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Memórias da dança jazz na cidade de Pelotas

Memorias de la danza jazz en la ciudad de Pelotas

Memories of jazz dance in Pelotas city

 

*Formada em Educação Física (Bacharelado) pela

Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Faz parte do grupo de pesquisa Estudos Culturais em Educação Física e

é professora do Serviço Social da Indústria.

**Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria

Mestrado em Ciência do Movimento Humano pela mesma Universidade

Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas

Professor Associado da Universidade Federal de Pelotas

vinculado a Graduação, Especialização e Mestrado

Lider do Grupo de Pesquisa Estudos Culturais em Educação Física

Tutor do Grupo PET/ESEF

Manuela Maciel Oliz*

Luiz Carlos Rigo**

lcrigo@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho caracteriza-se como um estudo que trata das memórias do jazz, especialmente sobre a emergência e consolidação desta modalidade de dança na cidade de Pelotas, Brasil. O estudo foi realizado tendo como referência a metodologia da História Oral. Assim através do depoimento de três profissionais de destaque da dança pelotense, que também foram relevantes na introdução do Jazz na cidade, analisamos alguns acontecimentos que caracterizaram a trajetória do Jazz nesta cidade. Na conclusão do trabalho assinalamos para a importância do Jazz na propulsão da Dança Moderna Pelotense.

          Unitermos: Memória. Dança. Jazz. Pelotas. Brasil.

 

Resumen

          Este trabajo se caracteriza por ser un estudio que trata sobre las memoriass del jazz, especialmente sobre el surgimiento y consolidación de este tipo de danza en la ciudad de Pelotas, Brasil. El estudio se llevó a cabo tomando como base la metodología de la Historia Oral. Así que a través del testimonio de tres distinguidos profesionales de la danza en Pelotas, que también fueron relevantes en la introducción del jazz en la ciudad, se analizaron algunos eventos que han caracterizado la historia del jazz en esta ciudad. En la conclusión del trabajo señalamos la importancia del Jazz en el impulso a la Danza Moderna en Pelotas.

          Palabras clave: Memoria. Danza. Jazz. Pelotas. Brasil.

 

Abstract

          This work is characterized as a study that approaches the memories of jazz, especially on the emergence and consolidation of this type of dance in the city of Pelotas, Brazil. The study was conducted having as support the methodology of Oral History. So through the testimony of three distinguished professionals from the dance of Pelotas, which were also relevant to the introduction of jazz in the city, we have analyzed some events that have characterized the history of jazz in this city. In the conclusion of the work, we have pointed to the importance of Jazz in the propulsion of Modern Dance of Pelotas.

          Keywords: Memory. Dance. Jazz. Pelotas. Brazil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução e metodologia

    Atentando para a emergência da dança moderna em Pelotas este estudo visa contribuir para a construção das memórias da dança jazz na cidade. Assim, ele tem como objetivo central narrar e analisar os principais acontecimentos que contribuíram para a emergência e a difusão da dança jazz na cidade.

    A metodologia utilizada para realizar este estudo possui as suas bases teóricas e metodológicas na Metodologia da História Oral. Característica das pesquisas qualitativa a História Oral pode se definida como uma metodologia interdisciplinar1 aberta ao diálogo com outras metodologias, favorecendo e incentivando o uso conjunto de fontes de natureza orais, imagéticas e escritas (THOMPSON, 1998, ALBERTI, 2004). Para construírem-se as memórias da dança jazz em Pelotas, selecionaram-se e entrevistaram-se três profissionais da dança que tiveram um papel de destaque na disseminação do jazz em Pelotas, são elas: Maria Helena (Malê), Laís Hallal e Anaí Sanches.2 Além das entrevistas, utilizaram-se também fontes escritas oriundas das matérias publicadas no jornal Diário Popular.

2.     Aparece uma Nova Dança no mundo

    O jazz aparece nos EUA como os escravos que vieram em navios negreiros Cintia Xavier (1994). Há uma versão que coloca que ele se originou a partir de uma dança que os negros praticavam para debochar dos filhos de fazendeiros que praticavam Ballet Clássico.

    A emancipação dos escravos pelo mundo, a partir de 1863, foi um movimento que influenciou, de forma decisiva, a história do jazz. Com o fim da escravatura, os cantos e as danças dos negros puderam sair das fazendas onde estavam restritos. Os negros levaram com eles as transformações que fariam as danças tribais africanas chegarem ao jazz. Foram os brancos, no entanto, que levaram, primeiramente, essa dança aos palcos. Os negros precisaram enfrentar um caminho mais longo para chegar até lá.

    A Primeira Guerra Mundial provocou o êxodo de vários negros do sul dos EUA para o norte e para Nova York. O fechamento de Stoyville, bairro de New Orleans em que o jazz se desenvolvia, levou os bailarinos a se mudarem para o norte. Simultaneamente, os negros recrutados pelo exército levaram seus ritmos e danças para a França. Nesse período, as cidades de Harlem e Chicago (EUA) tornaram-se os principais redutos do jazz.

    A dança jazz trouxe à dança americana novas possibilidades coreográficas. George Balanchine criou, em 1933, a Escola de Ballet Americano, que se tornou grande palco de criações coreográficas e, inclusive, alimentou a Broadway e as comédias musicais.

    O jazz possui os quatro principais estilos que são: clássico, latim, lírica e teatral. É creditada à Jack Cole a técnica de jazz clássico, pois ele usou sua dança moderna e a colocou na música jazz. Junto com ele, Bob Fosse dirigiu e coreografou o filme All That Jazz (1979), até então pouco reconhecido no meio cinematográfico, mas de importância considerável para a dança e o teatro musical do final do século XX. Já, Jerome Robbins, adicionou o jazz à técnica teatral. Surgem, então, filmes e espetáculos teatrais como Flashdance (1983), considerado o fenômeno da cultura pop dos anos 80 e Chorus Line (1985), exemplos do jazz teatral que fizeram grande sucesso no cinema e na Brodway. Após, o jazz evoluiu para uma técnica lírica, com movimentos mais leves, um fluido de movimento, mas que ainda era considerado “jazz dance”, pela conhecida coreógrafa Mia Michaels, que se tornou conhecida na história do jazz lírico. Por fim, Jose Limon, infringiu sua marca na técnica do Latin jazz (Jazz latino), gênero de jazz influenciado por ritmos africanos, da América latina e da Caraíbas, dos quais se destacam a salsa, merengue, songo, son, mambo, timba, bolero, charanga e o cha-cha-chá.

3.     O Jazz no Brasil

    No Brasil, os primeiros indícios da dança jazz surgiram por volta das décadas de 30 e 40, mas foram nos anos 60 que houve um impulso mais intenso e que deixou heranças técnicas e culturais que exercem influência até hoje. Estimuladas, sobretudo no dinamismo dos espetáculos musicais, nas apresentações de televisão, filmes musicados e na abertura de academias de dança jazz. Essas mudanças introduziram, nas estruturas de cursos acadêmicos, desde técnicas importadas diretamente de escolas e profissionais do exterior até estilos de bailarinas brasileiras apropriados às características de nossa cultura.

    A década de 60 foi de grande importância para a dança jazz. A produção de musicais do Teatro de Revista era vasta e intensa. Nessa época, começaram a surgir nomes que seriam importantes para a história do jazz como: Lennie Dale, Vilma Vernon, Débora Bastos entre outros.

    Em 1968, Vilma Vernon abriu sua academia Modern Jazz Dance, no Rio de Janeiro, considerada única do gênero no Brasil, pioneira no estabelecimento de um espaço específico para o jazz.

    Nos anos 70, foi criado o Dzi Croquettes, grupo de dança criado por Lennie Dale, de grande influência para o jazz no Brasil. Acompanhados por fãs fiéis onde se apresentavam, os Dzi fizeram escola, interferindo na formação de multiplicadores deste estilo de dança. A novela Dancing Days de Gilberto Braga, em 1979, impulsionou a dança no Brasil.

    Nos anos 80, O Breaking, uma das vertentes do Street Dance, explodiu nos EUA em 1981 e se expandiu mundialmente. Em 1986, nasceu o Grupo Ginga Cia de Dança, de estilo dança moderna e contemporânea, com a proposta de divulgar a dança e popularizá-la. Seu estilo variou do jazz ao lírico, do contemporâneo ao popular, tendo diversas coreografias e abordando temas diversos.

