Comportamento da freqüência cardíaca, pressão arterial e composição corporal de praticantes de karatê shotokan tradicional Comportamiento de la frecuencia cardiaca, la presión arterial y la composición corporal de practicantes de karate shotokan tradicional |
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Mestranda em Ciências do Movimento Humano – UDESC (Brasil) |
Fernanda Todeschini Viero |
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Resumo Para maior eficiência de um treinamento, é importante detectar a predominância energética, por isso, no treinamento físico do Karatê é necessário desenvolver adequadamente os sistemas envolvidos na proporção exigida por cada um deles. A avaliação fisiológica é fundamental para atletas alcançarem sucesso tanto em seus treinos quanto competições, sendo este parâmetro essencial ao planejamento e periodização do treinamento. A presente Pesquisa teve por finalidade avaliar praticantes de Karatê Tradicional do município Florianópolis - SC. As avaliações seguiram no sentido de verificar a composição corporal e identificar a intensidade e o tipo de trabalho bioenergético da modalidade. A população foi composta por praticantes de um grupo de Karatê Shotokan Tradicional do município Florianópolis – SC. Para realizar a avaliação quantitativa dos resultados obtidos nas coletas de dados, foram utilizados os métodos e processos da estatística descritiva (médias). O tratamento estatístico foi realizado com o software Microsoft Excel 2000. A PA teve variação dentro da normalidade, tanto nos Kata quanto no Kumite. Com relação à FC quando da utilização da fórmula de Karvonen e sua classificação, verificou-se nos Kata Heian Shodan e Tekki Shodan um trabalho de pouco menor de 50% chegando a 70% e quase a 80% da FC máxima respectivamente, e no Kumite um trabalho inicial de 50% a quase 100% da FC máxima, o que se observa a predominância de esforços anaeróbios aláticos. Verificou-se na composição corporal que os indivíduos avaliados encontram-se em média pouco acima dos padrões de normalidade para adiposidade. Unitermos: Karatê shotokan tradicional. Freqüência cardíaca. Pressão arterial. Composição corporal.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Karatê vem sendo praticado como arte de defesa pessoal e como meio de melhorar e manter a saúde, além disso, uma atividade ligada a essa arte marcial que está sendo cultivada com êxito é o karatê como esporte (Nakayama, 1978). O Karatê Tradicional diferencia-se de outras formas de karatê por manter a antiga filosofia das artes marciais japonesas tendo como objetivo não só a defesa pessoal, mas principalmente a formação do ser humano. Em suas competições não há divisão por pesos e a técnica é um pouco diferenciada porque se busca um único golpe perfeito. As modalidades de disputa são o Kata, o Kumite, o Fuku-Go e o Embu. Independente da forma de disputa todas apresentam elevadas exigências técnicas, táticas, físicas e psíquicas. (Pereira et al, 2000).
No karatê o metabolismo anaeróbio é a fonte predominante de energia no Kumite. Entretanto, nenhuma prova experimental está atualmente disponível. Os resultados indicam uma taxa metabólica elevada no Kumite. O perfil acíclico da atividade implica que o metabolismo aeróbico é a fonte predominante de energia e há um suplemento anaeróbio, principalmente por fosfatos de energia elevada. (Beneke et al, 2004). Em suma, embora relativamente de curta duração as lutas de karatê são caracterizadas por intensidade máxima. (Katić et al, 2005). No que se refere aos custos de energia e as fontes de energia no karate estilo Wado, foram estudados executando seqüências do movimento dos Kata com duração crescente de aproximadamente de 10 a aproximadamente 80 segundos. Verificou-se que o poder metabólico para este estilo de karatê é muito elevado por derivar das fontes anaeróbicas aláticas, isto é, suplemento de fosfatos da energia elevada durante o exercício. (Francescato et al, 1995).
O estudo da composição corporal é importante por diversas razões: Como um meio de caracterizar populações ou segmentos específicos de uma população; Como um instrumento para estudar diferenças entre sexo e raça; Como uma forma para descrever a ontogênese, maturação e envelhecimento normal e anormal; Como base para indicações de dietas e parecer nutricional; Como forma de identificar padrões importantes na caracterização metabólica e doenças; Como um instrumento para avaliar a aptidão física; Como um guia para embasar atletas que estão se preparando ou já engajados em competições. (Buskirk 1987 apud Lopes e Neto 1996). Já se verificou que o treinamento do karatê resulta em um aumento relativo de massa muscular e diminuição do tecido adiposo. (Katić et al, 2005). Em outros estudos, tanto em homens quanto em mulheres da seleção brasileira de karatê, verificou-se uma composição corporal adequada para a modalidade, visto que o karatê exige muita potência, principalmente de membros inferiores e altos valores de massa magra são indicadores que favorecem esse tipo de desempenho. (Pereira et al, 2000); e tanto em karatecas adultos quanto crianças, verificou-se que a prática regular do karatê a médio e longo prazo produz adaptações orgânicas saudáveis e desejáveis no controle do peso corporal e promoção da saúde. (Pereira et al, 2001).
Diante do exposto, o objetivo geral foi avaliar o perfil antropométrico e o comportamento da freqüência cardíaca e da pressão arterial de praticantes de karatê Shotokan tradicional do município Florianópolis SC. Os objetivos específicos consistiram em avaliar a composição corporal (IMC, % gordura); avaliar a freqüência cardíaca em repouso; avaliar a Pressão arterial em repouso; avaliar a freqüência cardíaca pré, durante e pós-exercícios; e avaliar a Pressão arterial pré e pós-exercícios.
Materiais e métodos
A população foi composta por praticantes de Karatê Shotokan Tradicional do município Florianópolis - SC. Fizeram parte da amostra sete indivíduos para Kata e cinco indivíduos para Kumite. As amostras foram obtidas de acordo com a disponibilidade e interesse dos indivíduos. A coleta de dados foi realizada na Associação Budokan do município Florianópolis – SC. A data para a realização dos testes foi marcada com antecedência, e as instruções e precauções passadas aos envolvidos para que não houvesse imprevistos.
Para os procedimentos metodológicos, as variáveis antropométricas analisadas foram: estatura em metros, mensurada posicionando o indivíduo de costas contra parede com superfície regular sem existência de rodapés ou piso acarpetado, sendo que na parede foi afixada a trena antropométrica Sanny. Massa corporal, mensurada numa balança digital Plenna com precisão de 0,1 kg. Os indivíduos foram pesados e medidos descalços, utilizando o mínimo de roupa possível. As medidas de peso e estatura permitiram os resultados da % de Gordura Corporal e o Índice de Massa Corporal (IMC) através do medidor de massa corporal HBF – 306 (OMRON). Para a classificação do peso corporal desejável para a boa saúde e a aptidão, com base em dados de adultos jovens fisicamente ativos, seria um conteúdo corporal de 15% nos homens (certamente menos de 20%) e 25% nas mulheres (menos de 30%). (Mcardle, Katch e Katch, 1998. p.541). Para mensuração da PA utilizou-se um esfigmomanômetro BD, com certificado de aferição pelo INMETRO e um estetoscópio Littmann Classic II S.E. da 3M TM. A PA arterial foi mensurada quando do indivíduo em repouso, antes e após exercícios, no caso Kata e Kumite. Para mensuração da FC utilizou-se um medidor de freqüência cardíaca Heartsafe TZ (CARDIOSPORT). A FC foi mensurada quando do indivíduo em repouso e monitorada diretamente durante os exercícios (Kata e Kumite) através do registro da FC. Os intervalos de gravação que determinam a periodicidade dos registros foram selecionados de 5 em 5 segundos. Para a freqüência cardíaca que é um indicador de adaptação fisiológica e de intensidade de esforço, foi utilizada a fórmula de Karvonen. Após os dados foram devidamente classificados. No tratamento estatístico, para realizar a avaliação quantitativa dos resultados obtidos na coleta de dados, foram utilizados os métodos e processos da estatística descritiva. No tratamento estatístico, foram utilizados os métodos e processos da estatística descritiva (médias). O tratamento estatístico foi realizado com o software Microsoft Excel 2000.
Resultados
Foram avaliados indivíduos de graduação verde a preta, do sexo masculino. Conforme os dados, a média de idade ficou em 42 anos, a média de peso inicial em 80,89 Kg e de peso final em 80,36 Kg, a média de estatura em 1,713m, A média de PA inicial ficou em torno de 120/80 mm e a média da FC de repouso em 81,14 BPM. A média de IMC em 27,46 e % de gordura em 22,74%.
Tabela 1. Média dos dados dos indivíduos avaliados
Para a execução dos exercícios, os Kata utilizados foram respectivamente o Heian Shodan e o Tekki Shodan. No Kumite, utilizou-se o Jiyu Ippon Kumite com duração exata de 1 minuto. No Kata Heian Shodan, a média de PA inicial ficou em 120/80 mm Hg e PA Final em 130/80 mm Hg. A FC cuja média em repouso era de 81,14 foi monitorada de 5 em 5 segundos. Notou-se um aumento gradativo da FC a partir dos 10 segundos (119,3 BPM), sendo que nos primeiros 5 segundos estava um pouco mais elevada (121 BPM), chegando aos 35 segundos em 149,6 BPM. No Kata Tekki Shodan, a média de PA inicial ficou em 120/80 mm Hg e PA Final em 130/80 mm Hg. A FC cuja média em repouso era de 81,14 foi monitorada de 5 em 5 segundos. Notou-se um aumento gradativo da FC a partir dos 10 segundos (111 BPM), sendo que nos primeiros 5 segundos estava um pouco mais elevada (109,9 BPM), chegando aos 35 segundos em 153,5 BPM. No Kumite a média de PA inicial ficou em 130/80 mm Hg e PA Final em 150/80 mm Hg. A FC cuja média em repouso era de 81,14 foi monitorada de 5 em 5 segundos. Notou-se um aumento gradativo da FC já a partir dos 5 segundos (124 BPM), atingindo um pico de 175 BPM nos últimos 60 segundos.
Para a freqüência cardíaca que é um indicador de adaptação fisiológica e de intensidade de esforço, foi utilizada a fórmula de Karvonen. Após os dados foram devidamente classificados. Verificou-se nos Kata Heian Shodan e Tekki Shodan um trabalho de pouco menor de 50% chegando a 70% e quase a 80% da FC máxima respectivamente, e no Kumite um trabalho inicial de 50% a quase 100% da FC máxima.
Tabela 2. Média dos dados dos indivíduos avaliados Heian Shodan
Tabela 3. Média dos dados dos indivíduos avaliados Tekki Shodan
Tabela 4. Média dos dados dos indivíduos avaliados Kumite
Tabela 5. Média dos dados da freqüência cardíaca dos indivíduos avaliados utilizando Karvonen e classificação
Discussão
Embora a amostra estudada formasse um grupo do mesmo gênero, existia variação de graduação, peso, estatura e classificação de IMC. Conforme as referidas tabelas, verificou-se através das médias dos dados analisados que nos Kata a PA sistólica aumentou conforme a intensidade do exercício, enquanto que a diastólica permaneceu estável. Com relação à FC quando da utilização da fórmula de Karvonen e sua classificação, verificou-se nos Kata Heian Shodan e Tekki Shodan, que ambos iniciaram com uma FC um pouco menor de 50% chegando a 70% e quase a 80% da FC máxima, respectivamente. Em suma, classificando no início de moderado, tendo pontos aeróbicos, mas chegando ao final ao limiar anaeróbio. No Kumite a PA sistólica aumentou também conforme a intensidade do exercício, enquanto que a diastólica aumentou ligeiramente conforme o grau de esforço requerido pelo exercício. A FC teve um trabalho inicial de 50% a quase 100% da FC máxima, classificando de início moderado, passando rapidamente ao limiar anaeróbio e chegando quase ao esforço máximo. Pelos resultados, independendo de fatores como graduação, gênero, idade, peso, estatura, IMC e % de gordura, verifica-se em conformidade com alguns autores citados, o predomínio do limiar anaeróbio no Karatê, indicando esta modalidade ser classificada de alta intensidade. Relacionado à composição corporal, os indivíduos avaliados encontram-se em média pouco acima dos padrões de normalidade para adiposidade, o que na verdade neste caso não interfere nos resultados discutidos acima. Sugere-se que haja mais cuidado e uma intervenção nutricional.
Conclusão dos resultados
A PA teve variação dentro da normalidade, tanto nos Kata quanto no Kumite, sendo que segundo (Mcardle, Katch e Katch, 1998.p.264), a PA sistólica aumenta linearmente conforme a intensidade do exercício, enquanto que a diastólica permanece estável ou aumenta ligeiramente para os níveis mais altos de exercício, sendo essa resposta semelhante tanto para indivíduos treinados quanto sedentários. Com relação à FC quando da utilização da fórmula de Karvonen e sua classificação, verificou-se nos Kata Heian Shodan e Tekki Shodan um trabalho de pouco menor de 50% chegando a 70% e quase a 80% da FC máxima respectivamente, e no Kumite um trabalho inicial de 50% a quase 100% da FC máxima, no que se observa a predominância de esforços anaeróbios aláticos, conforme já verificado por Francescato et al (1995), Beneke et al (2004) e Katić et al, (2005). Verificou-se na parte de composição corporal que os indivíduos avaliados encontram-se em média pouco acima dos padrões de normalidade para adiposidade, já que segundo (Mcardle, Katch e Katch, 1998.p.578), o padrão limítrofe para homens fica acima de 20% e para mulheres acima de 30%.
Sugestões
Fazer um comparativo entre os Kata que foram avaliados;
Fazer um comparativo entre os Kata que foram avaliados com o Kumite;
Comparar com outro Kata que difira dos utilizados em função do tempo. Por exemplo, com um Kata mais longo como o Kanku Dai;
Aumentar o tamanho da amostra;
Utilizar métodos diretos de avaliações.
Referências bibliográficas
BENEKE R, BEYER T, JACHNER C, ERASMUS J, HUTLER M. Energetics of Karate Kumite. Departamento de ciências biológicas, centro para esportes e ciência do exercício, universidade de Essex, parque de Wivenhoe, CO4 3SQ, Colchester, Inglaterra, Eur J Appl Physiol. 2004 Aug;92(4-5):518-23. Epub 2004 Maio 20.
FRANCESCATO, TALON T, DI Prampero PE Energy cost and energy source in karate. Dipartimento di Scienze e Tecnologie Biomediche, degli Studi di Udine de Universita, Italy. Eur J Appl Physiol Occup Physiol. 1995;71(4):355-61.
Katić R, Blazević S, Krstulović S, Mulić R. Morphological structures of elite Karateka and their impact on technical and fighting efficiency. Faculty of Natural and Mathematical Sciences and Education, University of Split, Split, Croatia. Coll Antropol. 2005 Jun;29(1):79-84.
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MCARDLE, William D., KATCH, Frank I., KATCH, Victor L.. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1998. 695p.
NAKAYAMA, M. O Melhor do Karatê 2. Fundamentos. - São Paulo: Editora Cultrix LTDA., 1978.
PEREIRA, JL, GAERTNER, G, SOUZA, EF, MAGALHÃES, EW e Spinelli, EL. Perfil morfofuncional de atletas da Seleção Brasileira de karatê tradicional, Anais do XXIII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte: atividade física, fitness e esporte, São Paulo, out.2000.
PEREIRA, Julimar Luiz; SOUZA, E. F.; BACK, F. A.; DALMOLIN, G. Q.; PEREIRA NETO, P. A.; NAVARRO, R.; SARRAF, Thiago Augusto; DEZAN, Valério Henrique; GAERTNER, G. Perfil Morfofuncional de Adultos e Crianças Praticantes de Karatê Tradicional. In: XXIV Simpósio Internacional De Ciências Do Esporte, 2001, São Paulo, 2001.
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