Esteróides anabólicos androgênicos (EAAS): o que são e quais os seus efeitos sobre o organismo humano? Esteroides anabólicos androgénicos: ¿qué son y cuáles son sus efectos sobre el organismo humano? |
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*Licenciado e bacharel em Educação Física **Orientador Faculdade Governador Ozanam Coelho, Ubá, Minas Gerais (Brasil) |
Carlos
Renato Brandi* |
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Resumo Os anabolizantes são substâncias sintéticas produzidas a partir do hormônio testosterona. O presente estudo objetivou traçar o perfil dessas substâncias, determinando o que são e suas respostas fisiológicas. Para tal, pesquisou-se seu histórico, os dados de utilização, seu uso clínico, os efeitos colaterais, os efeitos de EAAs no rendimento esportivo e o uso de EAAs no esporte. Unitermos: Aabolizantes. EAAS. Respostas fisiológicas.
Abstract Anabolic steroids are synthetic substances produced from the hormone testosterone. This study aimed at defining the profile of these substances and determining what they are and their physiological responses. To do this, we researched its history, usage data, clinical use, side effects, the effects of AAS on sports performance and the use of AAS in the sport. Keywords: Seroids. AAS. Physiological responses.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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O que são os esteróides anabólicos androgênicos (EAAS)?
Os esteróides anabolizantes ou esteróides anabólicos androgênicos (EAAs) são substâncias sintetizadas à base do hormônio testosterona (MACHADO et al., 2002). Hormônio é uma substância química secretada, em pequenas quantidades, na circulação sanguínea e que, transportada até os tecidos-alvos, produz uma resposta fisiológica. Quimicamente, os hormônios são classificados como aminas, proteínas e peptídeos ou esteróides (CUNHA et al., 2004).
Ainda segundo os mesmos autores, os hormônios esteróides incluem os hormônios adrenocorticais, os metabólicos ativos da vitamina D e aqueles produzidos pelas gônadas masculinas (testosterona) e femininas (estrogênio e progesterona). A testosterona, conhecida como hormônio androgênio, provoca o crescimento e o desenvolvimento das gônadas masculinas na espécie humana. Como tal, promove o desenvolvimento das características sexuais secundárias masculinas como: crescimento dos pêlos púbicos, axilares e de barba; crescimento da faringe; espessamento das cordas vocais; além de maior ativação das glândulas sebáceas e espessamento da pele (CUNHA et al., 2004). Nos homens, é produzida em maior parte (95%) pelas células de Leydig nos testículos e, em menor parte (5%), pelo córtex da suprarrenal (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002).
A testosterona também promove o efeito anabólico, que está relacionado ao crescimento de massa muscular, através da hipertrofia de fibras musculares, devido ao aumento de síntese protéica intracelular (MACHADO et al, 2002). Os anabolizantes foram criados com o intuito de potencializar esse efeito da testosterona, promovendo aumento da força de contratilidade e do volume da célula muscular, através do incremento da armazenagem de fósforo creatina (CP), balanço nitrogenado positivo, aumento da retenção de glicogênio, favorecimento da captação de aminoácidos e bloqueio do hormônio cortisol (MACHADO et al., 2002).
A produção dos hormônios androgênios ocorre a partir do colesterol. Esse irá formar, após sucessivas oxidações, a pregnenolona, que é o principal precursor dos hormônios esteróides. Durante a conversão da pregnenolona em testosterona, ocorre a formação de desidroepiandrosterona (DHEA) e de androstenediona (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002).
Essas substâncias são compostas por dois grupos: derivados esterificados e derivados alcalinizados. Os primeiros (proprionato de testosterona, enantato de testosterona e cipionato de testosterona) são produtos de administração intramuscular e permanecem ativos por dias a semanas, enquanto os componentes do segundo grupo devem ser tomados, por via oral, diariamente (PELUSO et al., 2009).
Um dos anabolizantes mais utilizados em academias de São Paulo, segundo pesquisa de Silva e Moreau (2003), o estanozolol, é vendido com o nome de Winstrol, administrado por via oral, e também com o nome de Winstrol Depot, que, por sua vez, é administrado de forma intramuscular. Outros nomes comerciais de anabolizantes são: Durateston, Testosviron, Dianabol, Anavar, Equifort, Hemogenin, Primobolan, Clembuterol e Proviron.
Quimicamente falando, Machado et al (2002) relatam que os anabolizantes constituem um grande grupo de substâncias que apresentam uma estrutura básica comum, conhecida como estrutura do gonano ou 1,2-ciclopentanoperidrofenantreno. Este núcleo é formado por 6 átomos de carbono (fenantreno) ligados a um anel com 5 átomos de carbono (ciclopentano).
Os anabolizantes também estão incluídos entre os chamados Agentes Ergogênicos. Esse termo, segundo a medicina esportiva, abrange todo e qualquer mecanismo, nutricional ou farmacológico, que seja capaz de melhorar o desempenho nas atividades físicas esportivas ou mesmo ocupacionais (NETO, 2001).
Histórico do uso de EAAS
Desde os primórdios da humanidade, o homem usa de suas capacidades físicas para sobreviver; desde então, já há registros de uso de substâncias para o aumento do rendimento no trabalho, na caça, entre outras atividades de sobrevivência (SOUZA; MORAIS; ALVES, 2008). Em relação à utilização de substâncias em eventos esportivos, ainda de acordo com os últimos autores, há referências do uso desde 800 a.C. pelos gregos, que incluíam os esportes ao seu modo de vida.
As primeiras evidências da utilização da testosterona com o objetivo de restaurar a vitalidade datam de 1889, quando o fisiologista francês Charles Edward Brown-séquard relatou retardo no seu processo de envelhecimento após autoaplicação de um extrato testicular. Esse acontecimento estimulou intensa atividade experimental em torno dos hipotéticos efeitos antienvelhecimento da testosterona, antes mesmo que ela tivesse sido isolada (CUNHA et al, 2004).
Quanto aos anabolizantes, especificamente, de acordo com Lise et al. (1999), essas substâncias são sintetizadas desde 1935 e seu uso iniciou-se de forma terapêutica. Durante a 2º Grande Guerra, foram utilizadas pelas tropas alemãs para aumentar a agressividade dos soldados. Seu uso clínico, até essa época, restringia-se ao tratamento de pacientes queimados, deprimidos ou em recuperação de grandes cirurgias. Em 1939 foi sugerido seu uso para a melhora no desempenho de atletas, mas a primeira referência do uso dessas substâncias nesse sentido ocorreu em 1954, em um campeonato de levantamento de peso em Viena, e sua utilização tornou-se difundida para esse fim a partir de 1964 (LISE et al., 1999).
Em relação aos jogos olímpicos, há relatos do uso há mais de 30 anos nos esportes como natação, ciclismo, handebol, futebol, entre outros (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002). Devido a razões de ordem ética e aos efeitos nocivos à saúde, os anabolizantes tiveram o uso proibido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) a partir de 1976, na olimpíada de Montreal, onde foi realizado pela primeira vez o controle de anabolizantes, e seis atletas foram punidos pelo uso indevido deles (MARQUES; PEREIRA; NETO, 2003).
Dados de utilização
Estudos revelam que centenas de milhares de norte-americanos, muitos deles adolescentes, têm feito uso dos anabolizantes e que o início do consumo está entre 15 e 18 anos em estudantes (PELUSO et al., 2009). Segundo os mesmos autores, estima-se que 4% a 11% dos homens e 0,5% a 2,5% das mulheres os teriam utilizado em alguma ocasião.
No Brasil, ocorre uso indevido dessas substâncias vendidas livremente nas farmácias ou por meio de fórmulas obtidas em farmácias de manipulação, que utilizam sais legalmente importados, como oxandrolona, estanozolol e testosterona. Também é encontrado abuso de substâncias destinadas a uso veterinário, principalmente para cavalos de competição (LISE et al., 1999).
Em uma pesquisa feita por Araújo, Andreolo e Silva (2002) em 14 academias em Goiânia, constatou-se um alto consumo de anabolizantes, principalmente Deca-Durabolin (21%). Os consumidores tinham a idade de 18 a 26 anos e nível médio de escolaridade, e seu objetivo principal era ganhar massa muscular.
Em outra pesquisa feita por Silva e Moreau (2003) em três grandes academias de ginástica na cidade de São Paulo com praticantes de musculação, concluiu-se que 19% usavam anabolizantes, sendo que, destes, 8% declararam que fazem uso atualmente e 11% que já haviam feito uso anteriormente. Considerando-se apenas o sexo masculino, a incidência foi de 24%. Os compostos mais utilizados foram estanozolol e decanoato de nandrolona (Deca-Durabolin). O perfil dos usuários foi traçado na média de 27 anos (25 a 29 anos) e a motivação foi a melhora da estética corporal e maior estímulo para o treinamento muscular. Os anabolizantes foram adquiridos, em sua maioria, em farmácias, sem receita médica, e foi feito uso de suplementos alimentares e outros fármacos em associação. Os entrevistados acreditam que os efeitos colaterais podem ser controlados ou evitados com o uso de outros medicamentos e/ou acompanhamento médico.
Uso clínico
Há relatos de que, na antiguidade, os órgãos sexuais e suas secreções eram utilizados para o tratamento da impotência e aumento da libido (SILVA; DANIELSKI ; CZEPIELEWSKI, 2002).
Segundo Cunha et al (2004), os anabolizantes são um grupo de compostos cuja indicação terapêutica clássica está associada a situações de hipogonadismo e quadros de deficiência do metabolismo protéico. Os androgênios são indicados ainda em algumas terapêuticas de castração, tumores mamários, controle de menopausa e andropausa (MACHADO et al, 2002). Também são indicados no tratamento de algumas patologias como deficiência de testosterona, algumas formas de anemias e alguns casos de câncer de mama, de acordo com Peluso et al. (2009).
Segundo Lize et al. (1999), a FDA (Federal Drug Association) lista as seguintes indicações médicas aprovadas para o uso de anabolizantes: ganho de peso por portadores de AIDS; diminuição da dor óssea na osteoporose; catabolismo induzido por corticosteróide; anemia grave; angioedema hereditário e câncer de mama metastático.
De acordo com a Food and Drug Administration, há indicações de EAA para casos de puberdade e crescimentos retardados; micropênis neonatal; deficiência androgênica parcial em homens idosos e no tratamento de deficiência androgênica secundária a doenças crônicas (CUNHA et al, 2004). Ainda segundo os mesmos autores, por causa de seus efeitos anabólicos, os EAA também são utilizados em alguns quadros graves como politraumatismos, queimaduras e em períodos pós-operatórios. E há mais indicações, como no tratamento por falência da medula óssea e doença renal crônica.
Outras indicações ainda sem estudo suficiente incluem distúrbios sexuais e anticoncepções masculinas. Mas há estudos inconclusivos sobre os efeitos dessas drogas para o tratamento da depressão (PELUSO et al, 2009).
Efeitos colaterais
Iriart e Andrade (2009) relataram que os efeitos colaterais relacionados ao uso de anabolizantes têm sido constantemente divulgados na literatura. Dos efeitos mais amenos, observam-se alterações orgânicas provocadas pelas próprias características farmacológicas dos produtos utilizados e que habitualmente são consumidos em doses muito além das fisiologicamente manejáveis pelo organismo. Podem causar também infecções de transmissão sanguínea pelo uso de equipamentos não estéreis de injeção e até traumas locais relacionados com aplicação incorreta desses produtos.
Outros efeitos colaterais dos EAAs estão listados no quadro a seguir.
Quadro 1. Efeitos colaterais dos EAAs
Impotência sexual; Infertilidade; Calvície; Ginecomastia; Dificuldade ou dor para urinar; Alterações ou ausência de ciclo menstrual; Aumento do clitóris; Limitação do crescimento; Enrijecimento das articulações; Redução de FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e ICSH (Hormônio Estimulante das Células Intersticiais); Hipertrofia da próstata; Hepatotoxidade; Insônias; Cefaléias; Aumento do LDL COLESTEROL; Celamento das epífises ósseas; Câncer de próstata; Esterilidade; Variações de humor; Dependência. |
Fonte: IRIART e ANDRADE (2009); SILVA, DANIELSKI e CZEPIELEWSKI (2002); RIBEIRO (2001)
Efeitos de EAAS no rendimento esportivo
Os usuários relatam que os anabolizantes retardam a fadiga, aumentam a motivação, estimulam a agressividade e diminuem o tempo de recuperação entre as sessões de treinamento, o que lhes permite treinar com maior intensidade. Mais treinamento com maior intensidade junto aos efeitos anabolizantes os levaria a ganho de força muscular (PELUSO et al., 2009). Vários autores já citados acima endossam esses relatos dos usuários e ainda acrescentam o aumento da velocidade e aumento da resistência.
Uso de EAAS no esporte
No Brasil, os anabolizantes são considerados doping, segundo portaria do MEC de julho de 1985, de acordo com a legislação internacional (LISE et al, 1999). O COI define como doping o uso de qualquer substância exógena ou endógena em quantidades ou vias anormais com a intenção de aumentar o desempenho do atleta em uma competição (AQUINO NETO, 2001). Segundo Cunha et al (2004), de acordo com estatísticas do COI realizadas em 2000, os anabolizantes são as substâncias ergogênicas mais comumente utilizadas no processo de doping. A T(testosterona) e a EpiT (Epitestosterona) são os únicos endógenos que possuem um critério estabelecido pelas confederações esportivas e pelo COI. Uma razão T/EpiT>6 na urina de um atleta é considerada como dopagem, caso não seja comprovado que ele possua as suas funções fisiológicas e/ou endocrinológicas alteradas (MARQUES; PEREIRA; NETO, 2003). O caso de maior repercussão na mídia foi o do atleta Ben Jonhnson, um corredor canadense que nas olimpíadas de Seul, em 1988: depois de ganhar medalha de ouro nos 100 metros rasos, foi realizado exame que detectou a presença do anabolizante estanozolol (SOUZA; MORAIS; ALVES, 2008).
Considerações finais
Os EAAs administrados clinicamente podem beneficiar pacientes vítimas de várias patologias. Quanto ao uso dessas substâncias no esporte, sabe-se que elas podem ajudar no desempenho, entretanto seus efeitos colaterais provocam sérios danos à saúde dos indivíduos, podendo levá-los à morte.
Referências bibliográficas
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