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Xadrez e as múltiplas inteligências

El ajedrez y las inteligencias múltiples

 

Universidade Veiga de Almeida, RJ
(Brasil)

Jefferson Leal Oliveira

jefferson.prepfisico@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A idéia de desenvolver um trabalho dentro da psicanálise, sobre o tema xadrez e as múltiplas inteligências é de um fascínio muito grande, pois ao longo deste trabalho vamos analisar como pode um jogo aparentemente tão inocente se transformar numa ferramenta tão valiosa para desenvolver diversas formas de nossa capacidade intelectual, como também de desenvolver a capacidade de utilizar nosso inconsciente a nosso favor em momentos de pressão psicológica em que um jogador de xadrez pode encontrar diante de si mesmo, igualmente como um estudante encontra em momentos de aprendizado ou até mesmo na realização de uma prova. E aonde pode entrar a importância do xadrez no desenvolvimento do inconsciente da criança? Talvez seja também possível desenvolver as múltiplas inteligências, se claro nos as aceitarmos como sendo existentes e diferentes entre si, dentro do xadrez escolar? É o que vamos tentar elucidar ao longo deste trabalho.

          Unitermos: Xadrez. Múltiplas Inteligências. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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1.     Introdução

    A idéia de desenvolver um trabalho dentro da psicanálise, sobre o tema xadrez e as múltiplas inteligências é de um fascínio muito grande, pois ao longo deste trabalho vamos analisar como pode um jogo aparentemente tão inocente se transformar numa ferramenta tão valiosa para desenvolver diversas formas de nossa capacidade intelectual, como também de desenvolver a capacidade de utilizar nosso inconsciente a nosso favor em momentos de pressão psicológica em que um jogador de xadrez pode encontrar diante de si mesmo, igualmente como um estudante encontra em momentos de aprendizado ou até mesmo na realização de uma prova.

    A psicanálise nos remete através das palavras de Lacan (2001 pag. 76) sobre o começo e a ação que sem ato não poderíamos simplesmente nos remeter a questão do começo, onde a ação está exatamente no começo, por que não poderia haver começo sem ação. Ao analisar o “eu penso” do inconsciente implica nos remeter ao “logo sou”, que faz com que lá onde mais certamente eu penso, ao me dar conta disso, eu lá estava, fazendo assim nos dar sentido a prática, na busca pela falta, ou melhor, pelo “falso-ser”, onde se define como a essência do homem e que se chama o desejo.

    E aonde pode entrar a importância do xadrez no desenvolvimento do inconsciente da criança? Talvez seja também possível desenvolver as múltiplas inteligências, se claro nos as aceitarmos como sendo existentes e diferentes entre si, dentro do xadrez escolar? É o que vamos tentar elucidar ao longo deste trabalho.

2.     Desenvolvimento (fundamentação teórica)

2.1.     Xadrez escolar

    O xadrez é o jogo mais antigo do mundo que conhecemos, nem se sabe ao certo sua origem, citações colocam como China, Índia ou península da Arábia suas origens, a mais provável conta uma lenda árabe que o sábio brâmane Sisso queria moralizar o rei cruel Shahrâm, o sábio queria que o tirano entendesse, através do jogo, que o rei precisa, nas suas estratégias políticas e militares, de todas as partes do povo, mesmo as mais humildes. Começo com esta pequena história do xadrez para explorar neste trabalho a influencia que a psiquiatria pode ter no desenvolvimento do indivíduo dentro do tema: Xadrez na escola.

