Envelhecimento humano: estudo da expressão da corporeização do idoso através dos movimentos signicos do Tai Chi Chuan Human aging: a study of the expression of body the elderly through the movements of Tai Chi Chuan signic Envejecimiento humano: estudio de la expresión de la corporización de la persona mayor a través de los movimiento sígnicos del Tai Chi Chuan |
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Professor de Educação Física.
Licenciado CEFD/ UFSM (Brasil) |
Nilton Cezar Rodrigues Menezes |
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Resumo Este trabalho desenvolvido em dois semestres de 2009 teve como objetivo analisar expressão da corporeização do idoso através dos movimentos significos da atividade corporal Tai Chi Chuan. Neste estiveram envolvidos vinte e dois praticantes. As aulas realizaram-se cinco vezes por semana, nas segundas e sextas-feiras pela parte da manhã, tendo uma hora de duração e como local de atividades a sede comunitária do bairro floresta da cidade de PF/RS. Na metodologia foi proposto o método misto de ensino na Educação Física. A pesquisa caracterizou-se como pesquisa-ação na compreensão da expressão dos movimentos do Tai Chi Chuan de seus praticantes da proposta. Na coleta de dados usou-se a observação participante (com uma entrevista semi-estruturada) e um diário de campo que foi transformado em relatório de campo. No Tai Chi Chuan está uníssono o pensamento e movimento pela própria integração proposta pelos filósofos taoístas, entre as disciplinas corporais e a meditação que dão forma a corporeização. Questão esta materializada no símbolo da Unicidade/totalidade, que os chineses chamam de Wu Chi (Suprema meditação ou quietude) em forma de um círculo. Este aborda a construção teórica da corporeidade e aprendizagem que se interpenetram através do movimento. Neste sentido, o corpo é uma construção cultural ao compreender-se que o todo é tão importante como cada uma das partes que o complementam. Assim, pode-se reconhecer tanto a autonomia do corpo quanto a sua dependência com o meio e consequentemente com a aprendizagem. Desta maneira, a educação tem o desafio de permitir as subjetividades, abrindo espaços que possibilitem aflorar um ser idoso que, ao se modificar provoca mudanças no ambiente, na sociedade, na cultura. Unitermos: Tai Chi Chuan. Corporeização. Idoso.
Abstract Keywords: Tai Chi Chuan. Body. Aged.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
1.1. Justificativa do estudo
Este trabalho tem como objetivo o estudo da expressão da corporeização do idoso através dos movimentos signicos do Tai Chi Chuan. Desta maneira, corporeização: são complexidades norteadoras pelos quais se manifesta a corporeidade do ser humano. Quais são elas? Meditação em movimento; respiração e simbologia, sendo todas orquestradas pelo canal condutor do movimento. Assim, a partir de uma atividade corporal cunhada numa perspectiva semiótica abordar-se-á, o estudo da expressão da corporeização do idoso por movimentos signicos. Desta forma, através deste viés situa-se o tema central do estudo nos seguintes termos: Tai Chi chuan como linguagem da vida; como cultivadora e educadora da corporeidade humana; como condição de aperfeiçoamento da vida.
Deste modo, para se estudar a corporeidade viva busca-se o aprender a viver. Pois, entendê-se que o referencial primeiro é a vida. A “vida não tem sentido fora de si mesma e que esse mesmo sentido da vida de um ser humano é o viver humanamente ao ser humano no humanizar” (Maturana, 2002, p.12). Seu “desafio pedagógico é descobrir como a vida pode ser vivida com dignidade, equilíbrio e prazer” (Santin, 1999, p.11). Então, o desafio pedagógico é provocar uma reflexão profunda sobre a corporeidade mediante uma atividade corporal que represente e que possa ser mediadora da própria linguagem da vida. Entramos “numa época de fluidez e flexibilidade que traz implícita a necessidade de uma reflexão a respeito da maneira de como os homens fazem os mundos onde vivem, já que não os encontram prontos com uma referência permanente” (Varela, 2002, p.60).
