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Relação entre desempenho de habilidades 

e posicionamentos específicos do voleibol

Relación entre el rendimiento en las habilidades y las posiciones específicas del voleibol

 

*Pontifícia Universidade Católica do Paraná

**Universidade Federal do Paraná

***Universidade Estadual de Santa Catarina

(Brasil)

Luiz Cláudio Zulai* | Denis de Lima Greboggy**

Luciano Portes de Souza*** | Fernando Richardi da Fonseca*

Cláudio Marcelo Tkac* | Carlos Alberto Afonso*

zulaief@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Vários fatores estão associados ao desempenho no esporte, dentre eles, a precisão na execução das habilidades específicas de cada atividade, o que pode influenciar diretamente na aprendizagem do esporte. Objetivo: Este estudo visa relacionar o desempenho de habilidades do voleibol aos posicionamentos específicos dos praticantes. Metodologia: Foram avaliados 46 indivíduos, de ambos os sexos, praticantes de voleibol em uma escola estadual de Curitiba, em ambos os períodos. Para avaliação dos praticantes, utilizaram-se três testes da bateria de teste de habilidades do voleibol propostas por Tritschler (2003). Foram utilizadas análises de quartis e categorização para obtenção dos resultados. Os dados foram avaliados pelos pesquisadores através do software SPSS_11.0. Resultados: Verificamos um equilíbrio da amostragem para a precisão das três habilidades, sendo levantadores melhores em passe e levantamento e líberos em relação ao saque. Conclusões: Podemos concluir que o nível de exigência e as características de cada função foram determinantes para o desempenho das habilidades.

          Unitermos: Voleibol. Habilidades específicas. Posicionamento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

O desporto voleibol

    O voleibol é um desporto coletivo caracterizado pela dinâmica de habilidades específicas, fato este, que reflete em uma interação de alta complexidade entre seus praticantes. O reflexo desta dinâmica de alta complexidade pode ser evidenciado nos números e formas de recursos técnicos utilizados pelos praticantes durante a sua prática. Estes recursos se tornam de fundamental importância devido à variabilidade de ações realizadas durante as partidas. Contudo, acredita-se que determinados praticantes, em posicionamentos específicos, venham a apresentar um maior desenvolvimento de determinadas habilidades, o que pode contribuir para um elevado grau de precisão de determinada técnica e, assim, propiciar maior durabilidade da dinâmica esportiva. Com isto, surgem questões relevantes, considerando aspectos técnicos em função ao posicionamento dos praticantes. Esta hipótese de estudo vem sendo pouco explorada na literatura que, em grande parte, investiga fenômenos antropométricos e de caráter físico; portanto, este estudo visa contribuir para comunidade científica, educadores físicos, professores/treinadores e afins de modo a fornecer subsídios simples relacionados a habilidades específicas do voleibol, para futuros estudos relacionais.

As características

    Para Carvalho (1982) o voleibol é um desporto que possui três posições importantes e que todos seus atletas devem ter domínio, sendo que existe a posição que se destaca mais para cada jogador. Essas posições são: o levantador, o atacante e o defensor.

    O primeiro, segundo Carvalho (1982), organiza todas as ações ofensivas. A ele compete, em larga escala, o sucesso de um ataque. Sua visão de jogo, técnica, habilidade, agilidade, raciocínio rápido e inteligência, lhe atribuem uma autonomia indiscutível dentro da quadra. O levantador é, portanto, uma peça de rara importância numa equipe. Ferreira et al (2007) ao analisar o perfil antropométrico de 32 praticantes em função ao posicionamento (08 levantadores, 08 meias, 08 saídas e 08 pontas) verificou que os levantadores são jogadores que possuem o maior peso e composição corporal entre os companheiros de uma equipe.

    Com relação aos atacantes (pontas e saídas) Ferreira et al (2007) cita que são eles os jogadores que possuem o maior nível de flexibilidade, agilidade e impulsão vertical dentro de uma equipe. Carvalho (1982) relata que o atacante deve saber executar todos os tipos de cortadas, de acordo com as situações que lhe apresentem durante o jogo. Com isso, ele deve ser capaz de resolver o problema de trajetória da bola, como furar o bloqueio adversário, enganar a defesa, entre outros.

    Carvalho (1982) cita que o defensor possui muitas qualidades importantes, como: velocidade de reação, observação (do cortador, da situação do jogo e das condições do seu time), técnica individual (principalmente da manchete) e coragem. Ferreira et al (2007) complementa afirmando que os meias (defensores) são os jogadores que possuem a maior estatura dentre os praticantes de uma mesma equipe.

