Análise ergonômica da casa lar Dom Rodolfo Análisis ergonómico de la casa hogar Don Rodolfo |
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*Professor da disciplina de Fisioterapia Preventiva da UPF **Acadêmicos da Faculdade de Fisioterapia da UPF (Brasil) |
Anderson Vesz Cattelan* Andresa Copatti** | Fabiana Treméa da Silva** Luiza Parizotto Audino** | Regina da Silva** |
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Resumo O aumento no número de idosos no Brasil começa a dar lugar a uma realidade diferente e preocupante que necessita uma atenção especial de toda a sociedade. Estima-se que no ano de 2050, a expectativa de vida do brasileiro será de 76,9 anos de idade. Logo é necessário fazer alguns estudos em relação às instituições de longa permanência que certamente irão aumentar em número e serão de extrema importância em países que estão com a população em franca expansão de envelhecendo de sua população. Este trabalho apresenta uma análise ergonômica de uma casa lar segundo as normas exigidas pela portaria 810/89 do Ministério da Saúde. Observou-se todas as estruturas da casa, as vias de acesso, área de lazer e recreação, instalações elétricas, sanitárias, área de dormitórios por leito, a higienização e assistência de profissionais da saúde. Após a mensuração de todos os dados de acordo com as exigências da portaria conclui-se que a instituição atende apenas 46% das exigências da Portaria 810/89. Entretanto se constatou que a instituição proporciona uma boa qualidade de vida aos institucionalizados suprindo todas as necessidades essenciais dos mesmos. Palavras chaves: Ergonomia. Instituição. Envelhecimento. Idosos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O aumento no número de idosos no Brasil, até a pouco tempo considerado o país de jovens, começa a dar lugar a uma realidade diferente e trás a consciência de que a velhice existe e é uma questão social extremamente preocupante. (ZIMERMAN, 2000).
A expectativa de vida do brasileiro ao nascer tem apresentado interessante evolução no período entre 1950 e 1955 passando da média de 50,9 anos para 68,3 anos entre 2000 e 2005 e estima-se que, entre 2045 e 2050, a expectativa de vida do brasileiro será de 76,9 anos de idade. Temos hoje no Brasil, aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60 anos e projeções indicam que seremos o sexto país do mundo em número de idosos no ano de 2020, com aproximadamente 32 milhões deles. Segundo dados de IBGE (2000), o nosso país apresentava aproximadamente 30 mil pessoas centenários (PASQUALOTTI, 2004).
Contudo, essa situação torna-se bastante preocupante ao visualizarmos o despreparo das estruturas econômicas, sociais e políticas do país em relação à transição demográfica com o intuito de garantir em um curto período de tempo uma qualidade de vida adequada à crescente população de idosos (GUCCIONE, 2002).
Segundo Portella (2006), a instituição asilar é vista como algo alternativo para a prestação de serviço à população idosa, embora ninguém negue que o melhor local de permanência dos idosos é junto aos seus familiares.
Percebemos, atualmente, uma intensa procura por instituições asilares não só por parte das famílias, cujos idosos são de alta dependência muitos com enfermidades físicas ou mentais, mas também por idosos “jovens”, que se encontram na faixa etária entre 60 a 65 anos, abandonados por seus familiares ou vítimas da sua própria sorte, decorrentes das transformações sociais e econômicas que perpassam a sociedade contemporânea (PORTELLA, 2006).
Junto as Instituições asilares existe a preocupação de oferecer espaços adequados e seguros para com os idosos evitando-se qualquer tipo de acidente que possa levar ao comprometimento físico e mental de seus moradores. Logo, uma adequada estruturação ergonômica se faz necessário neste ambiente. A Ergonomia pode ser definida como o trabalho interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologia, procura o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente procurando adaptar o trabalho às pessoas (COUTO, 2002).
Este trabalho tem por objetivo analisar ergonomicamente o ambiente de uma instituição de longa permanência para idosos, buscando comparar os achados com as exigências que o ministério da Saúde regente preconiza.
Materiais e métodos
A pesquisa foi de caráter quantitativo, observacional e transversal. Foi realizada na casa de longa permanência Dom Rodolfo, sito à rua Daltro Filho 1803, na cidade de Passo Fundo-RS.
A presente instituição constitui-se de vinte idosos, sendo dez do sexo masculino e dez do sexo feminino, com idade entre 35 e 92 anos média de 63 anos.
A avaliação da instituição asilar foi baseada na Portaria 810 de 1989, que aprova os padrões de funcionamento de instituições destinadas ao atendimento de idosos em todo território nacional.
Os ambientes internos e externos do asilo foram mensurados com fita métrica da marca corrente e para a mensuração de ângulos utilizou-se um goniômetro universal, onde além das medidas, observou-se a disposição das mobílias, das instalações elétricas, acessos aos ambientes, portas, escadas, rampas, instalações sanitárias, dormitórios, limpeza e higienização, tipos de materiais de construção, áreas de recreação. Também foi averiguado a assistência profissional prestada na casa asilar.
Resultados e discussão
Nas exigências sobre a administração asilar a instituição teria que apresentar um responsável detentor do título de uma das profissões da área da saúde, mas a responsável pelo lar não possui nenhuma formação profissional na área da saúde.
A instituição de longa permanência funciona há quatorze anos na cidade. Esta é constituída de uma casa de alvenaria com oito quartos, três banheiros, uma sala de estar, uma cozinha, dois refeitórios, uma lavanderia e uma despensa. O terreno apresenta uma área externa para lazer dos asilados, medindo cerca de 6,14 metros quadrados por idoso institucionalizado.
Em relação ao funcionamento, a casa possui alvará, registro das pessoas atendidas e relatórios da situação de cada idoso. Porém, não apresenta prontuário contendo descrições com as evoluções de cada paciente e as ações terapêuticas exercidas no dia-a-dia com cada um deles.
Dos vinte idosos nenhum utiliza cadeira de rodas para se locomover, apenas um dos institucionalizados utiliza bengala e a grande maioria necessita do auxílio dos cuidadores.
A análise ergonômica em relação ao acesso atende parte das exigências, pois possui rampa de acesso com inclinação de 15º, sendo a inclinação máxima permitida de 5º. Apresenta um lance de escadas com degraus desnivelados prejudicando o acesso de cadeirantes. Atendendo as exigências da portaria, a casa possui uma rampa com largura de 2,5 metros (onde o mínimo permitido é 1,5 metros), e o lance de escadas possui corrimão em ambos os lados.
Observando as portas apenas duas, ou seja, 13,33 % se enquadram nas exigências do Ministério da Saúde, tendo o restante uma média de 0,66 m de largura (exigência de 0,80 m no mínimo). Uma das portas apresenta maçaneta arredondada e todas as portas abrem para dentro, o que aumenta o risco de acidentes. As portas dos sanitários não apresentam vãos livres de 0,20 m na parte inferior, impedindo a visualização da área em caso de queda.
Na circulação interna observou-se que os corredores principais apresentam largura de 0,98 (mínimo exigido seria de 1,5 m), não possuindo corrimão em nenhum dos lados, e ainda apresenta obstáculos como móveis e equipamentos decorativos dificultando a circulação.
Quanto à escada interna, esta possui degraus em alturas diversas, não atendendo aos padrões, medindo 0,72 m de largura (mínimo de 1,2 m). O primeiro e o último degrau não possuem pintura chamativa e nem luz de vigília permanente. Não apresenta portas de contensão, o que facilita as quedas, não atendendo a nenhuma das exigências do Ministério da Saúde.
No quesito instalações sanitárias estas obedecem às exigências, com exceção de que os vasos sanitários não são instalados sobre um sóculo de 0,15 m de altura, e a barra de apoio próximo ao vaso sanitário é apenas em um dos lados, sendo que as mesmas se encontram em mal estado.
Os três banheiros possuem barras de apoio a 0,80 m do piso e 0,05 m de distância da parede, tanto no lavatório, vaso sanitário e chuveiro, conforme a Portaria do Ministério da Saúde. A proporção de um vaso sanitário para cada seis pessoas é obedecida pela instituição, assim como a proporção de um chuveiro para cada doze leitos. Os chuveiros são instalados em compartimento do tipo box, com dimensões compatíveis com banho na posição sentada e água quente, atendendo as exigências da portaria.
