efdeportes.com

Eventos científicos na Educação Física: análise e proposições

Eventos científicos en Educación Física: análisis y propuestas

Scientific events in physical education: analysis and sugestions

 

*Mestre em Educação Física, UFSC

**Mestre em Educação Física/UFSC; Professora Unisul, Tubarão, SC

***Doutorando em Educação Física/UFSC

Professor Rede Municipal de Florianópolis, SC

****Licenciada em Educação Física, UFSC

Cristiano Mezzaroba*

Clarissa Rios Simoni**

Jorge Both***

Karla Cristina Mathoso da Silva****

cristiano_mezzaroba@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O texto sintetiza uma pesquisa descritivo-exploratória que procurou analisar a produção e a veiculação do conhecimento no âmbito da Educação Física brasileira, tendo como elemento principal o olhar aos eventos científicos desta mesma área do conhecimento. Constatamos que no período de 2004 a 2006 houve um decréscimo considerável no número de eventos realizados no país, o que demonstra uma reconfiguração na produção/veiculação do conhecimento, em que apenas os eventos considerados de maior relevância conseguem se afirmar e manter suas edições ao longo dos anos. Além disso, fizemos um levantamento junto à comunidade do Programa de Pós-Graduação do Centro de Desportos/UFSC, o qual procurou identificar e analisar os principais eventos na opinião dos sujeitos participantes, e com isso, nossa discussão se detém em vários aspectos em relação à relevância destes acontecimentos e suas particularidades.

          Unitermos: Eventos científicos. Produção e veiculação do conhecimento. Educação Física.

 

Abstract

          This paper summarizes a descriptive and exploratory research which seeks to analyze the production and knowledge transmission in the Brazilian Physical Education, with the main element is to look at scientific events in the same field of knowledge. We note that in the period 2004 to 2006 there was a significant decrease in the number of events held in the country, which shows a reconfiguration of production/knowledge transmission, where only events are of greatest relevance are able to assert and maintain their issues over the years. In addition, we conducted a survey in the community of the Graduate Center Sports of the Santa Catarina Federal University, which sought to identify and analyze major events in the opinion of the participating subjects, and thus, our discussion takes a look at various aspects in relation the relevance of these events and their characteristics.

          Keywords: Scientific events. Production and transmission of knowledge. Physical Education.

 

Esta pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2006, para a disciplina de Produção e Veiculação do conhecimento na Educação Física, ministrada pela 

Profª. Drª. Maria de Fátima da Silva Duarte PPGEF/CDS/UFSC. Aqui deixamos nossos agradecimentos à ela em função das correções e discussões referentes ao trabalho

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Marcada como um campo de aplicação de outras áreas do conhecimento, a Educação Física (EF), nas últimas décadas, tem mostrado capacidade para construir seus próprios caminhos.

    Sua história, pensando no contexto brasileiro, revela a participação de médicos – período higienista, militares – período militarista, e o próprio governo que, durante anos, utilizou a EF como um instrumento ideológico (com a inserção maciça do esporte no ambiente escolar, com a política do EPT – Esporte para Todos, entre outros recursos). (GHIRALDELLI JR, 1988, BETTI, 1991)

    Atualmente a EF tem contribuído para muitos avanços na área da Ciência dos Esportes, Ciências da Saúde e nas Ciências Sociais e Humanas. A publicação de livros e periódicos, o grande número de eventos1, a expansão dos programas de graduação e pós-graduação, reafirmam o “upgrade” de conhecimentos produzidos na EF.

    Porém cabe ressaltar que a EF ainda está em seus primeiros passos quando pensamos neste campo do conhecimento como algo científico, e sua produção científica está muito aquém comparada à outras áreas já consolidadas (como por exemplo, a Pedagogia, a Medicina, a Física, a Química entre outras). Outro “porém” é a necessidade de avaliação daquilo que é produzido/publicado pela área, bem como a importante análise e crítica sobre os ditos “eventos científicos” e o impacto destes conhecimentos no que tange a Educação Física de forma geral (mais especificamente àquela voltada ao setor acadêmico, mas que repercute na EF escolar, aos profissionais que atuam em academias, em clubes, enfim, nos mais variados segmentos de atuação profissional).

    Em uma breve revisão dos eventos científicos da EF2 (Tabela 1), é impressionante observar a quantidade e variedade destas formas de acontecimento em território brasileiro. Entre eventos somente científicos ou técnico-científicos foram encontrados no ano de 2004 na página do Centro Esportivo Virtual e do Boletim de Educação Física respectivamente: 72 e 107 eventos; no ano de 2005: 46 e 90; e no ano de 20063: 38 e 48.

    Visualizamos uma tendência de diminuição no número de eventos na área se compararmos os dados referentes aos anos de 2004 a 2006. Isto pode indicar que a área da EF não comporta toda a quantidade de eventos oferecidos, ocorrendo uma afirmação apenas dos grandes eventos científicos, considerados mais relevantes por toda comunidade científica da área, o que permite que os melhores eventos perpetuem sua existência ao longo dos anos e que os menos qualificados sejam desprestigiados a ponto de deixarem de existir.

    Refletindo sobre o crescimento da produção e veiculação dos conhecimentos apresentados pela EF, bem como considerando a existência de grande quantidade e diversidade de eventos científicos, surgem as seguintes indagações: quais os eventos científicos mais importantes na opinião da comunidade do PPGEF/CDS/UFSC4 e a relevância de tais eventos para a EF brasileira?

    Nesta perspectiva fica clara a necessidade de reflexão não só sobre a quantidade, mas também quanto à qualidade dos eventos da EF. Pode-se dizer que as pesquisas sobre esta temática são inexistentes. Há, até, pesquisas que procuram analisar a produção do conhecimento, pensando nas monografias, nas dissertações e teses elaboradas. Entretanto, pesquisas cujo enfoque/temática estejam voltadas aos eventos científicos, conforme nossa pesquisa, podemos dizer que são inexistentes. Assim, esta experiência investigativa foi um “primeiro passo” para questionarmos a relevância da veiculação do conhecimento na área no interior dos eventos, o surgimento de alguns eventos, sua longevidade, a distribuição geográfica e outros aspectos que foram surgindo no decorrer da pesquisa e que são descritos e aprofundados na sequência.

    O objetivo geral deste estudo foi identificar e analisar quais os principais congressos que a comunidade do PPGEF-CDS/UFSC considera como os mais relevantes para a área.

