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Distúrbio alimentar e imagem corporal em atletas

Trastornos de la alimentación e imagen corporal en atletas

 

Mestre em Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina

Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina

(Brasil)

Patrícia Barbosa Martins Trichês

patriciatrichês@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem com objetivo fazer uma revisão de literatura a respeito do tema Imagem Corporal em Atletas, este tema é de grande importância pois vários atletas também sofrem de alterações na sua imagem corporal, o que pode levar a vários distúrbios alimentares. Os profissionais que trabalham na área competitiva e os atletas precisam ficar atentos aos sinais de problemas mais sérios a fim de manter a saúde física e mental.

          Unitermos: Distúrbio alimentar. Imagem corporal. Atletas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Vilardi et al (2001) desde os primeiros Jogos Olímpicos realizados em 776 a.C. na Grécia Antiga, atletas e treinadores buscam uma alimentação especial capaz de aumentar o rendimento físico e melhorar o desempenho. Neste final de século, essa busca ainda persiste, mas com um elevado grau de desinformação, observado tanto em atletas como em treinadores, que assumem praticamente a responsabilidade das dietas dos seus alunos.

    Vilardi et al (2001) relata que a participação de atletas femininas em esportes competitivos cresceu significativamente. Pesquisas demonstram que o ambiente esportivo representa uma subcultura que amplia as pressões sócio-culturais pela magreza e indicam a prevalência de distúrbios alimentares em atletas femininas jovens envolvidas com o esporte, principalmente aqueles que preconizam magreza e o baixo peso corporal, tais como ginástica olímpica e corridas de longa distância.

    McArdle et al (1999) constata que atletas são acometidas por uma síndrome denominada “Tríade das Atletas femininas” que consiste em desordens alimentares, amenorréia e osteoporose.

    Vilardi et al (2001) constata que a Ginástica Olímpica é um esporte caracterizado pela leveza dos movimentos, pela arte do equilíbrio e da flexibilidade, por isso preconiza ginastas que sejam leves e magras. Descreve um estudo realizado por Loosli et al (1986) com 97 ginastas competitivas e observou-se que essas atletas têm um baixo consumo energético frente às demandas necessárias à prática esportiva. E, além disso, suas dietas, em geral, encontram-se desequilibradas em relação aos macronutrientes, o que implica na ingestão precária de vitaminas e mineral.

    Vilardi et al (2001) descrevem que as atletas femininas que praticam exercícios físicos podem ter alterações no equilíbrio endócrino que regula as funções reprodutoras, por fatores genéticos, psicológicos e físicos. O treinamento intenso pode estar associado à presença de irregularidades menstruais, como amenorréia e oligorréia.

    Segundo Mantoanelli (2002), a amenorréia está relacionada a um conjunto de fatores (excesso de treino, estresse fisiológico e psicológico, composição corporal, perda de peso, quantidade insuficiente de gordura corporal, perda de estoques específicos da gordura corporal) que, associados à dieta inadequada, resulta na interrupção dos ciclos menstruais normais.

    Já a osteoporose é uma doença, descrita por Mantoanelli (2002) em que ocorre a perda de intensidade óssea, aumentando assim, a fragilidade e a suscetibilidade a fraturas. Com tudo, especula-se que as atletas consomem cálcio em quantidade inferior à que o National Research Council de 1989 preconizava. O consumo inadequado de nutrientes na infância e na adolescência, pode causar uma osteoporose precoce.

    Contudo, Bosi & Oliveira (2004), descrevem o estudo dos transtornos alimentares em corredores de fundo, utilizando como instrumento de coleta de dados o BITE (Bulimic Investigatory of Edinburg) e com isso, verificaram como vem aumentando a prevalência da bulimia nervosa nos últimos anos, sendo que há uma intensa preocupação, por parte das atletas corredoras de fundo, com o peso e com a dieta, tendo elevados índices (na escala do BITE) de distorção da imagem corporal.

