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Estilo de vida e sugestões de mudanças de comportamento. 

Estudo de caso de uma mulher de meia idade

Estilo de vida y sugerencias de cambios de costumbres. Estudio de caso de una mujer de mediana edad

 

Programa de Pós-Graduação em Educação Física

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Roger Lima Scherer

rogerlscherer@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estilo de vida sedentário está diretamente relacionado aos fatores de risco de doenças cardiovasculares e metabólicas. No Brasil, há altos índices de morte causada por doenças crônicas decorrentes principalmente dos estágios de transição demográfica e epidemiológica pelo qual passa a população brasileira. A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, pois a estudada foi selecionada de forma intencional, por apresentar simultaneidade de comportamentos de risco e presença de doenças crônicas. O estudo foi realizado com uma mulher de 56 anos de idade, casada. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada, a pesquisada utilizou um pedômetro e foram coletadas algumas medidas antropométricas para. Após a coleta de dados foram analisados para levantar algumas sugestões para uma mudança de comportamento.

          Unitermos: Estilo de vida. Mudanças de comportamento. Sedentarismo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estilo de vida é um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas, e hoje em dia passou a ser um dos mais importantes determinantes de saúde de indivíduos, grupos e comunidades. Sharkey citou um estudo de Breslow e Enstrom na qual concluíram que homens poderão adicionar 11 anos de vida e mulheres, sete anos, simplesmente seguindo seis dos sete hábitos listados a seguir: exercício regular, sono adequado, um bom café da manha, refeições regulares, controle de peso, abstinência de cigarros e drogas, uso moderado (ou abstinência) de alcool¹.

    O estilo de vida sedentário está diretamente relacionado aos fatores de risco de doenças cardiovasculares e metabólicas². No Brasil, há altos índices de morte causada por doenças crônicas decorrentes principalmente dos estágios de transição demográfica e epidemiológica pelo qual passa a população brasileira, resultando no envelhecimento populacional3. Além disso, mulheres de meia idade têm predisposição para maior prevalência de osteoporose e acúmulo de gordura abdominal¹, desta forma, o objetivo desta pesquisa foi avaliar e sugerir mudanças no comportamento para adoção de um estilo de vida mais saudável.

Métodos

    A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso4, pois a estudada foi selecionada de forma intencional, por apresentar simultaneidade de comportamentos de risco e presença de doenças crônicas. Apresentando características interessantes para investigação como constituição física, nível de atividade física, quadro clínico e hábitos alimentares.

Descrição do caso

    O estudo foi realizado com uma mulher de 56 anos de idade, natural de Carazinho/RS, casada, sendo católica não praticante. Reside com seu marido e uma filha adolescente, tem também um filho com 25 anos de idade, casado que mora em outro bairro na mesma cidade. Ela concluiu o segundo grau e possui nível técnico, porém atualmente auxilia seu marido em uma serralheria. Possui como hobby o artesanato e jogar paciência no computador. Durante alguns anos dedicou-se a pintura com óleo sobre tela vendendo inclusive para o exterior.

    Há cinco anos foi submetida a uma cirurgia para retirada de um câncer de mama e após estes anos de observação, há suspeitas de haver outro câncer no mesmo local. Além desta doença ela possui diabetes tipo 2, hipertensão, miocardiopatia dilatada e realizou cirurgias no joelho e de hérnia de disco na coluna.

Instrumentos e procedimentos

    A coleta foi realizada no dia 11 de abril de 2010.

    Foram realizadas as mensurações de estatura, peso corporal e da circunferência da cintura (CC) para verificar o Índice de Massa Corporal (IMC) e Razão Cintura Estatura (RCEst), sendo utilizado como pontos de corte para IMC e CC propostos pela World Health Organization (WHO) para adultos5 e para RCEst propostos por Pitanga e Lessa para mulheres6.

    Para a coleta do peso corporal foi utilizado uma balança de banheiro, e para as mensurações de estatura e circunferência da cintura foi utilizado uma fita métrica marca Vonder com precisão de 0,1 cm.

    A pesquisada utilizou um pedômetro marca Yamax Digi-Walker SW-700 entre os dias 12 e 19 de abril de 2010, para registro do número de passos diário e obtenção do nível de atividade física.

