efdeportes.com

Educação Física e esporte adaptado para pessoas com deficiência física

Educación Física y deporte adaptado para personas con discapacidad física

 

Doutorando em Ciência da Educação Física e Esporte

pela UCCFD “Manuel Fajardo”, Cuba

Professor de Cursos de Graduação e

Pós Graduação em Educação Física

Prof. Ivan Carlos Bagnara

ivanbagnara@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A prática de esportes adaptados e de programas regulares de exercícios físicos por parte dos deficientes físicos está crescendo consideravelmente. Porém, para que o processo de adaptação e inserção em programas de esporte adaptado tenha êxito são necessários alguns cuidados específicos. Além de cuidados, faz-se necessário uma série de adaptações e ajustes, que possibilitem ao deficiente segurança e possibilite os benefícios proporcionados pela prática regular de exercícios físicos ou modalidades esportivas.

          Unitermos: Esporte adaptado. Deficientes físicos. Educação Física. Adaptações.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O esporte adaptado foi idealizado pelo médico inglês Sir Ludwing Guttmann, neurologista e neurocirurgião, no ano de 1944. Sir Ludwing desenvolvia suas atividades profissionais no centro de lesados medulares do Hospital de Stoke Mandeville e desenvolveu um programa de recuperação para seus pacientes envolvendo uma série de modalidades desportivas.

    Outro marco importante do processo de implantação e evolução dos esportes adaptados foi um grupo de lesados da Segunda Guerra Mundial, com problemas de lesões medulares, amputações e mutilações. O mesmo iniciou a prática de atividades esportivas com o objetivo de esquecer o horror vivido durante a guerra. O que na época tinha como único objetivo restabelecer emocionalmente as lembranças dos campos de batalha e enfrentar as conseqüências da vida pós-guerra transformou-se em algo muito além de meros exercícios fisioterápicos. Virou uma nova razão de viver, descobrindo novos horizontes, perspectivas e oportunidades para os deficientes físicos.

    A prática de modalidades esportivas adaptadas no Brasil teve início após o ano de 1950, onde o carioca Robson Sampaio de Almeida fundou o clube do otimismo e o paulista Sérgio Serafim Del Grande fundou o clube dos paraplégicos. Os mesmos tornaram-se deficientes físicos em acidentes e procuraram reabilitação nos Estados Unidos. E, após a participação em diversas modalidades esportivas como parte integrante do programa de recuperação, retornaram ao Brasil e fundaram instituições com o objetivo de auxiliar a recuperação de outros deficientes.

    Desde então, de forma muito lenta e desconfiada inicialmente e de certa forma mais acelerado nos últimos anos, o movimento do esporte adaptado para deficientes tem ganhado campo e trilhado um caminho estabelecido pelos órgãos internacionais em convenções da área. Este caminho contempla a incorporação e efetivação de orientações e a busca de evoluções nos diversos campos do conhecimento do esporte adaptado, conseguindo assim uma participação cada vez mais efetiva e consistente neste campo de atuação.

Objetivos e benefícios de um programa regular de esporte adaptado

    A prática regular de um programa de exercícios físicos ou prática esportiva por pessoas com deficiência física pode ter três objetivos distintos: lazer, competição ou terapêutico.

    O deficiente pode praticar exercícios ou esportes simplesmente pelo fato de lazer ou diversão, da mesma forma que a maioria das pessoas tidas como normais. Pode ainda, aperfeiçoar esta prática, treinar e evoluir consideravelmente até participar de competições desportivas da modalidade em questão. Ou, pode estar inserido na prática de esportes ou exercícios como forma de recuperação física, emocional e até mesmo social.

    O deficiente físico, quando pratica um programa regular de exercícios físicos, é beneficiado de diversas formas:

  • A espasticidade de Paralizados Cerebrais pode ser reduzida pela prática esportiva, assim como também ocorre melhorias na coordenação motora geral e no equilíbrio;

  • No que se refere à compensação ou regeneração de distúrbios de ordem psíquica, sabe-se que a prática regular e bem orientada de exercícios físicos e modalidades esportivas estimula, entre outras, a produção de endorfinas e catecolaminas responsáveis, respectivamente, por sensações de bem estar e pelo combate à depressão;

  • Melhora da motivação, da autonomia e auto-estima, pois o esporte possibilita ao deficiente perceber-se saudável e livre de doenças;

  • Alívio de dores musculares, lombares e demais dores corporais;

  • Diminui o percentual de gordura e auxilia no controle do peso corporal;

  • Melhora da força muscular, capacidade respiratória e flexibilidade;

  • Fortalece ossos, músculos, tendões e articulações;

  • Melhora a capacidade cardiovascular;

  • Atua na regulação hormonal e enzimática;

  • Diminui os índices do colesterol ruim e triglicerídeos e aumenta os índices do bom colesterol;

  • Diminui os sintomas de ansiedade e incapacidade;

  • Diversos outros benefícios proporcionados pela prática regular de exercícios físicos e esportes.