Diante disso, propõe-se a atividade corporal Tai Chi Chun. Esta representa uma linguagem viva, constituída de movimentos simbólicos elaborados e re-elaborados, a partir da relação símbolo e movimento corporeizada pelos seus significados interpretativos num sistema ou unidade contida em um signo. Os “sistemas autopoieticos inauguram na natureza o fenômeno interpretativo” (Maturana, 2002, p.47). Com efeito, objetivo analisar expressão da corporeização do idoso através dos movimentos significos da atividade corporal Tai Chi Chuan. E como objetivos específicos tornar esta mesma atividade corporal um hábito na vida pessoal do idoso. Sendo praticada como um hábito de vida, por um grande número de adeptos na sociedade brasileira. Neste contexto o Tai Chi Chuan deve ser o mediador que leva a um fim em si mesma. Como educador da corporeidade humana, do ser e estar no mundo, com toda a força que a vida propõe. Vindo de encontro à representatividade proposta da atividade corporal Tai Chi Chuan, ou seja, uma vivência mediadora da corporeidade humana viva.
Eu diria que se chega à verdadeira valorização do corpo quando ele se constitui na razão de viver. Não pode ser reduzido a simples instrumento ou ferramenta. Eu sou o corpo. O corpo é mais do que meu, ele é eu. O eu se construiu no corpo e como corpo. Foi o corpo que construiu o eu. A glorificação do corpo é a razão da existência, não seu aniquilamento, esse deveria ser o grande objetivo da educação física. A “ciência” que ensina a viver o corpo (SANTIN, 1999, p. 39).
Considerando estas questões, organizou-se este estudo com o intuito de colaborar com os profissionais da educação física, quanto às formas de reflexão e possível atuação junto ao contexto da área quando o tema refere-se à corporeidade. Principalmente no que se refere à compreensão de homem, mundo, sociedade e educação. É dentro deste contexto que se pode perceber a delicada tarefa educativa da educação física. Mais que cientistas, técnicos ou profissionais, ela reclama por educadores que falem e escutem a linguagem da corporeidade humana. Portanto, apresenta-se este estudo sob a temática da expressão dos movimentos como processo de construção da corporeidade humana mediada pela atividade corporal Tai Chi Chuan.
2. Referencial teórico
2.1. Atividade corporal Tai Chi Chuan
Nestas últimas décadas as atividades corporais de vários matizes tiveram uma grande ascensão na sociedade brasileira. A diversidade de práticas esportivas oficiais, do conjunto proporcionado pela Educação Física enquanto Curso Superior e não oficiais ofertadas pelas federações tais como: Tai Chi Chuan, Yoga ente outras adquiriram muitos adeptos, praticantes e expectadores. Com efeito, atraindo a atenção e provocando o crescimento e divulgação nos meios de comunicação, tanto de eventos nacionais e internacionais, bem como projetos comunitários a partir de escolas e universidades.
Em outros espaços como nas praias, nos parques públicos, aumentaram o número de pessoas que individualmente ou em grupos, igualmente se exercitam, praticando Yoga, Lian Gong e Tai Chi Chuan. Paralelamente, a este campo de atuação desenvolveu-se com bastante rapidez, um amplo conjunto de atividades corporais reconhecidas como suaves e alternativas, tanto quanto as de origem oriental. A partir disto apareceram nomes como: antiginástica, eutonia, bioenergética, biodança entre outras. Com essa gama de atividades corporais surgiram grupos de defensores das atividades corporais alternativas e suaves. O que provocou interesse geral pelo conjunto das atividades alternativas e suaves não deixando de ser acompanhado no campo da educação física e em outras áreas disciplinares e na sociedade como um todo. Desta maneira, acarretando amplos debates sobre seus significados, valores orientadores, objetivos, finalidades e os seus efeitos.
No campo da educação física vieram à tona críticas às orientações competitivas concernentes a excessos cometidos pela idolatria ao corpo, aos efeitos nocivos e acríticos das atividades corporais. As propostas de intervenção avolumaram-se, tanto no espaço escolar quanto ao comunitário e também nos espaços dos clubes e das academias, bem como de outros ainda não codificados, tampouco decodificados como nas federações nos quais se realizam atividades corporais.
Porquanto, mais do que procurar técnicas oriundas de atividades corporais que podem minimizar os efeitos, por vezes dolorosos e danosos das atividades corporais “duras”, a intenção é procurar a representatividade de outros sentidos. Como por exemplo, de viver-se corporeidade, pois nela se situa o encontro do homem consigo mesmo. Relacionando-se à maneira dos indivíduos, se encontrarem, se verem, se construírem, mediante a busca por objetivos em interação com o próprio corpo.
