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Análise das habilidades motoras fundamentais de crianças

praticantes de futebol em função do tempo de prática

Análisis de las habilidades motoras fundamentales de niños practicantes de fútbol en función del tiempo de práctica

Analysis of the fundamental motor skills of children soccer players as function of practice time

 

*Mestrando em Educação Física

**Profª Mestre em Educação Física

***Profª Doutora em Educação Física

Universidade Estadual de Maringá

(Brasil)

José Roberto Andrade do Nascimento Junior*

Patrícia Aparecida Gaion**

Lenamar Fiorese Vieira***

junior_jrs001@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo teve como objetivo investigar a associação dos estágios de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais com a prática de futebol de campo de crianças na cidade de Maringá - PR. Foram sujeitos 24 crianças de 8 e 9 anos do gênero masculino. Como instrumento utilizou-se da ficha de avaliação das habilidades motoras, identificando os movimentos como inicial, elementar ou maduro (GALLAHUE; OZMUN, 2005) e filmagem das execuções. Para análise dos dados, foi utilizado o teste exato de Fisher e o teste “U” de Mann Whitney, adotando P<0,05. Os resultados demonstraram que houve associação significativa entre a prática de futebol e melhor desenvolvimento nas habilidades motoras de equilíbrio (P= 0,01), corrida (P= 0,04), salto horizontal (P= 0,01), salto vertical (P= 0,01), chute com pé dominante (P= 0,02) e não dominante (P= 0,01) e arremesso com a mão não dominante (P= 0,04). Concluiu-se que a prática de futebol pode influenciar positivamente no desenvolvimento de habilidades motoras relacionadas com o futebol.

          Unitermos: Comportamento motor. Infância. Iniciação esportiva.

 

Abstract

          This study aimed to investigate the association between the stages of development of fundamental motor skills with the practice of children’s soccer in the city of Maringa – PR. The subjects were 24 male children with ages between 8 and 9 years old. The instruments used were an evaluation form of the motor skills, identifying the movements as initial, elementary or mature (GALLAHUE; OZMUN, 2005) and the filming of executions. For the data analysis it was applied the Fischer's exact test and the Mann Whitney test, taking P<0,05. The results showed a significant association between soccer practice and better development in motor skills of balance (P= 0,01), running (P= 0,04), horizontal jump (P= 0,01), vertical jump (P= 0,01), kicking with dominant leg (P= 0,02) and non-dominant (P= 0,01) and throwing with non-dominant hand (P= 0,04). It was concluded that the practice of soccer can influence the development of some fundamental motor skills related with soccer.

          Keywords: Motor behavior. Childhood. Sporting initiation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento motor é definido como um processo de alterações no sistema de funcionamento de um sujeito, no qual, ao longo do tempo, uma melhor capacidade de entender, executar e controlar os movimentos é adquirida (MANOEL, 2005), caracterizando-se como um processo contínuo de mudanças na capacidade funcional (HAYWOOD; GETCHELL, 2004).

    O processo de desenvolvimento motor pode ser dividido em quatro fases: fase de movimentos reflexos, que compreende parte da vida uterina até por volta de 1 ano de idade e é caracterizada por movimentos reflexos; fase de movimentos rudimentares (aproximadamente dos 4 meses pós-natal até os 2 anos de idade), onde acontece as primeiras formas de movimentos voluntários; fase de movimentos fundamentais (2 aos 7 anos de idade), na qual as crianças estão envolvidas na experimentação das capacidades motoras de seus corpos, descobrindo como executar inúmeras formas de movimentos; e fase de movimentos especializados (acima de 7 anos), que é o período onde as habilidades motoras são refinadas e combinadas para o uso em diferentes situações (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Nesse sentido, os estudiosos do desenvolvimento motor têm concentrado seus estudos, sobretudo na infância, pois além de ser o período de desenvolvimento e consolidação das habilidades motoras fundamentais, é onde o profissional de Educação Física tem grande possibilidade de intervenção (ISAYAMA; GALLARDO, 1998).

    A fase de desenvolvimento motor fundamental é composta por três estágios: inicial, caracterizado pelas primeiras tentativas da criança em realizar movimentos que são realizados com o uso exagerado do corpo; estágio elementar, onde os movimentos envolvem maior controle e coordenação rítmica, mas ainda são restritos e exagerados; e estágio maduro que é caracterizado por movimentos eficientes, coordenados e controlados (GALLAHUE, 2005).