Educação Física e esporte adaptado

    A maior parte dos deficientes físicos pode e deve se beneficiar da prática da educação física e modalidades esportivas adaptadas. O grau e o tipo de deficiência, educabilidade e histórico motor, nível de interesse, metas e objetivos educacionais gerais determinam as modificações e as adaptações necessárias (WINNICK, 2004).

    A segurança dos alunos no momento da execução de exercícios ou da prática de esporte, juntamente com o acompanhamento de perto pelos professores das atividades realizadas, asseguram o primeiro estágio de desenvolvimento dos participantes.

    Como a maioria dos problemas apresentados é de origem médica, é importante que os professores de educação física mantenham contato direto com os profissionais de saúde que atendem os deficientes para prescreverem programas que supram suas necessidades especiais.

    O professor de educação física, antes de prescrever qualquer exercício, esporte ou atividade física deve realizar uma avaliação física de seu aluno, visando detectar possíveis problemas orgânicos, motores, antropométricos e fisiológicos como falta de flexibilidade, incapacidade de sustentar atividade aeróbica, capacidade respiratória, limites cardíacos, a falta de força e resistência para erguer o corpo, transferi-lo de forma independente, ou para erguer o corpo para prevenir úlceras de decúbito (escaras), força e resistência para impulsionar a cadeira de rodas ou se locomover com auxílio de muletas, próteses e porcentual de gordura (GORGATTI E COSTA, 2005).

    Para participar de um programa de exercícios físicos ou para a prática de modalidades desportivas, seja com o objetivo de lazer, competição ou terapêutico é obrigatório que a pessoa com deficiência física se submeta a uma avaliação médica e funcional para que sejam detectadas, principalmente, as condições secundárias de saúde, que normalmente são fatores limitantes para essas práticas, tais como: infecções, febre, alterações acentuadas de temperatura corporal, dermatites, escaras, dor sem causa conhecida, recuperação após cirurgias e fraturas.

    Antes de inserir o deficiente em atividades esportivas ou em programas de exercícios deve-se observar o princípio da adaptação, ou seja, deve-se proporcionar a prática de atividades introdutórias à modalidade. O deficiente lentamente vai realizando exercícios leves, simples e básicos que lhe proporcionarão a base da prática esportiva. Outro ponto importante que deve ser observado é em relação aos equipamentos e aparelhos a serem utilizados na execução do programa de exercícios ou na prática da modalidade esportiva.

    Como exemplo de instrumento para a prática esportiva será abordada a cadeira de rodas. Para alunos usuários de cadeira de rodas, deve haver inicialmente uma adaptação a esse novo instrumento ou equipamento, através de atividades específicas a serem praticadas na cadeira. O treinamento deve englobar exercícios para aprimorar a propulsão da cadeira nas diversas situações como: para frente, para trás, em curvas, com obstáculos, em terrenos acidentados, movimentação lenta, média, acelerada. O importante do treinamento, é que o aluno torne-se íntimo da funcionalidade e estrutura da cadeira e do seu controle sobre ela antes de iniciar a prática da modalidade especificamente. Esse procedimento evitará acidentes, quedas e possíveis lesões e fraturas.

Acessibilidade

    Existem diversos problemas que impedem a participação em programas de exercícios e esportes. Um dos maiores, senão, o maior de todos para a participação em programa de exercícios físicos e esportes para pessoas com deficiência, é a acessibilidade. A maioria das pessoas deficientes interessadas em praticar esportes, mesmo tendo conhecimento e desejo de participar, não o conseguem, pois se chegam ao local, muitas vezes não conseguem acesso às instalações.

    Os padrões e critérios de acessibilidade são ditados pela ABNT e visam proporcionar às pessoas com deficiência física e àquelas com capacidade ambulatória reduzida, condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma aos banheiros, portas, corredores e áreas de transferência e aproximação. Além disso, ainda permitir o acesso às áreas de circulação indispensáveis e proporcionar segurança para as pessoas com deficiência.

Critérios de adaptação aos esportes e exercícios

    Os critérios e adaptações sugeridas a seguir não formam uma espécie de receituário e muito menos devem ser encarados como obrigatórios para todos os jogos e práticas desportivas. Apenas, são soluções e caminhos que podem ser trilhados dependendo da atividade a ser desenvolvida e do tipo de deficiência.

1.     Espaço

    Aconselha-se delimitar os espaços destinados para a prática esportiva com o propósito de compensar as dificuldades de deslocamento que normalmente se apresentam. Procurar por terrenos lisos e planos, sem ondulações, cascalhos ou irregularidades. Se possível evitar terrenos arenosos e de terra que dificultam consideravelmente a mobilidade e o cansaço físico.