    Além disso, os objetivos específicos foram:

  • Identificar os principais eventos científicos na opinião de professores e pós-graduandos do PPGEF/CDS/UFSC;

  • Categorizar e analisar os eventos mais citados por meio de pesquisa em sites, cartazes, folders, periódicos e anais,

  • Descrever e discutir a realidade destes eventos científicos nos últimos três anos.

    Os eventos científicos têm por função reunir a comunidade acadêmica e científica para trocas de idéias, diálogos, confrontos e exposição de pesquisas e descobertas que estão sendo realizadas, possibilitando que a(s) área(s) envolvida(s) conheça(m) e discuta(m) os conhecimentos que estão sendo construídos e assim, julgando-os relevantes, tenham repercussão na sociedade, seja direta ou indiretamente.

    Os eventos científicos da EF, devido a sua diversidade de cunho epistemológico, são classificados levando em consideração seu significado, estrutura, objetivo central do evento e a sua magnitude, ou seja, se ele se restringe a uma função mais específica e limitada ou se é mais abrangente e plural.

    No quadro abaixo apresentamos os vários tipos de eventos científicos, suas nomenclaturas e significados – as quais podem ser aplicadas a qualquer área do conhecimento, inclusive a EF.

Quadro 1. Tipos de eventos científicos e seus objetivos

Evento

Objetivo

Conferência

Propõe conhecer fatos, sugestões e busca de solução para problemas comuns.

Congresso

Tem como objetivo a discussão de temas de interesses diversos de uma determinada área de atuação, visando debater assuntos que interessam a um determinado ramo profissional.

Convenção

Ocorre quando o objetivo for ajuste, acordo ou comemoração.

Encontro

Profissionais de determinadas áreas técnicas, para exposição, informação e possíveis resoluções de conduta a serem tomadas para determinado tipo de problema da classe.

Fórum

Visa obter maiores informações sobre uma determinada temática.

Mesa Redonda

É realizada para discutir opiniões próprias ou alheias sobre assuntos controvertidos.

Palestra

É realizada com o intuito de fornecer informações inéditas sobre temas polêmicos.

Seminário

Tem o objetivo de fornecer e somar informações de assuntos já pesquisados e divide-se em três fases: exposição, discussão e conclusão.

Simpósio

Objetiva discutir assuntos específicos de uma determinada área.

Workshop

Tem por objetivo fazer uma análise em certas áreas específicas, mais comumente à psicologia e pode ser realizado isoladamente ou dentro de um outro evento.

Adaptado do Berin Eventos e Projetos (2004) e citado por Possamai et al (2004)

Procedimentos metodológicos

    Primeiramente, definimos os sujeitos-referência, ou seja, alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado) e professores do PPGEF/CDS/UFSC das três linhas de pesquisa do Programa (Teoria e Prática Pedagógica; Atividade Física relacionada à Saúde e Cineantropometria e Desempenho Humano).

    Com esta definição, este estudo descritivo-exploratório, de natureza aplicada, teve como base uma população de 46 (quarenta e seis) mestrandos, 7 (sete) doutorandos e 18 (dezoito) professores – todos pertencentes à comunidade do Programa de Pós-graduação em Educação Física do CDS/UFSC – destes, constituíram a amostra 19 mestrandos – 41,30%, 3 doutorandos – 42,85% e 15 professores – 33,33%.

    Em seguida, foram realizadas entrevistas com os professores e enviado, por correio eletrônico, um questionário aos mestrandos e doutorandos. A pergunta era única, tanto no questionário quanto na entrevista: solicitávamos a indicação dos 5 ou 6 eventos mais importantes da área na visão do sujeito pesquisado.

    Após esse levantamento, classificamos os cinco eventos mais indicados de cada linha de pesquisa do PPGEF/CDS/UFSC e também uma classificação geral dos eventos mais indicados na sua totalidade.

    Por último, analisamos cada um deles por meio de informações disponíveis na internet, cartazes, folders, periódicos e anais desses eventos, procurando “categorizar” de acordo com os seguintes critérios: local de realização (se é realizado no Brasil ou no exterior), especificidade (se é evento específico da EF), abrangência (se é local, regional, nacional ou internacional), áreas envolvidas (se tem relação com múltiplas áreas do conhecimento), taxa de inscrição/valores (intervalo entre mínimo e máximo), tipo de evento (se é técnico, científico ou técnico-científico), longevidade (total de edições realizadas), periodicidade (de quanto em quanto tempo é realizado), se há algum tipo de publicação (anais impressos, periódicos, digitais e on-line), patrocinadores (fomento ao evento), comissão científica (se existe e se sua composição é divulgada) e índice de recusa (se há divulgação do percentual de trabalhos recusados).

Apresentação e discussão dos dados

    Considerando os dados coletados, foi feita uma organização dos mesmos por meio de tabelas, procurando elucidar as informações quantitativas referentes aos eventos científicos na EF brasileira, no intuito de discutir tais dados e na tentativa de refletir a respeito da temática e o que isso implica para a área em geral.

    A Tabela 1 apresenta valores referentes a um levantamento de dados preliminar efetuados para constatar a quantidade de eventos científicos na EF. Para isso, utilizou-se os sites do CEV – Centro Esportivo Virtual e BoletimEF – Boletim Brasileiro de Educação Física.

Tabela 1. Eventos divulgados no Centro Esportivo Virtual – CEV e Boletim Brasileiro de Educação Física - BoletimEF

    Por meio desta tabela, constata-se que o número de eventos divulgados relacionados à EF, tanto no site do CEV como no site do BoletimEF, a partir de 2004 até o 2006, apontam uma tendência de decréscimo. No site do CEV, em 2004, foram divulgados 72 eventos de áreas diversas relacionadas à EF; em 2005, esse número baixou para 46 e em 2006, o número de eventos divulgados, até aquele momento, era de 38. Também no site do BoletimEF verificamos esse declínio na quantidade de eventos realizados. Em 2004, foram 107, passando para 90 em 2005 e para 48 eventos divulgados em 2006.

    Além dessas constatações, também verificamos que há uma concentração de eventos nas áreas relacionadas às temáticas da EF em geral (eventos que possuem mais de uma temática), na área da Atividade Física e Saúde e também aos eventos relacionados ao Esporte (esporte e treinamento).

    Na observação desta tendência de diminuição do número de eventos na área, quando comparados os anos de 2004 a 2006, tanto no CEV quanto no BoletimEF, temos indicações de que, possivelmente, a área de EF não comporta tal quantidade de eventos realizados, e por isso essa diminuição na oferta.

