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Parlebas: campo do possível? A utilização da 

praxiologia motriz em área de risco social do Rio de Janeiro

Parlebas: ¿campo de lo posible? La aplicación de la praxiología motriz en una zona de riesgo social en Río de Janeiro

Parlebas: the field of possible? The use of motor praxiology in the area of social risk in Rio de Janeiro

 

Universidade Castelo Branco

Rio de Janeiro, RJ

(Brasil)

Fabiana Cavalcanti Pimentel Chelfo

Angelo Luis de Souza Vargas

fabipimentel@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O Esporte é um meio de socialização que contribui para inserir o individuo no contexto social em que vive e é através do esporte que se pode fazer o ser humano crescer em toda sua plenitude sociocultural. O Esporte é uma ação social de grande impacto, sendo meio e integração, socialização, educação e promotor da cidadania, surgindo como uma estratégia social, com objetivos na busca de soluções para problemas sociais de emergência nas comunidades carentes. Portanto, o problema deste estudo se consolida na busca de uma metodologia didática capaz de efetivar o contato social e motriz de crianças e adolescentes no universo do Futebol, que é paixão nacional, para constituir uma estratégia de prevenção da violência presente nas comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro.

          Unitermos: Futebol. Ciência da Motricidade Humanidade. Violência. Comunidades carentes.

 

Abstract

          The Sport is a key tool for the crystallization of positive experiences and appreciation of life. It is a means of socialization that helps to place the individual in the social context in which they live and it is through sports that can make humans grow in their full apprehension of culture. The Sport is an act of great social impact, integration, socialization, education and promoting citizenship, emerging as a social strategy, with goals in seeking solutions to social problems of emergency in the poor communities. Therefore, the problem of this study is consolidated in search of a teaching methodology capable of effecting social contact and driving the children in the world of football, which is a national passion, to form a strategy to prevent violence in the poor communities in the city of Rio de Janeiro.

          Keywords: Football. Human Movement Science. Violence. Poor communities.

 

Este artigo é uma homenagem ao inesquecível e invencível Mestre Manoel Tubino (1939-2008)

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O termo cultura segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa significa “ato, efeito ou modo de cultivar. Complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característica de uma sociedade.” De acordo com LARAIA (1986), o termo “cultura” surgiu em 1871 como síntese dos termos Kultur e Civilisation. O termo alemão Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilisation referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Naquele ano, Edward Tylor (1832-1917) sintetizou os dois termos no vocábulo inglês Culture, que tomado em seu amplo sentido etnográfico é um todo complexo que inclui “conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (Cf. LARAIA, 1986).

    Assim, a expressão cultura política refere-se ao conjunto de atitudes, normas, crenças e valores políticos partilhados pela maioria dos membros de uma determinada sociedade ou nação. Além disso, o tipo do sistema ou regime político em vigor num determinado país, incluindo as instituições políticas existentes, também integram o conceito de cultura política.

    Para Elias (1993), o processo civilizacional é um fenômeno, um encadeamento de eventos, mudanças sociais e interiorizações, que se dirige, ao longo da história ocidental, para o controle social, o controle tecnológico do homem sobre a natureza, o controle entre os indivíduos e sobre eles.

    O processo civilizador, como define Elias (1994), está relacionado a essa série de outros processos sociais e históricos e nem sempre caminha “para frente”, passando às vezes por recuos que se traduzem em seus contrários (crises políticas, desintegrações sociais, perda de controle social, aumento da violência no cotidiano).

    Como enuncia o mesmo autor “o processo social é transmitido de uma geração a outra sem estar consciente do processo como um todo, e os conceitos sobrevivem, enquanto esta cristalização de experiências passadas e situações retiverem um valor existencial, uma função na existência concreta da sociedade”.

    O aumento da violência no cotidiano pode ser uma grave ameaça ao processo social, assim como as guerras entre nações colocam em risco o processo civilizatório. Seria o esporte uma forma simbólica de guerra? Um artigo do Le Monde Diplomatique responde afirmativamente: esporte é guerra.