Desta forma, mediante este “olhar” possibilita-se uma contribuição para o entendimento de uma atividade corporal suave utilizada na atualidade por professores de educação física e que servirá nesta proposta como estudo da expressão da corporeização do idoso pelos movimentos signicos do Tai Chi Chuan. Deste modo, incluírem também valores de saúde, estética, e recreação. Servindo, portanto, como produto do momento que vivê-se na sociedade. Assim, contribuindo, para que se acentue o aprendizado das diferenças, tanto das atividades corporais quanto das características daqueles que as procuram.
No contexto das atividades corporais, existem como ginásticas suaves em geral entre outros as atividades como: eutonia, a antiginástica, biodança, bioenergetiva, biossíntese, Tai Chi Chuan (origem oriental) alongamento, corpo análise. E neste contexto, que envolve o campo das atividades corporais não tradicionais, estas são naturalmente muitas vezes acompanhadas pelos termos alternativo e suave.
Em relação ao termo alternativo, este se apresenta intimamente ligado às atividades corporais suaves, mas isso não quer dizer que o esforço físico seja totalmente abolido. Há também outras atividades, que não poderíamos classificar como suaves. Assim:
Os termos “alternativo” e “suave” não são sinônimos. O termo “alternativo”, em relação ás praticas corporais nos permite uma abrangência maior que o “suave”. Sendo assim, o suave pode ser considerado como um subconjunto do alternativo, compartilhando o horizonte de valores críticos e alternativos porém enfatizando a suavidade e não a violência. (LACERDA, 1995,p: 14).
Desta forma, varias destas praticas mencionadas, vinculam-se as correntes críticas da psicanálise e da psicologia e outras tomam como referência o espírito do Oriente, construído pelo Ocidente. Em concordância com tais idéias Lacerda, aponta que:
A cultura ocidental há algum poucas décadas tem-se apropriado de técnicas de origem “oriental" e, produzindo também formas autônomas, de modo sistemático, elaborando e reelaborando propostas de atuação no campo das movimentações suaves visando proporcionar” bem estar" físico e mental, integração e auto-conhecimento (SAID, 1990, p: 15).
No Brasil, a prática destas atividades corporais suaves de cunho oriental, mais especificamente de origem chinesa está em pleno vigor desde a década de sessenta, tendo no Tai chi Chuan o seu maior representante. Desta maneira, o conjunto das atividades corporais suaves foi acompanhado, e mesmo precedido, no campo da Educação Física, e em outras áreas disciplinares.
A assimilação das atividades brandas, suaves e alternativas no universo da formação em Educação Física ocorreu a pouco tempo. A formação dos instrutores nas diversas técnicas e propostas suaves deu-se a bastante tempo em circuitos paralelos aos oficiais, fora da formação em Educação Física e, não raro no cruzamento com circuitos também paralelos de formação de terapias alternativa (LACERDA, 1995, p: 15)
Com o apoio das Universidades com projetos que estão em pleno vigor, as propostas de atividades corporais alternativas e suaves ganham cada vez mais espaço, quer se trate do espaço escolar com adolescentes e também no âmbito comunitário abrangendo a população adulta mais precisamente o público idoso que realizam atividades corporais.
2.2. Tai Chi Chuan e significação
Os símbolos culturais constituem-se em elementos importantes na edificação da sociedade humana. Para explicar estes símbolos e o seu significado é vital estabelecermos se suas representações acham-se ligadas a experiências puramente pessoais ou se foram particularmente produzidas. Deste modo, quando nos esforçamos para compreender os símbolos, confrontamo-nos não só com o próprio símbolo como também com a totalidade do indivíduo que o produziu. Nesta totalidade, inclui-se um estudo do seu universo cultural, processo em que se acaba por preencherem muitas das lacunas da nossa Educação.
Neste contexto, que a hora aborda-se neste estudo, chegamos ao oriente e sua simbologia cultural expressa através dos movimentos do Tai Chi Chuan. Tendo nos oito trigramas (Pakua) essenciais do I Ching interpretados e analisados toda a história de uma sociedade oriental.