    Passamos em seguida à apresentação e análise dos dados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Eventos mais citados pela comunidade do PPGEF/CDS/UFSC

Eventos

Professores

Alunos

Total

CELAFISCS

10

16

26

CONBRACE

08

14

22

CONG. BRAS.AF & SAÚDE

07

10

17

LÍNGUA PORTUGUESA

07

07

14

FIEP – FOZ

03

09

12

RIO CLARO

05

00

05

    A Tabela 2 demonstra os seis eventos mais citados pela comunidade do PPGEF/CDS/UFSC. Destacam-se o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte (CELAFISCS) e o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE).

    O primeiro prioriza as linhas de pesquisa referentes à atividade física e à cineantropometria e desempenho humano, enquanto o segundo acaba abarcando, além dessas temáticas, as questões pedagógicas e sócio-culturais da EF.

    Em terceiro lugar, aparece o Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde (CONG. BRAS. AF & SAÚDE), seguido pelo Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa (LÍNGUA PORTUGUESA) e pelo Congresso Internacional de Educação Física de Foz do Iguaçu/PR (FIEP-FOZ). Por último, o Simpósio Internacional de Motricidade Humana (RIO CLARO), que, apesar de aparecer em sexto lugar neste quadro geral, não aparece entre os mais citados nos quadros dos eventos específicos das linhas de pesquisa do PPGEF/CDS/UFSC.

    Na próximas três tabelas apresentamos os eventos citados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Atividade Física e Saúde, Cineantropometria e Desempenho Humano e Teoria e Prática Pedagógica, respectivamente, na Tabela 3, Tabela 4 e Tabela 5. Os eventos iniciais, destacados em negrito, foram os que mais receberam indicações.

Tabela 3. Eventos citados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Atividade Física e Saúde

Eventos

Professores

Alunos

Total

CELAFISCS

05

09

14

CONG. BRAS. AF & SAÚDE

04

07

11

LÍNGUA PORTUGUESA

05

05

10

CONBRACE

02

07

09

FIEP – FOZ

02

04

06

CDC-ATLANTA

01

04

05

NORDESTINO

01

02

03

COLÉGIO AMERICANO

03

00

03

BIOMECÂNICA

00

02

02

RIO CLARO

02

00

02

C.BRAS. MEDICINA ESPORTE

00

02

02

ENAREL

00

01

01

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

00

01

01

SULBRAS. CBCE

01

00

01

MERCOMOVIMENTO

00

01

01

PAULISTA

00

01

01

MUNDIAL DE SAÚDE PÚBLICA

00

01

01

PAN-AMERICANO OPAS

00

01

01

C.EUROPEU MEDICINA ESPORTE

01

00

01

FIEP – EUROPEU

01

00

01

SBPC

01

00

01

E.N.E.E.F.

01

00

01

ABRASCO

01

00

01

SAÚDE DOS POVOS

01

00

01

COMPORT. MOTOR

00

01

01

METABOLISMO, NUTRIÇÃO E EX.

00

01

01

    Os representantes da Linha de Pesquisa Atividade Física e Saúde referendaram, na Tabela 3, uma diversidade de eventos científicos importantes – 26 no total. Entre os eventos citados, estão congressos que são realizados no Brasil e no exterior, com abrangência internacional, nacional e regional.

    Considerando os cincos eventos científicos mais citados, constatou-se que todos os congressos têm uma abrangência internacional, com convidados internacionais participando de mesas redondas, palestras e/ou conferências.

    Outro ponto a destacar é o fato que os dois eventos (CELAFISCS e CONG. BRAS. AF & SAÚDE) mais citados nesta linha têm a característica especifica da área estudada, ou seja, a Atividade Física e Saúde. Os outros três congressos citados (LÍNGUA PORTUGUESA, CONBRACE, FIEP-FOZ) têm uma característica de congregar todas as áreas de pesquisa que a Educação Física abarca.

    Outro ponto a destacar é o fato de nenhum evento que ocorre no exterior estar entre os mais citados, considerando o total de citações dos professores e alunos. Mas quando considerando uma análise estratificada dos dados dos professores, observa-se que o Congresso do Colégio Americano está entre os cincos eventos mais importantes na área. Talvez o resultado final não represente a tendência dos professores pelo fato dos alunos não terem conhecimento deste evento, ou também, pela dificuldade econômica de expor o trabalho em um país distante.

Tabela 4. Eventos citados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Cineantropometria e Desempenho Humano

Eventos

Professores

Alunos

Total

CELAFISCS

03

04

07

CONG. BRAS. AF & SAÚDE

02

02

04

FIEP – FOZ

01

03

04

BIOMECÂNICA

02

01

03

CONBRACE

02

01

03

LÍNGUA PORTUGUESA

02

01

03

C. B. ERGONOMIA

02

00

02

RIO CLARO

02

00

02

CENESP

01

00

01

SULBRAS. CBCE

00

01

01

MERCOMOVIMENTO

00

01

01

NORDESTINO

00

01

01

PAULISTA

00

01

01

    A Tabela 4 apresenta os 13 eventos citados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Cineantropometria e Desempenho Humano, e dentre eles, os 6 eventos considerados como os mais importantes para a área.

    Em primeiro lugar, com 7 indicações, destaca-se o CELAFISCS; em segundo lugar, empatados com 4 indicações cada, ficaram o CONG. BRAS. AF & SAÚDE e o FIEP-FOZ. Já em terceiro lugar, houve empate com três eventos: Congresso Brasileiro de Biomecânica (BIOMECÂNICA), CONBRACE e LÍNGUA PORTUGUESA – cada um com 3 indicações cada.

    Apesar do BIOMECÂNICA ser um evento específico da temática, é interessante o fato do evento não estar figurando em primeiro lugar nesta lista, como já dito, em virtude de sua especificidade. Mesmo assim, dentre as três linhas de pesquisa, se compararmos as Tabelas 3, 4 e 5, o Congresso Brasileiro de Biomecânica só figura entre os eventos mais importantes nesta área; na Tabela 3 chega a ser indicado, mas não fica entre os mais importantes; enquanto que na Tabela 5 não é indicado.