    Piaget escreve a respeito dos jogos na infância para a formação do adulto, segundo ele: “O jogo constitui o pólo extremo da assimilação da realidade no ego, tendo relação com a imaginação criativa que será fonte de todo o pensamento e raciocínio posterior” (Piaget, 1975, pág. 162)

    Como Lacan (2008, pág. 267) coloca em seu livro que a criança trás o conhecimento do inconsciente para a prática da vida real, ainda mais complicado poderá ficar se tivermos como base Melmann (2009, pag. 192) que coloca em seu livro citando Lacan que chama, ou teria chamado de confiança desmesurada de Freud depositando no Pai, onde ele fala sobre a relação pai-mãe-filho, mas tornando mais profundo a responsabilidade dos patriarcas em dar pré-conhecimento a seus filhos, para que de forma inconsciente adquiram passagens sobre lógica, raciocínio, conhecimento de letras e números, aspectos motores de deslocamento entre outros. Tudo como pré-disposição necessária e apresentada a criança para que no futuro ela o adote. No xadrez escolar podemos colocar em prática muitas formas de conhecimento e troca de experiências, pois como cada jogo é único nossos alunos e nós professores podemos nos remeter a uma idéia que Freire (1996 pag. 30) coloca em seu livro sobre o respeito aos saberes dos educando, onde nesta atividade extracurricular é interessante notar a harmonia que pode existir na troca de conhecimento entre educador e educando e sua futura beneficie no relacionamento em sala de aula que pode proporcionar entendimento e respeito pelo conhecimento das partes, entre quem pretende ensinar e quem quer aprender.

2.2.     Inteligências Múltiplas

    A idéia de inteligências múltiplas começou a ser teorizado em 1994 pelo pesquisador Gardner, e em seu livro NOGUEIRA(2009) fala sobre estas análises e explica essa concepção de pensamento sobre a inteligência como sendo um cristal, tipo um espectro de competências, ou seja intensificando cada vez mais seu brilho. Transformando nossa visão de inteligência num aspecto de pluralidade e podendo ser definido como sendo a capacidade de resolver problemas ou criar caminhos alternativos, possibilitando outras rotas para atingir seus objetivos estabelecidos. NOGUEIRA (2009) ainda cita que Gardner não nega a herança biológica, mas não a considera determinante num sujeito, pois todas as formas de inteligências poderão e deverão ser desenvolvidas.

    Essa nova idéia de inteligências múltiplas é melhor entendida quando pensamos que estas inteligências são independentes entre si, podendo possuir uma habilidade muito superior em uma e ter um tipo de “carência” em outra. Nossos alunos neste novo tipo de pensamento devem receber estímulos nas diferentes áreas de conhecimento, pois mesmo existindo esta independência entre as diferentes inteligências ela se interagem existindo uma rede de ligações fazendo-as trabalhar juntas(BARRETO, 2009, pag. 27). As inteligências múltiplas então foram divididas em onze competências por Gardner, citado por BARRETO(2009), da seguinte forma:

2.2.1.     Inteligência Lógico-matemática

    Competência em desenvolver ou acompanhar raciocínios, resolver problemas lógicos, lidar com cálculos e números, criação e compreensão de uma sequencia de fatos e acontecimentos que envolvam a lógica ou o raciocínio lógico.

2.2.2.     Inteligência Lingüística

    Capacidade de lidar bem com a linguagem tanto na expressão verbal como escrita.

2.2.3.     Inteligência Espacial

    Competência relacionada à capacidade de extrapolar situações espaciais para o concreto e vice-versa, possuindo desta forma grande percepção e relacionamento com o espaço físico ou geográfico.

2.2.4.     Inteligência Corporal-cinestésica

    Está relacionada à perfeita forma de expressão corporal, assim como à resolução de determinado problema por meio de movimento de seu corpo.

2.2.5.     Inteligência Musical

    Capacidade intelectual de interpretar, escrever, ler e expressar-se pela música, ritmos contínuos ou em compasso.

2.2.6.     Inteligência Interpessoal

    Capacidade de entender outras pessoas, comunicar-se de forma adequada com elas, motivando, incentivando e dirigindo-as, em alguns casos, a um objetivo comum.

2.2.7.     Inteligência Intrapessoal

    Capacidade de se conhecer, de entrar em contato com seu próprio self, de se autoavaliar, reconhecendo seus pontos positivos e negativos para, dessa forma, ficar mais fácil trabalhá-los.

2.2.8.     Inteligência Naturalista

    Capacidade de realizar qualquer tipo de discriminação no campo da natureza, reconhecendo, respeitando e estudando outro tipo de vida que não só a humana.

2.2.9.     Inteligência Existencial

    Capacidade de situar-se com os limites do cosmos, com as coisas mais etéreas, como por exemplo a compreensão do sentido de vida e de morte, do amor e do ódio, com a capacidade de aprofundar-se na descoberta do sentido de uma obra ou questões filosóficas.

2.2.10.     Inteligência Pictórica

    Sugere-se como uma possível inteligência do espectro, com possibilidade de associação e complementaridade com a inteligência musical. Esta inteligência esta relacionada às manifestações da arte, do grafismo, da expressão via desenho e da resolução de problemas por esse canal de comunicação, podendo ter como exemplo o caso de uma criança não alfabetizada que por meios de seus próprios desenhos e garatujas, consegue “contar” tudo sobre seu mundo e seu desenho.

2.2.11.     Inteligência Emocional

    Essa não é uma das inteligências desenvolvidas por Gardner, mas BARRETO (2009) cita um trecho do livro de Goleman (1995), onde o mesmo explica como sendo uma capacidade de motivar-se e persistir diante de frustrações, controlarem impulsos, regular o próprio estado de espírito e impedir a aflição o desespero invadam nossa capacidade de raciocinar, relacionar e esperar. São apresentados cinco domínios principais sobre a definição de educação emocional: Autoconhecimento, administrações das emoções, automotivação, empatia e capacidade de relacionamento.

2.3.     Ato Psicanalítico

    LACAN (2001, pag. 87) em seu seminário de 17 de janeiro de 1968, relata sua fala e começa a desenvolver seu raciocínio querendo esclarecer o que seria o ato, e também no consiste o ato do psicanalista. O ato diz algo como coloca Lacan, e é a partir daí que partimos, pois ele está presente no fato, na experiência, pois vamos como coloca Lacan “agir segundo sua consciência”, através da dimensão do Outro, um sujeito suposto saber que toma aqui seu valor justamente pelo fato de que a existência do inconsciente a coloca em questão, pois no momento em que há saber, há sujeito, e é preciso algum desnível, alguma fissura, algum abalo, algum momento de “eu” nesse saber, para que de repente ele se dê conta, para que assim se renove esse saber, que ele sabia antes. A tarefa à qual o ato psicanalítico dá seu estatuto é uma tarefa que já implica essa destituição do sujeito, e aonde isso nos conduz? A castração, que deve ser tomada em sua dimensão de experiência subjetiva, à medida que, em canto algum, se não for por essa via, o sujeito não se realiza.

2.4.     Competências

    As competências têm por finalidade falar de transferência ou de mobilização de saberes, onde desenvolvemos a assimilação de saberes, PERRENOUD (2010, pag. 45) nos apresenta que a noção de competência é ampla e “intelectual”, isto quer dizer que na realidade é o domínio prático de um determinado tipo de tarefas e de situações.

    No campo educacional podemos entender competências como sendo uma tomada de decisão, enfrentar de forma consciente as diversidades contextuais, discernir dúvidas (conflitos), escolher oportunidades, superar dificuldades que se expressam de muitas formas (limites).

    Desta forma o aluno, pouco a pouco vai se tronando uma pessoa habilidosa, que faz bem feito, que tem destreza mental ou física, que valoriza, por que aprendeu a fazer bem, a compreender bem, a viver e conviver bem. Conceituando então a habilidade no campo educacional como uma forma de observar, identificar, comparar, discutir e definir as idéias propostas.

3.     Discusão

    Lacan fala em seu livro “O ato psicanalítico, seminário de 1967-68” sobre como acontece o ato psicanalítico, mas para poder fazer essa ligação inicial e de fundamental importância com o xadrez e principalmente com as diversas formas de inteligência, trago um trecho do livro em que o autor fala sobre o sujeito suposto saber e a existência do inconsciente (Lacan, 2001 pag. 89):

    No momento em que há saber, há sujeitado, e é preciso desnível, alguma fissura algum abalo, algum momento do “eu” nesse saber, para que de repente se dê conta, para que assim se renove esse saber, que ele sabia antes.

