efdeportes.com

Caracterização cineantropométrica dos jogadores 

de futsal paranaense das categorias sub 11 e sub 13

Caracterización cineantropométrica de los jugadores de fútbol sala paranaenses de las categorías sub 11 y sub 13

Kinanthropometric characterization of paranaenses indoor soccer players of sub 11 e sub 13 groups

 

*Mestre em Desenvolvimento Motor

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal

**Mestre em Desporto para Crianças e Jovens

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal

***Graduando em Educação Física, Centro Universitário Uniandrade, Brasil

Kelly de Jesus*

Karla de Jesus**

Hélio de Jesus***

karla_de_jesus@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A proposta do nosso estudo foi caracterizar e comparar as características cineantropométricas de duas categorias do futsal paranaense, sub 11 e sub 13, assim como analisar as relações entre a maturação sexual e variáveis somáticas. A amostra é constituída por 33 sujeitos com idades compreendidas entre os 9 e 13 anos distribuídos por 2 grupos (G1 - sub 11 e G2 - sub 13). As medidas somáticas analisadas incluíram a estatura, o peso, os perímetros, os diâmetros e as pregas de adiposidade subcutânea que permitiram estimar dois compartimentos da massa corporal e somatótipo. O desenvolvimento genital foi avaliado através das tabelas descritas por Tanner (1962). Os procedimentos estatísticos incluíram a média aritmética, desvio-padrão, teste-t de medidas independentes e coeficiente de correlação de Pearson. Os resultados indicaram que houveram diferenças entre os grupos avaliados para as componentes cineantropométricas, índice de massa corporal (p ≤ 0.05) e massa isenta de gordura (p ≤ 0.05) e, para a componenente do somatótipo ectomorfia (p ≤ 0.05). A análise correlacional apontou que houve uma ligeira a substancial relação para o grupo G1 entre a maturação sexual (MATS) e o perímetro da cintura (r = 0.48, p = 0.02), MATS e diâmetros bicôndilo humeral (r = 0.45, p ≤ 0.05), MATS e perímetro do braço relaxado (r = 0.43, p ≤ 0.05), já o grupo G2 apresentou uma ligeira a substancial associação entre MATS e estatura (r = 0.53, p ≤ 0.05). Com base nesses resultados, pôde-se concluir que as diferenças e as relações encontradas tanto para as variáveis cineantropométricas quanto para a variável do somatótipo, se devem mais à modificação biológica da criança do que as alterações que a prática do treinamento sistemático dentro da referida modalidade possa acarretar.

          Unitermos: Futsal. Características somáticas. Maturação sexual.

 

Abstract

          The purpose of our study was to characterize and compare the kinanthropometric characteristics of two categories of indoor soccer at Parana state, sub 11 and sub 13 as well as analyzing the relationship between sexual maturation and somatic variables. The sample consists of 33 subjects aged between 9 and 13 years divided into 2 groups (G1 - G2 and under 11 - under 13). Somatic measures analyzed included height, weight, girths, breadths and the skinfolds that allowed to estimate two compartments of body mass and somatotype. The genital development was assessed by the scales described by Tanner (1962). The statistical procedures included the arithmetic mean, standard deviation, t-test for independent measures and Pearson correlation coefficient. The results indicated that there were differences between groups for kinanthropometric components, body mass index (p ≤ 0.05) and fat free mass (p ≤ 0.05), and for the ectomorphy somatotype component (p ≤ 0.05). A correlational analysis showed that there was a slight to substantial relation to the G1 between sexual maturation (MATS) and waist girth (r = 0.48, p = 0.02), and MATS bicondylar humeral diameter (r = 0.45, p ≤ 0.05), MATS and relaxed arm girth (r = 0.43, p ≤ 0.05), while G2 group had a slight significant association between MATS and height (r = 0.53, p ≤ 0.05). Based on these results, it was concluded that the differences and relationships found for both variables kinanthropometric as for variable somatotype, are more due to the modification of the biological child of the changes that the practice of systematic training within the relevant modality may result.

          Keywords: Indoor soccer. Somatic characteristics. Sexual maturation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A participação em modalidades desportivas, na infância e juventude, tem sido associada a proporções corporais e composição corporal específicas aos seus praticantes. Para Fernandes et al. (2002) a forma e as funções corporais parecem estar intimamente relacionadas entre si, desempenhando um papel importante na conquista de um desempenho desportivo de alto nível. Davis e Brewer (1992) já referiam a cineantropometria como uma importante área de conhecimento aplicada ao desporto, pois oferece métodos para quantificação do tamanho, da forma, das proporções, da maturação biológica e da função motora. As pesquisas apontam os fatores cineantropométricos como variáveis importantes no processo de formação, principalmente nas primeiras etapas do treinamento a longo prazo (PAES et al., 2008). Nessa etapa ocorre o início da especialização para determinada modalidade, e variáveis cineantropométricas associadas às de aptidão podem definir a seleção de um jovem atleta (CARTER et al., 2005; LIDOR et al., 2005).

    Para Venkataramana et al. (2004) o conhecimento a respeito da composição corporal de atletas ainda é escasso e tem como pressuposto definir uma condição morfológica “ótima” específica de cada desporto, apresentando a possibilidade de se determinar as características físicas de atletas que se destacam já nas fases iniciais de desenvolvimento. Corroborando com a idéia Kanehisa et al. (2006) complementam que as informações sobre as proporções corporais e perfil antropométrico em crianças e atletas adolescentes são exíguas, sendo ainda desconhecido como estas variáveis diferem entre as categorias em atletas mais jovens. Para, além disso, Malina et al. (2007) salientam que tamanho do corpo e estágio maturacional não são geralmente controlados em comparações de testes funcionais em diversas modalidades desportivas.

    O futsal é um esporte de grande popularidade no Brasil. A adesão das crianças à modalidade pode estar associada ao fato de a mesma se assemelhar ao futebol, o esporte mais praticado no país (DAOLIO, 2003). Para o futsal é notória a existência de uma cultura de visão imediatista, que atribui grande importância às vitórias desde idades iniciais. Isto faz com que sejam consideradas talentosas as crianças que se destacam no momento, tornando o processo de formação do atleta altamente dependente do desempenho quando criança, sem considerar o fato de que o futsal é uma modalidade desportiva em que a condição física, em algumas situações, influencia diretamente o desempenho. Agravando este problema, como as categorias competitivas são organizadas com intervalos de dois anos na faixa etária, é possível que, dentro de uma mesma categoria, as crianças mais velhas sejam privilegiadas (RÉ et al., 2003).

    No que concerne à criança e ao jovem jogador de Futsal importa salientar que as pesquisas são escassas. Adicionalmente Ré et al. (2003) mencionam que é verificada uma incongruência nos estudos que trazem dados de jogadores adultos e a carência de estudos em relação a crianças e adolescentes participantes de processos de treinamento a longo prazo no futsal. Tal fato não parece ser muito compreensível dado que o jovem atleta se encontra numa das primeiras etapas da sua preparação e formação que visam o alto rendimento desportivo. Neste sentido, torna-se imperioso conhecer e sistematizar a maior quantidade e diversidade de informação acerca dos jovens que são submetidos, desde muito cedo, a atividades físicas organizadas, altamente especializadas e sistemáticas. Portanto a nossa proposta de estudo é caracterizar os grupos sub 11 e 13 do futsal paranaense quanto as variáveis cineantropométricas e comparar as possíveis diferenças existentes entre os referidos grupos. Para, além disso, estabelecer as relações entre o estágio maturacional atual e as demais variáveis cineantropométricas para os grupos sub 11 e sub 13.

Procedimentos metodológicos

Participantes

    Foram analisados dados cineantropométricos de atletas do sexo masculino em treinamento sistematizado há pelo menos dois anos. Considera-se neste trabalho que uma criança se inicia de forma sistemática no futsal quando é orientada por um professor fora do horário escolar regular, freqüenta treinos semanais e participa de competições. A amostra integra 33 sujeitos (19 pertencentes à categoria sub 11 – entre os 11 e 12 anos e; 14 à categoria sub 13 – entre 12 e 13 anos) participantes da equipe de futsal da Associação Atlética do Banco do Brasil de Curitiba. A média e desvio-padrão (dp) da idade, massa corporal, estatura e anos de treinamento são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Média ± dp para a idade, massa corporal, estatura e anos de treinamento

Categoria

Idade

(anos)

Massa corporal

(kg)

Estatura

(cm)

Anos de treinamento

Sub 11

10.37 ± 0.76

35.74 ± 6.91

140.0 ± 8.91

4.3 ± 1.7

Sub 13

12.43 ± 0.51

47.0 ± 11.01

151.96 ± 6.21

6.5 ± 1.2

Procedimentos

    Os pesquisadores explanaram aos sujeitos, pais e treinadores sobre os objetivos, a metodologia, riscos e benefícios da pesquisa, entregando a eles o termo de consentimento esclarecido, no qual estava escrito o procedimento realizado neste estudo. Em seguida os sujeitos responderam uma anamnese.

Estrutura somática

    O protocolo utilizado para registro das mensurações cineantropométricas foi o proposto pelo International Working Group on Kinanthropometry, descrito por Ross e Marfell-Jones (1991). As variáveis acessadas no domínio cineantropométrico foram nomedamente o peso, a altura, a envergadura, as pregas de adiposidade subcutânea tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, supraespinhal, abdominal, crural e geminal, os perímetros do braço relaxado, braço tenso, antebraço, cintura, tórax, pescoço, crural, geminal, os diâmetros bicôndilo – humeral, biestiloidal, bicôndilo – femoral, bimaleolar, biacromial, bicristal. A composição corporal incluiu o cálculo da massa gorda e da massa isenta de gordura de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985). O somatótipo foi determinado de acordo com o método de Heath e Carter (1966; 1967). As componentes de endomorfismo, ectomorfismo e mesomorfismo foram obtidas pelas equações propostas por Ross e Marfell-Jones (1991).

Estágio maturacional

    Para determinar o estágio de maturação sexual, foi utilizado o método proposto por Tanner (1962) para avaliação do desenvolvimento genital. Este método é composto por 5 estágios, onde o estágio 1 é considerado pré-púbere, os estágios 2, 3 e 4 considerados púberes e o estágio 5 pós-púbere. Os indivíduos, em sala reservada, identificavam seu respectivo estágio através da visualização das figuras apresentadas. A auto-avaliação do desenvolvimento dos caracteres secundários do desenvolvimento genital apresenta relação satisfatória com a avaliação médica (MARTIN et al., 2001; BOJIKIAN et al., 2002).

    Na tabela 2 está referenciada a distribuição dos sujeitos dos dois grupos por nível de maturação sexual secundária.

Tabela 2. Distribuição dos elementos da amostra pelos diferentes estágios de maturação, de acordo como a categoria

Categoria

Estágio maturacional

1

2

3

4

5

Sub 11

4

10

5

-

-

Sub 13

1

6

6

1

-

Análise estatística

    Para a análise estatística dos dados foi utilizado o programa de estatística Statistical Package for the Social Sciences for Windows (SPSS) versão standard 17.0 e o programa Microsoft Excel 2002 for Windows versão SP-2. Na análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva, calculando os parâmetros de tendência central (média) e dispersão (desvio padrão - dp), assim como foram verificados os pressupostos de normalidade das amostras a comparar (teste de Shapiro - Wilk). Posteriormente realizou-se a análise inferencial, tendo em vista a comparação das duas categorias nas variáveis analisadas, sendo utilizada a técnica paramétrica t-teste de Student para medidas independentes. O coeficiente de correlação de Pearson foi também utilizado. O nível de significância adotado foi de 95% (p ≤ 0.05).

Resultados

    A tabela 3 apresenta os valores de média e dp das 33 variáveis cineantropométricas analisadas nas categorias sub 11 e sub 13. Adicionalmente os valores de correlação obtidos entre a MATS e as 32 variáveis são também apresentados. Pode ser notado que, sem o removimento do efeito da maturação, os resultados revelaram diferenças entre os grupos para as variáveis de MIG, IMC e ECTO (p ≤ 0.05). Os dois grupos analisados apresentaram poucas variáveis que mostraram correlação ligeira a substancial com MATS. Os maiores coeficientes de correlação foram obtidos para o grupo sub 11 entre CINT e MATS (r = 0.48, p = 0.02), DBU e MATS (r = 0.45, p ≤ 0.05), e BRE e MATS (r = 0.43, p ≤ 0.05). Para o grupo sub 13 o maior coeficiente de correlação foi encontrado entre EST e MATS (r = 0.53, p ≤ 0.05).

Tabela 3. Média ± dp para peso corporal (PC), massa gorda (MG), massa isenta de gordura (MIG), estatura (EST), envergadura (ENV), percentual de gordura corporal (%GC), índice de massa corporal (IMC), perímetros de braço relaxado (BRE), braço tenso (BTE), crural (CR), geminal (GM), antebraço (ANTB), cintura (CINT), tórax (TRON), pescoço (PESC); percentual de gordura tricipital (TRI), bicipital (BIC), subescapular (SUBE), supraíliaca (SUPRAI), supraespinhal (SUPRAE), abdominal (ABD), crural (CRU), geminal (GEM), somatótipos de endomorfia (ENDO), ectomorfia (ECTO) e mesomorfia (MESO), diâmetros bicôndilo humeral (DBU), biestiloidal (DBEST), bicôndilo femoral (DBF), bimaleolar (DBM), biacromial (DBA), bicristal (DBC), maturação sexual (MATS) das categorias sub 11 e sub 13. Valores da correlação entre MATS e os parâmetros cineantropométricos também são apresentados. 

 

Sub 11

Sub 13

X ± SD

r (p)

X ± SD

r (p)

PC (kg)

35.74 ± 6.91

0.26 (0.27)

47.0 ± 11.01

0.03 (0.90)

MG (kg)

4.88 ± 4.32

0.08 (0.71)

7.40 ± 6.43

-0.24 (0.41)

MIG (kg) *

31.12 ± 5.71

0.25 (0.30)

39.60 ± 9.42

0.21 (0.48)

EST (cm)

140.0 ± 8.41

-0.29 (0.21)

151.0 ± 6.21

0.53 (0.05)

ENV (cm)

140.90 ± 8.94

0.04 (0.87)

152.07 ± 6.10

0.39 (0.18)

%GC

12.79 ± 9.92

0.04 (0.86)

17.25 ± 12.51

0.13 (0.64)

IMC (kg/cm²) *

17.78 ± 1.93

-0.19 (0.42)

19.92 ± 4.36

0.40 (0.14)

Perímetros

 

 

 

 

BRE (cm)

21.26 ± 2.61

0.43 (0.05)

23.34 ± 3.45

0.24 (0.40)

BTE (cm)

22.54 ± 2.60

0.42 (0.07)

24.65 ± 3.41

0.17 (0.54)

CR (cm)

43.53 ± 5.13

0.38 (0.10)

48.48 ± 7.39

0.21 (0.46)

GM (cm)

29.16 ± 2.49

0.32 (0.17)

31.27 (3.78)

0.04 (0.88)

ANTB (cm)

19.73 ± 1.87

012 (0.60)

21.75 ± 1.78

0.30 (0.34)

CINT (cm)

60.07 ± 5.18

0.48 (0.02)

67.54 ± 8.51

-0.04 (0.88)

TRON (cm)

67.53 ± 5.46

0.36 (0.13)

75.35 ± 7.67

-0.11 (0.69)

PESC (cm)

28.87 ± 2.21

-0.07 (0.78)

29.15 ± 2.32

0.47 (0.08)

Percentual de Gordura

 

 

 

 

TRI (mm)

12.37 ± 5.78

0.03 (0.88)

14.81 ± 7.68

0.24 (0.39)

BIC (mm)

6.98 ± 4.56

0.07 (0.75)

8.62 ± 5.23

0.13 (0.65)

SUBE (mm)

7.70 ± 4.30

0.03 (0.87)

9.16 ± 6.51

-0.04 (0.98)

SUPRAI (mm)

14.97 ± 11.97

0.07 (0.75)

17.45 ± 13.48

0.09 (0.74)

SUPRAE (mm)

9.38 ± 7.46

0.05 (0.82)

11.81 ± 11.27

0.18 (0.57)

ABD (mm)

14.52 ± 9.62

0.05 (0.81)

15.35 ± 10.42

0.17 (0.55)

CRU (mm)

21.61 ± 9.21

-0.03 (0.88)

28.27 ± 11.36

0.31 (0.27)

GEM (mm)

13.31 ± 6.40

0.01 (0.95)

18.61 ± 9.05

0.23 (0.43)

Somatótipo

 

 

 

 

ENDO (mm)

5.38 ± 2.68

0 (0.97)

6.18 ± 3.54

0.11 (0.69)

ECTO (mm) *

2.73 ± 1.02

-0.30 (0.20)

2.83 ± 1.87

0.26 (0.37)

MESO (mm)

6.51 ± 2.05

0.23 (0.34)

7.42 ± 2.46

-0.08 (0.76)

Diâmetros

 

 

 

 

DBU (cm)

2.25 ± 0.17

0.45 (0.05)

2.20 ± 0.19

0.07 (0.79)

DBEST (cm)

5.24 ± 1.06

0.45 (0.05)

6.10 ± 1.22

0.13 (0.65)

DBF (cm)

8.98 ± 1.29

0.33 (0.16)

10.02 ± 1.13

0.03 (0.90)

DBM (cm)

6.98 ± 0.97

0.44 (0.05)

7.8 ± 1.06

-0.05 (0.86)

DBA (cm)

31.27 ± 2.05

0.37 (0.11)

32.76 (1.59)

0.14 (0.62)

DBC (cm)

21.82 ± 1.75

0.09 (0.70)

23.47 ± 2.27

-0.07 (0.79)

Maturação

 

 

 

 

MATS

2.05 ± 0.70

-

2.05 ± 0.76

-

* Diferenças significativas (p ≤ 0.05)

Discussão

    Com base nos resultados da estatística inferencial comparativa, nota-se que o processo em direção a maturidade pode ter influenciado positivamente os achados para ambos os grupos. Quando foram analisados os parâmetros cineantropométricos de acordo com cada grupo, verificou-se que a maioria das variáveis apresenta tendência de superioridade para o grupo sub 13. Esta superioridade esta de acordo com a literatura, que indica um aumento significativo destes parâmetros nesta fase de crescimento da criança, independente do nível de treinamento do indivíduo (MALINA et al., 2004; SILVA et al., 2006; MORTATTI e ARRUDA, 2007). Gaya et al. (1997) em estudo com atletas da seleção parananense de futsal que disputaram os Jogos da Juventude Brasileiros também observaram maiores valores para variáveis cinentropométricas de jovens entre 13 e 14 anos quando comparados com jovens entre 10 e 12 anos. No presente estudo, notou-se que os sujeitos do grupo sub 13 têm um incremento significativo nas variáveis IMC e MIG, o que pode estar diretamente relacionado à evolução do grau maturacional, que possivelmente está ligado ao aumento da massa muscular que também segue o desenvolvimento da maturação (MALINA, 1996; SILVA et al., 2006). Complementarmente, os nossos resultados corroboram com os da investigação de Seabra et al. (2001), que verificaram valores mais elevados para as referidas variáveis em jogadores de futebol. Segundo os autores, esse aumento do IMC e da MIG, está diretamente relacionado às modificações hormonais, bem como ao rápido crescimento somático, acarretando mudanças significativas na composição corporal, principalmente a partir da puberdade, que são vistas nos componentes corporais nomeadamente o total de gordura corpórea, massa isenta de gordura, e conteúdo mineral ósseo.

    No que se refere aos resultados das componentes do somatótipo, os valores desta pesquisa sugerem ser superiores aos encontrados por Seabra et al. (2001), que estudaram crianças e adolescentes praticantes de futebol, entre 11 e 16 anos de idade, sendo constatados valores médios para os indivíduos com média de idade de 13 anos de (1.95, 4.15, 3.30) para os componentes de endomorfia, mesomorfia e ectomorfia, respectivamente. Embora, o estudo citado não tenha levado em consideração o estágio maturacional dos indivíduos, mostrou que, com exceção da componente endomorfia, em que houve diferença significativa entre os grupos, as outras componentes tiveram uma variação bastante próxima dos valores encontrados na presente pesquisa. É interessante notar os resultados do nosso estudo para a componente ectomorfia que entraram em contraposição com os da pesquisa de Seabra et al. (2001) e Mortatti e Arruda (2007). Foi constatado na presente investigação que o grupo sub 11 apresentou menor valor para a componente ectomorfia. Malina e Bouchard (1991) numa adaptação dos resultados encontrados por Zuk (1958) observaram que não houve diferenças claras nos somatótipos médios dos rapazes avançados e atrasados na sua maturação aos 12 anos, embora os de maturação avançada foram mais mesomorfos. Os mesmos autores constataram que aos 13 anos os de maturação atrasada foram mais ectomorfos e, os dois grupos não diferiram em endomorfia.

    Os resultados esperados para a analise correlacional entre as variáveis cineantropométricas e MATS foram de encontro aos achados pela literatura. Clarke (1971) verificou valores correlacionais de ligeira a substancial quando associou a maturação a outras variáveis cineantropométricas. Segundo o mesmo autor, as correlações entre maturação e estatura, maturação e perímetros corporais foram consistentemente positivas. Os nossos resultados sugerem que os menores valores encontrados para a componente ectomorfia no grupo sub 11 parecem estar associados a um físico linear ou ectomorfo extremo. Os valores de mesomorfia que tendem a serem maiores para o grupo sub 13 parecem estar aliados ao avanço maturacional destes jogadores.

    Num sentido diverso das pesquisas anteriormente referenciadas e, ao contrário do que demonstrou o nosso estudo, Carter (1988) sugere que o treinamento sistemático ou a participação em desportos tendem a aumentar a componente de mesomorfia e diminuir a componente de ectomorfia, que nesse estudo teve um comportamento bastante similar entre os grupos, embora como visto anteriormente e neste contexto, Malina et al. (2004) cita que possíveis alterações morfológicas adquiridas com o treinamento são transitórias, durando somente enquanto durar o processo de treinamento.

Conclusão

    O presente estudo indicou que os jovens atletas apresentaram poucas alterações morfológicas, independentemente do nível de treinamento, mostrando características muito parecidas nas componentes cineantropométricas e no somatótipo, revelando que variáveis como, por exemplo, a composição corporal que nesta fase de desenvolvimento está mais associada diretamente aos aspectos biológicos do desenvolvimento do que com os fatores externos, neste caso o treinamento da modalidade de futsal. Complementarmente, constatamos também, que os jovens do presente estudo, devido a exigência da modalidade mostraram que a modificação no somatótipo, neste caso na componente ectomorfia, parece ser devida mais à modificação biológica da criança do que as alterações que a prática do treinamento sistemático dentro da referida modalidade possa acarretar.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires, Septiembre de 2010
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