    O esporte talvez seja a guerra, mas, como queriam os gregos antigos, uma guerra ritualizada, sem armas, sem derramamento de sangue e sem morte. É também uma educação para a paz. Os sociólogos ELIAS & DUNNING (1992) observaram, com justiça: “No nível internacional, as manifestações esportivas como os Jogos Olímpicos ou a Copa do Mundo de Futebol constituem, de maneira visível e regular, a única ocasião de união para os Estados em tempos de paz. Os Jogos Olímpicos permitem aos representantes de diferentes nações que possam se desafiar sem se matarem” (Olimpíadas: esporte é guerra. Disponível em: http: //diplo.uol.com.br/2004-08,a964. Acesso em: 16 ago 2009). Nesse sentido, o Esporte é um instrumento decisivo para a cristalização de experiências positivas e valorização da existência. Ele é um meio de socialização que contribui para inserir o individuo no contexto social em que vive e é através do esporte que se pode fazer o ser humano crescer em toda sua plenitude sociocultural. Constitui potencial indiscutível para atingir a massa carente, prevenindo o ócio e da marginalidade, criando laços de afeto e solidariedade.

    É através da prática esportiva que os indivíduos aprendem novos padrões de comportamento, desenvolvem habilidades, adquirem conhecimentos, desenvolvem a personalidade e moldam o caráter, absorvendo idéias e valores, tendo a Educação Física como papel decisivo na transformação e progresso das aprendizagens motoras, cujos efeitos são de grande importância na formação do indivíduo como um todo.

    A atenção a projetos sociais vem crescendo e ganhando espaço no contexto social de setores públicos, privados e do terceiro setor, devido ao grande número de participantes, fãs e torcedores. Pode-se dizer que, no Futebol, estão presentes a cooperação e a oposição, sendo que a ação motriz depende da cooperação entre indivíduos que trabalham em equipe para alcançar uma determinada meta, marcar um gol, alcançar um objetivo. A todo o momento os participantes deverão tomar decisões em função dos companheiros de equipe e seus adversários. Numa partida de futebol, joga-se o sonho, a vitória, a derrota, a paixão, o momento, enfim, joga-se a vida.

    Portanto, o problema deste estudo se consolida na busca de uma metodologia didática capaz de efetivar o contato social e motriz de crianças e adolescentes no universo do Futebol, que é paixão nacional, para constituir uma estratégia de prevenção da violência presente nas comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro.

Métodos

Objetivos geral e específicos

    Propor um modelo metodológico para o ensino aprendizagem do Futebol nos Projetos Esportivos Suderj Em Forma no Município do Rio de Janeiro, na perspectiva da Sociomotricidade segundo a Praxeologia Motriz de Pierre Parlebas (1981; 1997 e como justificativa a Teoria do Direito à Prática Física/Esportiva de Manoel Tubino (2001, 2002, 2007).

    Para alcançar o objetivo geral formulado, estabeleceram-se os seguintes objetivos específicos:

  • Descrever a Praxeologia de Pierre Parlebas;

  • Identificar características do esporte contemporâneo que permitam uma intervenção social com vistas à sociomotricidade de Pierre Parlebas;

  • Descrever a Metodologia do Projeto Suderj Em Forma;

  • Descrever o Projeto Suderj Em Forma.

Alvos, pistas e metas da investigação

    Para nortear o estudo, foram elaboradas as seguintes questões:

    O professor consegue atingir seus objetivos e seus propósitos com uma alternativa pedagógica referenciada na Praxeologia de Pierre Parlebas?

    É eficaz que os alunos participem do Futebol na perspectiva da Sociomotricidade (Praxeologia Motriz) para que possam compreender e interagir com os outros por uma estrutura e lógica de aprendizagem participativa?

    É possível, através da Educação Física e do Esporte Contemporâneo concretizar a Ética do Direito de Todos à Educação Física e ao Esporte como propugnada por Manoel Tubino?

Instrumentos da Pesquisa, Coleta de Dados e Amostra.

    Numa perspectiva da Sociomotricidade foi elaborado um modelo de ensino e aprendizagem da modalidade Futebol, tendo como referência a Teoria Praxeológica de Pierre Parlebas e atividades de cooperação.

    Esta pesquisa foi fruto da análise das aulas ministradas pelo Profissional de Educação Física, aos alunos do Projeto Suderj Em Forma na comunidade de Santíssimo na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que constitui da Amostra da Pesquisa.