    Em 1983, nasceu o Festival de Dança de Joinville, com o propósito inicial de apenas reunir alguns grupos para um intercâmbio, num evento de abrangência regional, mas o festival cresceu e em 1995 contou com a apresentações do Ballet Theatro Bolshoi, da Rússia, e do Stuttgart Ballet, da Alemanha. Atualmente o Festival conta, em média, com 4000 bailarinos.

    Ainda na década de 80, aconteceram episódios que fizeram com que o Jazz se proliferasse pelo Brasil. Entre os diversos acontecimentos que contribuíram para uma maior divulgação do Jazz no Brasil para um público que até então não o conhecia, destaca-se o filme "Os embalos de sábado à noite", do Diretor John Badham, que tinha como atração especial a presença de J. Travolta no papel de bailarino principal e a Novela "Baila Comigo", escrita por Manoel Carlos e dirigida por Roberto Talma. Depois do sucesso da novela as academias de jazz multiplicaram o número de alunos e logo surgiram mais academias de Jazz também em pequenas e médias cidades. É nessa época, como resultado dessa proliferação do jazz pelo Brasil que ele emerge em Pelotas, RS.

4.     O Jazz em Pelotas: três iniciativas pioneiras

    O Jazz surgiu em Pelotas a partir das iniciativas de alguns profissionais da dança entre os quais se destacaram Laís Hallal, Maria Helena Klee (Malê) e Anaí Sanches.

    Em boa parte foi a partir do trabalho desenvolvido por essas três mulheres que Pelotas voltou a investir nas apresentações de dança, inicialmente de forma mais tímida, depois com pretensões maiores.

    Uma das pessoas que contribui para o processo de disseminação da dança Jazz em Pelotas no início dos anos 80 foi Laís Hallal . Segunda ela, isso aconteceu motivado pelo sucesso da novela Baila Comigo, bem como pelo desejo de trabalhar essa modalidade, já que, até aquele momento, a cidade investia mais na dança clássica. Laís Hallal, como a maioria das dançarinas da época, participava do corpo de ballet da tradicional escola de Balé de Dicléia Ferreira de Souza, que ainda hoje existe na cidade.

    A vida profissional de Laís teve início como aluna de Dicléia. Após, ingressou na Faculdade de Educação Física, período em que abandonou o corpo de ballet e permaneceu apenas como colaboradora esporádica na coreografia de alguns espetáculos da referida companhia.

    Laís Hallal é uma pessoa obstinada pela sua profissão que começou sua trajetória no Jazz após uma viagem aos Estados Unidos. Na época, consultou Dicléia Ferreira de Souza, sua professora de Ballet, sobre qual curso deveria fazer em Nova Iorque. Dicléia sugeriu que ela fizesse cursos de Jazz, modalidade que Laís dizia odiar. Além disso, não concebia abandonar a dança clássica pelo jazz, conforme revela a matéria da Revista Pelotas Magazine (1994). Em 1981, com uma pequena sala, um toca-discos e alguns discos nascia a Academia Laís Hallal, que foi crescendo nas modalidades de Jazz adulto e infanto juvenil, além da dança moderna, ginástica e musculação. A criação do Grupo de Dança Laís Hallal foi consequência do trabalho desenvolvido por ela.

    Em 1988, aconteceu em Pelotas o espetáculo Simplesmente com o Grupo de Dança Vibração, dirigido e coreografado por Laís Hallal. Nessa época, Pelotas começava a despertar para a dança, lançando sobre o espetáculo, um novo olhar ao jazz dance.

    Em 1993, participou do espetáculo Nem de Longe, nem de Perto, de Carlos Alberto Motta,3 que falava dos amores bem e mal sucedidos. Laís encarnou Carlitos junto com Débora Brum, da Escola de Ballet Antônia Caringi de Aquino, outra escola de balé tradicional na cidade.

    A Academia Laís Hallal encerrou suas atividades em 1989. Apesar do encerramento das atividades de sua academia, Laís jamais deixou de trabalhar com jazz. Continuou atuando em eventos que lhe permitiam inserir o jazz: “Penso que nunca me afastei desta arte... mesmo trabalhando com moda, o que traduz muita cor, leveza e harmonia, tudo refletia dança”. (LAÍS HALL, 2009).

    Em 1998, retoma a dança, ministrando aulas de jazz para crianças e pessoas da maturidade e terceira idade, primeiramente em áreas locadas e, hoje, em sua própria academia: Espaço de Dança Laís Hallal.

    Minha volta às origens foi cuidadosa. Desde os primeiros momentos, percebi que neste retorno, minha metodologia de ensino precisava se adaptar a estes novo tempo: grupos de alunas da terceira idade e alunas mais jovens, alunas com ritmo ou sem, com destreza ou não. (LAÍS HALLAL, 2009).

    Foi em 1998 que coreografou, junto com outros profissionais, o espetáculo da escola de Música Beatriz Rosseli A volta ao mundo em 80 minutos.

    Aprender a dançar é como aprender uma outra língua. Primeiro, aprendem-se as palavras e estruturas gramaticais. Na dança é igual: primeiro aprendemos os passos básicos, para depois encaixarmos tudo... passos, movimentos das mais variadas partes do corpo dentro de um proposto ritmo. (LAÍS HALLAL. 2009).

    Outro expoente do jazz em Pelotas foi Anaí Sanches, que, assim como Laís, começou a dançar com Dicléia de Souza e, até hoje, é bailarina e dona de academia de ballet clássico. Anaí teve sua vida inserida no Jazz após casar-se em 81 e ir morar em Porto Alegre. Acostumada a dançar, procurou fazer aulas de dança com grandes coreógrafos brasileiros e internacionais como Lennie Dale, Jonas Moura, John Smith, Roseli Rodriges e Vilma Vernon. Passou uma temporada nos Estados Unidos e voltou para Pelotas em 1988, onde montou a academia de dança Free Jazz Company.

    Sobre como a dança inseriu-se em sua vida Anaí contou que:

    (...) isso já vem desde pequenininha, minha mãe e meu pai já dançavam muito tango em Pelotas e ganhavam concursos de tango. Eu tenho uma vó que tocava em Orquestra Sinfônica, violino. Então, a música e a dança já está na raiz, minha irmã mais velha teve a iniciativa de dançar, depois da minha irmã, eu e meu irmão também. (A. S., 2009)

    Depois de encerrar as atividades da Free Jazz Company em 1992, montou a "Cia da Dança".

    Depois eu fiquei sozinha e a Cia ficou só dança basicamente, dança mesmo, porque dança é uma coisa que a gente não consegue as coisas a curto prazo... é tudo a longo prazo... é dois, quatro ou cinco anos para se ter um bom bailarino. É claro que existem os casos excepcionais de uma pessoa ter um talento tão forte, tão apurado, que em um ano ele apresenta... mas é muito difícil, então a gente leva um tempo para formar um bom grupo. (A. S. 2009)

    Em 2002, ao transferir-se para Niterói (RJ), convidada para atuar na área da dança, numa academia de malhação, Anaí deixou a Cia da Dança sob a responsabilidade de seu irmão Pedro José Sanches Filho, também bailarino, que deu continuidade ao trabalho desenvolvido por Anaí, fez muitas apresentações com o grupo de dança e obteve diversos prêmios.

    Questionada sobre as premiações que recebeu como bailarina, ao longo de sua carreira em Pelotas, Anaí afirma:

    Minha carreira não foi muito como bailarina. A minha dedicação foi mais como professora e coreógrafa... A minha formação maior, o meu currículo maior é mais como professora e coreógrafa e eu fiz esse caminho pra mim, eu busquei isso, escolhi as pessoas entendeu? Eu me dediquei para isso, para ser uma boa professora. Eu dançava, claro, mas eu não me considerava uma bailarina e sim uma educadora. (A. S. 2009)

    Segundo Anaí, ela sempre se considerou uma educadora, tanto que possui alunos que hoje atual no teatro Municipal do Rio de Janeiro, no Ballet da cidade de São Paulo e outros que possuem suas próprias escolas em Pelotas ou montaram grandes companhias em Porto Alegre, o que lhe dá a certeza de ter sido mais educadora do que bailarina.

    Hoje, Anaí possui uma companhia de dança que leva seu nome, na cidade de Niterói, e continua trabalhando a dança jazz e outros etilos mais contemporâneos.

    Nossa terceira entrevistada e pioneira do Jazz na cidade é Maria Helena Klee Oehlschlaeger, mais conhecida como Malê. Ela é graduada em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (1984), com especialização em Ginástica e Saúde pela UFPEL (1985) e mestrado em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas (2002). Malê nos contou que se iniciou na dança em uma escola em Santa Catarina, como esporte extracurricular e em várias modalidades, como dança folclórica, frevo, sapateado, entre outras. Com a transferência do pai, que era militar, para Bagé, e a vinda para Pelotas para estudar para o vestibular da Universidade Federal de Pelotas, onde pretendia cursar Educação Física, Malê resolveu voltar a dançar. Tinha 19 anos e começou a atuar com Laís Hallal.

    Em 1989, Malê criou sua própria academia de dança, localizada na Rua Santa Cruz, Centro Pelotas, onde sua especialidade era o jazz. Citou, em sua entrevista, que esta modalidade tem um estilo próprio. Nessa mesma época, passou num concurso para ministrar aulas de dança na ESEF/UFPel. Sua academia esteve em funcionamento por 10 anos (de 1989 à 1999), sendo administrada pelo marido e coreografada várias vezes, por ela mesma e por outras pessoas que a academia contratava.

    Sobre a carreira, Malê (2009) diz:

    Decidi seguir minha carreira docente, fechei a academia e entrei para o Mestrado, mas continuo me atualizando, pois o jazz está presente em muitos lugares. Hoje em dia vejo o jazz em clipes de Madona Michael Jackson, Beyonce.

    Em 1991, assumiu uma vaga como professora na Universidade Federal de Pelotas, em 1993, criou o Grupo Universitário de Dança (GRUD), que representa a universidade e tem a oportunidade de participar de laboratórios coreográficos, cenografia e figurinos, assim como na organização de eventos em nível universitário. O projeto possui mais de 20 trabalhos coreográficos apresentados na cidade de Pelotas, em Rio Grande e em Santa Vitória do Palmar.

    Malê relatou, também, que uma das suas maiores experiências foi ministrar aulas de Jazz durante 4 anos na academia Spikker em Pelotas, durante e após formação acadêmica, aonde chegou a ter cerca de 200 crianças como alunas.

5.     O Jazz dá impulso a outros espetáculos pelotenses

    Os espetáculos de dança clássica sempre estiveram presentes na agenda cultural de Pelotas, mas a dança moderna e contemporânea possuía pouca ênfase. O jazz começou timidamente através de algumas iniciativas pessoais, mas acabou virando “mania” entre jovens e adolescentes. A partir das três academias, outras viriam depois e algumas mudaram de nome, como é o caso da Free Jazz Company (Anaí Sanches), que passou a chamar-se Cia da Dança.

    No ano de 1990 a Prefeitura Municipal de Pelotas, juntamente com a Fundação Sete de Abril, criou o Encontro Meridional de Dança de Pelotas – Dança Sul, que existiu de 1990 a 1994. Este evento funcionava com oficinas e apresentações de dança envolvendo bailarinos dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande de Sul. O Dança Sul foi desenvolvido em vários bairros de Pelotas, com a finalidade de popularizar as diversas modalidades de dança. As academias e coreografias de Laís Hallal, Anaí Sanches, e Malê, entre outras, participaram em diversas edições deste evento.

    Em 2001, o Grupo Centro Coreográfico do Teatro Sete de Abril remontou o espetáculo de dança contemporânea A Flor do Sal. Novamente as três academias coordenadas pelas nossas entrevistadas passaram a elaborar coreografias e apresentá-las em espetáculos abertos ao público.

