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Educação Física no Ensino Médio: uma análise 

comparativa de aulas nos turnos matutino e noturno

Educación Física en la Escuela Media: una análisis comparativo entre las clases de los turnos diurno y nocturno

 

*Graduado em Educação Física – UERN

Especialista em Educação Física Escolar – FIP

Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN ¹

**Graduado em Educação Física – UERN

Especialista em Educação Física Escolar – FIP

Maikon Moises de Oliveira Maia*

maikon_oliveira@hotmail.com

Paulo Rogério de Lima**

p.rogerioedfisica@bol.com.br
(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente existem várias propostas pedagógicas para se trabalhar a Educação Física em toda Educação Básica. Tais propostas podem ser adotadas no ensino médio, inclusive no período noturno. A LDB 9394/96 tornou facultativo o ensino da Educação Física no período noturno. No entanto, em 2003, isto foi alterado pela lei 10.793 que tornou obrigatório a Educação Física no período noturno, porém na prática não mudou muito porque continuou autorizando as dispensas de algumas pessoas que geralmente optam por estudar neste horário. O objetivo desta pesquisa foi detectar possíveis diferenças nas aulas do período matutino se comparado com o noturno, buscando com isso caracterizar o ensino da Educação Física no Ensino Médio da referida escola. A metodologia utilizada foi um estudo de caso, onde considerou-se como população os professores de educação física do ensino médio, sendo que a amostra constitui-se de dois professores, um do turno matutino e um do turno nortuno. Nos resultados obtidos constatou-se que existem algumas diferenças nos conteúdos e objetivos, sendo que a maior delas, é que no período matutino a Educação Física é ofertada em encontros teóricos (discussões) e práticos (vivências), enquanto que no turno noturno só existe a aula teórica.

          Unitermos: Educação Física. Ensino Médio. Ensino.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, um dos grandes desafios na educação é preparar as instituições de ensino para lidar com a clientela de alunos provindos das diferentes classes, sem promover prejuízos de aprendizagem. Agora, o discurso nas instituições formadoras (Faculdades e Universidades) é substituir as práticas tradicionais de ensino por concepções pedagógicas que desperte o censo crítico do aluno, possibilitando a refletir sobre o funcionamento social, político e econômico. Esta estratégia apresenta-se como uma solução relevante, porém está sendo implantada a “passos de tartaruga”.

    Dentro desse contexto, encontra-se a disciplina Educação Física, que ao fazer parte de um todo (universo escolar) também deve ser ofertada a todos de forma satisfatória, contribuindo para o desenvolvimento na totalidade humana (nas dimensões motoras, afetivas, cognitivas e sociais), inclusive preparando para o exercício da cidadania.

    No entanto, o que se observou durante alguns anos foi uma Educação Física seletiva, que visava o aumento da produtividade, no qual se buscava um corpo forte, hábil, que tinha como parâmetro o desenvolvimento da aptidão física (SOARES ET AL, 1992 p.36).

    Para Medina (1982) a Educação Física não deve continuar pregando postulados que foram verdades no passado, mas que no atual momento histórico não passam de estreitas, visões do que seja homem e sua educação. Nesse sentido, a Educação Física precisa está respaldada numa visão mais crítica. Contudo, a LDB nº 9394/96 que organiza o sistema escolar brasileiro ao mencionar a Educação Física rezou o seguinte em seu art. 26 - §3º, “a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar sendo facultativa nos cursos noturnos”.

    Nesse discurso da LDB, a Educação Física é mencionada como componente curricular, no entanto, é facultativo no turno noturno. Apesar dessa lei ter sido reformulada em 2003, pela lei nº 10.793, que tornou obrigatório o ensino da Educação Física no período noturno, na prática não mudou muito, pois continuou autorizando as dispensas de algumas pessoas que geralmente optam por estudar neste horário.

    A partir dessa afirmação, levanta-se a suposição de que uma escola X oferte turmas de Ensino Médio, no turno noturno e no matutino. Nesta situação, como serão desenvolvidas as aulas nestas turmas? As aulas serão diferenciadas? Alguma turma será beneficiada? Qual o posicionamento da escola e do professor? Como os alunos irão reagir? Isso é modelo de uma escola democrática e de uma disciplina relevante?

    Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar o ensino de Educação Física no Ensino Médio da Escola Estadual “Profª Maria Angelina Gomes”, considerando possíveis diferenças de práticas de acordo com o turno em que está disciplina é ministrada. Complementar a isso, procurou-se identificar quais os fatores que contribuem para o estabelecimento dessas diferenças, e ainda detectar o tratamento dado a disciplina Educação Física na referida escola.

    Dessa forma, este trabalho que enfatiza as diferenças nas aulas de Educação Física do Ensino Médio entre os turnos matutino e noturno, pode servir de subsídio para posteriormente, documentos, escolas, professores e alunos tentarem diminuir essas diferenças e proporcionar uma disciplina de melhor qualidade, não beneficiando apenas alunos de algumas turmas, mas que possa contemplar a escola como um todo.

Educação Física no Ensino Médio

O Ensino Médio, as Leis e a Educação Física Escolar

    De acordo com a LDB 9394/96 em seu art. 21, a educação escolar brasileira está organizada em dois grandes níveis: Educação Básica e Educação Superior. A Educação Básica está composta de três etapas de escolarização (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio).

    Cury (2002) apud Sousa (2010, p. 9) se referindo a essas etapas menciona que [...] a educação infantil é a base da educação básica, o ensino fundamental é o seu tronco e o ensino médio é seu acabamento, e é de uma visão do todo como base que se pode ter uma visão conseqüente das partes.

    Fica claro conforme o autor que o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, isto é, encerra toda uma trajetória do aluno nesse nível. Segundo a LDB 9394/96 no art. 35, o Ensino Médio terá como duração mínima de três anos e as seguintes finalidades

  1. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

  2. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

  3. O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

  4. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

    Nesse sentido, o Ensino Médio busca um aprofundamento, uma preparação, um aprimoramento do educando. Para Sousa (2010, p. 14) o ensino médio contextualizado historicamente no Brasil, tem se caracterizado como um nível com identidade pouco definida, oscilando ora para um caráter mais propedêutico – preparando os alunos para o nível superior -, ora profissionalizante.

    Ainda sobre essa etapa de ensino, na visão de Soares at al (1992, p. 35), deve acontecer o aprofundamento da sistematização do conhecimento, sendo que o aluno pode estabelecer uma relação especial com o objeto, permitindo-lhe refletir sobre o mesmo e a partir disso, adquirir algumas condições objetivas para ser produtor de conhecimento científico quando submetido à atividade de pesquisa.

    Após mencionar algumas características do Ensino Médio é mister frisar que o aluno estando regular e com acesso ideal, chegará a esta etapa com 15 anos de idade, e nessa fase, os discentes ainda estão passando pelas transformações e turbulências típicas da adolescência, afetando-os nas dimensões psicológica, física, social e afetiva.

    Em meio a esse contexto, existe a preocupação na definição dos Componentes Curriculares para o aluno do Ensino Médio. Dentre as disciplinas asseguradas para tal ensino está a Educação Física, pois a LDB 9394/96 afirma em seu art. 26, que a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se as faixas etárias e as condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.

    Ainda sobre este componente curricular a LDB continua, mencionando que poderão ser dispensado da prática de Educação Física caso decidam, os alunos com jornada de trabalho igual ou superior a seis horas diárias, os alunos maiores de 30 anos de idade, os alunos que estiverem prestando serviço militar e as alunas que tenham prole.

    Diante do que está mencionado, percebe-se um discurso confuso dos legisladores a respeito do componente curricular de Educação Física, pois ao mesmo tempo que a integra na proposta pedagógica da escola, deixa-a facultativa em alguns casos. Diante disso, pode se questionar, será que a Educação Física não tem contribuições importantíssima para essas pessoas?

    Sobre essas dispensas, Soares et al (1992) se posiciona relatando que: “Por acaso alguma lei dispensa o aluno das aulas de História, Geografia, Língua Portuguesa ou Matemática? Certamente não [...]”.

    Enfatizando ainda essa parte de Legislação, o Conselho Nacional de Educação, tentando esclarecer a facultabilidade da Educação Física nos cursos no período noturno, emite o parecer nº 5/97 que menciona

    Certamente à escola caberá decidir se deseja oferecer Educação Física em cursos que funcionam no horário noturno. E ainda que o faça, ao aluno será facultado optar por não freqüentar tais atividades, se esta for a sua vontade” (BARNI & SCHNEIDER, 2008 p. 4).