Referencial teórico: Praxeologia e o esporte como direito

    No atual estágio do processo civilizatório, existe uma internacionalização dos direitos, com ênfase a inclusão e na democratização em todos os níveis. Um exemplo é a Carta Internacional de Educação Física e Esporte da Unesco, (1978) que estabeleceu o direito de todas as pessoas às práticas esportivas e atividades físicas. Esse documento rompeu definitivamente o entendimento anterior de que o esporte era apenas destinado às pessoas com talento e biótipos adequados. Nesse documento de 1978, o primeiro artigo defende esse novo direito humano (Tubino, 2007). O esporte deixou de ser visto somente como um ramo de rendimento para ser compreendido também numa perspectiva do direito por todas as pessoas na sociedade, minimizando as questões negativas, possibilitando uma sociedade mais justa e igualitária.

    É urgente, neste sentido, definir o esporte como ferramenta de inclusão social, antes que a barbárie invada o campo do possível.

    A socialização do esporte se traduz pela utilização do esporte como um instrumento educacional, gerando oportunidades e preparando o cidadão para o futuro. A sua potencialidade como ferramenta de inclusão social, no entanto, terá de ser explorada de maneira sistemática. Reconhecido como direito humano, o direito ao esporte é reconhecido pelas Nações Unidas como de relevante importância (Cf. Carta Internacional de Educação Física e Esporte da Unesco, 1978). Seus organismos, fundos e programas empreendem diversas atividades relacionadas com o desporto. Estas visam, simultaneamente, chamar a atenção para os desafios mais urgentes a enfrentar - como a degradação do ambiente - e melhorar a vida das pessoas pobres ou marginalizadas.

    Os princípios fundamentais do esporte - respeito aos oponentes, trabalho em equipe e jogo limpo - convergem com os princípios da Carta das Nações Unidas (idem, 1978). Para a ONU, o esporte não é um luxo ou uma forma de entretenimento. O acesso a ele é um direito humano essencial para que as pessoas de qualquer idade possam ter uma vida sadia.

    A atividade esportiva é, também, essencial para o desenvolvimento infantil: ensina valores como cooperação e respeito; contribui para a interação além do círculo familiar e para a inclusão social; previne doenças e, acima de tudo, coloca indivíduos e comunidades lado a lado, diminuindo as diferenças étnicas e culturais. Por isso, ele pode construir uma cultura de paz e tolerância. O esporte pode aproximar culturas e ajudar a resolver conflitos.

    O esporte também tem um papel fundamental nas pequenas e grandes comunidades. Sua capacidade de ação pode gerar empregos e atividades econômicas em todos os níveis, além do próprio poder de agregação que abrange recreações, jogos e competições, ligas organizadas, treinamento e apoio em eventos esportivos globais. Desta forma, ele ajuda a contribuir para os desenvolvimentos econômicos, culturais e sociais, melhorando a saúde e o bem-estar de pessoas de todas as idades, principalmente os jovens.

    Além disso, os programas esportivos aumentam os índices de freqüência em escolas e reduz o comportamento anti-social, inclusive a violência. A educação física é um componente essencial de qualidade de ensino e de vida. Ela ensina aos jovens a respeitar seu próprio corpo e o dos outros, além de ajudá-los a enfrentar os diversos desafios da juventude como drogas, fumo e doenças sexualmente transmissíveis, etc.

Competição e cooperação: o esporte contra a barbárie

    O processo do esporte teve que se adaptar a realidade da sociedade e no esporte com a evolução do homem e as mudanças nas suas necessidades. Um dos principais fatores que interferem no avanço da civilização é a questão social, com a falta de uma política voltada para a população menos favorecida, oportunidades de estudos de forma igualitária a todas as classes sociais, falta de oportunidades para a vida em sociedade, educação de qualidade nas escolas públicas, etc.

    A cooperação é tratada em detrimento da competitividade. No entanto, deve-se partir dar inicio a idéia de que se vive em sociedade e a interação é fundamental, pois cada um pode contribuir para que todos ganhem de alguma forma. Vale distinguir cooperação e competição, conforme Brotto (1997):

    “A cooperação é um processo onde os objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos, já a competição é um processo onde os objetivos são comuns, mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns”.

    Pode-se esse fazer um análise com o esporte, a partir desse ponto de vista, no espírito olímpico a cooperação é uma das marcas. A pratica esportiva pode ser direcionada para a conquista do respeito e da dignidade daqueles que a praticam. Destaca-se ainda, em muitos casos, a interação de realidades às vezes tão distintas. gerando a globalização de culturas e raças.