Tabela 5. Eventos citados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Teoria e Prática Pedagógica

Eventos

Professores

Alunos

Total

CONBRACE

04

06

10

ENAREL

03

03

06

CELAFISCS

02

03

05

HISTÓRIA EF, ESP. LAZER E DANÇA

03

01

04

PEDAGOGIA DO ESPORTE – MARINGÁ

01

01

02

FIEP – FOZ*

00

02

02

SBPC**

00

02

02

CONG. BRAS. AF & SAÚDE*

01

01

02

LÍNGUA PORTUGUESA

00

01

01

I.S.H.P.E.S

00

01

01

SAÚDE DOS POVOS

00

01

01

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

00

01

01

ANPED

00

01

01

EDUCASUL

00

01

01

ENAF

00

01

01

COLÉG. AMERICANO MED. ESPORTE

00

01

01

FEDERAL FLUMINENSE

01

00

01

REUNIÃO BRAS. ANTROPOLOGIA

01

00

01

RIO CLARO

01

00

01

* FIEP-FOZ e CONG. BRAS. AF & SAÚDE já se encontram nas outras duas linhas (Atividade física e saúde e Cineantropometria e Desempenho Humano)

** SBPC descartamos porque não é um congresso específico da área, apesar da EF estar inserida na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

    A Tabela 5 é composta por 19 eventos científicos, destes, 6 pertencem às áreas com as quais a EF transita, mas não são específicos desta área. Tratam-se de eventos científicos multidisciplinares voltados à Educação em geral, à Antropologia, à Sociologia, à Saúde Pública e à Ciência vinculada à tecnologia.

    Destacamos na Tabela 5 os eventos que receberam mais de uma indicação. O evento com maior número de indicações foi o CONBRACE com 10 indicações, em segundo lugar o Encontro Nacional de Recreação e Lazer (ENAREL) com 6 indicações; em terceiro lugar CELAFISCS com 5 indicações; em quarto lugar o Congresso Nacional de História do Esporte, Lazer, Educação Física e Dança (HISTÓRIA EF, ESP. LAZER E DANÇA) com 4 indicações. Na quinta colocação ocorreu um empate de quatro congressos com duas indicações cada, são eles: Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte da Universidade Estadual de Maringá (PEDAGOGIA DO ESPORTE – MARINGÁ), FIEP-FOZ, CONG. BRAS. AF & SAÚDE e Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

    Ao analisarmos tal empate verificamos que FIEP-FOZ e CONG. BRAS. AF & SAÚDE já haviam sido selecionados para análise, pois pertenciam aos cinco mais indicados das Tabelas 3 e 4, portanto sua análise neste momento seria repetitiva. Outro dado que nos auxiliou na determinação de um dos eventos na quinta colocação foi o fato da SBPC caracterizar-se como uma Reunião Anual, que ocorre em diferentes pontos do país (itinerante), com a participação de cerca de 70 sociedades e associações científicas das diversas áreas do conhecimento, com o intuito de pesquisar sobre avanço científico e tecnológico, em defesa do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil, ou seja, não se trata de um evento específico da EF. Desta forma decidimos que PEDAGOGIA DO ESPORTE – MARINGÁ seria o evento representante do quinto lugar.

    A diversidade temática dos eventos indicados pelos integrantes da Linha de Pesquisa Teoria e Prática Pedagógica reflete a diversidade de áreas que se relacionam com a EF. Para exemplificar temos eventos com dez e treze grupos temáticos de trabalho (GTT’s), outros que abordam as relações entre Educação Física, História e Sociologia ou a Atividade Física e Saúde e suas inter-relações.

    Apenas um dos quatro eventos mais indicados não foi categorizado como EF (dentre aqueles que abrangem mais de uma área temática). Trata-se do ENAREL, que é voltado para os estudos que promovam um debate sobre as relações do lazer com a cidade, suas estruturas, as novas tecnologias e as ações transversais deste tema com as áreas de educação, cultura, saúde, meio ambiente, responsabilidade social e os valores essenciais para uma boa convivência social e a melhoria da qualidade de vida. Outro diferencial deste evento com relação aos outros mais indicados é que apenas o ENAREL tem abrangência nacional, enquanto os outros quatro eventos são internacionais.

    Os dados referentes aos 9 eventos científicos considerados como os mais importantes pela comunidade PPGEF/CDS/UFSC foram compilados e expressos de forma mais detalhada no Quadro 2 que vem a seguir. Logo após, encontra-se a análise sobre o conteúdo do mesmo.

Quadro 2. Classificações dos eventos mais citados pela comunidade do PPGEF/CDS/UFSC

EVENTO

LOCAL DE REALIZAÇÃO

ESPECIFICIDADE

ABRANGÊNCIA

ÁREAS

TAXA DE INSCRIÇÃO

TIPO DE EVENTO

LONGEVIDADE

PERIODICIDADE

FORMATO DE PUBLICAÇÃO

PATROCINADORES

COMISSÃO CIENTÍFICA

CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER, EDUCAÇÃO FÍSICA E DANÇA

Itinerante

História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança

Internacional

Educação Física, História e Sociologia

Entre R$ 50,00 e R$ 150,00

Científico

Está na 10a. edição

Bi-anual

Anais impressos

Ministério do Esporte/Governo Federal, Governo do Paraná, CNPq, Fundação Araucária, Paraná Esporte, UNICENP, SESI-PR

Sim e está especificada

CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA DO ESPORTE DE MARINGÁ

Fixo

Educação Física

Internacional

Educação Física

Entre R$ 50,00 e R$ 300,00

Técnico-científico

Está na 2a. edição

Bi-anual

Anais em CD-ROM e impressos

UEM, Centro Acadêmico de Educação Física, Centro de Ciências da Saúde, FINEP e UEL

Não informa

CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA (FIEP-FOZ)

Fixo

Educação Física

Internacional

10 temáticas

Entre R$ 100,00 (p/trabalho tema livre) e R$ 150,00 (p/autor artigo)

Técnico-científico

Está na 21ª edição

Anual

Periódico

FIEP-Brasil, Casa da Educação Física; Body Systems LA, UDC, CONFEF/CREF, CEV, COBRASE

Sim e está especificada

SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIËNCIAS DO ESPORTE (CELAFISCS)

Fixo

Educação Física

Internacional

Atividade Física e Saúde (suas inter-relações)

Entre R$ 150,00 e R$ 170,00

Técnico-científico

Está na 29ª edição

Anual

Anais impressos

Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão física de São Caetano do Sul

Não informa

CONGRESSO BRASILEIRO DE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE - FPOLIS

Fixo

Educação Física, Atividade Física e Saúde

Internacional

Atividade Física e Saúde (suas inter-relações)