Imagem corporal

    Para Schilder (1994), a imagem corporal é a figura de nosso próprio corpo que formamos em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se nos apresenta.

    Castilho (2001), descreve que Paul Schilder (1950) foi o primeiro a ultrapassar a perspectiva neurológica sobre o conceito da imagem corporal e instituir uma abordagem multidimensional a esse fenômeno, incluído a psicologia e sociologia ao contexto orgânico deste processo.

    A imagem do corpo humano é a figura do nosso próprio corpo que formamos em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo aparece para nós mesmos. Há sensações que nos são dadas. Nós vemos partes da superfície corporal. Temos impressões táteis, térmicas e dolorosas. Há sensações provenientes dos músculos seus envoltórios – sensações vindas da inervação dos músculos - sensações viscerais. Além de tudo isto há a experiência imediata da existência de uma unidade corporal. Esta unidade é percebida e é mais do que uma percepção, nós a denominamos um esquema de nosso corpo ou modelo postural do corpo. O esquema corporal é a imagem tridimensional que todos têm sobre si mesmos e nós podemos chamá-la de imagem corporal (1950, SHILDER apud Castilho, 2001, p.26).

    Segundo Thompson (1996 apud Saikali et al; 2004); Duchesne e Almeida (2002), o conceito de imagem corporal envolve três componentes: o perceptivo, que se relaciona com a precisão da percepção da própria aparência física, sendo que envolve uma estimativa do tamanho corporal e do peso; o subjetivo que envolve aspectos como satisfação com a aparência, com o nível de preocupação e com a ansiedade a ela associada; e por último o comportamental, que focaliza as situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência corporal.

    Segundo Van Kolck (1984) e Ogden (1996), os sentimentos que uma pessoa tem sobre o seu próprio corpo são proporcionais aos sentimentos que nutre sobre ela própria. E segundo Wadden e Foster (1998) a percepção subjetiva que uma pessoa tem sobre seu corpo pode ser mais importante do que a realidade objetiva de sua aparência (ALMEIDA et al; 2002).

    Para McNamara (2002 apud Saikali et al; 2004) as crenças culturais determinam normas sociais na relação com o corpo humano. Práticas de embelezamento, manipulação e mutilação, fazem do corpo um terreno de significados simbólicos. As mudanças artificiais em seu formato do corpo, tamanho e aparência são comuns em todas as sociedades e têm uma importante função social. Elas comunicam a informação sobre a posição social do indivíduo e, muitas vezes, demonstram um sinal de mudança em seu status social.

    De acordo com Saikali et al; (2004), percebe-se que o mundo social, claramente, discrimina os indivíduos não-atraentes, numa série de situações cotidianas importantes. Pessoas julgadas pelos padrões vigentes como atraentes parecem receber mais suporte e encorajamento no desenvolvimento de repertórios cognitivos socialmente seguros e competentes, assim, indivíduos tidos como não-atraentes, estão mais sujeitos a encontrar ambientes sociais não-responsivos e rejeitador e que desencorajam o desenvolvimento de habilidades sociais e de um autoconceito favorável.

    Para Castilho (2001), as mulheres são mais propensas a terem uma imagem corporal negativa do que os homens, a razão central é que as mulheres em geral são mais intensamente estimuladas pela sociedade a avaliar seu valor pessoal como dependente dessa atração física. Estudos demonstram que quanto mais as pessoas investem na sua aparência, mais vulneráveis se tornam a uma imagem corporal negativa.

    Castilho (2001), constata as conseqüências dessa imagem corporal negativa, sendo que esta pode estar relacionada a uma baixa auto-estima sendo que as pessoas acreditam que não possuem qualidades necessárias para serem particularmente masculinas ou femininas; ansiedade interpessoal que pode surgir com sentimentos de autoconsciência e inadequação em algumas interações sociais; a autoconsciência física que pode trazer dificuldades na esfera sexual; descontentamento com a aparência podendo desencadear depressão e por último, pode estar associada com distúrbios alimentares.