    Atualmente, Pelotas conta com vários grupos de dança, como o Grupo Universitário de Dança (GRUD) da Escola Superior de Educação Física – ESEF/UFPEL, Panela de Pressão do SEST/SENAT, Pelotas em Dança, Grupo de Beatriz Santos, grupo de Tavane Vianna, Grupo Daniel Amaro, Grupo da Escola Santa Mônica, Grupo Estímulo, Cia. Da Dança entre outros, que englobam trabalhos coreográficos em estilo jazz, contemporâneo, dança do ventre, street e estilo livre.

    Os grupos foram sendo criados, academias e escolas de dança foram ganhando força no cenário cultural da cidade, o que impulsionou a criação da Associação da Dança de Pelotas (ADAP), hoje sob a presidência de Vânia Viana. Ao ser homenageada na Câmara de Vereadores de Pelotas, em 2008, Vânia reportou-se à Associação como instituição que tem a finalidade de congregar os segmentos da dança, incentivando-os na realização de seus objetivos comuns, promovendo a prática das mais diversas modalidades da dança, sejam elas de cunho profissional, educacional ou social. (Ata 070/08 da Câmera de Vereadores de Pelotas)

    Em 2008, a Associação já possuía mais de 10 grupos e cerca de 150 bailarinos que congregam street, afro, flamenco, jazz, contemporâneo, numa manifestação da diversidade da produção cultural de Pelotas.

    É importante salientar que algumas escolas regulares de Pelotas (Colégio Municipal Pelotense, São José, São Francisco, entre diversas outras) somaram-se às escolas de dança já existentes e, hoje, em todos os espetáculos de dança promovidos na cidade, há a participação desses grupos.

    Segundo Vânia Viana, presidente da ADAP “essa união de escolas profissionais de dança e dos grupos formados em escolas regulares apresentam o panorama sobre a produção local em dança que serve para fortalecer a função pedagógica da atividade nas escolas” (Diário Popular, 14 de janeiro de 1990).

    Alguns eventos relacionados à dança passaram a fazer parte do calendário cultural da cidade como o Dança Sul e o Dança Pelotas.4 Outros espetáculos foram sendo coreografados e atingiram sucesso de público, como a Universidade da Dança (2009), que mostrou um pouco da trajetória do Grupo Grud/ ESEF/UFPEL, coordenado por Maria Helena Klee Oehlschlaeger (Male).5

6.     Considerações finais

    Após a realização da entrevista com Laís, Malê e Anaí, é possível fazermos uma reconstrução da emergência do Jazz em Pelotas. A própria configuração do trabalho em um estudo de memória de cunho biográfico, que cruza as memórias do Jazz em Pelotas com a vida profissional das entrevistas, mostra que a emergência do Jazz em Pelotas não possui como referência nenhum macro acontecimento histórico. O passado do jazz em Pelotas é constituído de uma soma de "micros" experiências, entre as quais se destacam as iniciativas das nossas três depoentes.

    Pelas entrevistas podemos identificar que Laís Hallal provavelmente tenha sido uma das pioneiras em trabalhar a dança jazz em Pelotas. Anaí Sanches e Malê foram coreógrafas de jazz que despontaram a seguir. Cabe também salientar que além das nossas três entrevistadas provavelmente outros profissionais ligados a dança também tiveram papel de destaque neste movimento de propulsão do Jazz e da Dança Moderna na cidade de Pelotas.

    Apesar da dança possui um sentido bastante singular na vida de cada uma das nossas entrevistadas as três consideraram o Jazz Dance uma importante forma de se expressar artisticamente, que recebeu influências de diversos estilos e princípios técnicos do ballet e da dança contemporânea. Percebe-se a cumplicidade de cada uma delas com a sua profissão e a preocupação em fazer com que seus alunos vivam a dança, oportunizando-os também a reflexão sobre a dança como expressão cultural.

    Das três entrevistadas, duas escolheram a carreira da Educação Física como profissão como uma estratégia para continuar na dança, agora com uma formação superior. Anaí não cursou Educação Física, segundo ela por falta de oportunidade. Nota-se ai uma outra afinidade, pelo menos entre duas delas, onde a Educação Física é concebida como um espaço profissional capaz de aglutinar a dança. Hoje, as três continuam atuando na dança, e tem o jazz como sua marca para coreografar.

