprio exercício físico, entretanto não se recomenda somente fazer a mentalização e sim unir esta técnica juntamente com o exercício físico (Samulski, 2002; Weinberg &Gould, 2003).
Considerações finais
Pode-se concluir a importância da prática da mentalização nos diversos segmentos destacados no texto. Inclusive na prática de esportes proporcionando aos atletas uma redução nos níveis de ansiedade através do aprendizado do controle da mesma.
É uma técnica de fácil aplicação em se tratando de materiais, tempo, entretanto é necessário um desenvolvimento desta prática para que com o tempo ela se torne cada vez mais efetiva.
Referências bibliográficas
Atlantis, E. (2004) Na effective exercise-based intervention for improving mental health and quality of life measures: a randomized controlled trial. Preventive Medicine, 39(56), 424-434.
Harvey, AG. (2003) Pre-sleep imagery under the microscope: a comparison of patients with insomnia and good sleppers. Behavior Research and Therapy, 41, 273-284.
Hulth M., Broome M. (2004) Imagery reduces children’s post-operative pain. Pain, 110, 439-448.
Roure R. Collet C. (1998) Imagery quality estimated by automic response is correlates to sporting performance enhancement. Psychology & Behavior, 31, 26-8.
Samulski, D.M. (2002) Psicologia do Esporte. Barueri: Manole.
Sternberg, R. (2000) Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
Weiberg & Gould (2001) Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed.
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