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Os benefícios da capoeira em portadores 

da Síndrome de Down sob o olhar dos pais

The benefits of capoeira in carriers of Down Syndrome in the look of parents

Los beneficios de la capoeira en portadores de Sindrome de Dow desde la perspectiva de los padres

 

*Acadêmica do Curso de Educação Física

Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia (ESEFFEGO)

**Doutora em Ciências Biológicas pela

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Professora Adjunta da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Ecilma Nunes da Silva Monteiro*

Lílian Fernanda Pacheco**

lilianx@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Síndrome de Down (SD) também conhecida como trissomia do cromossomo 21, é definida como um acidente genético que acontece no momento da concepção e que possui várias características específicas, tanto físicas quanto psíquicas. O objetivo deste estudo foi conhecer os benefícios que o exercício físico traz para indivíduos portadores dessa síndrome. A capoeira foi escolhida como o exercício físico devido às suas características lúdicas, além da presença da dança e da música que são fundamentais para um bom desenvolvimento. Foi realizada uma pesquisa de campo, onde os pais responderam a um questionário contendo 14 questões que versavam sobre as características sociais e físicas de seus filhos. Todos os participantes freqüentavam a Associação de Portadores da Síndrome de Down do estado de Goiás (ASDOWN), na cidade de Goiânia. Os resultados obtidos revelaram que a prática da capoeira melhora a realização de tarefas do dia-a-dia, o comportamento e o rendimento escolar além de aumentar a socialização, o que sem dúvida irá aumentar também a autonomia e a auto-estima dos portadores da SD.

          Unitermos: Capoeira. Exercício físico. Síndrome de Down.

 

Abstract

          Down syndrome (DS), also known as trisomy 21, is defined as a genetic accident that happens at conception and that has several specific characteristics, physical and psychic. The aim of this study was to know the benefits that exercise brings to individuals with this syndrome. Capoeira was chosen as exercise because of its entertaining features, besides the presence of dance and music that are essential for good development. We performed a field survey, where parents answered a questionnaire containing 14 questions that focused on social and physical characteristics of their children. The research was conducted at the Association of People with Down Syndrome in the state of Goiás (ASDOWN) in the city of Goiânia/Brazil. The results show that the practice of Capoeira improves the performance of tasks of day-to-day, behavior and school performance and increases socialization, which will undoubtedly increase as well autonomy and self-esteem of patients with the syndrome.

          Keywords: Capoeira. Exercise. Down Syndrome.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os portadores da Síndrome de Down (SD) possuem muitas alterações clínicas específicas. Dentre elas podem ser citadas a alteração cardiovascular responsável pela mortalidade precoce nesses indivíduos, além de anormalidades no sono, como a apnéia do sono e a síndrome do sono inquieto (SCHWATZMAN et al, 2003). Outro fator de grande relevância em portadores da SD é a hipotonia muscular, caracterizada pela flacidez dos músculos dificultando o desenvolvimento motor (PUESCHEL, 1993). A hipotonia decorrente da SD interfere em todos os músculos do corpo e portanto, também nos músculos da língua atrapalhando a linguagem e a deglutição e nos músculos da face. Quando há aumento do tônus muscular nesses indivíduos, há melhora na fala, na deglutição e no aspecto físico como um todo (SILVA et al., 2002).

    Com a idade os problemas relacionados ao tônus muscular tendem a diminuir, principalmente quando os portadores de SD realizam exercícios físicos adequados e com acompanhamento especializado (STRAY-GUNDERSEN, 2007). Nesse sentido, crianças com SD necessitam de estímulos das funções motoras como a experimentação livre do corpo no espaço através de rolamentos, movimentos dos braços e pernas e, sentir as posições do corpo é importante, pois ajuda as crianças a terem consciência corporal (LEFÈVRE, 1985). Desse modo, torna-se imprescindível o incentivo à prática de exercícios físicos em portadores da SD (STRAY-GUNDERSEN, 2007) promovendo aquisição de novas e melhores habilidades motoras (DUARTE e LIMA, 2003).

    Segundo Barbieri (2010), a capoeira é um processo dinâmico, coreográfico, que utiliza movimentos rituais e ritmados demonstrando habilidade, força e autoconfiança. A dança presente na capoeira prioriza a educação motora consciente e global e, quando praticada por crianças que possuem SD pode gerar grande desenvolvimento em relação aos aspectos físicos, intelectuais, sociais e emocionais (DÈA E DUARTE, 2009).

    É inegável o papel da atividade física no desenvolvimento da criança com SD, mas é importante ressaltar que todos os movimentos devem ser adaptados e deve-se estar sempre atento na execução de cada um deles, pois as características específicas da SD causam algumas limitações (GORLA, 2001). Assim, o profissional de Educação Física deve supervisionar todo o período de execução dos exercícios propostos para que não haja complicações futuras e que os benefícios advindos pela prática do exercício físico possam ser efetivamente percebidos.

Materiais e métodos

Participantes

    O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo de caráter quantitativo e teve a participação de sete crianças/adolescentes com idade entre 10 e 18 anos, de ambos os sexos e portadoras de Síndrome de Down. Todos os participantes são freqüentadores da ASDOWN (Associação Down de Goiás – Goiânia) na cidade Goiânia e praticam semanalmente a capoeira como exercício físico regular.

Procedimentos

    Os pais das crianças com SD após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) responderam a um questionário que continha 14 questões subjetivas sobre seus filhos. Estas questões versavam sobre as alterações apresentadas pelos filhos e percebidas pelos pais, levando em consideração aspectos do cotidiano, como sono, autonomia para realização de tarefas domésticas, e também quanto à presença de benefícios em nível motor e social observadas após o início da prática da capoeira como exercício físico regular. Todas as etapas da pesquisa respeitaram as recomendações propostas pelo Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), que apresenta as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.

Análise estatística

    Para tratamento gráfico e estatístico foi utilizado o recurso de planilha eletrônica da Microsoft: Microsoft Office Excel 2007. Os valores foram expressos em termos percentuais.

Resultados e discussão

    Essa pesquisa foi realizada com sete participantes, sendo predominante o sexo masculino com 71,4% contra 28,7% do sexo feminino. As idades variavam de 10 a 18 anos com prevalência de aproximadamente 29% para o intervalo de idade entre 16 a 18 anos.

    Todos os indivíduos da pesquisa participavam das aulas de capoeira pelo menos 2 vezes por semana. Quanto à prática de outras atividades físicas fora da instituição 28,6% dos participantes praticavam além da capoeira aulas de natação, o restante, ou seja, 71,4% praticavam somente capoeira. Outras atividades físicas como caminhada, futebol e hidroginástica não foram observadas (Fig. 1). Segundo Castro (2005), as atividades na água proporcionam aos indivíduos com deficiência, inúmeros benefícios como reeducação e estimulação de músculos paralisados, fortalecimento da musculatura que auxilia na postura, alívio das dores, trabalho de força sem preocupação com atrito, intervenção perceptivo- motora, independência na mobilidade.

Figura 1. Prática de diferentes exercícios físicos pelos portadores de SD concomitantemente com a capoeira

    Quanto ao sono foi percebido que grande parte dos participantes da pesquisa obteve melhoras nos padrões de sono. A Figura 2 mostra que 57,1% dos pais descreveram melhora nos padrões de sono de seus filhos, 14,2% referiram não terem percebido melhora e 28,7% não constataram melhora nesse quesito. De acordo com Schwatzman et al. (2003), um grande número de crianças portadoras da SD apresenta anormalidades no sono, como a apnéia do sono e a Síndrome do sono inquieto, porém não foi encontrado nenhum autor que discutisse a respeito das melhoras do sono com a realização de exercício físico em portadores da SD.

Figura 2. Melhora quanto ao sono após início da prática da capoeira

    Quanto ao rendimento escolar (notas), a maioria dos pais, ou seja, 57,1% referiram ter havido melhoras nas notas de seus filhos ao passo que 42,8% referiram não terem percebido qualquer alteração (Fig. 3). De acordo com os autores Dèa e Duarte (2009), a dança, um dos elementos presentes na capoeira é uma atividade que prioriza a educação motora consciente e global proporcionando diversos benefícios incluindo o intelectual. O que pode estar relacionado com a melhora encontrada nesses indivíduos.

Figura 3. Melhora percebida no rendimento escolar após início da prática da capoeira

    Com relação ao lado afetivo e ao relacionamento no ambiente familiar, 100% dos pais relataram que seus filhos se tornaram mais amorosos. Ainda relacionado ao comportamento, agora de forma geral, 100% responderam que os filhos ficaram mais ativos conforme observado na Figura 4.

Figura 4. Grau de atividade após prática da capoeira

    A independência para realizar atividades do cotidiano como escovar os dentes, trocar de roupa e amarrar o cadarço também foi observada pelos pais em 100% das crianças portadores da SD após o início das aulas de capoeira. E quanto à marcha, os resultados mais uma vez apontaram para uma melhora, sendo que 71,4% dos pais relataram melhora e apenas 28,7% relataram que não houve melhora. O melhor desenvolvimento da marcha em portadores da SD participantes deste estudo e que portanto praticam a capoeira pode estar relacionado ao aumento do tônus muscular, pois segundo Stray-Gundersen (2007) o que afeta muito a mobilidade de portadores dessa síndrome é a hipotonia muscular, apresentando déficit no desenvolvimento motor e ainda segundo o mesmo autor a prática de exercícios físicos propostos, aumentam o tônus muscular, o que irá com certeza melhorar a execução da marcha.

    Quanto à fala, 85,7% dos pais responderam que houve melhora em seus filhos e 14,2% acreditam que não houve melhora. Quanto à deglutição 57,1% relataram melhora e 42,8% relataram que não houve qualquer alteração. Assim, pode-se constatar que tanto no quesito fonação quanto na deglutição houve benefícios após a prática da capoeira, o que se deve principalmente ao fato de ter havido aumento do tônus muscular o que interferiu tanto na deglutição quanto na fala (STRAY-GUNDERSEN, 2007).

    De modo geral, quando os pais foram questionados acerca da melhora em nível global, 100% dos pais participantes da pesquisa responderam que a capoeira proporcionou benefícios aos seus filhos.

Conclusões

    De acordo com os resultados apresentados neste trabalho, são inegáveis os benefícios que a capoeira pode trazer aos seus praticantes, em específico aos portadores da SD.

    Os benefícios foram de forma generalizada, porém os quesitos mais importantes presentes na pesquisa foram na fala, deglutição, rendimento, comportamento escolar, marcha, relacionamento interpessoal e uma maior independência, o que facilita muito o dia-a-dia dos indivíduos com SD.

    Essa pesquisa teve grande importância já que revelou que a prática regular de exercícios físicos pode contribuir para melhorar e aumentar o grau de desenvolvimento de indivíduos com SD, incluindo sua autonomia e sua auto-estima.

    É importante ressaltar que os pais devem estar atentos para que seus filhos sejam acompanhados de profissionais qualificados na realização de exercício, já que devem ser respeitados os limites individuais e as características da SD.

    Enfim, conhecendo cada vez mais sobre os benefícios do exercício, com certeza haverá maior interesse dos pais em inserirem seus filhos portadores da SD a tais práticas, diminuindo a dependência deles e melhorando o relacionamento interpessoal, além de descobrir que os portadores da SD possuem muito a oferecer para a sociedade e o convívio com eles com certeza deixará um grande legado.

Referências

  • BARBIERI, EDISON. Capoeira a Dança-luta Brasileira. Acesso em 20 de abril de 2010 às 20:00 h. Disponível em: http://www.pimenet.org.br/mundoemissao/indigenascapoe.htm

  • BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde. Normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Res. CNS 196/96.; 4 Suppl:15-25, Bioética 1996.

  • CASTRO, ELIANE MAUERBERG-DE. Atividade Física Adaptada. São Paulo: Tecmedd, 2005.

  • DÉA E DUARTE. Síndrome de Down: Informações, Caminhos e Histórias de Amor. São Paulo: Phorte, 2009.

  • DUARTE, EDISON & LIMA, SONIA MARIA TOYOSHIMA. Atividade física para pessoas com necessidades especiais: Experiências e intervenções pedagógicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • GORLA, JOSÉ IRINEU. Coordenação Motora em Portadores de Deficiência Mental: Avaliação e Intervenção. Campinas, 2001.

  • LEFÈVRE, B. H. Mongolismo orientação para as famílias. São Paulo: Almed, 1985.

  • PUESCHEL, S. Síndrome de Down: Guia para pais e educadores. São Paulo: Papirus, 1993.

  • SHWARTZMAN, JOSÉ SALOMÃO et al. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 2003.

  • SILVA, NARA LIANA PEREIRA & DESSEN, MARIA AUXILIADORA. Síndrome de Down: etiologia, caracterização e impacto na família. Artigo da Universidade de Brasília interação em psicologia, 2002.

  • STRAY-GUNDERSEN, KAREN. Crianças com Síndrome de Down: Guia para pais e educadores. Porto alegre: Artmed, 2007.

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