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Confiabilidade intra e inter-examinador da maca adaptada para 

avaliação da força isométrica máxima de flexão terminal de ombros

Confiabilidad intra e inter-examinador de la camilla adaptada para la 

evaluación de la fuerza isométrica máxima de flexión terminal de hombros

 

*Mestrando do Programa de Pós Graduação

em Ciências do Esporte da Universidade Federal de Minas Gerais

**Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-MG

Belo Horizonte, MG

(Brasil)

Lucas Abreu Carneiro Mitraud Carvalho*

MSc. Ricardo Luís Carneiro**

MSc Daniel Câmara Azevedo**

l_mitraud@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O exercício de flexão terminal de ombros é indicado para pessoas que apresentam esse padrão postural. Objetivo: Avaliar a confiabilidade intra- e inter-examinador do teste de força isométrica máxima de flexão terminal de ombros. Metodologia: Sujeitos: 9 homens e 10 mulheres, idade 20,8 ± 1,8, saudáveis. Material: Maca adaptada com braço-guia de movimento com pegada vertical e um suporte para o dinamômetro de pressão. Procedimentos: Aquecimento com 15 contrações submáximas em flexão terminal de ombros. Os indivíduos em prono foram estabilizados por três cintas, no tornozelo, nádegas e linha inferoescapular. O teste foi realizado duas vezes com intervalo de três minutos sendo a força exercida durante 6 segundos com constante incentivo do examinador principal, sendo considerado para análise o valor da 2ª medida. O estudo foi realizado em três dias com intervalo de 48h. Para o cegamente do examinador, um segundo pesquisador ficou responsável por retirar o dinamômetro do suporte, anotar os dados e recolocar o dinamômetro, já zerado, de volta ao suporte. Análise dos dados: Foi utilizado um teste de Coeficiente de Correlação Intraclasse entre os valores do 1ª e 2ª dia (confiabilidade intra-examinador) e 2ª e 3ª dia (confiabilidade inter-examinador). Resultados: A confiabilidade intra-examinador foi de 0.98 (p<0.01) e a inter-examinador de 0.96 (p<0.01). Conclusão: O Teste de força isométrica máxima, utilizando estes equipamento e métodos, apresenta boa confiabilidade intra- e inter-examinador para amostra utilizada, podendo ser considerado bom para avaliação de resultado de treinamento neste exercício.

          Unitermos: Confiabilidade. Teste de força. Protrusão de ombros.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com a teoria do ponto de equilíbrio, a posição de repouso da escápula seria o equilíbrio das forças e torques passivos que atuam sobre a escápula em diversos planos e eixos (Bizzi et al., 1992; Feldman, 1986). Na protrusão de ombros temos o desvio do ponto de equilíbrio no sentido dos músculos da cadeia anterior. Podemos dizer então que os músculos anteriores, principalmente o peitoral menor, estariam rígidos e curtos e os da cadeia posterior, principalmente os retratores estariam menos rígidos e longos (Sahrmann, 2002). Músculos curtos geram tração passiva sobre seus antagonistas que estão longos, e que a manutenção desses músculos em alongamento mostra sua fraqueza por não exigir contração como sobrecarga (Kendall et al., 1995).

    Desde que várias disfunções posturais foram relacionadas a alterações de comprimento dos músculos, alguns autores sugerem programas de exercícios que enfatizam o fortalecimento dos músculos alongados em posição curta com o objetivo de restaurar o comprimento de repouso normal (Sahrmann, 2002; Gossman et al., 1982) e conseqüentemente modificar o alinhamento postural. Neste contexto, podemos dizer que para indivíduos com protusão de ombros, o treinamento dos músculos posteriores em posição curta se faz necessário por dar condições a esses músculos de estabilizarem a escápula em posição desejável durante os movimentos e durante a manutenção da postura (Sahrmann, 2002).

    O exercício de flexão terminal coloca a escápula em adução, inclinação posterior, depressão e giro superior (Sarhmann, 2002), posição essa, contrária aos componentes da protrusão de ombros (Magee, 1997; Kendall et al., 1995) e a da ação do peitoral menor, alongando-o ativamente (Ludewig & Cook, 2000; McClure et al.,, 2001). Esse exercício é indicado para fortalecer, em posição de encurtamento, os músculos que estariam longos e, portanto fracos nessa posição, que seriam os retratores, inclinadores posteriores e depressores da escápula (Sahrmann, 2002). Isto possibilitaria a manutenção da postura neutra da escápula, mantendo o peitoral menor em constante alongamento, e os retratores da escápula em constante ativação em posição de encurtamento, fatores importantes para a alteração de comprimento e rigidez muscular (Willians & Goldspink, 1973; Willians & Goldspink,1978).

    Projetos de pesquisa necessitam de instrumentos de medidas e intervenções padronizados e com boa confiabilidade para se obter desfechos os quais pode se inferir como sendo resultado da intervenção (Portney & Watkins, 2000; Gadotti et al., 2006) . Desta forma, o objetivo deste trabalho foi verificar a confiabilidade intra- e inter-examinador da medida de força isométrica máxima de flexão terminal de ombros em maca adaptado com um dinamômetro de pressão.

Métodos

Sujeitos

    Uma amostra de conveniência de 19 sujeitos participaram deste estudo, 9 homens e 10 mulheres com media de idade 20.8 ± 1.8 anos, alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sem história de lesão em ombro. Os procedimentos do estudo foram aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Todos os sujeitos leram e assinaram um termo de consentimento antes da participação no estudo.

Instrumentos

    Uma maca adaptada (FIGURA 1) com braços guias com pegas verticais, um suporte para dinamômetro e um dinamômetro Lafayette model 01163 (manual muscle tester) (FIGURA 2) foram usados. O braço guia pode ser regulado assim como o suporte do dinamômetro. A estabilização do sujeito à maca foi feita por tiras de velcro, no tornozelo, quadril e linha infra-escapular.

Figura 1. Maca adaptada com braços guias e barra com pega vertical, a qual se encosta a célula de pressão de um dinamômetro de pressão

que se encontra em um suporte. Tanto o braço-guia quanto o suporte podem ser regulados para que o indivíduo mantenha o cotovelo estendido

 

Figura 2. Dinamômetro Lafayette model 01163 (manual muscle tester)

Procedimentos

    Antes do posicionamento na maca os indivíduos fizeram aquecimento sem carga, em movimentos de flexão de ombros nos graus finais de movimento. Após o aquecimento foram estabilizados à maca e, segurando o braço guia, foram posicionados passivamente e então solicitados a realizar o maior esforço possível contra a célula de pressão do dinamômetro, com incentivo constante do examinador. Após a primeira medida de força o indivíduo descansou 3 minutos e em seguido fez um novo teste, sendo este considerado como medida valida para análise (PEREIRA E GOMES, 2003)

    Para segamento do avaliador, a coleta dos dados foi feita por outro pesquisador, responsável por retirar o dinamômetro do suporte, anotar os dados, zerá-lo e colocá-lo novamente no suporte. As medidas foram feitas em três dias, com 48 horas de intervalo entre cada avaliação. O primeiro e segundo dias foram conduzidos pelo avaliador principal e o terceiro dia foi conduzido pelo segundo avaliador.

Análise estatística

    Coeficiente de Correlação Intra Classe foi utilizado para obter a confiabilidade intra- e inter-examinador e Intervalo de Confiança de 95%. Valores do primeiro e segundo dias foram comparados para obter a confiabilidade intra-examinador e valores do segundo e terceiro dias foram comparados para obter a confiabilidade inter-examinador. Foi utilizado um nível de significância de p < 0.05.

Resultados

    Os valores do CCI para a confiabilidade intra-examinador foi de 0.88 (p<0.01), variando de 0.72 à 0.95 e a confiabilidade inter-examinador foi de 0.85 (p<0.01), variando de 0.67 à 0.94. A TABELA 1 apresenta a media e desvio padrão das medidas, em quilogramas, dos três dias e a TABELA 2 apresenta os valores de CCI intra- e inter-examinador e o intervalo de confiança de 95%.

Tabela 1. Média e desvio padrão das medidas nos três dias (em Kg)

Medida 1

Medida 2

Medida 3

7,1 ± 3.4

6,8 ± 3,3

7.1 ± 3,5

 

Tabela 2. Valores de Confiabilidade e do Intervalo de Confiança de 95%

Confiabilidade

Intra-examinador

Intervalo de Confiança de 95%

Confiabilidade

Inter-examinador

Intervalo de Confiança de 95%

.97*

.93 a .99

.95*

.88 a .98

*p<0,01

Discussão

    O exercício de flexão terminal de ombros é indicado para pessoas que apresentam postura de protrusão de ombros (Sahrmann, 2002). Esse exercício põe a escápula em posição de inclinação posterior, depressão e rotação superior, causando um alongamento ativo do músculo peitoral menor (Ludewig & Cook, 2000; McClure et al., 2001) e fortalece os antagonistas em posição de encurtamento (Sahrmann, 2002).

    Como desfecho de um treinamento de força tem-se o aumento da força máxima dos músculos treinados (Komi, 1992). Um teste de força deve apresentar bons valores de confiabilidade para se identificar as alterações de força muscular em decorrência de um treinamento e não por simples efeito do acaso (Portney & Watkins, 2000; Gadotti et al., 2006).

    O teste de força isométrica de flexão terminal de ombros, utilizando os métodos descritos apresentou boa a excelente confiabilidade, demonstrando ser eficaz para identificar, na prática e em projetos de pesquisa, alterações da força dos músculos responsáveis pelo movimento de flexão terminal de ombros e, portanto a efetividade de um treinamento utilizando este exercício.

    No entanto, cuidado deve ser tomado na generalização destes resultados, uma vez que eles forma obtidos em uma amostra composta por indivíduos jovens e sem história de lesão em ombros.

Conclusão

    O teste de força máxima isométrica de flexão terminal de ombros mostrou excelente valor de confiabilidade, tanto intra-examinador quanto inter-examinador, mostrando ser um procedimento adequado para avaliar a força isométrica máxima dos músculos responsáveis por esse movimento.

Referência

  • BIZZI, E. et al. Does the nervous system use equilibrium point control to guide single and multiple joint movements. Behav. Brain Sci., 1992;15; 603-615.

  • FELDMAN, A.G. Once more on the equilibrium point hypotheses (lambda model) for motor control. J. Motor Behav., 1986; 18; 17-54.

  • GADOTTI, I.C., VIEIRA, E.R., MAGEE, D.J. Importance and clarification of measurement properties in rehabilitation. Rev. Bras. Fisioter. 2006;10:137-146.

  • GOSSMAN, M.R., SAHRMANN, S.A., ROSE, S.J. Review of length associated changes in muscle. experimental evidence and clinical implications. Phys. Ther., 1982; 62(12); 1799-1808.

  • KENDALL, F. P., MCCREARY, E.K., PROVANCE , P.G. Músculos: Provas e Funções com Postura e Dor. 4ª ed. São Paulo: Editora Manole Ltda., 1995. 453 p.

  • KOMI, P. V. Strength and Power in Sport, edited by P. V. Komi, Blackwell Science, Oxford, 1992, 517 p..

  • LUDEWIG, P.M., COOK, T.M. Alterations in shoulder kinematics and associated muscle activity in people with symptoms of shoulder impingement. Phys. Ther., 2000; 80(3); 276-291.

  • MAGEE, D.J. Orthopedic Physical Assessment, 3rd edition. Philadelphia: WB Saunders Company, 1997. 805 p.

  • MCCLURE, P.W., MICHENER, L.A., SENNETT, B.J., KARDUMA, A.R. Direct 3-dimensional meansurement of scapular kinematics during dynamic movement in vivo. J. Shoulde Elbow Surg., 2001; 10; 269-277.

  • PEREIRA, M.I.R., GOMES, P.S.C. Testes de força e resistência muscular: confiabilidade e predição de uma repetição máxima – Revisão e novas evidências. Ver. Bras. Méd. Esportes, 2003; 9(5); 325-335.

  • PORTNEY, L.G., WATKINS, M.P. Foundations of Clinical Research: Applications to Practice. Prentice-Hall, Upper Saddle River, NJ. 2000.

  • SAHRMANN, S.A. Diagnosis and Treatment of Movement Impairment Syndromes, St. Louis: Mosby, 2002. 460 p.

  • WILLIANS, P.E., GOLDSPINK, G. Change in sarcomere length and physiological properties in immobilized muscle. J. Anat., 1978; 127; 459-468.

  • WILLIAMS, P., GOLDSPINK G: The effect of immobilization on the longitudinal growth of striated muscle fibers, J. Anat. 1973; 116-45.

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