    Foi realizado uma entrevista semi-estruturada com perguntas baseadas no perfil do estilo de vida (atividade física, controle de estresse, hábitos alimentares, comportamentos preventivos e relacionamento social)7, incluindo questões sócio-demográficas, ambientais e pessoais referente ao quadro clinico, afetivo e social.

Resultados e discussão

    Foram obtidas as seguintes medidas antropométricas: 169 cm, 92 kg e 90 cm para estatura, peso corporal e circunferência da cintura respectivamente. Com relação aos indicadores para o risco coronariano elevado (RCE), foram encontrados os seguintes escores: 32,21 kg/m² para IMC, 90 cm para CC e 0,53 para RCEst. Segundo a WHO por apresentar IMC >30 ela apresenta obesidade5 e RCE com relação a sua CC. Além de estar no limite superior com relação à RCEst pelos pontos sugeridos por Pitanga e Lessa (0,53 para mulheres)6.

    Durante uma semana a pesquisada utilizou o pedômetro para verificar o nível de atividade física, obtendo um total de 23.179 passos realizados na semana, sendo uma média de aproximadamente 3.311 passos por dia. Os dias em que ela obteve o maior número de passos foi na terça e quinta feira, atingindo cerca de 5.100 passos decorrente das saídas para a hidroginástica na Universidade Federal de Santa Catarina. O pedômetro não pode ser utilizado no meio liquido, desta forma além dos passos, nestes dois dias ela realizou aproximadamente uma hora de hidroginástica. Indivíduos adultos devem realizar 10.000 passos por dia, meta que associaria ganhos na saúde, mas este valor deveria ser maior em crianças e adolescentes, assim como pessoas portadoras de enfermidades crônicas e em especial reduzir o peso corporal que precisariam fazer cerca de 13.000 passos por dia8.

    Durante a entrevista, a pesquisada mencionou que em 2005 foi diagnosticado um câncer de mama e nos meses subseqüentes ela foi submetida ao forte tratamento de quimioterapia e radioterapia. Neste mesmo ano sua mãe faleceu da mesma doença. O câncer de mama é o tipo com maior incidência no mundo entre as mulheres, sendo que uma mulher a cada oito possuem probabilidade de adquirir a doença e após o retorno da doença a sobrevida em média é de dois a três anos podendo chegar a 10 anos9. Estudos de qualidade de vida na oncologia têm aumentado muito nas ultimas décadas, tornando-se imprescindível, pois não há como pensar em aumentar a sobrevida de pacientes sem que tenha um mínimo de qualidade de vida10.

    O medo do retorno da doença é constante, principalmente após a descoberta de outro cisto no mesmo local do primeiro após cinco anos de observação. O surgimento do câncer de mama, muitas vezes contribui para um quadro psicológico de depressão, ansiedade, ideação suicida, insônia, medo, abandono familiar e de amigos, contribuindo de forma negativa na percepção de qualidade de vida11.

    O tratamento, quase sempre agressivo, acrescenta anos de vida, mas muitas vezes poucos acrescentam vida aos anos. Hoje em dia o câncer de mama não é uma predição de morte, mas tende a ser uma doença crônica, porém deve-se avaliar e dar uma melhor qualidade nesta sobrevida12.

    Além da operação para retirada do carcinoma na mama, ela já havia realizado duas vezes cirurgia da tireóide, cirurgia para retirada do apêndice, cirurgia na coluna decorrente de uma hérnia de disco e no joelho devido a desgastes no menisco.

    Além destas cirurgias, há alguns anos ela busca controlar sua glicemia decorrente do diabete melitus tipo 2. Doença que afeta aproximadamente 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos de idade. Apesar do tratamento os prejuízos a saúde tendem a persistir, tendo a necessidade de uma mudança no estilo de vida e do controle adequado da glicemia, influenciam diretamente a percepção de seu bem estar13.