    A idéia de trazer ao conhecimento e existência das diversas formas de inteligência mostra o quando o xadrez pode ser riquíssimo em sua grande magnitude de assimilar conhecimento e sobre tudo desafiar ao detentor dos movimentos (no caso o jogador) reconhecerem sua capacidade de pensar e se desafiar a criar estratégias múltiplas para superar seus obstáculos dentro do sistema de jogo criado unicamente junto com ao seu oponente, estabelecendo comparações com movimentos anteriores em outras ocasiões e propor novas idéias para estas já existentes em sua memória, utilizando de seu inconsciente para rever conceitos anteriores e superar suas dificuldades atuais.

    Lacan (2001 pag. 13 e 15) fala sobre o processo estímulo-resposta, onde existe a identificação da ação com a motricidade, onde pode ocorrer desencadeamentos motores que desempenham aqui o papel de resposta.

    A idéia de que crianças com habilidades especiais pensam rápido demais e não conseguem transformar seus pensamentos em atitudes concretas podem auxiliar na dificuldade de superar seus problemas de aprendizado e de alcançar resultados mais condizentes com a sua capacidade intelectual, como coloca MARIE-ALICE e MICHELE SCHNAIDT (2010 ,pag33):

    Está “incompetência” se traduz em geral por uma escrita desordenada, mal apresentada, suja e com aparência de rascunho frequentemente difícil para ler, ou ainda simplesmente muito lenda. A idéia de uma desarmonia seria evocada aí, uma discordância entre uma parte a vivacidade, a riqueza intelectual e por outra parte, seu avesso de alguma maneira, o desajeitamento ou a imaturidade manual que sobrecarregaria a capacidade de escrever.

    O xadrez na escola pode e deve ser desenvolvido de uma forma multidisciplinar e com diversas competências dentro de cada forma das inteligências múltiplas. Um trabalho comandado em 2003 pelo prof. Luciano do Amaral em uma escola estadual de Canoas-RS tomou como base a observação em sala de aula no envolvimento do jogo pelos alunos através de diferentes disciplinas apresentando o jogo como meio de ligação entre o conhecimento. As disciplinas envolvidas eram história, matemática, língua inglesa, educação física e educação artística onde os professores de cada uma das matérias envolvidas buscaram atividades que relacionassem o jogo, de uma forma mais pedagógica e lúdica, com a sua área de conhecimento propondo questões que poderiam relacionar as diversas formas da aprendizagem central, no caso o jogo de xadrez, com os conhecimentos interligados, no caso as suas respectivas disciplinas.

    Uma das preocupações deste trabalho apresentado pelo professor Amaral (2004, pág. 54) era quanto ao fenômeno da dispersão que os alunos não só nesta escola, mas de uma maneira geral sofrem por estímulos rápidos e superficiais (televisão, computadores, videogames,...) e neste sentido o xadrez foi um excelente treinamento mental para ajudar aos alunos a disciplinar sua capacidade de concentração, aplicando as em momentos necessários. Sendo assim o xadrez tem importante resolução de problemas, e é o saber olhar e entender a realidade proposta que o transporta como peça importante numa educação construtiva, como relada TURISO (2003):

    Aprender a analisar sistematicamente os problemas, expor idéias, conclusões e soluções, avaliar antecipadamente as vantagens e inconvenientes de uma decisão, aprender a planejar, responsabilizando-se por seus atos e assumir suas conseqüências, aumentar a autonomia e controlar a impulsividade, são apenas algumas das contribuições do xadrez na construção do caráter de uma pessoa.

    A aprendizagem nesta escola envolveu também, a preocupação e o cuidado em seus resultados de ensinos transversais, tais como paciência, raiva, amor, alegria, tristeza, ansiedade, entre outros aspectos que envolvem a emoção humana que desenvolvemos ao longo da vida de forma consciente e principalmente que mantemos dentro de nossas mentes de forma inconsciente que em momentos de pressão e “stress” emocional podem aflorar em nossas vidas. Um pensamento de que pode representar um local de negatividade é coloca por SANDRINE (2010, pag. 70):

    Causa entre os protagonistas disputas em espelho destinados a estabelecer quem é o mestre do saber. Essa rivalidade mortífera assinala certa agressividade ambiente e pode se concluir pela rejeição escolar ou a exclusão do sistema escolar. Parece que essa seja a dessuposição recíproca que opera nessa destituição, nessa exclusão.