Precisão e as habilidades específicas

    Para a eficiência na execução das habilidades básicas do vôlei, tanto o aprendiz quanto o atleta devem possuir uma boa precisão. Uma característica comum às habilidades manuais de direcionamento consiste no desempenho rápido de uma habilidade. Magill (2000) afirma que quando a velocidade e a precisão estiverem relacionadas a um desempenho bem sucedido de uma habilidade, estaremos observando um dos princípios fundamentais do desempenho motor: o compromisso entre a velocidade e a precisão.

    Schmidt e Wrisberg (2001) citam três subdivisões da precisão, que são: precisão espacial, precisão temporal e precisão de organização temporal. A primeira exige movimentos de pontaria, nos quais a posição espacial dos pontos finais do movimento é importante para a performance do atleta. Já a espacial exige movimentos rápidos, nos quais a precisão de tempo é importante pata o desempenho da tarefa. A última, por sua vez, exige movimentos rápidos, nos quais a precisão to tempo de movimento é importante para a performance da tarefa.

Metodologia

População

    Praticantes de voleibol em uma escola estadual de Curitiba (n=88).

Amostra

    Após submissão e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa da PUCPR, parecer número 2105, e realização da entrega e recolha dos termos de consentimento livre e esclarecido, foram avaliados 46 indivíduos, de ambos os sexos, praticantes de voleibol em uma escola estadual de Curitiba, em ambos os períodos, com alguma experiência de prática (< 3 meses), e que freqüentam as aulas regularmente (quatro vezes por semana), distribuídas em função ao sexo (43% feminino e 57% masculino) e ao posicionamento específico. Foram utilizadas 16 bolas, marca Penalty®, categoria adulta, com revezamento das bolas após a execução, de modo a diminuir o efeito depressivo do material.

Gráfico 1. Distribuição da amostra em função ao posicionamento

Levantador

Líbero

Meia

Ponta

Saída

11%

11%

35%

28%

15%

Instrumentos para a coleta de dados

    Para verificar o nível de precisão das habilidades foi utilizada a Bateria de Teste de Habilidades em voleibol da Universidade do Estado da Carolina do Norte (TRITSCHLER, 2003), que tem o objetivo de avaliar as habilidades no saque de voleibol, passe com antebraço e levantamento em situações semelhantes às de jogo. Está bateria é dividida em três testes:

Teste 1: Saque

    O objetivo deste teste é avaliar a consistência e a precisão do saque “por cima”. Este teste requer uma quadra regulamentar de voleibol, com a rede a 2,43 m e a antena montada sobre a rede. A quadra será marcada como descrito na figura 1. Os equipamentos requeridos são bolas de voleibol, planilha para anotação dos resultados e caneta.

Figura 1. Marcações para o teste de saque.

Fonte: Tritschler (2003)

Teste 2: Passe de antebraço (manchete)

    O objetivo deste teste é avaliar a precisão, a altura e a consistência no passe de antebraço. A quadra será marcada como descrito na figura 2. Além das marcações, é estendido um barbante a 2,44 m de altura por cima da quadra, alinhando com a linha de ataque. Os equipamentos requeridos são bolas de voleibol, 9,15 m de barbante, dois postes com 2,44 m de altura, planilha para os resultados e lápis.

Figura 2. Marcações para o teste de passe de antebraço (manchete).

Fonte: Tritschler (2003)

Teste 3. Levantamento

    O objetivo deste teste é avaliar a consistência, a altura e a precisão dos levantamentos. A quadra será marcada como descrito na figura 3. Além das marcações na quadra, é estendido um barbante a 3 m de altura por cima da quadra e perpendicular a rede. Os equipamentos requeridos são bolas de voleibol, 3,5 m de barbante, dois postes verticais de 3 m, planilha para os resultados e lápis.

Figura 3. Marcações para o teste de levantamento.

Fonte: Tritschler (2003)

Procedimento para coleta de dados

    Inicialmente, todos os praticantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e solicitados a executarem suas habilidades com a máxima proximidade de desempenho da competição esportiva (ou partida realizada). Em seguida, preencheram individualmente uma ficha de dados, contendo seus nomes, idades, datas de nascimento, posicionamento e turno do qual praticava a atividade. Após breve aquecimento (aproximadamente 10 minutos de exercícios com bola envolvendo toques, cortadas leves e brincadeiras) eram chamadas por ordem de entrega das fichas de dados, instruídas sobre o teste e realizavam os testes de saque, passe de antebraço e levantamento, respectivamente. Após a conclusão dos três testes, recebiam a dispensa do local.