    A influência que essas normas sociais exercem sobre a percepção da imagem corporal é relata também por autores como Ogden e Evans (1996) os quais constataram que de acordo com as normas sociais de atratividade, possivelmente estar abaixo do peso parece desejável para as mulheres em geral, além de reforçar o seu auto-conceito positivo (ALMEIDA et al; 2002).

    Oliveira et al; (2003) relata que o modelo de beleza atribuído pela sociedade atual requer um corpo magro sem, contudo considerar os aspectos relacionados à saúde e as diferentes constituições físicas da população. Esse padrão distorcido da beleza acarreta um número cada vez maior de pessoas que se submetem às dietas para controle do peso, ao abuso de exercícios físicos e o uso de laxantes e diuréticos.

    Oliveira et al; (2003) realizaram um estudo com 12 atletas femininas da EEFD da UFRJ e constataram, através da utilização de instrumentos como o teste BSQ (investigador de distúrbios da imagem corporal), a forte presença de distúrbios da imagem corporal em atletas.

    Oliveira et al; (2003), relata que Nunes et al; (2001) através de uma pesquisa realizada em Porto alegre com mulheres de 12 a 19 anos, constataram que a percepção corporal (sentir-se gorda) representou um papel determinante nos comportamentos alimentares anormais desta pesquisa, mesmo entre as participantes que o IMC era normal.

    Para Saikali et al; (2004) embora a insatisfação com o corpo ou a própria distorção da imagem corporal possa estar presente em outros quadros psiquiátricos - transtorno dismórfico corporal, delírios somáticos, transexualismo, depressão, esquizofrenia e obesidade - é nos transtornos alimentares que seu papel sintomatológico e prognóstico é mais relevante e acentuado.

Conclusão

    Pode-se concluir que este tema é muito importante para técnicos, atletas e até para os familiares dos atletas a fim de que possam perceber quando os comportamentos alimentares ficam alterados a ponto de causar doenças alimentares graves para assim fazer o encaminhamento necessário.

    Deve-se contudo, considerar os aspectos relacionados à saúde e as diferentes constituições físicas da população. Esse padrão distorcido da beleza acarreta um número cada vez maior de pessoas que se submetem às dietas para controle do peso, ao abuso de exercícios físicos e o uso de laxantes e diuréticos.

    Pode-se concluir também que as mulheres são mais propensas a terem uma imagem corporal negativa do que os homens, a razão central é que as mulheres em geral são mais intensamente estimuladas pela sociedade a avaliar seu valor pessoal como dependente dessa atração física. Assim, quem desenvolve trabalhos esportivos com esta população deve ficar mais atento para estes tipos de problemas.

Referências bibliográficas

  • ALMEIDA, de G. A. N.; LOUREIRO, S. R.; SANTOS, dos J. E. A imagem Corporal de Mulheres Morbidamente Obesas Avaliada através do Desenho da Figura Humana. Psicologia e Critica, Ribeirão Preto, v. 15 (2), p. 283-292, 2002.

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  • BOSI, M. L. M.; OLIVEIRA, de F. P. Comportamentos bulímicos em atletas adolescentes corredoras de fundo. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 26 (1), 32-34, 2004.

  • CORDÁS, T. A. Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 31 (4), p. 154-157, 2004.

  • CORDÁS, T. A.; CLAUDINO, A. de M. Transtornos alimentares: fundamentos históricos. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 24 (Supl III), 3-6, 2002.

  • GARNER, D. N.; GARFINKEL, P. E. The Eating attitudes test: na index of the symptoms of anorexia nervosa. Psychological Medicine, v. 2, n. 9, p. 273-279, 1979.

  • McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Sports and exercise nutrition. Maryland: Lippincott Willians & Wilkins, 1999. 750p.

  • SAIKALI, C. J.; SOUBHIA, C. S.; SCALFARO, B. M.; CORDÁS, T. A. Imagem Corporal nos transtornos alimentares. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 31, N. 4, 2004.

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