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Contribuições e possibilidades da fenomenologia 

na construção do conhecimento em Educação Física

Contribuciones y posibilidades de la fenomenología en la construcción del conocimiento en Educación Física

 

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Danieli Alves Pereira

Aguinaldo Cesar Surdi

Dr. Elenor Kunz

aguinaldosurdi@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma reflexão sobre a produção do conhecimento na área da educação física. O texto começa enfocando o surgimento do conhecimento e sua importância para a humanidade. Em seguida é traçado um paralelo entre conhecimento e educação física, mostrando as inúmeras possibilidades de produção do conhecimento da área e as conseqüências desta produção. Por final é descrito algumas considerações em favor da fenomenologia, como uma possibilidade de fundamentação das pesquisas em educação física.

          Unitermos: Fenomenologia. Construção do conhecimento. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este ensaio busca fazer algumas considerações sobre a produção do conhecimento humano, refletindo como sua busca foi constante em diversos períodos históricos da humanidade; destacam-se alguns quadros teóricos referenciais que atualmente servem como orientação as investigações científicas. Levando em consideração que essas orientações diferenciam-se em suas perspectivas, desafios, ideais, entre outras, pretende-se realizar um relato sobre a fenomenologia enquanto corrente teórica, identificando algumas contribuições e possibilidades na construção do conhecimento para a Educação Física enquanto área de pesquisa e intervenção. Dessa forma na tentativa de refletir sobre algumas contribuições que a fenomenologia pode trazer aos estudos na Educação Física, apresenta-se uma breve introdução quanto a sua origem e alguns de seus representantes.

Conhecimento: algumas considerações

    Difícil falar em conhecimento e saber sem recorrer à Grécia antiga século V e IV a. C onde na cidade de Atenas já havia preocupação e interesse dos homens na arte e na filosofia (ANDERY et al, 2001). Para a autora – do ponto de vista do conhecimento –

    Sócrates, Platão e Aristóteles marcam essa época no que diz respeito à produção do conhecimento, os filósofos permaneciam envolvidos na busca de formas e ação que levariam o homem a produzir conhecimento. Assim pode-se afirmar que da filosofia grega nascem questionamentos e inquietações que levam a busca do conhecimento do mundo, do homem e da realidade. Nesse sentido estudar as origens e estruturas do conhecimento remete à reflexão feita por Platão sobre o afastamento entre doxa e episteme. Na obra a República Platão compreende doxa como simples opinião e episteme como conhecimento verdadeiro (Franklin, 2004). Essa afirmação perdura por muito tempo, pois constantemente observa-se a comunidade acadêmica e científica discutir e se questionar sobre a diferença entre o conhecimento da experiência cotidiana (senso comum) e aquele produzido a partir de procedimentos científicos sistemáticos (ciência).

    Segundo Japiassu (1986) o papel de estudar a gênese e a estrutura dos conhecimentos científicos é atribuído à epistemologia, pois apesar de ser um termo antigo surge a partir do século XIX, sendo definida etimologicamente como discurso (logos) sobre a ciência (episteme). A epistemologia procura estudar a “produção dos conhecimentos, tanto do ponto de vista lógico, quanto dos pontos de vista lingüístico, sociológico, ideológico, etc” (JAPIASSU, 1986, p. 38). Rauen (2002) define conhecimento como um processo de reflexão crítica, cujo objetivo principal consiste em desvelar um objeto, o sujeito nesse processo é aquele capaz de conhecer, sendo o objeto tudo aquilo que pode ser conhecido. Para Morin (1986) o conhecimento humano é subjetivo e objetivo ao mesmo instante, é o conhecimento de um indivíduo que é ao mesmo tempo produto e produtor de um processo, ao mesmo tempo cultural, espiritual, cerebral e computante.

    Na evolução do processo de conhecimento ocorre uma distinção entre sujeito e objeto, dessa forma, conforme Weil (1993) citado por Rauen (2002), ser e conhecimento fragmentam-se em quatro ramos: arte, religião, filosofia e ciência. Reportando-se ao conhecimento científico dominante, verifica-se que a ciência ganha destaque do final da idade média ao início da idade moderna. O modelo de racionalidade da ciência moderna constituiu-se a partir da revolução científica do século XVI, onde sob o domínio da razão, o homem objetiva conhecer a realidade através de explicações experimentais com precisão (CHAUI, 2006). A ciência se consagrando como a única forma válida de conhecimento, implica em um esforço permanente, unívoco de formular problemas, métodos e resultados, avançando de forma rigorosa no conhecimento (CUPANI, 1985). Sendo a ciência um estudo sistematizado que se desenvolve na relação de um sujeito que pretende conhecer um objeto (GOMES, 2001), podem-se definir quadros teóricos referenciais que se constituem na linha filosófica, religiosa, ideológica, entre outras de um autor ou pesquisador que busca a pretensão de desvelar determinada realidade (RAUEN, 2002). Conforme o autor um quadro teórico consiste em um pano de fundo que permite identificar os vínculos entre a pesquisa e uma linha de pensamento. Dessa forma dentre diversos pressupostos teóricos e metodológicos que orientam as investigações científicas destaca-se os quadros: positivista, estruturalista, sistêmico, dialético e fenomenológico.