Dobrando os oito trigramas, o qual se acredita representem os participantes do universo, dentro de grupo de seis linhas ou hexagramas, foram criados um total de sessenta e quatro combinações. Acredita-se que os oito trigramas e seu resultado de sessenta e quatro hexagramas representam todas as mutações da criação e comparam o universo ao microcosmo (SEVERINO, 1994, p: 100)
Entende-se que nesse processo cultural, estabelece-se como regra particular considerar este estudo como uma proposta inteiramente nova, sobre a qual se propõe um trabalho de quase alfabetização. Os seres humanos, em cada etapa da vida, possuem predisposição conforme os condicionamentos da natureza e das aprendizagens. Somente na infância e no processo de formação narcísea primária, o ser humano produz seu significado enquanto estiver enredado em si mesmo. Posteriormente, necessita de objetos simbólicos ou não para exercer a tarefa de humanizar-se. Desta forma, o conjunto integrado e dinâmico do ser é instituído em narrativa ou discurso, de acordo com a comunicação efetuada sobre ele. A comunicação é feita pela construção simbólica e pelos hábitos disciplinadores do ambiente. "O homem é transformador da natureza, e o resultado dessa transformação chama-se cultura" (BOTH, 1999).
Desta forma, eis a diferença fundamental entre o homem e os animais. Mas, para produzir cultura, o homem precisa da linguagem simbólica. Os símbolos são invenções humanas por meio do qual, o homem pode lidar abstratamente com o mundo que o cerca depois de criados, entretanto, eles devem ser aceitos por todo o grupo e se tornam a convenção que permite o diálogo e o discurso do outro. Então as questões biopsicosociais relacionadas ao existir humano no que tangem a sua vida podem ser simbolizadas ou resignificadas dentro de outra cultura, levando-se em consideração a competência na criação ou transmissão de símbolos já existentes.
2.3. Tai Chi Chuan e suas complexidades signicas
Nesta pesquisa, caracteriza-se o Tai Chi Chuan como um complexo constituindo complexidades - meditação, respiração e simbologia, porém, não sendo estas individuais e isoladas, mas integradas e interdependentes harmoniosamente orquestradas pelo movimento.
Complexidade é qualidade do que é complexo. O termo vem do latim: complexus, que significa o que abrange muitos elementos ou várias partes. È um conjunto de circunstâncias, ou coisas interdependentes, ou seja, que apresentam ligação entre si. Trata-se da congregação de elementos que são membros e partícipes do todo. O todo é uma unidade complexa. E o todo não se reduz a mera soma dos elementos que constituem as partes. È mais do que isto, pois cada parte apresenta sua especificidade e, em contato com as outras, modificam-se as partes e também o todo (PETRAGLIA, 1995, p.48)
Dessa forma, a complexidade é o que não atua a partir de suas ações individuais e isoladas, mas suas ações integradas e dependentes assumem outra forma de expressão e adquirem novas faces. Assim, por exemplo, dizendo que quando pensamos na organização de um curso de graduação como um “todo”, logo se considera as disciplinas que o compõe, como partes integrantes e significativas, que especificam e particularmente, apresentam suas características e qualidades individuais. Portanto, à visão de seus recortes, são importantes, enquanto estudo de aspectos próprios, pois que, contribuem para a visão e compreensão de conjunto, na dimensão da complexidade do ser e do saber.
2.4. Complexidade signica: respiração
Desde mais alta Antigüidade os chineses dedicaram, logo de inicio especial atenção à respiração. Os chineses consideram a inspiração como Yin, e a expiração, como Yang; este tempo, portanto, o mais importante, é aquele para o qual se dirige a atenção e é nele que o executante distende progressivamente todas as partes do corpo. No Tai Chi Chuan, a respiração é análoga à efetuada na maioria dos exercícios taoístas. Ao contrário da respiração ocidental, não é torácica, mas essencialmente abdominal.
Razão, pelas quais os mestres recomendam que se relaxe a cintura e o abdômen. Por conseguinte, ela não se efetua por um trabalho da caixa torácica, que se dilata na inspiração e se contrai na expiração, mas por um trabalho do diafragma, que baixa na inspiração e volta ao seu lugar na expiração, o que implica na intumescência do abdômen. Podem obter-se assim inspirações e expirações mais e mais longas e fazer de modo que a dilatação aparente da caixa torácica se torne muito fraca e quase imperceptível. Essa respiração apresenta, entre outras, a vantagem de facilitar o trabalho da digestão e acelerar as secreções internas, graças à pressão exercida sobre os diversos órgãos da digestão pelo diafragma.
Portanto, a respiração lenta e profunda se efetua pelo nariz, tanto na inspiração quanto na expiração durante a prática do Tai Chi Chuan, ao passo que, em certos exercícios isolados de respiração, a expiração pode fazer-se pela boca. No Tai Chi Chuan para que haja um bom aproveitamento desta parte, a atenção deve acompanhar o movimento, bem como a respiração denotar-se de um relaxamento total de todas as partes do corpo, notadamente da cintura e do abdômen. Para que possamos entender, durante a inspiração, há descontração da parte inferior do ventre, e ligeira retração na expiação, entretanto alguns autores dissertam que se efetua o movimento inverso, retração do ventre na inspiração e descontração na expiração. Esses movimentos do ventre são imperceptíveis e não devem em hipótese nenhuma serem forçados. Cumpre-se apenas ao principiante respirar naturalmente, com o corpo relaxado e a atenção concentrada no que se está fazendo. Realizadas essas condições, se os movimentos do Tai Chi Chuan já tiverem sido dominados, o praticante trabalhará a respiração durante a execução dos movimentos.
Este deverá esforçar-se por fazer coincidir os dos tempos da respiração com os diferentes movimentos, da seguinte maneira: a inspiração corresponde a quatro tipos de movimentos á saber: movimento de contração do corpo ou dos braços; movimento para cima; movimento de elevação; movimento aberto. No entanto, na expiração corresponde a quatro tipos inversos como: movimento de extensão; movimento para baixo; movimento de pressão; movimento fechado. Durante o encadeamento dos movimentos do Tai Chi Chuan, os movimentos de concentração ou de extensão, para cima ou para baixo, etc., se alternam; não há, portanto, dificuldade em fazer corresponder a inspiração e a expiração á classificação supra de movimento. Dessa maneira, a respiração estabelece o ritmo do desenrolar do encadeamento, numa cadência cada vez mais lenta à medida que se alonga a duração da respiração.
2.5. Complexidade signica
Os signos culturais constituem-se em elementos importantes na edificação da sociedade humana. Para explicar estes signos e suas representações é vital interpretarmos, considerando a proposta sobre a qual se propõe esse trabalho, diremos de quase alfabetização. Então, perguntamos de que maneira o Tai chi Chuan está relacionado com o pensamento chinês? Muitas pessoas que tem algum conhecimento sobre Tai Chi Chuan compreendem que ele se baseia em Yin e Yang os princípios passivo e ativo da filosofia chinesa. Sabem também que o passatempo contemporâneo de jogar I Ching (livro das mutações), fundamenta-se numa visão de mundo que utiliza os mesmos conceitos.
Com muita razão, elas perguntam: "qual a relação entre Tai Chi Chuan e I Ching? A ligação existe no relacionamento de cada um dos movimentos do Tai Chi Chuan com determinados hexagramas do I Ching. Esse relacionamento contém indícios vitais para a compreensão profunda do pensamento chinês que, como todas as visões de mundo estão embasadas no conhecimento de si mesmo (equilíbrio), adquirido da experiência pratica da meditação. A própria expressão Tai chi vem do I Ching. Tendo amplo uso na cultura chinesa, sendo encontrada em áreas tão diversas quanto à ciência médica, a meditação, a geomancia, assim como no exercício de Tai Chi Chuan, “seja qual for a disciplina a qual é aplicado, o conceito tem sua raiz no I Ching” (Liu,1997).
Dobrando-se os oito trigramas, o qual se acredita representem os participantes do universo, dentro de grupo de seis linhas ou hexagramas, foi criado um total de sessenta e quatro combinações. Acredita-se que os oito trigramas e seu resultado de sessenta e quatro hexagramas representam todas as mutações da criação e comparam o universo ao microcosmo (SEVERINO, 1994, p.100)
Nesta interpretação é apresentada ainda toma outra dimensão: o Tai Chi Chuan não apenas sendo bom para a saúde, como igualmente para o desenvolvimento da virtude humana. Para produzir cultura, o homem precisa da linguagem simbólica que passa a exprimir o próprio existir humano, podendo ser simbolizadas ou resignificadas dentro de outra cultura, levando-se em consideração a competência na criação ou transmissão de símbolos já existentes. Então, quando nos esforçamos para compreender os símbolos, confrontamo-nos não só com o próprio símbolo como também com a totalidade do indivíduo que o produziu. Nesta totalidade inclui-se um estudo do seu universo cultural, processo em que se acaba por preencherem muitas das lacunas da nossa Educação.
2.6. Complexidade: meditação em movimento
Na meditação chinesa, o modo mais comum de explicar o Tai chi Chuan é como exercício de equilíbrio. Pois, ao praticar o Tai Chi utilize simplesmente sua intenção para dirigir o movimento.
Esclarecem que quando o movimento é combinado com o relaxamento e a direção mental consciente chama-se então “meditação em movimento”. No Tai Chi Chuan, a mente exerce dupla função, sendo a fonte da intenção, dirigindo e controlando o movimento, e da atenção regulando os efeitos do movimento (LEE & JOHNSTONE, 1989, p. 34).
Como o Tai Chi Chuan ensina a buscar um determinado estado mental enquanto nos movimentamos, ele é indubitavelmente a caracterização da “meditação em movimento”, onde significa simplesmente: ao praticar Tai chi, utiliza-se a intenção para dirigir a movimentação, o movimento do Tai Chi é o próprio pensamento intenso que acompanha o movimento.
O Tai Chi Chuan “meditação em movimento na sua essência (integral), serve para despertar os praticantes”. Este despertar é mantido no sentido de centro (Tao), equilíbrio, sendo uno com o meio ambiente. A pessoa que observa uma apresentação de Tai Chi Chuan vê apenas a lentidão e a beleza dos movimentos, mas a pessoa que faz Tai Chi Chuan está totalmente concentrada em um fluxo equilibrado e continuo de energia desfrutando uma experiência de percepção atenta.
Vamos a outro simples exemplo: os praticantes vêem todas as pessoas em volta? As cadeiras, o chão, a pessoa mais próxima? Que possam também estar de ouvidos abertos. Ouvem a conversa na sala ao lado? Ouvem a sua própria respiração e a das pessoas mais próximas? Ouvem o arrastar dos pés? O Objetivo é que possam estar alertas e receptivos ao meio ambiente sem perder o equilíbrio (Tao).
Esta é a meditação Tai Chi Chuan!
Se o praticante a realizar desta maneira, a forma o continuara desafiando por algum tempo como se estivesse esta desassociada do "todo". Ela se tornara espontânea com o movimento do corpo à medida que forem seguindo o processo.
Mas, muito fácil se torna quando os praticantes deixarem que a meditação tenha inicio desta maneira. Porém, é muito difícil mantê-la, sendo fácil perder-se, a vontade precisa coordenar os pensamentos e concentrá-lo em determinada direção e não pode acontecer o inverso, ou seja, ser dominado pelo fluxo aleatório dos pensamentos, para isso que existe a forma como um suporte integrativo.
3. Resultados da discussão da proposta
Na análise e discussão do ocorrido nestes dois semestres de trabalho, dentro da proposta de pesquisa, pautaram-se as observações por escrito em um diário de campo, onde se anotou os diálogos ocorridos tanto no começo, meio durante e fim das aulas. Com efeito, passado este período de intensas observações, até mesmo de coisas que pareciam sem importância no momento, mas que serviram como complemento na hora em que transcreveu-se o diário de campo em relatório de campo, logo se dando uma boa noção da leitura da realidade.
Então, para a elaboração do relatório de campo, procedeu-se com as informações contidas nos diálogos da seguinte maneira: 1) transcrição do diálogo entre professor-aluno e alunos-alunos 2) o movimento mediado com sua descrição e interpretações simbólicas 3) reflexões sobre essa interação.
Desta maneira, seguindo fielmente este roteiro, foi alinhado os períodos de aula, as datas e os tipos de movimentos propostos, dentro da atividade corporal Tai Chi Chuan determinado para a proposta, através do traçado de uma linha espaço-tempo. Este procedimento facilitou a transcrição do diário de campo, ou melhor, de suas falas para transformá-lo em relatório de campo. Nele contendo um continuo de acontecimentos, desde a mediação dos exercícios (de sua mediação e trocas pelos idosos), a interpretação para assimilação por parte do aluno de sua simbologia (significado), como também de reflexões pertinentes aos exercícios, interpretações e o acontecido na aula. Deste modo, o conteúdo correspondeu a um relevante conhecimento por parte dos idosos.