Tratamento estatístico

    Para o tratamento das variáveis foram utilizadas análises de quartis e categorização para obtenção dos resultados. Os dados foram avaliados pelos pesquisadores através do software SPSS_11.0.

Resultados

Tabela 1. Percentual de indivíduos classificados em função a precisão do passe, levantamento e saque, para amostragem geral

Classificação/Critério

Passe

Levantamento

Saque

Ótimo

28

29

31

Bom

26

28

26

Regular

24

26

26

Insuficiente

22

17

17

 

Tabela 2. Percentual de indivíduos classificados em função a precisão no passe, segundo seu posicionamento, para amostragem geral

Classificação/Posição

Levantador

Líbero

Meia

Ponta

Saída

Ótimo

60

00

13

33

42

Bom

20

40

27

17

29

Regular

20

40

27

33

00

Insuficiente

00

20

33

17

29

 

Tabela 3. Percentual de indivíduos classificados em função a precisão no levantamento, segundo seu posicionamento, para amostragem em geral

Classificação/Posição

Levantador

Líbero

Meia

Ponta

Saída

Ótimo

40

20

33

31

14

Bom

40

00

27

46

14

Regular

20

40

20

23

43

Insuficiente

00

40

20

00

29

 

Tabela 4. Percentual de indivíduos classificados em função a precisão do saque, segundo seu posicionamento, para a amostragem geral

Classificação/Posição

Levantador

Líbero

Meia

Ponta

Saída

Ótimo

40

60

27

15

57

Bom

20

20

20

46

00

Regular

20

00

20

31

43

Insuficiente

20

20

33

08

00

Discussões

    Em relação à primeira tabela (Tabela 1) podemos verificar a precisão da amostragem em relação à precisão de habilidades específicas. Nota-se que há um equilíbrio em distribuição percentual em relação a todas as habilidades entre os critérios de classificação. Verifica-se também que, para todas as habilidades, a classificação ótimo obteve os maiores escores (28, 29 e 31%, respectivamente), e a classificação insuficiente obteve os menores escores (22, 17 e 17%, respectivamente) o que demonstra o bom aproveitamento da amostra em todas as habilidades avaliadas. Observa-se também que teste de saque obteve a maior aproveitamento (31%) em relação aos critérios de classificação, demonstrando ser a habilidade de melhor execução para esta amostragem. Em contraste, o teste de passe apresentou a maior porcentagem (22%) de indivíduos classificados com insuficientes, o que demonstra o inferior aproveitamento, quando comparado aos demais testes.

    Em relação à Tabela 2, podemos verificar a precisão na habilidade do passe em função ao posicionamento do praticante. Nota-se que para esta habilidade, os levantadores obtiveram os melhores escores, sendo 60% dos praticantes classificados como ótimos, 20% bons e 20% regulares, não havendo indivíduos classificados como insuficiente, o que demonstra o bom aproveitamento da amostra em relação à habilidade do passe. Este fato pode ser explicado, talvez, pela exigência de passes realizados pelos levantadores, quando comparados aos demais posicionamentos. Outro fato que nos chama a atenção é o baixo aproveitamento dos líberos em relação ao desempenho desta habilidade (00% ótimos, 40% bons, 40% regulares e 20% insuficientes). Este fato pode ser explicado, em partes, pela função defensiva desempenhada pelo líbero, onde exige-se, claro, a precisão do passe, mas em tese, visto as condições em que estas bolas são recebidas pelos líberos, torna-se primordial mantê-la em jogo, indiferente a sua condição de precisão.

    Em relação à Tabela 3, verificamos a precisão do levantamento em função ao posicionamento dos praticantes. Novamente podemos observar escores percentuais mais elevados para os praticantes que atuam como levantadores (40, 40, 20 e 00%, classificados em ótimos, bons, regulares e insuficientes, respectivamente). Este fato nos leva ao pensamento comum de que a exigência do trabalho de levantamento em partidas e em treinamentos refina a precisão desta habilidade por parte dos levantadores. Novamente, veremos o baixo desempenho de líberos em função a habilidade que envolva conexões dinâmicas precisas (passe e levantamento) devido a suas características defensivas (20, 00, 40 e 40% classificados como ótimos, bons, regulares e insuficientes, respectivamente). Outro item que nos chama atenção é o baixo aproveitamento dos praticantes de saída (14, 14, 43 e 29%, classificados como ótimos, bons, regulares e insuficientes, respectivamente). Podemos explicar o fato, talvez, pela função desempenhada por esta função (atacar) e pela baixa exigência deste fundamento durante partidas e treinamentos.