Entre R$ 100,00 e

R$ 140,00

Técnico-científico

Está na 5ª edição

Bi-anual

Anais on-line (site) e periódico

SESI, CAPES, CDS/UFSC, Emcatur, Jasmine alimentos integrais, CREF/CONFEF NUPAF, PPG-EF/CDS UFSC

Sim e está especificada

CONGRESSO BRASILEIRO DE CIËNCIAS DO ESPORTE (CONBRACE)

 

Itinerante

Educação Física

Internacional

13 GTTs

Entre R$ 60,00 e R$ 290,00

Científico

Está na 15a. edição

Bi-anual

Anais em

CD-ROM

CBCE

Sim e está especificada

ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER (ENAREL)

Itinerante

Lazer e Recreação

Nacional

Lazer e Recreação e suas inter-relações

Entre R$ 50,00 e R$ 120,00

Técnico-científico

Está na 18a. edição

Anual

Anais em CD-ROM

PUC-PR, SESI-PR, Paraná Esportes, SME e Lazer de Curitiba e Confraria dos Profissionais do Lazer, GOL, Gov. Federal e outros

Sim e está especificada

CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA

Itinerante

Biomecânica

Internacional

Biomecânica

Não-informado

Científico

Está na 11a. edição

Bi-anual

Anais impressos

Não informa

Não informa

CONGRESSO DE CIÊNCIAS DO DESPORTO E EF DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA

Itinerante

Educação Física

Internacional

19 áreas

Entre R$ 150,00 e R$ 300,00

Científico

Está na 11a. edição

Bi-anual

Não definido (a critério da organização)

Min.Esporte, SESC-SP, Brudden Moviment Ltda.

Sim e está especificada

    A partir da construção do Quadro 2, que compõe o quadro geral dos eventos mais citados em todas as áreas pesquisadas, foi possível a análise dos eventos segundo as características metodologicamente selecionadas.

    No que se refere à localização da realização dos eventos (Figura 1) pudemos observar que dentre os nove eventos, quatro tem caráter fixo, ou seja, são realizados sempre na mesma cidade; e cinco tem caráter itinerante. Dos que tem caráter fixo, três são realizados na região Sul do Brasil e um é realizado na região Sudeste.

    Parece, assim, haver uma certeza de que a maioria dos eventos são realizados nas regiões Sul e Sudeste do país, porém em análise realizada a partir das últimas três versões dos nove eventos citados neste estudo, o percentual de distribuição mostra que existe uma tendência de variação/distribuição das regiões brasileiras onde são realizados estes eventos, havendo a certeza de que a região Norte é a menos favorecida. Tais dados reforçam a necessidade de expansão do conhecimento em todo o território nacional, para que o mesmo não se restrinja às regiões que hegemonicamente detém a maior parte dos cursos de formação profissional e pós-graduação (historicamente as regiões Sul e Sudeste).

    Um dos critérios que é levado em conta na escolha da cidade que sediará o evento acaba sendo, geralmente, sua condição turística, ou seja, cidades litorâneas e com atrativos turísticos (estâncias hidrominerais, cidades históricas e mesmo com infra-estrutura hoteleira para receber tais eventos) – isso se justifica por ser um estímulo à comunidade acadêmica-científica, como um “algo a mais” além do próprio evento.

    Quanto à especificidade dos eventos, preocupamo-nos em analisar se estes são específicos da EF ou se englobavam outras áreas mais específicas. Sendo assim, foi possível identificar que dos nove eventos, cinco abordam temas da EF em geral; enquanto que os outros quatro eventos tratam também: da História da EF, Esporte, Lazer e Dança; Atividade física e Saúde; Lazer e recreação, e Biomecânica. Parece não haver uma produção de eventos direcionada, a necessidade da área em se envolver com outras temáticas mais específicas, mas que não deixam de fazer parte das discussões da própria EF.

    A terceira categoria analisada diz respeito à abrangência dos eventos, se fora local, regional, nacional ou internacional. Para este tópico consideramos eventos internacionais todos aqueles que, mesmo não tendo tal denominação em seus nomes, apresentavam participações internacionais na apresentação de palestras, mesas redondas, cursos, etc. Dessa forma, entre os eventos analisados, oito foram considerados de abrangência internacional e apenas um de abrangência nacional. Já os eventos nacionais foram assim considerados considerando-se a própria nomenclatura do evento, por exemplo, Encontro Nacional de Recreação e Lazer.

    A análise realizada quanto às áreas envolvidas teve o objetivo de identificar se os eventos apresentavam relação com múltiplas áreas do conhecimento, como, por exemplo, a área das Ciências Sociais e Humanas ou Biomédicas. Nesta análise é possível afirmar que existe a participação das seguintes áreas: História, Sociologia, Atividade Física e Saúde, Lazer, Recreação, Biomecânica, além de três eventos apresentarem entre 10 a 20 áreas temáticas.5

    A dificuldade de articulação das múltiplas áreas num único evento mostra que não há diálogo entre as mesmas, o que gera um distanciamento cada vez maior entre as “diferenças” no campo da EF. Ao invés de aproximar-se, distancia-se; ao invés de discutir, nega-se o que o outro tem a dizer e fala-se apenas aos pares, o que pode resultar, a médio prazo, numa produção “estéril” e sem “profundidade teórica”, talvez com pouca relevância social, acadêmica e até mesmo profissional. Trata-se de um perigo cada vez mais iminente chamado, no meio acadêmico, de “endogenia”.

    Constatação similar é apontada por Bankoff et al (2003), referindo-se aos encontros científicos em que os trabalhos apresentados tenham quase sempre a mesma origem, ou seja, “sempre dos mesmos grupos consolidados; isso acaba fazendo com que os mesmos pesquisadores apresentem seus trabalhos entre si, inibindo assim a possibilidade de um debate mais ampliado e de outras formas de tratar criticamente o conteúdo das pesquisas frente às novas perspectivas.” (p. 204).

    O quinto item avaliado referiu-se à taxa de inscrição/valores cobrados para a participação nos eventos. Estes apresentaram uma variação muito grande, entre R$50,00 e R$ 300,00 reais. Estes valores sofrem modificações dependendo da data de inscrição no evento, ou seja, quanto mais próximo do evento o preço tende a aumentar. Se os eventos são técnico-científicos, a variação dos valores ainda é maior e fica atrelada ao número de cursos que o sujeito participará.