    Diante desse contexto, pode-se refletir, questionando se a Educação Física não tem relevância para quem estuda à noite? Seus benefícios dependem do horário? E o aluno tem maturidade suficiente e foi esclarecido para tomar uma decisão tão importante?

    Procurando minimizar esta situação, foi estabelecida a Lei 10.793 em 01/12/2003 que determinou que as aulas de Educação Física passassem a ser facultativa não mais a todas as pessoas que estudassem em período noturno, mas aquelas que independente ao período de estudo, fossem trabalhadores, militares, tivessem mais de 30 anos e mulheres com prole (DARIDO & RANGEL, 2005 p.56). Isso na prática não modificou o tratamento da Educação Física no período noturno.

    Como a proposta de trabalho não é essa, não aprofunda-se essa discussão. O fato é que a Educação Física não só no Ensino Médio, mas em toda a educação básica, precisa se legitimar e conquistar um lugar de respeito junto às demais disciplinas. De acordo com Mattos & Neira (2000, p. 25) apud Barni & Schneider (2008, p. 4)

    [...] para inserir a Educação Física dentro do Currículo escolar e colocá-la no mesmo grau de importância das outras áreas do conhecimento, é através da fundamentação teórica, da vinculação das aulas com os objetivos do trabalho, da não improvisação e principalmente, da elaboração de um plano que atenda às necessidades, interesses e motivações dos alunos.

    Especificamente no Ensino Médio é necessário ter um cuidado especial com a maneira que a Educação Física será ofertada para os alunos, pois para Lima e Lima (2006, p. 1)

    A Educação Física no Ensino Médio convive com procedimentos de dualidade que preocupam diversos profissionais da área. Os alunos, ao chegarem nesse grau de ensino, manifestam uma paixão ou um ódio, quase incontrolável por esta disciplina. De um lado encontram-se aqueles que amam fazer Educação Física, todavia para eles os esportes, e mais especificamente o futebol, são os únicos conteúdos dessa área. De outro lado, estão os alunos que odeiam a disciplina e buscam todos os subterfúgios necessários para não participarem das atividades propostas.

    Tendo por base o que foi mencionado, o aluno chega no Ensino Médio com os conhecimentos prévios escolares que foram adquiridos em sua trajetória na educação infantil e ensino fundamental. A maneira de como a Educação Física foi trabalhada, muitas vezes, dependendo das experiências (positivas ou negativas) foi estabelecida a relação afetiva do aluno com a disciplina.

    Diante disso, o professor tem que considerar tal fator e outros (estrutura física, recursos, realidade do aluno) no momento da elaboração de sua proposta de trabalho de aulas.

    Nesse sentido, várias propostas de trabalho e relatos de experiências têm sido estabelecidas considerando o Ensino Médio e a Educação Física. Betti e Zuliani (2002, p. 76) defende que no Ensino Médio a Educação Física deve apresentar características próprias e inovadoras, que considerem a nova fase cognitiva e afetivo-social atingida pelos adolescentes. Os autores supracitados abordam que é necessário proporcionar ao aluno o usufruto da cultura corporal de movimento, por meio das práticas que ele identifique significativas para si próprio, e por isso os conhecimentos deverão ser adquiridos por meio da vivência de atividades corporais com objetivos vinculados ao lazer, saúde/bem-estar e competição esportiva.

    Para Brasil (1999) a Educação Física no Ensino Médio deve

    garantir um desenvolvimento corporal significativo, fazendo com que os alunos aprendam diferentes conteúdos de forma lúdica e educativa, tornando-se indivíduos capazes de enfrentar e resolver situações na vida. Propondo ainda trabalho com os temas transversais (sexualidade, meio ambiente...).

    Se posicionando sobre a Educação Física no Ensino Médio Nahas (1997) apud Darido, Galvão, Ferreira e Fiorin (1999, p. 140) ressalta que essa disciplina deve educar para um estilo de vida ativo, estabelecendo como objetivo o de ensinar os conceitos básicos da relação de atividade física, aptidão física e saúde, além de proporcionar vivências diversificadas, orientando o aluno na escolha de um estilo de vida ativo.

    De acordo com Correia (1993) apud Darido, Galvão, Ferreira e Fiorin (1999, p. 139) pode-se trabalhar a Educação Física a partir da idéia de um planejamento participativo, atribuindo para esta proposta, as seguintes vantagens: Os níveis de participação e motivação dos alunos nas atividades propostas; a valorização da disciplina pelos alunos; a repercussão da proposta perante outros grupos não engajados e; menor despersonalização dos educandos, face ao caráter participativo da proposta.