    Quanto a Tabela 4, verificamos a precisão do saque em função do posicionamento dos praticantes. Embora o saque seja uma habilidade comum a todos os jogadores da equipe (uma vez que em campo, todos realizam ciclicamente esta habilidade) houve uma discrepância observável comparando líberos e saídas. Os praticantes líberos obtiveram destaque nesta habilidade em comparação aos demais posicionamentos (60, 20, 00 e 20% classificados como ótimos, bons, regulares e insuficientes, respectivamente). Estes valores superiores podem estar relacionados, talvez, ao desenvolvimento de uma habilidade compensatória por parte dos líberos. Uma vez defensivos, com exigências menores em relação às atividades de ataque, cabe aos líberos o desenvolvimento de outras funções relacionadas a partidas, onde, dentre elas, podemos destacar o saque, e talvez, em função ao tempo de permanência em uma partida, o que o faz sacar mais vezes, em termos. Por outra via, jogadores de saída (característicos de ataque) obtiveram os piores escores em relação às demais posições. Este fato pode ser explicado, talvez, pelo fato de praticantes que atuam como saídas desempenharem funções de ataque (principal habilidade, seria no caso, a cortada) e serem exigidos em função a suas características. Outro fato que pode ser levado em consideração é a característica do saque, ou seja, por desempenharem funções ofensivas, que envolvem o deslocamento da bola em direção ao chão e de forma brusca, ao realizar o saque, estes praticantes tendem a “forçar o saque” o que aumenta a probabilidade de erros, devido a maior exigência em termos temporais, espaciais e de organização temporal, das quais são importantes para o desempenho da habilidade (SCHMIDT e WRISBERG, 2001).

Conclusões

    Vistos os fatos apresentados anteriormente, podemos afirmar que para esta amostragem, as habilidades de precisão de passe, levantamento e saque, obtiveram um considerável equilíbrio quando a sua execução. Para os testes de precisão no passe e levantamento, observou-se que praticantes levantadores obtiveram os maiores escores, enquanto os líberos e saídas obtiveram os menores escores em precisão do passe e levantamento, respectivamente, devido, talvez, a característica de suas posições durante a partida e o nível de exigência de cada habilidade em relação à habilidade. Quanto à habilidade do saque, verificamos que os líberos obtiveram os maiores escores quando comparados a demais posições e os praticantes saídas obtiveram os menores escores. Este fato pode ser explicado, talvez, pelas características das posições (defensiva e ofensiva) desenvolvendo assim, habilidades mais especificas, devido à exigência do desporto. Podemos, assim, concluir que o nível de exigência e as características de cada função foram determinantes para o desempenho das habilidades para os participantes desta pesquisa, não sendo uma tendência generalizada, visto o número amostral.

Referencias bibliográficas

  • BOJIKIAN, João Crisóstomo Marcondes. Ensinando voleibol. 3ª ed. São Paulo, Ed. Phorte, 2005.

  • CARVALHO, Oto Moravia de. Caderno técnico didático do voleibol moderno. Ministério da educação e cultura, Secretaria de educação física e desportos; Brasília, 1982.

  • FERREIRA, Abílio Dias; PAULA, Alexandre Henrique de; COTTA, Daniella Oliveira. Identificação e comparação do perfil de aptidão física em atletas de voleibol por posição de jogo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007. http://www.efdeportes.com/efd106/perfil-de-aptidao-fisica-em-atletas-de-voleibol.htm

  • MAGILL, Richard A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: E. Blücher, 2000.

  • MALINA, Robert; BOUCHARD, Claude; Atividade física do atleta jovem: Do crescimento a maturação. 1ed. São Paulo: Roca, 2002.

  • SCHMIDT, Richard A.; Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Rio de Janeiro Ed. Movimento, 2001.

  • TEIXEIRA, Luis Augusto. Especificidade na aquisição de habilidades motoras. In Boletim do Laboratório de Comportamento Motor – USP. Volume 03, nº 02, setembro, 1996.

  • THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002

  • TRITSCHLER, Kathleen A. Medida e avaliação em educação física e esportes de Barrow & MCgee. 1. ed. Barueri: Manole, 2003.

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