    Quando os eventos são associados a algum órgão organizador/patrocinador, como, por exemplo, o CONBRACE (evento do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte), os sócios têm descontos especiais. A taxa de inscrição varia ainda quanto à formação acadêmica – alunos de graduação tendem a pagar menos pela participação nos eventos do que os profissionais formados, alunos de pós-graduação e professores do ensino superior. Esta questão dos valores é de importante apresso, pois se percebe que estes são muito altos para o padrão sócio-econômico que a grande maioria dos alunos dispõe, sem contar com a desvalorização do professor de EF, que, assim como os demais profissionais da educação, além das péssimas condições de trabalho, têm uma remuneração mensal que impossibilita a participação em eventos com tais taxas de inscrição (obviamente, as prioridades passam a ser outras!).

    Além disso, ainda se permitiria uma boa investigação sobre os eventos que no vocabulário popular são chamados de “caça níqueis”, ou seja, aqueles que não oferecem bons padrões de discussão acadêmica-científica e preocupam-se com “quantidades”, seja no número de participantes em cursos técnicos ou aceitação de qualquer tipo de “publicação” sem uma Comissão Científica criteriosa. Vale, neste caso, simplesmente o pagamento das taxas cobradas, pois o que está em jogo não é a qualidade científica, o interesse na produção e veiculação do conhecimento de boa qualidade, mas sim o dinheiro e suas possibilidades de uso para aqueles que se ocupam a promover/realizar o evento.

    Os eventos científicos analisados foram divididos em dois tipos: Científicos e Técnico-científicos. Os primeiros são aqueles que são exclusivamente científicos e os segundos englobam além da parte científica alguns tipos de cursos, feiras esportivas, workshops, etc. Dentre os nove eventos, cinco são técnico-científicos e quatro são estritamente científicos. Parece haver a tendência da necessidade de outras possibilidades, isto é, não só eventos técnicos, nem só eventos científicos, mas ambos. Talvez isso ocorra, também, pelo caráter “prático” que a EF apresenta, ou seja, a necessidade que professores e profissionais têm de pensarem em sua formação continuada agregando conhecimentos práticos, já que as questões teóricas (característica principal dos eventos exclusivamente científicos) não costumam chamar a atenção de parte constituinte da EF.

    Em estudo de Bankoff et al (2003), acerca da produção do conhecimento na área da ciência do esporte no Brasil, os autores perceberam o pequeno número de publicações envolvendo segmentos importantes e significativos, como escolas municipais e estaduais, o que pode indicar que o conhecimento que está sendo construído no âmbito das universidades (lócus da ciência) talvez não esteja atingindo uma grande parcela de profissionais que atuam naqueles locais. Além disso, lançam uma questão para reflexão: “Será que estamos realizando congressos para nós mesmos?” (Ibid., p. 201).

    Uma consideração, talvez precipitada, a respeito dos tipos de eventos, revela que no âmbito da EF, muitos deles são uma espécie de “feira”, em que há um grande encontro dos profissionais da área não com o propósito de troca de conhecimentos/idéias – a essência de um evento científico – mas sim, momento de confraternização, reencontro, compras e turismo.

    A longevidade e periodicidade dos eventos também foram analisadas. Por meio de nossas investigações, verificamos que os eventos apresentam um mínimo de dez anos de existência. Aqui foi considerado que aqueles que acontecem de forma bi-anual são somados ao ano que o evento não acontece, por exemplo, o CONG. BRAS. AF & SAÚDE está na sua 5ª edição, acontece na forma bi-anual, e, portanto tem 10 anos de história. Assim, podemos considerar que dentre os nove eventos listados, dois tem até 10 anos de existência; dois tem de 11 a 20 anos e cinco tem de 20 a 30 anos. Neste tópico é importante ressaltar que o PEDAGOGIA DO ESPORTE-MARINGÁ está em sua 2ª edição bi-anual, porém pode ser considerado com mais de 20 anos de existência já que assumiu tal nomenclatura há pouco tempo, sendo anteriormente conhecido como Semana da Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.

    Quanto à categoria referente aos formatos de publicação nossa análise revelou que: três eventos têm anais na forma impressa; um evento com anais impresso e cd-rom; dois eventos com anais em cd-rom; um evento na forma de periódico; um na forma de anais eletrônico (disponível no site do evento) e periódico; e um não definido (ficando a critério da organização).

    Ainda quanto aos formatos de publicação, apesar da evolução tecnológica e da internet serem artifícios importantes da contemporaneidade, muitos lugares ainda não têm acesso a computadores, redes e outros equipamentos/serviços. Apesar dos custos, a veiculação da produção científica impressa ainda é necessária, principalmente por se tratar do costume das pessoas em manusear esse tipo de publicação.

    Acreditando que a maioria dos eventos publica os trabalhos na forma de resumos, encontramos, nos nove eventos analisados, quatro que permitem a publicação na forma de resumo e artigo completo; três eventos na forma de resumo, e dois eventos com publicações na forma de artigo completo. Fica claro, com tais dados, que estes eventos apresentaram, em sua maioria, a opção de apresentar no formato de artigo. Assim sendo, se por um lado a divulgação feita na forma de resumo pode ser importante para os que se iniciam na pesquisa, principalmente alunos de graduação, possibilitando abertura para o estudante ser ator no evento, por outro, muitas “falcatruas” passam despercebidas.

    Muitas vezes a publicação na forma de resumo não permite que a análise seja criteriosa. A avaliação, portanto, deveria ser mais rigorosa, prezando pela produção de artigos completos, o que corrobora a afirmação de Bankoff et al (2003, p. 201): “Há necessidade de maior rigor científico por parte dos organizadores dos eventos na seleção de trabalhos, pois em sua maioria os resumos não conseguem transmitir a importância do trabalho realizado.”

    Relembramos aqui que os anais dos eventos não entram nos critérios de avaliação da CAPES6. Uma sugestão, portanto, seria que os eventos mais importantes da área tivessem sua publicação veiculada em periódicos indexados.

    Segundo levantamento realizado por Kokubun (2003), considerando o número total de artigos publicados, a pós-graduação brasileira publica 66% em periódicos e 11% em anais de eventos, sendo que o restante é publicado em livros ou capítulos de livros. Na EF existe uma diminuição de artigos publicados em periódicos (38%), e um aumento no número de artigos publicados em eventos (16%), o restante da produção na EF é veiculada em capítulos de livro ou livros.