    A cooperação esta associada ao compartilhamento, respeito e integração das diferenças; ao conhecimento dos pontos fracos e fortes; participação com dedicação; a ser solidário, criativo e cooperativo; consciência para assumir riscos. Enquanto a competição esta relacionada ao ganhar e perder, ao aceitar a derrota e na vitória, ganhar com humildade é buscar a vitória com honestidade e nas derrotas buscarem o desafio de se recuperar e vencer seus próprios limites. Pode-se afirmar que diversos valores importantes e modos de comportamentos são aprendidos por meio da experimentação das vitórias e derrotas tanto na cooperação, quanto na competição.

    A realização de atividades esportivas voltadas para o aspecto social, é relevante na perspectiva adotada por Brotto (1997) fundada em alguns objetivos que orientam a ação cultural e educacional: formar o atleta cidadão; resgatar o lúdico nas atividades propostas e garantir o esporte para todos. Acredita-se que a consciência da cooperação e ajuda mutua são capazes de mobilizar para que a democracia no esporte e na vida realmente se concretize.

    Assim, a cooperação constrói um paralelo entre o jogo e a vida, já que todos participam com um objetivo em comum, como destaca Freire (1998): “é jogando que criamos laços de identidade com os outros, formando comunidades”.

    Em seus estudos, Orlick (1989) ao abordar a experiência com Jogos Cooperativos, aponta que os Jogos Cooperativos são importantes recursos, pois auxiliam as pessoas a entenderem a si mesmas, os outros participantes e sua condição, alem de reconhecer o outro independente de suas limitações, ressalta-se que os Jogos Cooperativos se originaram com a freqüente valorização dada ao individualismo e a competição.

    Os Jogos Cooperativos por sua vez permite que o conteúdo ensinado ganhe proporções e aplicações na vida, pois levam a reflexão de experiências, pensamentos, sentimentos, intenções e emoções. A consciência de que se vive em grupo e que um ato irresponsável pode acarretar conseqüências para varias pessoas, dependendo é claro de sua dimensão, permite reconhecer e respeitar os outros e seus modos de ser. Varias modalidades de esporte podem ser utilizadas para buscar o crescimento de cada integrante.

    A cooperação e os Jogos Cooperativos podem oferecer muitas contribuições, pois se fundamentam na mobilização da busca do conhecimento de si e na flexibilização de algumas resistências que impedem o emprego verdadeiro destes conceitos e a realização de alterações.

    Logo, percebe-se que em tempos de crescente globalização da economia, a cooperação faz diferença diante dos contextos em que os individualismos se destacam. Sabe-se que este mesmo fator é responsável pelas discrepâncias com relação às realidades sociais e culturais. Para promover ações sustentáveis, a cooperação deve estar por taras de qualquer iniciativa neste sentido.

    Portanto, a aplicação da cooperação pode proporcionar, por exemplo: melhoria da autoestima, crescimento pessoal, confiança mutua, respeito pelas diferenças, compartilhando de idéias e opiniões, progresso em grupo. Esta situação configura de diversas maneiras em mudanças para o individuo, já que melhoram sua visão de mundo, trazendo questionamentos sobre sua condição de vida.

    Em relação às atividades desenvolvidas, é possível inferir que foi um objetivo altamente atingido através da menção dos aspectos perceber o outro e ouvi-lo; confiança no outro; cooperação; conhecer-se através do outro; respeito pelas diferenças; doação; trabalho e integração do grupo.

    Dessa forma, a percepção da cooperação como um fator relevante aplicável na vida social e cotidiana pode ser apontada como uma referência do sucesso das atividades e reflexões desenvolvidas com a finalidade de confrontar a visão cooperativa, como também contribuir para a diminuição do condicionamento competitivo imposto as pessoas educadas no cenário social capitalista.

Conclusão

    Partindo do princípio de que os impactos sociais, ambientais, culturais e econômicos afetam o estilo de vida das sociedades modernas, todas as formas de reverter os impactos negativos são relevantes. Assim, a cooperação passa a ser empregada com agente facilitador no processo de ensinar valores humanos, através de vários meios, como por exemplo, os jogos. Conforme Orlick (1989), a cooperação é “uma força unificadora, que agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados numa unidade coletiva”.

    Da mesma forma a introdução do seu conceito de comportamento motor (PARLEBAS, 1994), permitiu dar coerência necessária a Educação Física, bem como lhe proporcionar uma ferramenta conceptual e metodológica onde o aluno é observado na sua totalidade como ser individual e único. Por outro lado, com este tipo de instrumento é possível observar com clareza qual a contribuição e a influência pedagógica no processo de ensino aprendizagem, com as implicações que daí advêm ao nível afetivo, psíquico e social.