4. Tecendo algumas considerações em aberto
Partindo da leitura da realidade do idoso e da atividade corporal Tai Chi Chuan, viu-se o quanto foi difícil o trabalho de estudo da expressão da corporeização dos idosos. No entanto, na ocorrência de diálogos como situações de corporeização, denotaram-se os idosos como agentes principais da construção dos seus próprios movimentos de Tai Chi Chuan nas aulas. No que tange a atividade corporal Tai Chi Chuan foi uma novidade o trabalho realizado mediante esta proposta. Mas, no concernente aos idosos a conquista foi de relevância, pois até então não se tinha ainda algo concreto em relação a sua real apreensão da atividade corporal Tai Chi Chuan.
Desta forma, O que se procurou trabalhar neste estudo e creio piamente que foi conseguido, pois tudo o que foi construído, igualmente foi apreendido e aprendido, pois possuía significação e sentido, e que se fundamentou no diálogo entre o idoso e o Tai Chi Chuan. Porquanto, o que tem significação numa interação de atividades entre professor- aluno e aluno – aluno, disso resulta com certeza em termos de apreensão, o seu beneficio recíproco.
Com efeito, neste contexto uma aula de Tai Chi Chuan passa a fazer parte do processo de educação, com isso devendo habilitar o praticante tanto para desenvolver funções pessoais na sociedade, como também para construir coletivamente. Com efeito, essas atividades prescindem de um agir pedagógico diferenciado, aplicando-se conhecimentos, formando atitudes críticas e desenvolvendo habilidades necessárias para essa prática.
Neste contexto o próprio símbolo do Yin/Yang ratifica esta questão, pois sua base está radicada na relação dos opostos (Yin=negativo e Yang=positivo), sempre em plena mutação dinâmica pela renovação. Com efeito, toda a interação num espaço tende a ter um significado de “para que” e na Educação Física com o idoso é uma relação fundamental. Igualmente, estamos construindo o “por que” de nossos relacionamentos, através de nossos movimentos em confronto com o mundo exterior a partir da conquista da autonomia percebida e sentida pelos idosos. Então, pensamos a educação como ação de desenvolvimento do ser humano. A educação enquanto um fenômeno de desenvolvimento pessoal só é possível através do relacionamento interpessoal, a construção do “eu” passa pela construção do “outro”, que em sua característica coletiva constrói a sociedade.
Por fim, o contexto formado, a partir de um espaço significativo também pode fazer parte da vida do idoso, logo dependendo de sua conotação que pode ser através de atividades corporais como Tai Chi Chuan, com isso desenvolvendo o sujeito em sua totalidade. Com efeito, o diálogo tem um papel importante na autoconstrução corporal, na manutenção da autonomia e autogestão dos idosos, sendo necessária para os indivíduos durante toda a vida, não se restringindo a uma faixa etária específica.
Bibliografia consultada
BOTH, A. Educação Gerontológica: posições e proposições. Passo Fundo. São Cristóvão, 2001.
LACERDA, Y. Atividade corporais: O alternativo e suave na Educação Física. Ed. Sprint. RJ, 1995.
LEE & JONHSTONE. Tai Chi Chuan para a saúde. Ed. Pensamento, 1983, SP.
LIU, Da. Tai Chi Chuan e meditação. Ed. Pensamento, 1986. SP.
MATURUNA, H. R. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Ed.UFMG, BH, 2001.
MATURANA, H, R. & VARELA, F, J, G. De máquinas e seres vivos. Ed. Artmed, POA, 2002.
PETRALIA, I.C. Edgar Morin - A Educação e a complexidade do ser e do saber. 6ª edição Ed, Vozes, 1995, Petropólis/RJ.
SAID, E.W. Orientalismo. Oriente como invenção do Ocidente. Ed. Cia da Letras, 1990, SP.
SEVERINO, R.H. Tai chi chuan por uma vida longa e saudável. Ed Ycone, 1994.
SANTIN, S. Educar e profissionalizar. Ed. Est, Porto Alegre/RS, 1999.
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