As paredes dos três banheiros são de cor clara e lavável. Dois dos três banheiros não possuem piso antiderrapante, porém possuem tapetes antiderrapantes. O piso é monocromático, facilitando a deambulação e a limpeza.
Na instituição foi observado que a maioria das instalações é segura, apenas em um dos quartos o interruptor é do tipo pêndulo, localizado no centro do dormitório, o que gera certo risco aos idosos de desequilibrar-se e segurar no fio podendo levar um choque e queda.
Segundo a portaria 810/89, os dormitórios devem ter área mínima de 5 m2 por leitos, onde quatro leitos é o máximo por quarto.
A instituição possui oito quartos, sendo que em um dos quartos pertence aos funcionários, dois quartos (25%) atendem as exigências no quesito de área por leito, o restante apresenta uma média de 3,75 m2 por leito. Em todos os dormitórios o número de leitos foi respeitado, já a distância entre os leitos foi respeitada em apenas dois dormitórios, observando que todos os leitos são encostados na parede não existindo distância da mesma.
Na instituição há duas áreas que servem como refeitório, sendo que em uma delas possui cozinha e despensa, totalizando uma área de 1,96 m2 por idoso, atendendo assim as exigências da portaria.
Encontramos uma área de recreação e lazer formada por sala, dois refeitórios e uma área externa, totalizando 9,1 m2 por institucionalizado, atendendo as exigências da portaria.
A instituição de longa permanência atende a todas as exigências mantendo as dependências em perfeitas condições de higiene, possuindo lixeira externa e mantendo os lixos em sacos plásticos.
As paredes e tetos possuem cores claras e laváveis, o que facilita a limpeza da casa.
Quanto à mobília, a instituição não segue as normas da portaria, pois apresenta móveis com cantos pontiagudos em locais de passagens freqüentes, facilitando com que os idosos corram mais risco de se machucar.
Com relação aos recursos humanos, a instituição não atende as exigências por não possuir nenhuma assistência direta de profissionais da saúde como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistente social, educadores físicos, entre outros.
Conclusão
A partir de uma revisão bibliográfica e visitas semanais na casa de longa permanência Dom Rodolfo, tendo com base para a análise ergonômica a Portaria 810/89 do Ministério da Saúde, verificou-se que das 50 exigências mínimas preconizadas, a instituição cumpre com apenas 23 delas, ou seja, 46%.
Diante do exposto, pode-se concluir que mesmo não tendo atendendo todas as exigências contidas na portaria em questão, a casa de longa permanência Dom Rodolfo atende de forma satisfatória as principais necessidades dos idosos institucionalizados nesta casa, e que estes dispõem de uma boa qualidade de vida, que pode ser avaliada durante as visitas dos acadêmicos de fisioterapia a instituição.
Portanto, através desse estudo percebe-se que uma instituição de longa permanência não é sinônima de abandono e nem de maus-tratos, mas sim um lugar onde os idosos podem vir a receber uma maior atenção e ter suas necessidades mínimas de saúde e proteção supridas.
Bibliografia
COUTO, Hudson de Araújo. Como implantar ergonomia na empresa: a prática dos comitês de ergonomia. Belo Horizonte: Editora Ergo, 2002.
GUCCIONE, Andrew A. Fisioterapia Geriátrica. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2002.
PASQUALOTTI, Adriano; PORTELLA, Marilene Rodrigues; BETTINELLI, Luiz Antonio. Envelhecimento Humanos desafios e perspectivas. Passo Fundo: Editora UPF, 2004.
PORTELLA, Marilene Rodrigues; PASQUALOTTI, Adriano; GAGLIETTI, Mauro. Envelhecimento Humano saberes e fazeres. Passo Fundo: Editora UPF, 2006.
ZIMERMAN, Guite I. Velhice Aspectos biopsicossociais. São Paulo: Editora Artmed, 2000.
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