    A atividade física é fundamental no tratamento da diabete melitus, assim como o uso de medicamentos e dieta alimentar. O exercício físico regular poderá ajudar a diminuir ou manter o peso corporal, além de reduzir à necessidade de anti-diabéticos orais e diminuir a resistência a insulina, podendo contribuir para uma melhora do controle glicêmico14. O exercício físico tem demonstrado ser eficiente no controle glicêmico de diabéticos, melhorando a sensibilidade a insulina e tolerância a glicose, ocorrendo à diminuição de glicemia no sangue. Desta forma é extremamente importante a prática de exercícios aeróbios e resistido no controle glicêmico de pessoas com diabetes tipo 215.

    Outra doença relatada foi a hipertensão, que segundo Brito et al é considerado um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e sofre influência multifatorial, com destaque para o estilo de vida16. O exercício físico tem demonstrado efeitos positivos sobre a pressão arterial em indivíduos de todas as idades, pois o alto nível de atividades diárias está diretamente associado a níveis menores de pressão arterial em repouso.

    Ela ainda possui miocardiopatia dilatada (coração crescido), que segundo seu médico, esta diretamente relacionada à obesidade, hipertensão e o diabetes. Devido às doenças relatadas, ela ingere altas doses de drogas farmacológicas para controle sendo cerca de nove remédios diferentes por dia para controle de hipertensão, hipotireoidismo, diabetes e estomago (agüentar altas doses de medicamentos).

    Atualmente anda sentindo muitas dores nos joelhos e articulações, problema agravado pela estrutura da casa, pois possuem três pavimentos. A casa foi planejada durante anos antecedentes aos problemas de locomoção. Uma pessoa com um quadro clínico extremamente prejudicado desta forma e com possibilidades de voltar a lutar contra um câncer, possui uma grande propensão para a depressão. Apesar de todos os agravantes ela considera-se muito feliz e que possuiu total apoio de sua família em todas as etapas dos tratamentos e precedente as cirurgias.

    Apesar deste apoio, ultimamente anda se estressando devido a alguns problemas familiares, relatando que quando há uma discussão, ela não consegue ficar sem se alterar, mas procura reservar um tempo do seu dia para realizar atividades de seu prazer e se controlar melhor.

    Com relação ao grupo de amigos, ela comentou que não possui muitos amigos, mas esta satisfeita com o grupo de amigos que tem e acredita que seu relacionamento social é compatível com sua disponibilidade de tempo, comentando que não sai muito de casa, porque não gosta, pois sente prazer em ficar em casa, saindo de casa para ir à hidroginástica e duas vezes por mês para jogar canastra com amigos.

    Durante muitos anos ela foi ativa na comunidade e na associação de pais da escola, porém quando iniciaram os problemas de saúde ela começou a deixar aos poucos essa participação e sempre que tentava reiniciar, aparecia outro problema de saúde, impedindo seu retorno.

    Quando questionada sobre ambientes de lazer, ela respondeu que não há áreas de lazer no bairro, porém gosta de ficar em casa e possui como hábitos de lazer, jogar canastra e paciência, ler e assistir filmes, atividades que ela considera sedentárias e reconhece sua pouca atividade.

    Dificilmente ela sai de casa e da rotina, mesmo gostando de passear e realizar pequenas viagens, ultimamente anda usando muito o computador, assistindo filmes e lendo. Gostava muito de caminhar, relatou que caminhava cerca de 2 horas por dia durante praticamente toda sua vida, único vicio relatado, porém hoje não pode mais por recomendação médica pelo impacto no joelho, preferindo atividades de lazer inativo.

    Em 2002 começou a fazer hidroginástica, mas devido a inúmeras cirurgias e períodos de recuperação nunca pode dar continuidade na atividade, realizando no máximo por seis meses mesmo relatando gostar muito. Neste ano corrente iniciou novamente as atividades de hidroginástica e mencionou que após o inicio melhorou muito com relação às dores constantes no joelho, inclusive ao se levantar, pois sentia muitas dores e câimbras nas pernas. Durante a aula de hidroginástica ela realiza alongamentos por volta de 5 minutos e atividades na piscina por aproximadamente uma hora duas vezes por semana.

    Decorrente de sua condição médica ela realiza exames clínicos e preventivos periódicos além do controle glicêmico e da pressão arterial diariamente.