    Assim, constata-se que o número de artigos em eventos é maior que a média nacional, sendo que pelos dados apresentados, observa-se que os eventos científicos na área é um caminho de "escape" da produção acadêmica de artigos, isto porque é difícil sua veiculação em periódicos pelo fato de serem poucos com Qualis 7. (Kokubun, 2003)

    Entre “prós” e “contras” dos formatos de publicação é interessante pensarmos também na veiculação deste conhecimento durante os eventos. A maioria oferece a oportunidade de apresentar os trabalhos na forma de painéis/pôsteres. Muitas vezes esta forma de apresentação acaba por não alcançar o objetivo maior dos eventos, que é a troca de idéias e o confronto a respeito da produção do conhecimento. É comum as pessoas não atentarem para a presença durante o tempo estipulado para a apresentação do pôster, ou ainda, enviarem o trabalho para ser somente fixado no local por terceiros, sem haver discussão do autor do trabalho com qualquer indivíduo que achar o pôster interessante (ou mesmo para criticar o trabalho). Presume-se, em vista disto, que os eventos, às vezes, estão sendo banalizados pela comunidade acadêmica-científica.

    Poderíamos extrapolar esse assunto propondo outras estratégias para a apresentação dos pôsteres/painéis, como por exemplo: (a) organizar uma comissão que assistiria e questionaria os trabalhos; (b) que houvesse uma “defesa” do trabalho com tempo e espaço para discutir seu conteúdo, valorizando assim esse tipo de publicação/veiculação.

    Partindo para a penúltima categoria analisada, que trata dos patrocinadores dos eventos, podemos dizer que são muitos e constituem-se de instituições públicas e privadas. O que é certo, de acordo com nossas observações, é que a realização de um grande evento necessita de um bom número de grupos ou instituições apoiadoras, não só nos aspectos organizacionais e estruturais, mas também financeiros, para que o sucesso do evento ocorra. Entretanto, deve-se ter o cuidado para que não ocorra influência de empresas particulares patrocinadoras no que tange as pesquisas científicas, defendendo ou incentivando o consumo de determinados produtos e, assim, distorcendo as questões éticas-científicas.

    Já a última categoria analisada está relacionada às comissões científicas nos eventos. Entre os nove eventos analisados, seis deles informam a existência da comissão científica, inclusive informando quem são os(as) professores(as) que as compõem; outros três eventos não informam a existência ou não da comissão científica. A nosso ver, a comissão científica tem papel fundamental na produção dos conhecimentos de qualquer área, e é em função do (bom) trabalho realizado por ela que verificamos o quão criterioso é o evento.

    O índice de recusa dos trabalhos nos eventos analisados não é informado. Acreditamos que seria um interessante fator para avaliarmos a seriedade do evento e o comprometimento com a área na produção do conhecimento. Poderiam ser especificados os critérios de recusa e até uma estatística (dados quantitativos) sobre os procedimentos utilizados.

Considerações finais

    Nosso propósito com este estudo foi realizar um levantamento a respeito dos eventos científicos da EF no Brasil, identificando e analisando quais os principais eventos na opinião da comunidade do PPGEF/CDS/UFSC, além de procurar discutir, mesmo que de forma incipiente, a relevância destes acontecimentos para a área e, direta ou indiretamente, para a sociedade.

    A produção brasileira referente à temática da produção e veiculação do conhecimento em eventos científicos, conforme verificamos, é baixa e geralmente tem outros enfoques, como por exemplo, o crescimento dos cursos de graduação e pós-graduação, as publicações em periódicos, análises da produção de um determinado grupo temático/linha de pesquisa, entre outros.

    Com isso, podemos dizer, ao término desta pesquisa, que trabalhos de igual teor não foram encontrados na literatura existente pesquisada, o que, de certa forma, torna relevante o conteúdo que ora apresentamos.

    Apesar de termos verificado uma tendência de diminuição do número de eventos científicos nos últimos três anos (2004 a 2006), pode-se dizer que a quantidade de eventos ainda é alta e que a EF precisa repensar estratégias que otimizem a veiculação do conhecimento produzido no seu interior, sem abalar sua qualidade. Além disso, deve-se considerar que quando se trata deste tema – eventos científicos – sempre estão envolvidos gastos financeiros, pois sabemos que os integrantes da área nem sempre dispõe de auxílios ou dinheiro específico para tais fins (inscrição, viagem, hospedagem e alimentação).

    Assim, torna-se necessário questionar e refletir a respeito da palavra que aqui se torna ambígua: valores. Seja no sentido financeiro, seja no sentido de princípios. No primeiro caso, conforme já descrito, a relação entre aquilo que se cobra/gasta num evento científico (geralmente um valor elevado) e o quanto os profissionais da EF são remunerados por seus serviços/trabalhos prestados. Já no segundo caso, trata-se dos princípios de uma formação acadêmico-profissional, em que o que está em jogo não são valores econômicos, mas sim valores éticos, educacionais e profissionais, já que o objetivo de qualquer evento científico não deveria ser o lucro, mas a troca de idéias e socialização de possíveis descobertas, ou mesmo, a refutação de algo existente.

    Também é importante frisar que apesar da existência de uma ferramenta que nos possibilita e facilita na busca de informações atualizadas a respeito de tudo, que é a internet, verificamos a deficiência dos sites dos eventos analisados. Neles, faltavam informações básicas que eram primordiais para esta pesquisa, como a origem e história do evento, o tipo de publicação atual, entre outros dados; portanto, foi necessário complementação dos dados utilizando folders e anais impressos. Desta maneira, sugerimos a implementação de site do evento em página fixa e de forma permanente, ao invés de vinculá-lo às páginas das instituições promotoras, e que este contemple todas as informações possíveis (histórico, objetivos, características, áreas envolvidas, valores, comissão científica, abrangência, localização, inclusive o índice de recusa dos trabalhos, entre outras), bem como as produções aprovadas e publicadas naquele evento.

    Por fim, concluímos que é de fundamental importância para a EF brasileira a veiculação da sua produção em eventos científicos, porém, conforme vimos e descrevemos neste estudo, algumas questões precisam ser repensadas a fim de que os eventos possam atender às reais necessidades de toda a área, pois, ao que nos parece, acabam privilegiando apenas a comunidade acadêmico-científica, esquecendo de grande parcela da área, que são os profissionais que estão em contato direto com os indivíduos, através das múltiplas áreas de atuação.

Notas

  1. Segundo Bankoff et al (2003, p. 196), o surgimento de vários eventos científicos nas diferentes regiões do país ocorreu devido ao “crescimento significativo do volume de trabalhos apresentados nos congressos de educação física, associado a um aumento de profissionais interessados em pesquisas nessa área do conhecimento”.