    Outra abordagem interessante, em que se pode trabalhar a Educação Física no Ensino Médio é a concebida por Daólio (1986). Segundo a proposta desse autor, as aulas da Educação Física devem oferecer uma oportunidade para uma atividade pessoal, em contrapartida ao trabalho do aluno. Essas aulas devem permitir aos alunos a prática de atividades prazerosas; convivência e relacionamento em grupo; uma aprendizagem globalizante, que a aliem o cognitivo ao afetivo-vivencial e; um relaxamento, com intenção de fazê-lo perceber seu corpo e capacitá-lo a controlar esse corpo (DARIDO, GALVÃO, FERREIRA E FIORIN 1999, p. 139).

    Pode-se trabalhar também no Ensino Médio com a abordagem Crítico Superadora, a qual se utiliza dos elementos da cultura corporal para levantar questões de poder, interesse, esforço e contestação. Nela o aluno é submetido a confrontar seus conhecimentos prévios com conhecimento científico e aumentar o seu acervo de conhecimento. Essa abordagem se apóia no discurso de justiça social, valorizando a questão de contextualização dos fatos e o resgate histórico (SOARES ET AL, 1992).

    Essas foram apenas algumas das várias propostas de trabalho que existe para a Educação Física no Ensino Médio. Conforme o que foi mencionado por cada uma delas, a Educação Física pode contribuir satisfatoriamente para o desenvolvimento dos alunos, independente das condições ou turno em que estão matriculados.

    É importante ressaltar que com a lei 10.793 a maioria das escolas oferece a Educação Física no turno noturno, inclusive no Ensino Médio. No entanto, muitas dessas aulas vêm sendo ministrada de forma insatisfatória. Sobre a qualidade dessas aulas, Lorenz & Tibeau (2003, p.1) nos alerta que

    As aulas de Educação Física não devem atingir extremos: totalmente prática ou somente teorização. A Educação Física é uma área de conhecimento que possui uma especificidade: o movimento humano consciente. É preciso que a prática seja realizada com embasamento teórico, sem perder suas características.

    Assim, já que a escola se propõe a oferecer a Educação Física é necessário ofertá-la de forma satisfatória, que contribua significativamente para a vida dos alunos, independente do mesmo está matriculado nos turnos matutino, vespertino ou noturno. Nessa perspectiva, tendo a escola como espaço democrático e preocupada com a efetiva formação do aluno, não faz sentido ofertar uma disciplina com diferenciação brusca se levar em consideração o turno em que é oferecida.

    No próximo tópico, discute-se a Educação Física no Ensino Médio, fazendo uma análise comparativa das aulas nos turnos matutino e noturno a partir de uma pesquisa com os professores da Escola Estadual Prof. Maria Angelina Gomes da cidade de Riacho de Santana-RN.

Metodologia

    Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso, na Escola Estadual Professora Maria Angelina Gomas do Município de Riacho de Santana/RN, onde considerou-se como a população os professores de educação física do ensino médio, sendo que a amostra foi composta por dois professores, um do turno matutino e um do noturno, (sendo um do sexo masculino e um do sexo feminino). Para a coleta de dados os professores foram submetidos a uma entrevista composta de um roteiro de 11 questões, as quais suas respostas foram coletadas de forma manuscrita, considerando algumas variáveis como: Divisão de aulas teóricas e práticas, procedimentos em que acontecem as aulas, os conteúdos de ensino, os objetivos das aulas, comportamento dos alunos, avaliação, interdisciplinaridade da disciplina e possíveis diferenças entre as aulas. Ressalva-se também, que os professores assinaram o termo de consentimento e livre esclarecimento em concordância com a pesquisa.

Resultados e discussões

    As aulas de Educação Física no Ensino Médio são de grandes contribuições para o aluno, pois pode proporcionar benefícios físicos, cognitivos, afetivos e sociais, que são essenciais para a formação da personalidade do educando. No entanto, na LDB 9394/96 essa disciplina autoriza dispensas para alguns alunos que tem preferência de estudar à noite, o que pode comprometer o processo formativo desses indivíduos.

    Diante do exposto, algumas escolas oferecem o ensino da Educação Física no Ensino Médio tanto no turno matutino ou vespertino quanto no noturno. Porém será se essas aulas são semelhantes? Existem diferenças? Quais são elas? Motivados por estas inquietações, no Município de Riacho de Santana/RN não diferente, onde nos motivou a realizar uma pesquisa com os professores que trabalham a Educação Física no Ensino Médio nos turnos matutino e noturno da Escola Estadual Professora Maria Angelina Gomes.

    Na Escola supracitada foram matriculados 199 alunos no Ensino Médio, sendo que 119 estão estudando no período matutino distribuídos em turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries ( do ensino médio) e 80 no período noturno também distribuídos em turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries ( do ensino médio). Todavia, a escola aderiu à proposta de Ensino Médio inovador, trabalhando com blocos de disciplinas, sendo que para o 1º semestre de 2010 a Educação Física foi ofertada para as turmas de 2ª e 3ª séries matutinas e 1ª série do noturno.

    A escola possui dois professores de Educação Física no Ensino Médio, uma do sexo feminino lotada com aulas no turno matutino e graduanda em Educação Física, e outro do sexo masculino no período noturno. Ambos são docentes a mais de 20 anos e possuem graduação completa em outras áreas, porém participam de fóruns e estudos sobre a Educação Física.

    Para controle da pesquisa estabeleceu-se que para se referir a professora com aulas no turno matutino usaremos a sigla Patm e para o professor com aulas no turno noturno as letras Ptn.

    Feito essa ressalva, questionou-se aos profissionais se em sua escola existe a divisão de aulas teóricas e práticas de Educação Física no Ensino Médio. As respostas de ambos afirmam a existência dessa divisão, contudo, Patm ressalta que uma semana é teoria na sala e outra é prática na quadra, já Ptn enfatiza que só trabalha com aulas teóricas, não oferece práticas.

    Conforme Lorenz e Tibeau (2003) a Educação Física não deve atingir extremos: totalmente prática ou totalmente teorização. Isto implica que deve-se haver uma consolidação de teoria/prática, aulas somente de um modelo repassa uma idéia falsa e fragmentada do que seja essa disciplina.

    Só o discurso de orientação caracterizada pelo repasse de informações para prática, mas sem essa acontecer, é vazio e contraditório, como é que o professor quer que o aluno pratique algo, se a própria escola não oferece condições para tal prática.

    Betti e Zuliani (2002, p. 77) também mencionam a importância de facilitar a vivência de práticas corporais, levando em conta os interesses dos alunos, pois por meio da mesma, os discentes irão compreender o seu sentir e o seu relacionar-se na esfera da cultura corporal de movimento.

    Quando se perguntou como acontecem suas aulas, pedindo para abordar os principais procedimentos, Patm respondeu que na sala expõe, copia e explica o assunto. Quando trabalha com material impresso pede para o aluno ler e explicar seu entendimento. Na prática leva o aluno para quadra e deixa jogar futsal, às vezes tenta variar, porém sua proposta é rejeitada. Já Ptn explicou que sua aula é expositiva, acontece leitura e debates de textos sobre o corpo humano, fazendo exercícios e trabalhos escritos.

    Sobre os modelos de aulas teóricas de ambos, são utilizados métodos diretivos de ensino, Scarpato (2007, p. 34) nos esclarece que é preciso diversificar a metodologia, pois

    Da mesma maneira que o professor seleciona vários conteúdos de ensino para serem desenvolvidos ao longo do ano, precisa escolher diferentes maneiras de ensiná-lo, porque cada aluno é um aluno com sua individualidade, seu ritmo de aprendizagem. Sendo assim, aprende de maneiras diferentes e o professor não pode sempre ensinar do mesmo jeito.

    Na aula prática, Patm não ressaltou se antes preparava o aluno com alongamento, aquecimento nem se no final fazia um relaxamento, ela simplesmente enfatizou que a aula era predominantemente jogar futsal. Esta prática de acordo com Darido e Rangel (2002, p.4) infelizmente é bastante representativa no contexto escolar, ela desconsidera a importância dos procedimentos pedagógicos do professor e talvez tenha surgido das condições de formação e trabalho do docente.

    Ao serem interrogados sobre os conteúdos, Patm retratou que trabalha história da Educação Física, exame biomédico, regras das modalidades, futsal, vôlei, revista do cref, copa do mundo entre outros. Enquanto que Ptn expõe conhecimento do corpo (anatomia/fisiologia), alimentação, saúde, anabolizantes, benefícios da atividade física.