    É importante destacar que nem todos os indivíduos atingem o estágio maduro em todas as habilidades motoras fundamentais pois a aquisição de novas habilidades está diretamente relacionada não apenas à faixa etária da criança, mas também às oportunidades de vivência e aprendizado ofertadas pelo ambiente (SOARES; ALMEIDA, 2006; VIEIRA et al., 2009; OLRICH, 2002; GOODWAY; BRANTA, 2003).

    Para Clark (1994), as habilidades motoras fundamentais aparecem em praticamente todas as modalidades esportivas, o que torna o bom desenvolvimento desses tipos de habilidades essencial para que crianças sejam capazes de participar de modalidades esportivas com sucesso. Além disso, sabe-se que a escola de esportes pode contribuir para o desenvolvimento motor da criança, uma vez que nestes ambientes pode participar de diversas atividades e em vários ambientes (CARAZZATO, 1999; OLIVEIRA; MARTINS JUNIOR, 2008).

    Nesse ponto de vista, Goodway et al. (2003) realizaram um estudo sobre os efeitos de atividades de instrução motora sobre o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de crianças escolares e verificaram que crianças instruídas por atividades motoras possuem melhor desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais.

    Embora a prática de esporte possa contribuir para o desenvolvimento motor, o tipo de modalidade pode interferir nas alterações realizadas. Nesse sentido, o objetivo do estudo foi investigar a associação dos estágios de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais com a prática de futebol de campo de crianças na cidade de Maringá – PR.

Metodologia

Caracterização do estudo

    O presente estudo teve um caráter descritivo e comparativo, uma vez que o objetivo foi observar, registrar e analisar fenômenos, entretanto, sem interferir ou influenciar os mesmos, com uma posterior comparação dos resultados obtidos em função das características avaliadas (THOMAS; NELSON, 2002).

Participantes

    Os participantes foram selecionados de forma intencional em uma escola de futebol da cidade de Maringá, Paraná, caracterizada por ser um núcleo de iniciação esportiva de um clube de futebol do Estado do Paraná, cujo objetivo é a formação de atletas e detecção de talentos. Foram selecionadas todas as crianças com 8 e 9 anos de idade, do gênero masculino, que participavam das aulas de futebol duas vezes na semana, há pelo menos um mês, durante o ano de 2009, totalizando 24 crianças.

Instrumentos

    A análise do desenvolvimento motor foi feita por meio de filmagem com posterior análise através de uma ficha de avaliação de cada habilidade motora avaliada, elaborada a partir da Seqüência de Desenvolvimento das Habilidades Motoras Fundamentais proposta por Gallahue e Ozmun (2005).

    Foram analisadas as habilidades motoras fundamentais de estabilização: equilíbrio em um pé e rolamento do corpo; manipulação: rolamento da bola, chute e arremesso por cima; e locomoção: corrida, salto horizontal e salto vertical. Cada movimento fundamental foi avaliado e classificado no estágio inicial, elementar ou maduro (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Procedimentos

    Após a autorização do diretor da Escola de Futebol onde foi desenvolvida a pesquisa, o presente estudo foi submetido ao Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da universidade onde foi desenvolvido o estudo e, após sua aprovação, foi enviado o termo de consentimento livre e esclarecido para os pais ou responsáveis pelas crianças. Após a assinatura deste termo, foram marcadas datas para a realização das filmagens.

    A filmagem foi realizada com duas câmeras sincronizadas, permitindo assim uma filmagem frontal e outra lateral dos movimentos de cada avaliado. Após as instruções padronizadas sobre como executar cada movimento fundamental, as crianças executaram cada habilidade três vezes. Por meio da filmagem foi possível registrar a execução das habilidades motoras fundamentais de cada criança, para a análise dos movimentos e classificação do seu estágio de desenvolvimento.

    A coleta de dados foi realizada em setembro de 2009, no próprio local de treinamento das crianças, antes do início das aulas de futebol. Após a filmagem, as habilidades motoras dos avaliados foram classificadas por componentes pelo pesquisador e por um professor da área do Comportamento Motor, a partir das observações dos vídeos e da utilização das fichas de avaliações.

    Para a realização de cada habilidade, buscaram-se procedimentos padrões utilizados em estudos anteriores, como os estudos realizados por Paim (2003), Marques e Catenassi (2005), Soares e Almeida (2006), Maforte et al. (2007) e Oliveira e Martins Junior (2008). De acordo com os padrões estabelecidos por estes autores, os avaliados foram submetidos aos seguintes procedimentos na realização de cada tarefa:

  • Equilíbrio em um pé só: foi utilizada uma mini-trave de equilíbrio, onde as crianças tinham que se equilibrar em um pé só e, posteriormente, com os olhos fechados.

  • Rolamento do corpo: as crianças foram instruídas a rolarem seus corpos para frente, ficando momentaneamente invertidas.

  • Rolamento da bola: as crianças foram instruídas a rolarem a bola de futebol de campo em direção ao gol livre, sem a utilização de saltos ou corrida prévia.

  • Chute: foi colocada uma bola de futebol a 6 metros de distância do gol livre, e pediu-se para as crianças chutarem a bola no interior da trave, sem utilização de corrida prévia.

  • Arremesso por cima: foi utilizada uma bola de borracha e cada criança teve que arremessá-la em direção ao gol livre, sem a utilização de saltos ou corrida prévia.

  • Salto vertical: as crianças foram instruídas a realizar a projeção do corpo verticalmente no ar, com o impulso dado por um ou dois pés e o pouso.

  • Salto horizontal: foi demarcada uma linha no chão, na qual as crianças paradas e com os pés paralelos, partindo desta linha, deveriam executar um salto para frente (horizontal).

  • Corrida: as crianças foram instruídas a percorrer 20 metros correndo, indo e voltando até um ponto demarcado.

Análise estatística

    Para análise dos dados, a amostra foi dividida em dois grupos: grupo que treinava futebol há mais de seis meses (11 indivíduos) e grupo que treinava futebol há menos de seis meses (13 indivíduos), aplicando o Teste Exato de Fisher para comparar as proporções, adotando P<0,05.

Resultados

    Verificou-se que das 24 crianças investigadas, 54,2 % (13 alunos) praticavam futebol há menos de 6 meses, com idade de 8,9 anos (9,9 – 8,6) e que 45,2% (11 alunos) praticavam futebol há mais de 6 meses, com idade de 9,6 anos (9,9 - 8,4). A tabela 1 apresenta a associação entre os estágios de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais e o tempo de prática de futebol, comparando as proporções para cada habilidade motora.

Tabela 1. Associação entre os estágios de desenvolvimento motor e o tempo de prática de futebol

Habilidade

Estágio

Pratica há mais de 6 meses

Pratica há menos de 6 meses

P

Estabilização

Equilíbrio

Inicial

0

7

0,006*

Elementar/Maduro

11

6

Rolamento do corpo

Inicial

3

9

0,100

Elementar/Maduro

8

4

Locomoção

Corrida

Inicial

0

5

0,041*

Elementar/Maduro

11

8

Salto Horizontal

Inicial

1

8

0,013*

Elementar/Maduro

10

5

Salto Vertical

Inicial

2

11

0,003*

Elementar/Maduro

9

2

Manipulação

Chute Pé Dominante

Inicial

0

6

0,016*

Elementar/Maduro

11

7

Chute Pé Não Dominante

Inicial

3

11

0,011*

Elementar/Maduro

8

2

Rolamento Bola Mão Não Dominante

Inicial

0

4

0,098

Elementar/Maduro

11

9

Arremesso Mão Dominante

Inicial

0

2

0,482

Elementar/Maduro

11

11

Arremesso Mão Não Dominante

Inicial

3

10

0,038*

Elementar/Maduro

8

3

*Diferença significativa P<0,05 – Teste Exato de Fisher.

    Todos os avaliados apresentaram características do estágio elementar/maduro na habilidade motora rolamento da bola com a mão dominante, por isso não foi feito o cálculo da associação para esta variável.

    Foi possível perceber que em quase todas as habilidades motoras avaliadas houve associação significativa com o tempo de prática de futebol, com exceção das habilidades de arremesso com a mão dominante (P= 0,482), rolamento da bola com a mão não dominante (P= 0,098) e rolamento do corpo (P= 0,100), que apresentaram resultados semelhantes em ambos os grupos, além do rolamento da bola com a mão dominante, onde todos os avaliados estão no estágio elementar/maduro.

    Em relação à habilidade motora equilíbrio em um pé (P= 0,006), foi encontrada uma associação significativa entre esta habilidade e o grupo que praticava futebol há mais de 6 meses, mostrando que este grupo apresentou melhor desenvolvimento desta habilidade.

    Na habilidade motora corrida (P= 0,041) foi encontrada associação significativa, uma vez que nenhum dos praticantes de futebol há mais de 6 meses se encontraram no estágio inicial, enquanto que a maioria das crianças do grupo que praticava há menos de 6 meses apresentou características do estágio inicial. Em relação ao salto vertical (P= 0,003) e ao salto horizontal (P= 0,013), verificou-se uma associação positiva, pois o grupo que praticava há mais de 6 meses possuiu a maioria dos avaliados no estágio elementar/maduro, enquanto a maior parte do grupo que praticava há menos de 6 meses estava no estágio inicial.

    Na habilidade de arremesso com a mão não dominante (P= 0,038) foi encontrada diferença significativa entre os grupos, uma vez que a maioria dos indivíduos do grupo que praticava há mais de 6 meses estava no estágio elementar ou maduro, enquanto a maior parte dos sujeitos do grupo que praticava há menos de 6 meses estava no estágio inicial. Por outro lado, não foi encontrada associação entre tempo de prática de futebol na execução com a mão dominante (P= 0,482), uma vez que quase todos os avaliados estavam no estágio elementar ou maduro.

    Nas habilidades chutes com o pé dominante (P= 0,016) e com o pé não dominante (P=0,011) foram encontradas associações entre os estágios de desenvolvimento motor e o tempo de prática de futebol, uma vez que a maioria dos indivíduos que treinavam há mais de 6 meses se apresentaram no estágio elementar/maduro, enquanto o grupo que treinava há menos de 6 meses apresentou maior proporção de crianças no estágio inicial, mostrando que os indivíduos que treinavam futebol há mais de 6 meses possuíam melhor desenvolvimento da habilidade motora chute.

    Em relação ao rolamento do corpo (P= 0,100), não se observou uma associação estatística entre o grupo que praticava futebol há mais de 6 meses e o estágio elementar/maduro sobre o grupo que praticava há menos de 6 meses. Entretanto, percebeu-se que a maioria dos indivíduos do grupo que treinava há mais de 6 meses estava entre o estágio elementar e maduro, enquanto os indivíduos do outro grupo no estágio inicial.

Discussão

    Sabe-se que a prática do futebol pode ser uma experiência motora importante para a criança, uma vez que muitos de seus fundamentos são caracterizados por movimentos fundamentais de manipulação, como as técnicas dos jogadores de linha (chute, passe, recepção, drible, condução de bola) e os fundamentos técnicos do goleiro (arremesso, defesa alta, defesa baixa, saídas de gol); movimentos de locomoção, como as corridas, o trote, saltos (cabeceios); e os movimentos de estabilidade e equilíbrio, como os axiais (habilidade para o gol, marcação, desvio do adversário) (HITORA; PAIANO, 2007).

    A associação encontrada entre a prática do futebol e a maioria das habilidades motoras fundamentais demonstrou que as crianças praticantes de futebol há mais de 6 meses possuíam melhor desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais relacionadas com o futebol. Nesse sentido, Freire (2003) destaca que o ingresso de uma criança numa escola de futebol pode lhe propiciar um repertório de habilidades motoras fundamentais bem diversificadas.

    A associação encontrada entre a habilidade motora equilíbrio em um pé e o grupo que praticava futebol há mais de 6 meses pode estar relacionado ao fato de no futebol a influência do equilíbrio ocorrer em diversas ações, tais como: correr, saltar, chutar ou mesmo manter-se em pé.

    Nas habilidades corrida, salto vertical e salto horizontal também foram encontradas associações positivas com o tempo de prática de futebol, uma vez que a maioria das crianças que estavam no estágio elementar/maduro pertencia ao grupo que praticava o esporte há mais de 6 meses. Este resultado pode ser conseqüência das atividades que incluem corrida nas aulas da escola de futebol, já que o jogo envolve esta habilidade em quase todos os momentos.