2.     Material

    Aconselha-se utilizar materiais macios para indivíduos com dificuldades de percepção. Também, é indicado a utilização de materiais alternativos e adaptados, como por exemplo, calhas para alunos com Paralisia Cerebral ou cadeira de rodas para indivíduos com graves problemas de equilíbrio. Claro que cada acessórios deverá ser utilizado em situações em que existe a necessidade. Proteger os materiais para evitar que os mesmos machuquem os outros participantes. Antes de iniciar a prática esportiva com cadeiras de rodas, proteger a mesma com espumas nas extremidades evitando que o contato com outras pessoas possa lesar ou machucar.

3.     Regras

    Alterar os regulamentos das modalidades e da forma de jogo, incluindo novas regras que atendam as necessidades do grupo participante. Alterar o sistema de pontuação ou o objetivo do jogo proporcionando êxito por parte dos participantes, mantendo assim o interesse e a motivação constante. Adaptar as regras do jogo, da brincadeira ou da atividade permitindo o máximo de igualdade entre os participantes.

4.     Habilidades

    Antes do início de qualquer atividade os participantes deverão ser consultados sobre possíveis dificuldades motoras ou técnicas que dificultem movimentos e gestos desportivos. O deficiente deve ser estimulado a tentar e a descobrir suas potencialidades e possibilidades, porém, as tarefas devem ser adaptadas para que o mesmo consiga o êxito e motive-se cada vez mais, e conseqüentemente possa aprimorar seus movimentos e superar os obstáculos constantemente. Utilizar atividades em duplas, trios ou grupos para que um possa auxiliar o outro e assim desenvolver ainda mais a prática de convívio social e trabalho em equipe.

5.     Aluno ajudante ou colaborador

    Utilizar sempre que possível um aluno ajudante ou colaborador, que terá a incumbência de auxiliar o professor e os demais colegas a realizar as atividades e exercícios. Este aluno colaborador deverá ser substituído sistematicamente pelos próprios colegas da turma, possibilitando assim a oportunidade de todos ajudarem o professor e perceberem sua importância perante a turma.

Considerações finais

    A prática esportiva por parte dos deficientes físicos está em constante expansão e desenvolvimento. O número de praticantes cresce a cada dia. As pessoas estão deixando de lado antigos e retrógrados preconceitos e desconfianças e estão se utilizando dessa importante e fundamental ferramenta em seus programas de lazer, esportes competitivos ou mesmo fisioterápicos.

    Diversas pesquisas na área estão sendo desenvolvidas, e os benefícios proporcionados pela prática regular de exercícios físicos ou esportes adaptados estão sendo debatidos e expostos pela mídia diariamente. Os educadores físicos e demais profissionais da saúde que trabalham com este público devem estar atentos para as novas descobertas. Além disso, têm a obrigação de participar ativamente do processo de divulgação, propagação e evolução das modalidades esportivas adaptadas.

    A evolução da prática esportiva para deficientes teve um crescimento considerável desde seu surgimento há pouco mais de 60 anos, porém, acredita-se que ainda pode-se contribuir de forma significativa para o futuro e progressão das modalidades adaptadas.

    A legislação contempla a inclusão escolar e social dos deficientes físicos, e, devido a isso, acredita-se que cada vez mais aumentará a participação e abrangência em programas desportivos adaptados. Sendo assim, a parcela maior de contribuição para o desenvolvimento, aprimoramento e evolução dos esportes e exercícios adaptados cabe aos profissionais e professores de educação física.

Referências

  • ADAMS, R; DANIEL, A; McCUBBIN, J. Jogos, Esportes e Exercícios para o Deficiente Físico. 3ª Ed. São Paulo: Manole, 1985.

  • BORGES, F. P. Educação Física Adaptada: o aprendizado, a vivência e a formação do conhecimento: uma construção acadêmica. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 103, 2006. http://www.efdeportes.com/efd103/efa.htm

  • DUARTE, E. LIMA, S.T. Atividade Física para Pessoas com Necessidades Especiais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • GORGATTI, M. G; COSTA, R. F. Atividade Física Adaptada. Barueri: Manole, 2005.

  • ITANI, D. E; ARAÚJO, P. F.; ALMEIDA, J. J. G. Esporte Adaptado Construído a partir das Possibilidades: handebol adaptado. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 72, 2004. http://www.efdeportes.com/efd72/handebol.htm

  • MELO, A. C. R; LÓPEZ, R. F. A. O esporte adaptado. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 51, 2002. http://www.efdeportes.com/efd51/esporte.htm

  • OLIVEIRA, C. B. Adolescência, Inclusão de Deficientes e Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 82, 2005. http://www.efdeportes.com/efd82/inclusao.htm

  • ROSADAS, S. C. Atividade Física Adaptada e Jogos Esportivos para o Deficiente. Eu posso. Vocês duvidam? Rio de Janeiro/São Paulo: Atheneu, 1989.

  • WINNICK, J. P. Educação Física e Esportes Adaptados. Barueri: Manole, 2004.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires, Septiembre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados