Nível de atividade física em estudantes do curso de Educação Física: um estudo de caso Nivel de actividad física en estudiantes de Educación Física: un estudio de caso |
|||
* Centro Universitário de Belo Horizonte, UNIBH (Brasil) |
Henrique Wilbert Garrido Rodrigues Marcos Borges Júnior Natália Wilke |
|
|
Resumo Essa pesquisa foi caracterizada como descritiva e teve como objetivo geral determinar o nível de atividade física de alunos do curso de educação física de uma instituição de ensino da cidade de Belo Horizonte. A amostra foi composta por 335 alunos (174 do sexo masculino e 161 do sexo feminino) com idade entre 17 e 53 anos. Os alunos do curso responderam a um questionário IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) , versão 8-curta, para determinar o nível de atividade física dos sujeitos selecionados no estudo. O questionário foi composto por perguntas sobre hábitos de vida, de saúde, ingestão de bebidas e alimentos, realização e duração de atividades físicas. A partir dos dados coletados, chegou-se aos seguintes resultados: o percentual de indivíduos que atingiram a recomendação atual de atividade física para promoção de saúde foi de 62,7% contra 5,4% de sedentários e que somados aos irregularmente ativos são 37,3%. Os estudos apontaram que os graduandos do curso de educação física da referida instituição atingiram o nível de atividade física ideal para promoção de saúde. Unitermos: Atividade física. Saúde. Sedentarismo. Estudantes.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
O estilo de vida da população mundial tem mudado nas últimas décadas, levando a um aumento do número de pessoas que se tornaram sedentárias em casa, no trabalho e durante atividades de lazer, principalmente em países industrializados 1,4
O desenvolvimento da tecnologia, por exemplo, é um dos fatores que parece contribuir para uma opção de um estilo caracterizado por inatividade física e por uma alimentação inadequada ocupando um lugar de destaque e como fatores determinantes para o ganho de gordura corporal. 1,8,19 As doenças crônicas advindas do estilo de vida pouco ativo contribuem para o surgimento de algumas enfermidades como osteoporose, a obesidade, a hipertensão arterial, colesterol alto, dores de coluna, dentre outras. Estudos na área da saúde, como de Costa et al 2003, têm demonstrado que o hábito de práticas de atividades físicas regulares, reduzem também os sintomas do estresse.2
Pesquisas no Brasil, apontam para um elevado índice de sedentarismo e ainda prevalência de sobrepeso que tem sido encontrada em adolescentes, assim como nos seus pais, e uma hipótese para isto seria a idéia do corpo como um modelo dos momentos políticos e sócio-econômicos. 3,12,14
A atividade física é o componente mais variável do gasto energético, além de contribuir para a prevenção do ganho de peso e para o tratamento da obesidade.4 A literatura científica tem discutido e divulgado orientações a respeito dos benefícios da prática de uma atividade física relacionado à saúde e ao bem-estar das pessoas, assim como os riscos que predispõem o aparecimento e o desenvolvimento de disfunções orgânicas relacionadas ao sedentarismo.5
O Center for Disease Control and Prevention (CDC) e o American College of Sports Medicine (ACSM) recomendam a prática de atividade física pelo menos 30 minutos por dia, de forma contínua ou acumulada, para que as pessoas não se tornem sedentárias.6 Os jovens são uma perspectiva deste sedentarismo. Acompanhamentos longitudinais sugerem que adolescentes menos ativos fisicamente apresentam maior predisposição a se tornarem adultos sedentários.7
No Brasil o INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição), relatou que cerca de 32% da população adulta apresenta algum grau de sobrepeso, sendo que destes, 38% são mulheres e 27% são homens.8 Pesquisas em diversos países observaram um proeminente declínio de bases de atividade física, em ambas as populações, com aumento na fase da adolescência (14 até 18 anos)9.
É importante obter conhecimento sobre os ciclos de mudança de comportamento relacionados à atividade física em indivíduos jovens, para assim interceder no modo de vida das diferentes populações.10,20 Uma boa educação física também influencia nos hábitos do indivíduo.11
Marcondelli (2008, apud Georgiou et al, 1997) relatam que estudantes de graduação e graduados possuem rotinas alimentares mais saudáveis, diferentemente de jovens que não estudaram ou possuíam qualquer tipo de graduação. Porém nestes estudos não se tem determinado quais as universidades e faculdades que proporcionariam oportunidades para uma influência positiva, no que diz respeito à prática de atividade física e/ou hábitos alimentares dentre outros fatores em ambiente educacional.11,20,21 Todavia, no desenvolvimento profissional, o estudante agrega muitas expectativas, perspectivas e valores que auxiliam na definição de sua identidade profissional.13 O estudo de Zamai e col (2007) cita que o quadro apresentado entre os estudantes do curso em relação a sua respectiva prática de atividade física é preocupante, uma vez que no estudo apresentado, quase 50% não atingem a recomendação mínima de atividade física para a saúde.15
Avaliar o nível de atividade física de graduandos é de suma importância para conhecer e descrever os aspectos relacionados a à saúde desse grupo e que poder contribuir para a adoção de estratégias e programas de saúde na universidade como medida preventiva para a adoção de hábitos de vida saudáveis e a melhoria da qualidade de vida na fase adulta e na velhice.16
Assim, o propósito do presente estudo é identificar o nível da prática de atividade física em estudantes do curso de educação física de uma instituição de ensino superior.
Método
Amostra
A amostra deste estudo foi composta por 335 graduandos de ambos os sexos matriculados em um curso de Educação Física, com idade média 24 anos, dp 4,3, mediana 23, moda 21, mínimo 17 e máximo 53 anos.
Na tabela, é possível verificarmos que o número de alunos com até 24 anos é superior (66,6%) ao de alunos com faixa etária maior que 24 anos (33,4%).
O número de amostras do sexo masculino também é maior comparado ao feminino. O percentual de indivíduos com índice de massa corporal menor que 25Kg/m² é maior (70,7%) que os com índice de massa equivalente ou superior a 25Kg/m² (29,3%).
A amostra contém um número maior de em situação conjugal de indivíduos solteiros (91,9%) e outras (2,1%). Apenas 13,7% não exercem trabalho remunerado contra 86,3%.
Na auto-avaliação da saúde a maioria (50,7%) classificou a saúde como Muito Boa, enquanto (19,1%) classificaram como Excelente contra (26,3%) Boa, (3,6%) Regular e (0,1%) Ruim, respectivamente.
Tabela 1. Distribuição das variáveis em uma amostra de 335 alunos do curso de Educação Física de uma instituição de ensino superior
Procedimentos de coleta de dados
Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento composto por 2 questionários, sendo que um deles continha dezessete (17) perguntas, cujo objetivo foi a identificação dos participantes e contextualização associada a hábitos de saúde.
Os dados coletados por meio do questionário, abrangeram perguntas sobre hábitos de vida dos estudantes, tais como: se faziam ingestão de bebidas alcoólicas, tabagismo e a percepção que tinham de saúde. E o Questionário Internacional de Atividade Física (International Physical Activity Questionaire -IPAQ), versão 8-curta, pois oferece dados sobre duração da atividade, freqüência, intensidade e tipo de atividade, o que permite uma estimativa do gasto calórico total, facilitando também a classificação das atividades como leves, moderadas e vigorosas.
Cuidados éticos
A coleta foi realizada após a assinatura pelos participantes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual os alunos foram informados sobre os objetivos e procedimentos do presente estudo. Tentamos propiciar um ambiente acolhedor para que os alunos pudessem responder com o máximo de fidedignidade possível os questionários. A identidade dos participantes foi preservada, uma vez que os dados serão utilizados apenas para fins desta pesquisa.
Análise estatística
Todos os dados foram tabulados no software Excel do pacote Office 97 e posteriormente foram calculados pelo pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) para Windows® versão 12.0..
Resultados
Verificou-se na tabela que o percentual de alunos ativos é maior (36,7%) do que os muito ativos (26%), irregularmente ativo A e B (31,9%) e sedentários (5,4%) sendo estes homens e mulheres.
Tabela 2. Distribuição do nível de atividade física em uma amostra de 335 alunos do curso de educação física de uma instituição de ensino superior.
Tabela 3. Resultados significativos da associação da variável dependente nível de atividade física com variáveis independentes
em uma amostra de 335 alunos do curso de Educação Física de uma instituição de ensino. A tabela 3 houve diferença significativa
no percentual de indivíduos fisicamente ativos, sendo que destes, (68,4%) são do sexo masculino e (56,5%) do sexo feminino.
Discussão
A pesquisa realizada avaliou o nível de atividade física dos estudantes de educação física e os fatores associados a este.
O protocolo utilizado tinha questões bem definidas, objetivas e testadas previamente, tendo boa aceitação para a participação dos discentes. Nela obteve-se uma porcentagem significativamente maior de indivíduos do sexo masculino que praticam atividade física comparados ao do sexo feminino.(68,4% contra 56,5%), mesmo estes estando em número pouco maior na amostra. Alguns estudos apontam para esta mesma direção, tendo as mulheres como maior índice de sedentarismo.1,10,15,19, Mas nenhum deles conseguem justificar ou mesmo discutir o fato das mulheres serem mais sedentárias que os homens e os fatores para que isto aconteça. Todavia é possível avaliar estudos do Ministério da Saúde de 2009 indicaram que a porcentagem de homens no geral na sociedade de sedentários é maior (29,5%) do que as mulheres (23,5%).Estes valores se referem a pessoas adultas com até 65 anos. No mesmo estudo, a condição de sedentário foi atribuída àqueles que não praticaram qualquer atividade física nos últimos três meses, não realizavam esforço físico intenso no trabalho, não se deslocavam a pé ou de bicicleta, dentre outros fatores. As regiões brasileiras com o maior índice de homens sedentários foi Rio Branco (35%), Maceió (33,9%) e Belo Horizonte (33,8%) e em mulheres, Recife com (32,4%).
Na tabela 2, somando a porcentagem de categorias Irregularmente ativo A, irregularmente ativo B + sedentários, podemos examinar que 37,3% dos estudantes não atingem níveis de atividade física considerados ideais para a saúde. A equivalência de adolescentes fisicamente ativos/inativos, em função de indicadores demográficos e socioeconômicos, e a magnitude da associação entre fatores de influência e o nível de atividade física, são informações importantes para nortear um planejamento de desenvolvimento e avaliação dos programas de promoção da atividade física.20 Estudos associam características de baixo nível de atividade física dos estudantes sendo relativas ao perfil institucional do aluno como: ano de ingresso, turno que estuda e horas diárias despendidas na universidade, as características econômicas como renda mensal, classe social e com quem reside e hábitos de vida, fazer ou não dieta.16,21 Contudo no presente estudo essas variáveis não foram encontradas ou não tiveram associações que pudessem confirmar tais fatos, assim como algumas hipóteses da interferência de haver trabalho remunerado ou não, situação conjugal, auto-avaliação da saúde, dentre outros aspectos também observados.
Os 62,7% da amostra que foram classificados como Muito Ativos e Ativos, seguem na mesma proporção de Silva e col 200718, onde no mesmo as amostras demonstraram possuir nível de atividade física regular superior ao de diferentes populações analisadas. Este fato contraria estudos onde observou que 68,4% dos universitários eram inativos e incidiram que embora o ambiente universitário possa oferecer uma base de informações e de oportunidades para a prática de atividade física, a proporção significativa de universitários não apresentava tal comportamento, o de regularmente ativo.10
Porém, de acordo com a porcentagem obtida neste estudo os graduandos ficam a margem de um quadro consideravelmente preocupante e que é uma das principais prioridades de saúde pública, em países de diferentes níveis de desenvolvimento sócio-econômico. 20
Conclusão
O estudo mostrou que a porcentagem de indivíduos que atingem a recomendação atual de atividade física para saúde entre os estudantes foi de 62,7% e o índice de sedentarismo foi de 5,4% que somados aos irregularmente ativos chegou a 37,3% da amostra total. Pode-se concluir então que mais da metade atingiu os níveis de recomendação mínima para a saúde.
Em relação ao gênero, esta pesquisa apresentou desigualdade entre os níveis de atividade física, com prevalência de sedentarismo do sexo feminino 56,5% comparado ao sexo masculino que obteve 68,4%
Constatamos que o quadro apresentado entre os estudantes em relação a prática de atividade física, não é preocupante, uma vez que mais de 50% da amostra atingiu a recomendação mínima de atividade física para a saúde.
Referências
Leite N, Cieslak F, Osiecki ACV, Bizinelli JA, Timossi LS, Junior GBV. Estilo de vida e prática de atividade física em colaboradores paranaenses. Revista Brasileira de Qualidade de Vida 2009;1(1): 1-14.
Costa IT, Samulski DM, Noce F, Costa VT. A importância da atividade física para a manutenção da saúde e os principais fatores que motivam professores, alunos e funcionários de duas universidades brasileiras a praticarem exercícios. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde 2003; 8(1):52-61.
Mendes MJFL, Alves JGBA, Alves AV, Siqueira PP, Freire EFC. Associação de fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes e seus pais. Revista Brasileira de Saúde Materna Infantil 2006; 6(1):549-554
Vianna MVA, Silva IAS, Gomes ALM. A correlação entre o nível de circunferência de cintura e o grau de atividade física. Revista de Educação Física 2008; 142: 42-49.
Junior SLPS, Bier A. A importância da atividade física na promoção de saúde da população infanto-juvenil. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 2008; 119(13). http://www.efdeportes.com/efd119/atividade-fisica-na-promocao-de-saude.htm
Silva RB, Paiva LC, Neto AMP, Braga AA, Morais SS. Atividade física habitual e risco cardiovascular na pós-menopausa. Revista da Associação Médica Brasileira 2006; 52(4): 242-246.
Guedes DP, Guedes JERP, Barbosa, DS, Oliveira JA. Níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes. Revista Brasileira de Medicina Esportiva 2006; 7(6).
Pontes LM, Souza MSC. Inter-relação entre níveis de atividade física, hábitos alimentares e marcadores da composição corporal em adultos de ambos os sexos. Revista Virtual EF Artigos 2005; 3:131-135.
Silva KS, Nahas MV, Peres KG, Lopes AS.Fatores associados à atividade física, comportamento sedentário e participação na Educação Física em estudantes do Ensino Médio em Santa Catarina,Brasil. Caderno de Saúde Pública 2009; 25(10):2187-2200.
Madureira AS, Corseuil HX, Pelegrini A, Petroski EL. Associação entre estágios de mudança de comportamento relacionados à atividade física e estado nutricional em universitários. Cadernos Saúde Pública 2009; 25(10):2139-2146.
Marcondelli P, Costa THM, Schmitz BAS. Nível de atividade física e hábitos alimentares de universitários do 3º ao 5º semestres da área da saúde. Revista de Nutrição 2008; 21(1):39-47.
Silva AC, Lüdorf SMA, Silva FAG, Oliveira AP. A visão de corpo na perspectiva de graduandos em Educação Física: fragmentada ou integrada? Revista Movimento 2009; 15(3): 109-126.
Folle A, Farias GO, Boscatto JD, Nascimento JV. Construção da carreira docente em Educação Física: escolhas, trajetórias, perspectivas. Revista Movimento 2009; 15(1): 25-49.
Fernandes MH, Porto GG, Almeida LGD, Rocha VM. Estilo de vida de professores universitários: Uma estratégia para a promoção de saúde do trabalhador. Revista Brasileira em Promoção da Saúde 2009; 22(2): 94-99.
Zamai CA, Rodrigues AA, Bankoff ADP, Delgado MA, Braga LES, Filocomo M. Análise do nível de atividade física de estudantes do curso de educação física da Universidade Paulista. Revista Movimento e Percepção 2007; 8(11)
Fontes ACD, Vianna RPT. Prevalência e fatores associados ao baixo nível de atividade física entre estudantes universitários de uma universidade pública da região Nordeste-Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia 2009; 12(1): 20-29
Ministério da Saúde; Brasil 2009 Avaliado em: <http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/reportagensEspeciais/default.cfm?pg=dspDetalhes&id_area=124&CO_NOTICIA=10081;>, [2010,mai,23]
Silva GSFS, Bergamaschine R, Rosa M, Melo C,Miranda R, Filho MB. Avaliação do nível de atividade física de estudantes de graduação das áreas saúde/biológica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte 2007; 13(1): 39-42
Coelho BT, Oliveira DM, Santos D, Neiva CM, Simões MJ. O IPAQ como indicador de prática de atividade física e sua relação com a qualidade de vida de indivíduos adulto-jovens. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 2009 - 14(131). http://www.efdeportes.com/efd131/o-ipaq-como-indicador-de-pratica-de-atividade-fisica.htm
Júnior JCF. Associação entre prevalência de inatividade física e indicadores de condição socioeconômica em adolescentes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte 2008; 14 (2): 109-114.
Guedes DP, Santos CA, Lopes CC. Estágios de mudança de comportamento e prática habitual de atividade física em universitários. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano 2006; 8(4):5-15.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 148 | Buenos Aires,
Septiembre de 2010 |