    Laís Hallal, Anaí Sanches e Maria Helena (Malê) ajudaram a expandir a dança moderna em Pelotas. Apesar de a maneira peculiar de cada uma dançar, as três conseguiram revitalizar a cultura da dança com um novo estilo, uma nova maneira de dançar, de expressar sentimentos com o corpo e a música, que já era vista pelo mundo, a dança jazz.

    Com seus conhecimentos na área da dança, e mais a vontade de aprender esta novidade que surgia no Brasil e no mundo, elas ensinaram e disseminaram o estilo de dança jazz em Pelotas, coreografando para bailarinos que hoje repassam seus conhecimentos como um ciclo que nunca se fechará, porque, segundo as próprias entrevistadas, o Jazz se modifica, se atualiza, "mas nunca morre”.

Notas

  1. Montenegro é um dos autores brasileiros que chama a atenção para "a necessidade contemporânea de registros da memória, colocando a problemática da interdisciplinaridade como questão angular”. Nesse sentido, o autor argumenta que talvez o uso do binômio Fontes Orais, ao invés de História Oral, seja mais adequado para se referir ao uso da memória como fonte. (MONTENEGRO, A. Torres. In: “Os desafios contemporâneos da História Oral”. (Campinas, SP, CMU/Unicamp, 1997.).

  2. A utilização do nome verdadeiro das depoentes foi feito com o consentimento das três entrevistadas.

  3. Colunista do Jornal da cidade Diário Popular (já falecido).

  4. Dança Pelotas era um evento que surgiu após o Dança Sul, na verdade era o mesmo evento, mas com nome diferente.

  5. Este espetáculo mesclou dança livre, técnicas de composição coreográfica, além da expressão corporal e improvisação. Este grupo da ESEF é formado por 10 integrantes e produziu, até 2008, mais de 40 trabalhos coreográficos nos 15 anos de suas existências, tendo conquistado em 2008 o 2º lugar na categoria Dança Contemporânea, em Porto Alegre (www.pelotas.com.br).

Referências

  • ALBERTI, V. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

  • STEARNS, M. A História de Jazz. São Paulo: Livraria Martins, 1964.

  • XAVIER, C. N. Jazz, Jazz, Jazz... Revista Conseqüência, Campinas, ano 1, n. 1, p. 18, 1994.

  • MUNDIM, A. C. R. A Dança Jazz no Brasil. Cadernos de Pós-Graduação, Campinas, v. 6, p. 1-185, 2002

  • MUNDIM, A. C. R.. Uma Possível História da Dança Jazz no Brasil. In: III Fórum de Pesquisa Científica em Arte, 2004, Curitiba.

  • MONTENEGRO, A. Torres. A Invenção do Olhar In: Os desafios Contemporâneos da História Oral. Campinas, SP, CMU/Unicamp, p. 1997-211, 1997

  • PORTELLI, A. O que faz a História Oral diferente. Revista Projeto História, nº 14, Cultura e Representação, São Paulo: Educ, Editora da PUC/SP, 1997

  • FIAMONCINI, L. Dança na Educação: A busca de elementos na arte e na estética. Pensar a Prática, v. 6, 2003.

  • REVISTA PELOTAS MAGAZINE. Pelotas: Ano I, n. 2, dez. [1994].

Outras Fontes

Entrevistas

  • OEHLSCHLAEGER. K. H. M. A dança Jazz em Pelotas. Pelotas, Novembro, 2009. Entrevista, concedida a Manoela Oliz.

  • HALLAL. F. L. A dança Jazz em Pelotas. Pelotas, Dezembro, 2009. Entrevista, concedida a Manoela Oliz.

  • SANCHES. A. A dança Jazz em Pelotas, Pelotas, Outubro de 2009. Entrevista, concedida a Manoela Oliz.

Jornais e Documentos

  • Ata 070/08 da Câmera dos Vereadores do dia 29 de abril de 2008, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 27 de setembro de 1997, Pelotas, RS

  • Jornal Diário Popular, 14 de janeiro de 1990, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 26 de maio de 1990, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 27 de maio de 1990, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 9 de junho de 1990, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 10 de junho de 1990, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 10 de novembro de 1992, Pelotas, RS.

  • Jornal Diário Popular, 12 de outubro de 1986, Pelotas, RS.

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