    Para Parlebas (1994) um dos objetivos principais da praxeologia motora claro é conhecer a lógica interna de cada situação motora, isto é, as suas características pertinentes. Para tanto, ele cita a competição dentro do jogo como fator importante no desenvolvimento do esporte com regras, e que a criação se vincula a liberdade dentro de um processo cognitivo interno, logo, é individual.

    Considerando a complexidade e a diversidade de estilos de vida das sociedades, pode-se afirmar que as crianças e jovens demonstram nas suas atitudes e comportamentos, as influências do meio social e familiar em que vivem. O impacto no processo de desenvolvimento é grande atendendo às características destes contextos de vida, que moldam e irão interferir na construção da personalidade. Malina (1980) afirma que as condições em que vive a família, as condições étnicas e culturais, o gênero, a ordem de nascimento, e os aspectos de natureza psicossocial estão relacionados com a características que a criança vai adquirindo no seu processo de desenvolvimento.

    O desenvolvimento físico e social tem influência determinante no desenvolvimento humano, visto que um envolvimento rico em estimulação sensorial e motora conduz a comportamentos positivos, enquanto envolvimentos restritos podem provocar atrasos de desenvolvimento social, motor e intelectual.

    É necessário ao profissional de educação física ter conhecimento sobre crescimento, desenvolvimento, maturação, idade cronológica e idade biológica, conceitos esses relevantes para compreendermos o verdadeiro papel da atividade física na criança, onde:

  • Crescimento refere-se às mudanças no tamanho do individuo, ou seja, é um aumento da estrutura do corpo decorrente da multiplicação ou aumento de células;

  • Desenvolvimento refere-se a alterações nas funções orgânicas de um individuo ao longo do tempo;

  • Maturação refere-se a variações na velocidade e no tempo de surgimento de determinadas características, capacitando o individuo a atingir a maturidade biológica.

  • Idade cronológica representa a idade do indivíduo em meses ou anos e é ordenada em consonância com a idade do nascimento;

  • Idade biológica corresponde à idade que o organismo aparenta com base na condição biológica dos seus tecidos confrontados com padrões, se interrelacionando com os processos de maturação biológica e de fatores exógenos.

    De posse desses conhecimentos e analisando a trajetória até a idade adulta, nota-se que o homem leva cerca de duas décadas até alcançá-la e metade desse tempo no processo de maturação, onde o estirão de crescimento na puberdade é influenciado por uma variedade de elementos genéticos que operam em função de fatores ambientais como nutrição, ocorrência de enfermidades, condições climáticas e estresse emocional (GALLAHUE; OZMUN, 2001).

    Para Parlebas, o jogo esportivo pode ser: a) Jogo esportivo institucionalizado; b) Jogo esportivo não-institucionalizado ou jogo propriamente dito.

    Nessa teoria, o objeto científico é constituído pelas condutas motrizes dos praticantes ou alunos.

    As ações do jogo carregadas de significados são entendidas por Parlebas como condutas motrizes.

    Segundo SERGIO (1996), a Conduta Motora representa o Comportamento Motor dotado de significação ou com valor, por ser oriundo de uma consciência intencional surgida de um problema, ou de concreta dialética (tese e antítese) entre o interpessoal e o intrapessoal, e manifestam-se em um processo dinâmico, integrador e histórico, de síntese. O Comportamento Motor representa de fato o Homem movendo-se no tempo e no espaço, e assim interpretado imediatamente e percebido do exterior.

    A vitória não é o objetivo principal em uma partida de esporte coletivo. Existe um sentido, um significado, uma intenção, uma filosofia de jogo, um motivo para a competição, toda história desses jogadores, um conjunto de fatos que dão significados a essas ações. Dependendo do jogo, do adversário, do tempo, da competição, do salário, da satisfação pessoal, é que será possível determinar o grau de envolvimento e participação na partida. Essas ações de jogo carregadas de significados são entendidas por Parlebas como condutas motrizes.

    E cabe encerrar com uma lição imemorial do inesquecível Mestre Manoel Tubino (2007), quando afirma que a Educação Física e o Esporte precisam estar sintonizados com um referencial ético, “o qual se inicia com a Ética do Direito de Todos à Educação Física e ao Esporte.”

Referências bibliográficas

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