    Resultado semelhante foi encontrado por Cimaschi Neto et al. (2009), em um estudo com crianças entre 8 e 10 anos praticantes e não praticantes de futebol, no qual foi observado que o grupo que treinava futebol teve mais de 75% dos indivíduos no estágio maduro nestas habilidades, enquanto o grupo que não treinava futebol teve 65% dos indivíduos no estágio inicial. A prática do futebol pode influenciar de forma significativa o desenvolvimento dessas habilidades, uma vez que muitas das atividades e ações realizadas pelos praticantes envolvem corridas e saltos, como condução de bola, cabeceio, interceptação de uma bola e saídas de gol do goleiro (SANTANA; FRANÇA; REIS, 2007).

    Outro resultado interessante foi em relação à habilidade arremesso, onde com a mão dominante não foi encontrada associação com o tempo de prática, mostrando que ambos os grupos apresentam desenvolvimento semelhante. Por outro lado, com a mão não dominante foi encontrada associação com o tempo de prática, mostrando o melhor desenvolvimento do grupo que praticava futebol há mais de 6 meses. Esse resultado pode estar relacionado ao fato de nas atividades na escola de futebol, as crianças realizarem as atividades com ambos os membros, enquanto que nas brincadeiras, com os amigos ou em casa, as crianças podem priorizar a utilização do membro dominante (FREIRE, 2003).

    A associação entre os estágios de desenvolvimento motor e o tempo de prática de futebol na habilidade chute com o pé dominante e não dominante demonstra que as crianças praticantes de futebol há mais de 6 meses possuíam melhor desenvolvimento nestas habilidades. Tal resultado já era esperado, uma vez que esta habilidade é específica do futebol, e foi confirmado pelo estudo de Cimaschi Neto et al. (2009), que ao comparar crianças praticantes e não praticantes de futebol, verificaram que as crianças que praticavam futebol possuíam melhor desenvolvimento da habilidade motora chute. Alves (2007) comparou crianças de ambiente escolar com crianças praticantes de futebol, sendo todas com idades entre 7 e 9 anos, e encontrou que as crianças praticantes de futebol estavam mais avançadas em relação ao estágio de desenvolvimento da habilidade motora chute.

    Percebe-se que as habilidades fundamentais manipulativas combinam, com freqüência, tanto movimentos locomotores quanto estabilizadores. Assim, indivíduos com bom domínio desses movimentos terão uma base considerável no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de manipulação (HART, 2005), que por sua vez, são essenciais para o bom desempenho das habilidades esportivas e/ou especializadas, como as necessárias para prática do futebol (WILLIAMS; HODGES, 2005). Com isso, crianças e adolescentes que praticam atividades esportivas estão propensas a apresentarem repertórios motores mais ricos e variados, além de melhores rendimentos e desempenhos em relação à coordenação e habilidade motora (COLLET et al., 2008).

Conclusão

    As crianças que praticavam futebol há mais de 6 meses apresentaram melhor desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais em quase todas as habilidades (equilíbrio, corrida, salto horizontal, salto vertical, chute com o pé dominante e não dominante e arremesso com a mão não dominante). Diante disso, percebeu-se que o ambiente de iniciação esportiva ao futebol pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento motor de crianças praticantes de futebol.

    É importante ressaltar que o desenvolvimento motor da criança também sofre influência da maturação, da condição socioeconômica, além das experiências realizadas fora do ambiente esportivo, como em brincadeiras com os amigos, na rua ou em casa. Entretanto, estes fatores não foram investigados nesse estudo por uma questão de limitação do tema de pesquisa.

    São poucos os estudos no cenário científico brasileiro que relacionam a prática esportiva e o desenvolvimento motor infantil. Assim, torna-se necessário que sejam desenvolvidas mais pesquisas sobre este tema para que se estabeleçam parâmetros sobre a contribuição da iniciação esportiva para o desenvolvimento motor infantil.

    Espera-se que este estudo contribua para os profissionais de Educação Física que trabalham com iniciação esportiva ao futebol e também com outras modalidades esportivas, mostrando que a pratica esportiva é importante para o desenvolvimento motor, desde que seja respeitado o nível de desenvolvimento e a faixa etária de cada criança.

Referências

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