    Nos últimos exames realizados, os resultados apresentaram, taxa de glicose em 108mg/dl, um pouco acima do considerado normal (70 a 100mg/dl), a taxa de colesterol total ficou em 144, estando dentro dos padrões considerados desejáveis para adultos (<200mg/dl), porém o colesterol HDL ficou em 34 sendo que o desejável é acima de 40mg/dl e o colesterol LDL ficou em 45 sendo que o limite desejável é até 36. Os triglicerídeos ficaram em 225 e o limite desejável é menor que 150mg/dl, considerando este resultado como alto. A taxa de glicose dela está um pouco elevado em decorrência da diabetes, porém considerada controlada em comparação à doença. Porém com relação ao colesterol, como o HDL esta abaixo do desejado e o LDL acima, deve-se ficar atento para possíveis agravos, buscando melhorar estas taxas.

    Quando questionada sobre seus hábitos alimentares, ela comentou que houve uma divisão em seus hábitos, pois até um mês atrás quando não havia acompanhamento nutricional ela realizava um pequeno controle decorrente da diabetes, porém ainda sim possuía hábitos errôneos e nada moderados, mas quando começou o acompanhamento, a nutricionista passou uma dieta balanceada, aumentando a freqüência de refeições, reduzindo a ingestão calórica, pois aumentou a quantidade de ingestão de fibras almejando uma redução em seu peso corporal e uma reeducação alimentar.

Sugestões

    A pesquisada possui doença crônica já instaurada e controlada, porém buscou modificar sua alimentação e recomeçar a praticar atividade física com freqüência semanal de duas vezes e duração de uma hora cada vez. Além de patologias como diabetes, câncer, hipertensão e obesidades ela sente constantemente dores no joelho. Desta forma sugere-se que ela:

  • Mantenha este controle alimentar, buscando diminuir sua ingestão energética e aumentar seu gasto energético;

  • Mantenha a participação nas aulas de hidroginástica duas vezes por semana (se possível ampliar para mais um dia na semana);

  • Saia de casa sempre que possível para visitar seu filho, outros familiares e amigos que residem na mesma cidade pelo menos uma vez a cada quinze dias;

  • Participe de oficinas de artesanato que são oferecidas para pessoas interessadas em geral;

  • Busque nos finais de semana sair um pouco da rotina, visitando locais desconhecidos na ilha de Florianópolis ou pequenas viagens.

    As sugestões acima são para que ela diminua seu peso corporal, assim como melhore sua alimentação. A ampliação da freqüência de atividade física é para buscar reduzir sua pressão arterial de repouso, assim como fazer com que seu organismo utilize mecanismos alternativos para transporte desta glicose para dentro das células. Desta forma com a prática regular de atividade física futuramente poderá reduzir o número de medicamentos ingeridos. Além de prevenir a incidência de doenças cardiovasculares.

    Outras recomendações foram com o intuito de retirá-la de dentro de casa para uma ampliação de seu convívio social, assim como buscar maior contato com as pessoas que lhe fazem bem. Algumas atividades aparentemente sedentárias, mas que ela considera prazerosa e que lhe faz bem são as oficinas de artesanato. Caso seja realizado fora de sua residência fará com que ela caminhe um pouco mais sem grandes esforços. E buscar nos finais de semana se possível sair com o marido e filhos para conhecer novos lugares de maneira menos onerosa e mais agradável.

Conclusão

    Decorrente do avanço tecnológico, a medicina conseguiu erradicar e controlar diversas doenças e com o passar dos anos, tem buscado facilitar cada vez mais a vida das pessoas, com comidas prontas, aparelhos eletrônicos, escadas rolantes, etc. Buscando trazer benefícios, mas dependendo do estilo de vida que a pessoa possui, aumentam a prevalência para doenças crônicas não transmissíveis decorrentes principalmente deste estilo de vida inativo, sedentário que o indivíduo possui.

    Pessoas que não possuem essas doenças devem manter um estilo de vida ativo ligado a uma boa alimentação para evitar a incidência destas, porém aqueles que já possuem a doença deverão buscar as atividades regulares para auxiliar no tratamento assim como evitar o agravamento e melhorar sua qualidade de vida.

Referências

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