    Essas vertentes teóricas se diferenciam significativamente em suas caracterizações, como pode ser observado o positivismo dá ênfase na experimentação em oposição à especulação, incluindo explicabilidade, mensurabilidade, objetividade, validade, etc.; o estruturalismo aceita que por detrás dos fenômenos sempre é possível construir um modelo estrutural, que consiste num conjunto de elementos com leis próprias, a estrutura existe independente de sujeitos; na concepção sistêmica o sistema é superior às partes que o compõem, o todo sistêmico além de ser a soma das partes que o organizam, é também o efeito dessa organização; a dialética é a lógica do conflito, do movimento, da mudança, o mundo é um conjunto de coisas sempre inacabadas, sempre prontas às mudanças, cada fenômeno condiciona e ao mesmo tempo é condicionado por outros fenômenos tanto no mundo da natureza quanto no social, há um elo indissociável entre dialética e história; a fenomenologia baseia-se na crença de que é possível chegar à essência do que se pesquisa, sendo o fenômeno aquilo que aparece à consciência, para análise fenomenológica tem que haver uma “redução fenomenológica”, o pesquisador tem de reduzir três aspectos: o subjetivo, o teórico e o da tradição (RAUEN, 2002). Após observar essas sintetizadas descrições das diferentes abordagens teóricas é importante ressaltar que elas são necessárias para o desenvolvimento qualitativo das investigações científicas. Assim como informa Tomas Kuhn (1987) conhecimento não é desenvolvimento cumulativo, nenhum paradigma epistemológico consegue resolver todos os problemas, o paradigma tem o papel de ser veículo para a teoria científica, os paradigmas não se diferenciam somente por substâncias, mas por métodos, áreas problemáticas e padrões de soluções.

    Refletindo a pluralidade dos quadros teóricos desafios podem ser apontados e mudanças, incertezas, contradições ficam em evidencia, mas o que é necessário compreender para a realidade é que seres humanos possuem diferentes olhares sobre o mundo e a ciência não é conhecimento restrito, mas um saber que é humano e cultural.

    Nesse sentido sem muita pretensão este ensaio visa relatar sobre a fenomenologia como corrente teórica, identificando algumas contribuições e possibilidades na construção do conhecimento para a Educação Física enquanto área de pesquisa e intervenção.

Conhecimento em Educação Física: uma breve consideração

    A produção do conhecimento na Educação Física atualmente vem se desenvolvendo e avançando de maneira significativa, é marcada por diversificadas produções que se diferenciam em aspectos teóricos, metodológicos, políticos e ideológicos. Estudos, reflexões, análises tem marcado discussões sobre questões referentes às bases epistemológicas para a área. Um dos grandes questionamentos que ainda fica para a Educação Física diz respeito a uma definição ou um consenso quanto a sua identidade epistemológica. O campo do conhecimento dessa área configura-se com diversas representações de ciência, já que profissionais que convivem nesse campo possuem formação em escolas e tradições bem diversas (ALBUQUERQUE, 1998).

    Como demonstrados nos estudos de Paiva (2004) e Bracht (1995) ainda hoje é nebuloso argüir sobre a autonomia e a identidade da Educação Física, a produção do conhecimento na área demonstra que a investigação é heterogênea, existe ausência de paradigma. Discussões sobre a crise de identidade epistemológica e a busca de matriz teórica para Educação Física, bem como a constatação de que a área se caracteriza pela aplicação de conhecimentos de outras disciplinas, também são apontados por vários estudos (TANI, 1988; SERGIO, 1996; SOBRAL, 1996 e GAMBOA, 2007). A preocupação da Educação Física com as questões epistemológicas, assim como outras áreas novas do conhecimento como é o caso da Sociologia, pode ser expressa através da busca de uma nova forma de fazer pesquisa, ultrapassando a fase de “ciência aplicada” caracterizada pela apropriação simples de métodos e referências desenvolvidos em outras áreas, aquelas consideradas ciências mães (GAMBOA, 2007). Em seguida destas considerações pode-se constatar ainda segundo Bracht (1995) que nas investigações científicas da Educação Física ainda há predominância da concepção empírico-analítica, somente nos últimos tempos incrementaram-se investigações orientadas na fenomenologia hermenêutica e no materialismo histórico-dialético. Essa afirmação também é relatada por Kunz (2001) que coloca que a maior parte das pesquisas realizadas no âmbito da Educação Física preferem analisar dados mensuráveis, existem poucas pesquisas que enfatizam a percepção / intuição / emoção / sentimentos que estão vinculadas à concepções que fogem das dimensões analíticas e objetivistas.

    Dessa forma na tentativa de refletir sobre algumas contribuições que a fenomenologia pode trazer aos estudos na Educação Física, principalmente se tratando de uma visão do movimento humano que considera o sujeito dessa ação, pretende-se a seguir apresentar a origem e alguns representantes da fenomenologia, bem como dialogar com alguns estudos e autores da área que se utilizam dela para produzir conhecimento nas esferas humanas.

A fenomenologia e algumas possibilidades na Educação Física

    Etimologicamente a fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno e como tudo que aparece é fenômeno, a fenomenologia praticamente é ilimitada (DARTIGUES, 2005). O termo apareceu pela primeira vez no texto de Lambert (1764), que entende por fenomenologia a teoria da ilusão sob diferentes formas, em seguida aparece em Kant “Crítica da Razão Pura”, no primeiro capítulo dessa obra chamado “estética transcendental”, que se chamaria “a fenomenologia em geral” e que posteriormente foi retirado pelo autor (DARTIGUES, 2005). Na seqüência com um dos maiores expoentes, George Hegel, em sua primeira grande obra, Fenomenologia do Espírito (1807), é que o termo fenomenologia entra na tradição filosófica. Mas, no entanto quem deu um conteúdo novo à palavra já antiga foi Husserl no século XX, que inicia o movimento fenomenológico.

    Segundo Kunz (2009) o “movimento fenomenológico” teve sua origem com Edmund Husserl (1859-1938) em “Investigações Lógicas”, seguido de Martin Heidegger (1889-1976) em “Ser e Tempo” e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) em “Fenomenologia da Percepção”. Na obra, “investigações lógicas”, Husserl buscou “resgatar o significado original e puro da filosofia que, desde a filosofia grega, discutia a dicotomia entre opinião (doxa) e verdade (episteme)” (KUNZ, 2009, p. 30).

    Mas, o que é a fenomenologia? Para Merleau-Ponty (1999) pode parecer estranho que meio século depois dos primeiros trabalhos de Husserl ainda se precise colocar esse questionamento, mas como afirma o filósofo, ela está longe de ser resolvida. A fenomenologia pode ter diferentes interpretações, nesse sentido Merleau-Ponty (1999) explicitando sobre as contradições entre a fenomenologia de Husserl e a de Heidegger, fala sobre contradições que apareceram no trabalho do próprio Husserl, afirma ainda que “o leitor apressado muitas vezes perguntar-se-á se uma filosofia que não consegue se definir merece todo o ruído que se anuncia em torno dela, não se trata antes de um mito e de uma moda?” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 02), mesmo se fosse, para o autor restaria conhecermos e compreendermos todo esse prestígio. Para Merleau-Ponty (1999) é em nós mesmos que encontramos a unidade da fenomenologia e seu verdadeiro sentido.

    Para Kunz (2009) uma maneira de conceituar a fenomenologia seria dizer que ela é o “estudo das aparências”. É na aparência então que começa a investigação fenomenológica. A fenomenologia como afirma Merleau-Ponty (1999) é uma filosofia que repõe as essências na existência, pois não podemos compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua “facticidade”. Trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar. Para Merleau-Ponty (1999) Husserl inicialmente definia a fenomenologia como uma “psicologia descritiva” ou ainda um retornar às “coisas mesmas”, e isso conforme o autor é antes de tudo a desaprovação da ciência. Complementando, Merleau-Ponty (1999, p.3) enfatiza que “tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada”. Dessa forma a fenomenologia explora o mundo-vida humano, tenta dar uma descrição direta de nossa experiência como ela é, sem levar em conta sua origem psicológica e explicações causais que o cientista, o historiador, ou o sociólogo podem prover (ARANHA, 1997).

    Lembrando conforme Merleau-Ponty (1999) que todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido e nesse contexto “a ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 03).

    Assim a Fenomenologia se interessa pelo mundo das experiências, que é desenvolvido pelas percepções e se apresenta como um horizonte de possibilidades (KUNZ, 20009), seu interesse não é o mundo que existe, mas sim, o modo como o conhecimento do mundo se dá e se realiza para cada pessoa (SURDI, 2010).

    A fenomenologia se deixa praticar e reconhecer como maneira, como estilo (MERLEAU-PONTY, 1999) ou ainda como método sobre a abordagem da fenomenologia-hermenêutica que surge com a publicação da obra Ser e Tempo de Martin Heidegger, em 1927. Nesse sentido pode-se observar segundo Saraiva-Kunz (2003, p. 227) que

    “a fenomenologia propõe a descrição concreta de conteúdos presentes na situação vivida, permeada pela reflexão e por aquele esforço constante para se obter uma compreensão, cada vez mais elaborada do real. Nesse processo, a fenomenologia torna-se hermenêutica, a ciência da interpretação [...]”.

    Nesse contexto o método fenomenológico segundo GOMES (2001, p.10) demonstra-se “como alternativa concreta no processo de conhecimento, fundada numa visão existencialista do homem, considerado um ser inacabado e de relações com o mundo, dotado de capacidade de interpretação que desvenda o fenômeno apreendendo sua essência”.

    Dentro dessas duas perspectivas de abordagens podemos encontrar importantes trabalhos na Educação Física que nos ajudam a compreender que o movimento humano, objeto de estudo da área, possui significado e é intencional, não se tratando apenas de funções mecânicas.

    Segundo Betti et al (2007, p.50) a Educação Física cientificizada muitas vezes afirma que a “aprendizagem motora, a biomecânica, a fisiologia etc. é que devem prescrever orientações às práticas pedagógicas, como se pudessem, todas elas e cada uma delas, dar conta dos sentidos/intencionalidades possíveis aos sujeitos envolvidos”. Kunz (2009) relata que pelo processo de racionalização presente nas modalidades esportivas que insiste em seguir modelos de cópia e imitação de movimentos estereotipados/padronizados, ocorre a gradativa perda de qualidades humana como a sensibilidade, percepção e intuição e com essas também se perde a criatividade.

    Nesse contexto, contrapondo-se aos conceitos racionalistas que tendem a abordar o movimento apenas de forma mecanizada, como estímulo-resposta, surge com base na perspectiva fenomenológica, principalmente de Merleau-Ponty novas visões para sua interpretação. Com a abordagem fenomenológica não só o movimento, mas, também o corpo humano passa a ser visualizado em outras dimensões, como explicitado por Chaui (2006), diversas respostas foram encontradas para o corpo ao longo dos tempos, determinadas áreas do conhecimento afirmaram ser ele apenas uma máquina receptiva e ativa que pode ser explicada por relações de causa e efeito.

    Para Saraiva-Kunz (2003, p. 83) “A perspectiva fenomenológica, descrevendo os fenómenos como eles aparecem à consciência, permite caracterizar a pessoa como consciência corpórea, libertando o corpo e a consciência das concepções dualistas que sofreram ao longo dos tempos [...]”.

    Assim Kunz (2001) com base nos holandeses Gordijn e Tamboer (1979) apresenta a concepção dialógica do movimento, onde a relação Ser humano-Mundo é compreendida pela Ação/Agir dos sujeitos, define movimento como ação intencional, considera o “se-movimentar” como um diálogo entre ser humano e mundo, que envolve o Sujeito deste acontecimento sempre na sua intencionalidade, sendo que é através desta intencionalidade que se constitui o sentido/significado do “se-movimentar”. Dessa forma com orientação fenomenológica, “a capacidade humana de movimentar-se ganha então uma dimensão existencial, como forma singular e original de relação com o mundo, que pode ser designada na experiência de cada um” (Trebels, 2003, p. 256).

    Compreender a Educação Física como área de produção de conhecimento e também como área de intervenção através da abordagem fenomenológica é reconhecer que essa área faz pesquisa e intervenção nas esferas humanas, portanto se relaciona com sujeitos que não são apenas “corpo” em sentido restrito, mas “corpo-sujeito”, sujeito que é cultural e está em constante relação e transformação no mundo, que possui sentimentos, emoções, percepções, intuições, vontades entre outras que se encontram em universos particulares. “O homem é a sua corporeidade, uma forma única de viver a realidade corporalmente; ele é movimento criativo que possui possibilidades ilimitadas de vivencias [...]” (SURDI, 2010, p. 77). Os gestos humanos possuem sempre significados e atualizam experiências vividas em novas significações, dessa maneira, fica sempre aberta à possibilidade de criação no movimentar-se humano (BETTI et al., 2007).

Considerações finais

    Os processos de produção do conhecimento incluindo o conhecer, o apreender, o desvelar o mundo e a realidade sempre estiveram presentes na humanidade desde a antiguidade. A curiosidade que instiga o ser humano a investigar, obter informações e respostas sobre um determinado fenômeno está ligada as necessidades particulares de cada época. Nesse sentido podemos dizer que os motivos que levaram a busca do saber na Grécia antiga, certamente não são os mesmos de hoje. Todo processo de produção do conhecimento passa por uma reelaborarão, reinterpretação do objeto que se pretende estudar. Dessa forma conclui-se com esse ensaio que apesar da pluralidade de quadros teóricos presentes na orientação da produção do conhecimento, é necessário compreendermos que seres humanos possuem diferentes olhares sobre o mundo, e a ciência não é conhecimento restrito, pois toda ideia de investigação parte da experiência de um sujeito, logo a ciência torna-se um saber que é humano e cultural. Nessa perspectiva podemos considerar que a fenomenologia encontra-se como subsidio fundamental na apreensão dos fenômenos, principalmente se tratando da Educação física, área do conhecimento que tem como objeto de estudo o movimento e lida diretamente com os “sujeitos” no processo de ensino-aprendizagem desses movimentos. Movimentos esses que são humano, cultural e intencional. Dessa forma considerar a fenomenologia como possibilidade para orientação nas investigações científicas em Educação Física é considerar o sujeito da experiência e aquilo que é significativo para ele. Assim, através da abordagem fenomenológica é possível concluir que todo movimento que se realiza, é um fenômeno relacional de “ser humano-mundo”, pois nota-se que é a partir desse corpo em movimento que se estabelece e se constrói toda a relação do ser com o mundo.

Referências

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  • ANDERY, Maria Amélia et al. Para compreender a ciência. São Paulo: EDUSP, 2001.

  • ARANHA, C. S. G. Movimento fenomenológico: aproximação do fenômeno. In: BICUDO, M. AP; ESPÓSITO, V.E. (Org.). Joel Martins... um seminário avançado em fenomenologia. São Paulo: EDUC, 1997.

  • BETTI, M. et al. Por uma didática da possibilidade: implicações da fenomenologia de Merleau-Ponty para a Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Vol. 28, n. 2, p. 39-53, Jan/2007.

  • BRACHT, Valter. As ciências do esporte no Brasil: uma avaliação crítica. In FERREIRA, Amarílio. As ciências do esporte no Brasil. Campinas: Autores Associados, 1995.

  • CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2006.

  • CUPANI, Alberto. A crítica do positivismo e o futuro da filosofia. Florianópolis: EDUFSC, 1985 (pp. 11-27).

  • FRANKLIN, K. Os conceitos de Doxa e Episteme como determinação ética em Platão. Tese de Doutorado em Filosofia - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

  • GAMBOA, S. S. Epistemologia da educação física: as inter-relações necessárias. EDUFAL, 2007. 165p.

  • GOMES, A. A. Considerações sobre a pesquisa científica: em busca de caminhos para a pesquisa científica. INTERTEMAS: Revista da Toledo. Presidente Prudente: Associação Educacional Toledo, v. 5, p. 61- 81. Nov 2001.

  • Japiassú, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro:F. Alves, 1986 (pp. 13-39).

  • KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo:Perspectiva, 1987.

  • KUNZ, Elenor. Esporte: uma abordagem com a fenomenologia. In: STIGGER & LOVISOLO (Orgs.). Esporte de rendimento e esporte na escola. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

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  • RAUEN, Fábio José. Roteiros de investigação científica. Tubarão: Editora da Unisul, 2002.

  • SARAIVA KUNZ, Maria do Carmo. Dança e Gênero na Escola: formas de ser e viver mediadas pela Educação Estética. Dissertação de Doutorado. Universidade Técnica de Lisboa, 2003.

  • SERGIO, Manuel. Epistemologia da motricidade humana. Lisboa: Edições FMH, 1996.

  • SOBRAL, Francisco. Cientismo e credulidade ou a patologia do saber em ciências do desporto. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, no. 17 (2), 1996.

  • SURDI, Aguinaldo Cesar. A educação física e o movimento humano significativo: uma possibilidade fenomenológica. Videira: Êxito, 2010. 130p.

  • TANI, G. Pesquisa e Pós-Graduação em Educação Física. In PASSOS, Solange (org) Educação física e esporte na universidade. Brasília: MEC, 1988.

  • TREBELS, A. H. Uma concepção dialógica e uma teoria do movimento humano. Perspectiva. Florianópolis, v.21, n.01, p. 249-267, jan./jun.2003.

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