    O desenvolvimento e o aprendizado da educação emocional através do xadrez podem ser aprendidos pela idéia das múltiplas inteligências, não que o jogo em si, vai beneficiar imediatamente o desenvolvimento de seu intelecto através do próprio jogo, mas sua capacidade de absorção de conhecimento pela paciência, pela tranqüilidade que o jogo requer pode refletir no comportamento do aluno em sala de aula e a partir destas, ou seja, com o aluno se portanto de uma maneira mais apaixonante pelo conhecimento ter reflexos em seus conhecimento acadêmico, como coloca Lacan (2001, pag 110) descreve que educar é um ato de desacomodar, transportando para o xadrez e a educação atual, o aprendiz pode através da experiência do desafio ao oponente, o seu colega de classe buscar maiores conhecimento do jogo em si, buscar formas mais apropriadas de superar seus limites e quem sabe até desenvolver técnicas próprias de adquirir conhecimento e obter reconhecimento perante o grupo de estudos.

    Muitas escolas têm em seus Projetos Políticos-Pedagógicos (PPP) a seguinte frase: “Nossa missão é formar o cidadão integral ...” , mas como coloca NOGUEIRA (2009, pag. 16) será que ser integral é decorar todos os conteúdos propostos pelos professores para obter excelentes notas e passar em um futuro vestibular? Será isto uma busca correta pelo prazer em aprender? O sucesso na vida é só através de decorar textos, contas e formulas e depois nem mais saber o que fazer com estes?

    O desenvolvimento das múltiplas inteligências através de uma atividade prazerosa é de suma importância nos dias atuais de nossa educação, e como podemos fazer este tipo de utilização? Desenvolvendo estas ligações de raciocínio que o xadrez proporciona as tarefas diárias de sala de aula e que com outras formas de conhecimento podem também fazer relações com o aprendizado desenvolvido no meio escolar e suas formas de utilização no cotidiano de suas vidas. Nosso cérebro só retém conhecimento adquirido sobre aquilo que nossas emoções julgam importantes, como por exemplo, um menino sabe tudo sobre seu time de futebol, ou uma menina que sabe todas as canções de sua banda preferida e muitas vezes não consiga ler e interpretar um texto escolar apresentado pelo professor de português ou história.

    LACAN (2001) nos descreve esse processo da seguinte forma:

    Realização da operação verdade, a saber, que, com efeito, se isso deve constituir esse tipo de percurso que, do sujeito instalado em seu “falso-ser” lhe faz realizar algo que de um pensamento que comporta o “eu não sou”, isso não se dá sem reencontrar, como convém em uma forma cruzada e invertida, seu lugar do mais verdadeiro, seu lugar na forma do “lá onde isso estava”, ao nível do “eu não sou” que se encontra nesse objeto a, do qual me parece que fizemos bastante para lhes dar o sentido e a prática e, por outro lado, essa falta que subsiste ao nível do sujeito natural, do sujeito do conhecimento, do “falso-ser” do sujeito, essa falta que, desde sempre, se define como essência do homem e que se chama o desejo

    Neste pensamento coloca-se que realmente acontece aprendizado quando temos prazer e gozo pelo que se está fazendo em sala de aula, quando temos vontade de querer aprender sem ser obrigado a ter que decorar ou ter que engolir o conhecimento. Ao tomar conhecimento do xadrez de uma forma lúdica a criança passa a ter desenvolver habilidades cognitivas sem perceber enquanto se diverte num simples jogo com amigos, e é esse prazer em estar entre amigos que torna o desenvolvimento intelectual no inconsciente em possível facilitador na aprendizagem escolar como possível no seu mundo acadêmico.

    Em seu livro lançado recentemente aqui no Brasil, Carnoy (2009, pág. 189) fala sobre a diferença que existe entre os estudantes de diversos países da America latina e ressalta a dificuldade encontrada em crianças brasileiras de terceira série do ensino fundamental em resolver questões de matemática pois estas parecem menos desafiadoras do que as encontradas por exemplo em Cuba, onde a idéia de ensino não está voltada somente para a aquisição de conteúdo, mas para o aprendizado de habilidades de alta ordem. O desenvolvimento de trabalhos em grupo no Brasil como revela o trabalho do professor Carnoy, está muito abaixo do que é desenvolvido em Cuba, onde os professores desenvolvem trabalhos em grupo e tarefas desafiadoras, mas mantém a correção e explicação de uma maneira individualizada. Com o xadrez escolar sendo desenvolvido em escolas de ensino fundamental, se tornar a preencher está lacuna existente em nosso papel como professor para desenvolver habilidades de raciocínio em grupo e proporcionar ao professor a atenção individual que o aluno pode necessitar.

    A idéia de que a psicanálise e as inteligências múltiplas e do conhecimento do inconsciente da criança poderão a partir da utilização do jogo do Xadrez na escola poder ajudar crianças a melhorar seu desempenho escolar ainda é incerto, mas nada também pode ser falado contra a hipótese de se tentar desenvolver este trabalho de forma séria em escola. A proposta de desenvolvimento desta abordagem de aprendizado e satisfação para o aluno, pode se tornar como mais um elemento na busca do gozo do aluno pelo saber, em perceber que aprender é algo que poder ser alcançado através do Eu e juntamente com o Outro. Nossas reflexões e idéias propostas neste trabalho são inovadoras e arrojadas, pois como nos faz refletir L’Heuillet (2008, pág. 199): “será que a escola não produz em parte o que ela denuncia. O pobre recurso faz tomar a medida do desespero, simples projeção de um adulto imaginário, ignorando o que interessa às crianças”. Vamos construir conhecimento a partir do que nossos alunos buscam e não através deles.

Bibliografia

  • AMARAL, Luciano do. O estudo de alternativas de ensino: o caso da escola Affonso Charlier, Unilasalle; Canoas, 2004

  • BERGÈS-BOUNES, Marika; CALMETTES-JEAN, Sandrine. A cultura dos Superdotados? Tradução: Maria Nestrovsky Folberg, - Porto Alegre : CMC, 2010.

  • BERGÈS, Jean; BERGÈS-BOUNES, Marika; CALMETTES-JEAN, Sandrine. O que aprendemos com as crianças que não aprendem? Tradução Maria Nestrovsky Folberg. – Porto Alegre, RS: CMC, 2008.

  • BERNWALLNER, Stefan. Aprendendo Xadrez. Rio de Janeiro: editora ciência moderna: 2005.

  • CARNOY, Martin; GOVE, Amber K.; MARSHALL, Jeffery H. A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola. Tradução Carlos Szlak. – São Paulo: Ediouro, 2009.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

  • LACAN, Jaques. O ato psicanalítico, seminário 1967-1968. Centro de estudos psicanalíticos

  • _____________. “A lógica do fantasma – Seminário 1966 - 1967” Recife: centro de estudos Freudianos, 2008

  • MELMAN, Charles. Para introduzir à psicanálise nos dias de hoje: seminário 2001-2002. Tradução de Sérgio Rezende, Letícia Patriota da Fonseca, Sônia Bley – Porto Alegre: CMC, 2009.

  • NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Educação Emocional: Perspectivas para uma prática pedagógica – Pinhais: Editora Melo, 2009.

  • PERRENOUD, Philippe. Por que construir competências a partir da escola? Desenvolvimento da autonomia e luta contra as desigualdades. Curitiba: Editora Melo, 2010.

  • PIAGET, Jean; INHELDER, Barbel. O desenvolvimento das qualidades físicas na criança: conservação e atomismo. Tradução: Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: ZAHAR editores, 1975

  • REZENDE, Sylvio. Xadrez na escola: uma abordagem didática para participantes. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2002.

  • TURISO, José Angel Lopez de. Xadrez escolar. Disponível em: www.cbx.com.br. Acesso em 13 de julho de 2010.

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