    Percebe-se na resposta de Patm o esporte como principal conteúdo, para Lima e Lima (2006, p. 1)

    Não é função da Educação Física no ensino médio contemplar apenas o esporte como conteúdo, levando muitas vezes os nossos alunos a adotarem atitudes de passividade, de submissão e de falta de criatividade [...]. Além do esporte, a dança, o teatro, o judô, a capoeira, o jogo, o relaxamento, entre outros, são conteúdos da Educação Física no Ensino Médio e precisam ser desenvolvidas de maneira crítica, para que seja possível formar indivíduos conscientes de sua função social e colaboradores na construção de um mundo mais humano e mais igualitário.

    Os conteúdos abordados por Ptn são presentes na vida diária, e muito divulgados pela mídia, um estudo de Lorenz e Tibeau (2003) apontou que os alunos escolheram como assuntos interessantes trabalhados nas aulas de Educação Física os seguintes conteúdos: Atualidades, Primeiros Socorros, Exercício Físico e Atividade Física, Alimentação e Hidratação. Assim, as aulas de Ptn estão em concordância com o estudo, porém é uma pena que esses conteúdos fiquem só no campo das discussões.

    Referente aos objetivos das aulas, Patm enfatizou que a Educação Física é importante para desenvolver tanto a mente quanto o corpo, envolve todo corpo. Para Ptn o objetivo é orientar o aluno para adquirir conhecimento sobre a Educação Física, fazendo-o compreender que a mesma não se restringe só a prática.

    No discurso da Patm ainda predomina o dualismo (mente e corpo) reforçada com a divisão de aulas teóricas e práticas, como se na aula teórica desenvolvesse a mente e a prática desenvolvesse o corpo. A consolidação de teoria e prática é importante, mas não ocorre em tempo e espaço diferentes, tão pouco existe para fragmentar corpo e mente, é preciso aprofundar as discussões sobre corpo. O dualismo “corpo e mente” foi discurso do renascimento, hoje as discussões avançam no sentido de entender o ser humano em sua totalidade.

    No objetivo de Ptn percebe-se a preocupação em romper com a idéia de Educação Física se restringir só a parte prática. É, faz sentido desmistificar o discurso pragmático da Educação Física predominante até os anos 70, só que também não pode chegar ao outro extremo, só se limitar a discussões.

    Com relação ao comportamento dos alunos, Patm exige a participação de todos nas atividades envolvidas, enfatizando que a maioria demonstra interesse, já Ptn retratou que seus discentes são participativos nas discussões.

    O fato da maioria dos alunos participarem das aulas esportivistas de Patm pode ser explicado por Betti e Zuliani (2002, p. 74) quando nos esclarece que hoje, somos todos consumidores potenciais do esporte espetáculo e complementa dizendo que os elementos da cultura corporal tende a ser socialmente partilhada, quer como prática ativa ou simplesmente por informação.

    Sobre a participação nas aulas de Ptn, é explicado porque os conteúdos trabalhados estão relacionados à estética que atraem os adolescentes, presentes na vida diária e por serem lembrados pela mídia (LORENZ E TIBEAU, 2003).

    No tocante a avaliação, Patm relatou que afere 50% da nota na parte teórica e 50% pela participação na parte prática, sendo que na teoria há um revezamento de trabalho e prova, ou seja, se num bimestre for prova, no outro é trabalho. Enquanto que Ptn respondeu que acontece pela participação nas discussões, por meio de trabalhos em grupo e prova escrita individual.

    Apesar de adotarem algumas estratégias diferentes para a avaliação, ambos perpetuam a avaliação de caráter tradicional, a qual desconsidera a especificidade de cada aluno e os avanços individuais, pois estabelece um padrão geral para ser alcançado. Geralmente, acontece no final da aprendizagem e reflete o desempenho do aluno em relação aos outros elementos do grupo, isto é, compara os comportamentos de saídas entre si (SCRIVEN APUD COSTA, 1987, p. 64).

    Indagados a respeito da existência de trabalho interdisciplinar envolvendo a Educação Física em sua escola, os professores foram unânimes em responder que raramente acontece, Patm ressaltou que uma vez preparou um grupo de dança para abertura de um evento da escola, já Ptn falou que fez um trabalho com um vídeo em conjunto com outras disciplinas.

    Assim, ficou notório que o trabalho interdisciplinar envolvendo a Educação Física no Ensino Médio, ainda é uma realidade distante, acontecendo apenas em algumas ocasiões especiais. Se posicionando sobre o assunto Darido e Rangel (2005, p.82) retrata que realmente é difícil envolver a Educação Física na construção de um trabalho interdisciplinar, pois é preciso muito esforço e investir na formação do professor e nas formas de organização do espaço e do tempo, para que a implantação de projetos não seja apenas mais um modismo pedagógico.

    Por fim, questionamos se os professores conseguem perceber diferenças de aulas de Educação Física entre os turnos, Patm respondeu que achava que no matutino os alunos participam mais das aulas, sendo que a facultabilidade no noturno deixava os discentes dispersos. Para Ptn a diferença é que no matutino é outra professora e existe a prática, enquanto que à noite não há.

    Diante do exposto, pelas respostas apresentadas, nota-se que os professores são conhecedores de algumas das diferenças existentes entre as suas aulas.

Considerações finais

    Diversas são as discussões sobre uma escola organizada como um espaço democrático e que permita o acesso ao conhecimento, oportunizando o pleno desenvolvimento de todos, independente das diferenças que permeia a realidade de cada um. Discute-se muito também, Educação Física numa perspectiva inovadora e crítica que consolide discussões e vivências, contribuindo de forma significativa para a vida humana. E quando abrem-se os olhos, percebe-se ainda que existe um longo caminho para ser percorrido.

    Os planejamentos educacional, escolar e de ensino necessitam se articularem melhor para a obtenção de êxitos educacionais. Em especial, na Educação Física que na legislação aparece de forma confusa, ao mesmo tempo em que defende como componente curricular obrigatório torna facultativa aos alunos em algumas condições (trabalhadores, militares, pessoas com mais de 30 anos e mulheres com prole).

    Depois de verificar os resultados constatou-se que numa mesma escola a Educação Física é trabalhada de maneira diferente de acordo com o turno que é ministrada. E estas diferenças de aulas podem ser estabelecidas pelo fato da observância do que está na LDB 9394/96, e também porque nenhum profissional tem graduação na área. Muitas vezes o que acontece na escola é que jogam o componente curricular de Educação Física para completar a carga horária de um determinado professor.

    Foi possível perceber que a diferença mais significativa está na maneira de trabalharem a Educação Física, enquanto no turno matutino as aulas são divididas em encontros teórico e práticos, no noturno é abordado só teorização.

    Outra diferença é na escolha dos conteúdos, no período matutino é trabalhado com conteúdos esportivistas, sendo que a prática geralmente é futsal sem haver aprofundamento de conhecimento em relação ao ensino fundamental. No noturno é abordado assuntos relacionados à saúde e corpo humano através de aulas expositivas.

    Constatou-se ainda nas respostas obtidas, que os objetivos são distintos, no turno matutino a Educação Física deve desenvolver a mente e o corpo por meio de aulas práticas e teóricas, já no noturno deve está inserida no processo de conscientização para o conhecimento do corpo, isto é, repasse de informações corporais. Ficou evidente também que em ambos, foram enfatizados o mesmo tipo de avaliação, e raramente são desenvolvidas atividades interdisciplinares, sendo que seus planejamentos são feitos de forma isolada.

    Portanto, considerando o exposto, constatou-se que existem significativas diferenças nas aulas de Educação Física se compararmos os turnos em que são ofertadas, no turno matutino existe a divisão de teoria e prática embasado basicamente pelo esporte, com o objetivo de desenvolver corpo e mente, sendo que a prática é predominantemente futsal. No turno noturno a aula é teórica com métodos expositivos que enfatizam conhecimentos relacionados ao corpo humano, no intuito de desmistificar a falsa idéia de Educação Física ser só prática, ressalvamos ainda que para melhorar essas aulas, a professora do turno matutino e o professor do noturno podiam começar a planejar suas aulas juntos, enquanto a professora poderia tentar diversificar seus conteúdos com outros elementos da cultura corporal de movimento, o professor poderia pensar em promover algumas vivências simples na forma de jogo e brincadeiras recreativas. Caso isso não ocorra, a Educação Física continuará sendo vista de forma fragmentada e oferecida muito abaixo do que pode contribuir para o processo formativo dos educandos.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires, Septiembre de 2010
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