  2. Pesquisa realizada no Portal CEV (Centro Esportivo Virtual – www.cev.org.br) e no BoletimEF (Boletim Brasileiro de Educação Física – www.boletimef.org), em 8 de agosto de 2006.

  3. Importante destacar que no momento de realização desta pesquisa o ano de 2006 ainda não tinha terminado, o que sugere que, muito provavelmente, vários outros eventos devem ter acontecido no período de outubro a dezembro daquele mesmo ano, meses que não foram acompanhados por nós.

  4. A sigla se refere ao Programa de Pós-graduação em Educação Física que é oferecido pelo Centro de Desportos na Universidade Federal de Santa Catarina.

  5. O CONBRACE apresenta a divisão de 13 áreas temáticas, consideradas como GTT´s, ou seja: Grupos de Trabalhos Temáticos. São eles: Atividade Física e Saúde, Comunicação e Mídia, Corpo e Cultura, Epistemologia, Escola, Formação de Professores e Mundo do Trabalho, Memórias da Educação Física e Esporte, Movimentos Sociais, Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais, Políticas Públicas, Pós-graduação, Recreação e Lazer e Rendimento de Alto Nível. O FIEP-FOZ apresenta 10 temáticas, são elas: Formação Profissional e Mercado de Trabalho, Capacitação em Esportes, Fisiologia, Epistemologia, Educação Física, Grupos Especiais, Lazer/Recreação, Fisioterapia Geral, Ética e outros temas não identificados. Já o LÍNGUA PORTUGUESA apresenta as seguintes temáticas: Aprendizagem Motora; Atividade Física para Portadores de Necessidades Especiais; Atividade Física na Terceira Idade e Relações Intergeracionais; Epidemiologia e Atividade Física; Fisiologia e Bioquímica do Exercício; Controle Motor; Cineantropometria e Desenvolvimento Motor; Antropologia do Esporte/Atividade Física; Doping e a Educação Física/Ciências do Esporte; Epistemologia da Educação Física/Ciências do Esporte; Filosofia, Ética e Moral no Esporte/Atividade Física; Perspectivas da Educação Física Escolar; Biomecânica do Esporte; Gestão e Mídia Esportiva; Nutrição e Atividade Física; Psicologia do Esporte/Atividade Física; Pedagogia do Esporte/Atividade Física; Perspectivas do Esporte de Alto Rendimento; Sociologia do Esporte/Atividade Física e Recreação e Treinamento, Técnica e Tática Esportiva.

  6. CAPES – Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

  7. Refere-se ao sistema de classificação de periódicos, anais, jornais e revistas, concebido pela CAPES, com o objetivo de atender necessidades específicas de avaliação da pós-graduação brasileira.

Referências

  • BANKOFF, A.D.P. et al. Um olhar acerca da produção do conhecimento na área da Ciência do Esporte: tendências e perspectivas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.3, p.195-207, 2003.

  • BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.

  • CELAFISCS. Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul. Disponível em: http://www.celafiscs.institucional.ws/. Acesso realizado em 30 ago. 2006

  • CNPq apóia mais de cem eventos científicos no primeiro semestre de 2006. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Sala da imprensa – notícias: on line. Disponível em: http://memoria.cnpq.br/noticias/2006/180606.htm. Acesso realizado em 30 ago. 2006

  • COLÉGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE E FEF/UFG. CONBRACE – Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. Disponível em: http://www.cbce.org.br/br/conbrace/. Acesso em: 20 ago. 2006.

  • CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA, 12ª. ed., Rio Claro/SP. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/cbb2007/xcb_principal.htm. Acesso em: 20 ago. 2006.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 22ª ed. Foz do Iguaçu/PR. Disponível em: http://www.congressofiep.com/index.aspHYPERLINK "http://www.boletimef.org/?canal=1" \t "_blank" . Acesso em: 07 ago. 2006.

  • Delegacia Geral do Brasil. Federação Internacional de Educação Física – FIEP. Foz do Iguaçu/PR. Disponível em: http://www.fiepbrasil.orgHYPERLINK "http://www.boletimef.org/?canal=1" \t "_blank" . Acesso em: 07 ago. 2006.

  • ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 17ª. ed., Campo Grande/MS. Disponível em: http://www.ucdb.br/eventos/eventos.php?cod=64. Acesso em: 20 ago. 2006.

  • ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 18ª. ed., Curitiba/PR. Disponível em: http://www.pucpr/enarel. Acesso em: 22 ago. 2006.

  • EVENTOS E CONGRESSOS. Base de Dados Centro Esportivo Virtual. Disponível em: http://www.cev.org.br/br/eventos/congressos.asp. Acesso em: 07 ago. 2006.

  • GHIRALDELLI JR., P. Educação Física Progressista. São Paulo: Loyola, 1988.

  • KOKUBUN, E. Pós-Graduação em Educação Física no Brasil: indicadores objetivos dos desafios e das perspectivas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.2, p.9-26, 2003.

  • NOBREGA, T. P. et al. Educação Física e Epistemologia: a produção do conhecimento nos Congressos Brasileiros de Ciências do Esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.2, p.173-185, 2003.

  • NUPAF. Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde. Disponível em: http://www.nupaf.ufsc.br. Acesso em: 23 ago. 2006

  • POSSAMAI, C.L.; BORGES, G. F.; MALAVASI, L. de M.; TRIBESS, S. Avaliação de eventos científicos pelos órgãos de fomento. Simpósio Nacional de Educação Física e Colóquio de Epistemologia do CBCE, 23ª. e 2ª. ed. Anais... Pelotas/RS: UFPEL, 2004. (cd-rom).

  • SILVA, E. M. Eventos no Brasil. Boletim Brasileiro de Educação Física, Brasília, jan. 2006.

  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE BIOMECÂNICA.Congresso Brasileiro de Biomecânica, 12ª. ed., Rio Claro/SP. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/cbb2007/xcb_principal.htm. Acesso em: 20 ago. 2006.

  • UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP; ESCOLA EDUCAÇÃO FÍSICA – EEF. Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, 11ª. ed., São Paulo/SP. Disponível em: http://www.usp.br/eef/xipalops/. Acesso em: 20 ago. 2006.

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM; DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – DEF. Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte da Universidade Estadual de Maringá, 2ª. ed.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Congresso Nacional de História do Esporte, Lazer, Educação Física e Dança, 10ª.ed.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires, Septiembre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados