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Visão das coordenadoras dos Centros de Integração no Município

de Campo Mourão, PR em relação às aulas de Educação Física

Punto de vista de las coordinadoras de los Centros de Integración del

Municipio de Campo Mourao, PR en relación a las clases de Educación Física

 

*Pós-graduanda do Programa de Pós-graduação em

Educação Física Escolar da Faculdade Integrado de Campo Mourão, PR

**Professora mestranda da Faculdade Integrado de Campo Mourão, PR

Orientadora do artigo

Vivian Carla Olah*

Morgana Claudia da Silva**

viviolah@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Sabe-se que os conteúdos referentes à disciplina de Educação Física podem ser trabalhados tanto no âmbito escolar como também em projetos sociais, em que suas formas de trabalho vão de acordo com os objetivos da instituição e do professor responsável por tal prática. A presente pesquisa objetivou verificar a visão das coordenadoras do Programa de contra turno dos Centros de Integração do Município de Campo Mourão – PR em relação às atividades de Educação Física trabalhadas. A pesquisa caracterizou-se como qualitativa de caráter descritivo, usando como método a análise de conteúdo, e como instrumento para coleta de dados um questionário com sete questões abertas. A partir da coleta de dados, constatou-se que as coordenadoras dos Centros de Integração perceberam que as aulas desenvolvidas geraram uma participação efetiva por parte das crianças envolvidas; que as aulas de Educação Física estão entre as aulas preferidas da maioria das crianças que freqüentam os Centros de Integração. Foi possível identificar, de maneira geral, que as atividades trabalhadas com as crianças na disciplina de Educação Física no ano de 2009 nos Centros de Integração, foram realizadas de forma diferenciada, utilizando-se todos os conteúdos que a disciplina de Educação Física pode oferecer. É importante ressaltar que estes objetivos se referem ao ano de 2009, mas servem como base para os profissionais que estiverem envolvidos em projetos sociais desenvolvidos pela Ação Social, e que entendem o processo educacional e social destes projetos, proporcionando a sua viabilização.

          Unitermos: Educação Física. Esporte. Projeto Social.

 

Abstract

          The content relating to the discipline of Physical Education can be worked both at school and also in social projects. His work forms go according to the goals of the institution and the teacher responsible for that practice. This study aimed to ascertain the views of the coordinators of the turn against the program of the Integration Centers in the city of Campo Mourão - PR in relation activities to physical education worked. The study characterized as qualitative descriptive character, as a method using the content analysis, and as a tool for data collection a questionnaire with seven open questions. From the data collection, it was found that the coordinators of the Centers of Integration realized that the classes gave rise to an effective participation of children, because the physical education classes are among the favorite of most children who attend the Integration Centers. It was possible to identify in general the activities worked with children in physical education in 2009 that the Centers for Integration was held in a different way, using all the content that the discipline of Physical Education can offer. These goals relate to the year 2009 is very important and serve as a basis for professionals who are involved in social projects for Social Action, and that understand the process of social and educational projects, providing them viable.

          Keywords: Physical Education. Sports. Social Project.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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1.     Introdução

    De acordo com Gonçalves (1994 apud BALBÉ 2008, p.1), a educação deve ser uma prática sistematizada que “busca atuar sobre indivíduos e grupos sociais, com a intenção de possibilitar a formação de sua personalidade e sua participação ativa na sociedade”, portanto, todo processo educacional quer seja formal ou não formal é considerado um fenômeno “inerente ao homem como um ser social e histórico”, pois ela se fundamenta na necessidade de transmitir conhecimentos, crenças e valores abrindo a este homem possibilidades de novas realizações ao mundo em que está inserido.

    Seguindo o olhar da educação, a disciplina de Educação Física também é de fundamental importância para o homem conforme aponta Guirardelli Jr. (1988), pois ela vem a contribuir para a sua autodisciplina e ajuda a desenvolver os aspectos estéticos, o raciocínio, os valores cooperativos, entre outros. Deste modo, todos estes valores são citados em projetos sociais que se utilizam dos conteúdos da Educação Física como meio.

    Sabe-se que a disciplina de Educação Física é considerada pela maioria dos alunos como uma atividade “legal”1, e é uma das disciplinas mais bem aceita por parte dos alunos, principalmente quando o público trabalhado são as crianças. Isso talvez possa explicar o fato de ainda existir um entendimento de que estas aulas, em sua maioria, são práticas, dinâmicas e prazerosas para a maioria dos alunos que delas participam.

    Segundo Darido e Rangel (2005), a Educação Física objetiva integrar os alunos na cultura corporal de movimentos e, ao mesmo tempo, formar cidadãos que poderão usufruir produzir, partilhar, reproduzir e, principalmente, transformar manifestações que caracterizam essa área como jogos, esportes, dança, ginástica e lutas. Gonçalves (1994) citado por Balbé (2008, p.1) aponta que ela é antes de tudo educação, pois possibilita o envolvimento do indivíduo “como uma unidade em relação dialética com a realidade social. Isto porque o ato educativo está voltado para a formação do homem, tanto em sua dimensão pessoal como social”.

    Diante disso, os conteúdos referentes à disciplina de Educação Física podem ser trabalhados tanto no âmbito escolar como também em projetos sociais, em que suas formas de trabalho vão de acordo com os objetivos da instituição e do professor responsável por tal prática. Uma das áreas que vem ampliando espaço de trabalho para o profissional de Educação Física se dá por meio dos projetos sociais desenvolvidos por ONGs, Prefeituras Municipais e/ou Estado, entre outros. Nesse sentido, Darido e Rangel entendem que:

    A Educação Física pode contribuir ainda para as diversas manifestações da Cultura Corporal de Movimentos sejam preservadas, difundidas e conhecidas, contribuindo também para o aperfeiçoamento das práticas democráticas necessárias nas aulas a fim de que essas diferenças possam ser respeitadas. (2005, p. 39).

    Sendo assim, as atividades desenvolvidas pelo professor2 de Educação Física podem ser trabalhadas fora das escolas desde que se caracterize como projeto, como é o caso da inserção deste profissional, atuando a partir de projetos sociais que oferecem às crianças atividades no período de contra turno escolar.

    Partindo deste pressuposto, no município de Campo Mourão - PR existe um projeto que é desenvolvido nos Centros de Integração, onde a Prefeitura Municipal mantém sete Centros de Integração, que atendem juntos mais de 700 crianças com idade entre sete a 14 anos no contra turno escolar. Este programa tem como responsável a Secretaria da Ação Social, que atende crianças que fazem parte exclusivamente dos programas de assistência atendidos pelo Programa Bolsa Família e PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

    A Secretaria desenvolve ações complementares no auxílio das tarefas escolares, oferecendo atividades diárias, alimentação, orientação sobre a higiene e promoção à família, com oficinas para pais e filhos. O programa também envolve ações recreativas, esportivas, pedagógicas, culturais, de sociabilidade e de formação cidadã. Entre as atividades extras podemos citar atividades de dança, xadrez, teatro, karatê, ioga, Educação Física, entre outras.

    De acordo com o Plano de Ação da Secretaria da Ação Social, organizado anualmente, os Centros de Integração possuem a “missão de assegurar à integração sócia – educativa, a defesa buscando promover os direitos da criança e do adolescente em situação de vulnerabilidade social”. (CAMPO MOURÃO, 2009, não paginado).

    O projeto em questão visa resgatar a integração social de crianças e adolescentes, contribuindo para seu desenvolvimento psico-social, espiritual, físico, emocional e cultural, conduzindo-os de modo participativo para uma sociedade crítica e democrática. “Entre seus objetivos pode-se dizer que ele possibilita articular travessias entre escola / família / comunidade, compartilhando de maneira construtiva e solidária, entre outros”. (id)

    Partindo da premissa que existem certas formalidades ao se idealizar e por em prática um projeto com cunho social, não se pode perder do foco que o projeto em questão trabalha e discute vários elementos a partir da Educação. Sendo assim, o professor contratado para o projeto deve trabalhar conteúdos referentes à disciplina de Educação Física que contemplem o esporte, a aprendizagem motora, o desenvolvimento individual de cada aluno, o processo de desenvolvimento motor – afetivo e cognitivo.

    Desta forma, partiu-se do seguinte questionamento: Como as coordenadoras dos projetos dos Centros de Integração do Município de Campo Mourão - PR percebem as aulas3 de Educação Física que fazem parte das diversas atividades apresentadas? Será que o trabalho realizado pela professora vem de encontro com os objetivos do projeto? A ação da profissional atende as expectativas do projeto? Com estes questionamentos é que se buscou identificar a percepção das coordenadoras. Como as aulas de Educação Física vêm sendo ministradas nos Centros de Integração desde o início do ano de 2009, surgiu a necessidade de saber de que forma essas aulas estão sendo percebidas pelas coordenadoras dos Centros de Integração que ali trabalham. A pesquisa analisou o trabalho de uma professora de Educação Física, realizado no ano de 2009, a partir de fevereiro, mês em que cada Centro de Integração passou a ofertar aulas de Educação Física uma vez por semana, com a duração de uma hora para cada grupo.

    Nesse sentido, a pesquisa foi direcionada principalmente as coordenadoras pelo fato de estarem o dia todo com as crianças nos Centros, podendo com isso responder, por meio do instrumento de pesquisa, se as aulas de Educação Física estão ou não sendo relevantes na vida das crianças. Desta forma, essa pesquisa se torna relevante no sentido de ajudar a repensar a ação pedagógica, melhorando com isso a forma de trabalho dos profissionais envolvidos no projeto.

    Para a realização dessa pesquisa foi necessária autorização da Coordenadora Geral dos Centros de Integração de Campo Mourão – PR, junto às coordenadoras responsáveis por cada centro. A pesquisa caracterizou-se como descritiva com caráter qualitativo, que segundo Minayo (2004, p.21) deve “responder a questões muito particulares. Ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser qualificado”. Foi utilizado como instrumento um questionário contendo sete questões abertas, elaborado pela pesquisadora e validado por três profissionais da IES, que foi aplicado por meio da Coordenadora Geral do Programa Centro de Integração. Após a coleta de dados os mesmos foram analisados de forma qualitativa utilizando-se da análise de conteúdo.

    A ação desenvolvida pela Secretaria de Ação Social, também é compreendida como educação complementar, pois os conteúdos ligados a Educação Física e desenvolvidos no projeto não deixam de ser trabalhados com as crianças visando sempre aulas diferenciadas e interessantes e para que elas tenham a oportunidade de vivenciar um pouco de cada conhecimento ofertado pelo projeto.

    Diante disso, seguindo a proposta investigativa da pesquisa buscou-se verificar qual a percepção das coordenadoras do Centro de Integração do município de Campo Mourão – PR em relação às aulas de Educação Física trabalhadas, buscando o olhar da Direção do projeto para avaliar a ação pedagógica desenvolvida nos centros durante as aulas Educação Física.

2.     Referencial teórico

    Sabe-se que a atividade física era realizada inconscientemente até pelos homens primitivos, ou seja, de certa forma eles já se movimentavam por algum motivo, quer seja na pesca, na caça, nas lutas, entre outros, e sem saber já estavam fazendo algum tipo de atividade física. “Ao analisar a cultura primitiva em qualquer das suas dimensões (econômica, política, ou social) vemos, desde logo, a importância das atividades físicas para os nossos irmãos das cavernas.” (OLIVEIRA, 2004, p.13)

    Para Santin (1987, p.12), “o homem é movimento, o movimento que se torna gesto, o gesto que fala que instaura a presença expressiva, comunicativa e criadora”. É a partir deste pressuposto que se pode verificar a aproximação da Educação Física, pois para o autor ela terá sua autonomia quanto mais se aproximar do homem, “quando deixar de ser instrumento ou função, para ser arte; quando se afastar da técnica e da mecânica e se desenvolver criativamente”.

    No decorrer dos tempos a Educação Física passou por muitas mudanças conforme os objetivos e propostas educacionais, e com isso muitas tendências norteadoras foram destacadas.

    Para Darido e Rangel (2005), algumas das principais tendências que se destacaram desde a década de 80, ainda estão presentes na atualidade, quer seja mascaradas ou então adaptadas a realidade atual. Entre elas pode-se apontar a tendência higienista onde sua preocupação central estava ligada à higiene, e conseqüentemente com a saúde do indivíduo.

    A tendência militarista tinha sua base nas ações do exército e as tendências esportivista, mecanicista, tradicional ou tecnicista tinham o predomínio dos esportes nas aulas.

    Atualmente, é visível a existência de novas concepções que têm como característica a intenção de acabar com o modelo tecnicista, esportivista e tradicional no âmbito da Educação Física escolar, tais como as concepções humanistas, da psicomotricidade, cultural, desenvolvimentista, crítico-superadora, crítico-emancipatória, e outras.

    Ainda, segundo Darido e Rangel (2005), a Educação Física poderá ser vista e compreendida a partir de três formas: a) como componente do currículo das escolas; b) como uma profissão de caráter pedagógico seja dentro ou fora das escolas; e c) também como uma área em que se realizam estudos científicos.

    Acredita-se que diante disso, cabe ao professor adotar sua forma de trabalho na qual ele acredita que será possível realizar suas aulas de Educação Física da melhor maneira possível, seja no meio escolar, ou em projetos sociais.

Educação Física em projetos sociais

    A partir destes elementos, pautados na ação do professor para a realização de suas aulas na escola, a Educação Física pode também ser trabalhada fora das escolas, é o caso da utilização da mesma em projetos sociais, nos quais se pode oferecer ás crianças aulas de contra turnos nos Centros de Integração.

    Seguindo uma linha educacional, em que as aulas estão diretamente ligadas a questões sociais, torna-se importante lembrar o elo que a disciplina de Educação Física tem com a sociedade.

    Segundo Oliveira (2004, p.96-97), “o estabelecimento dos laços que identificam o homem com a sociedade implica, inicialmente, na identificação deste homem consigo mesmo. A Educação Física pode participar neste processo, criando ambientes favoráveis para alguém tornar-se, realmente, pessoa”. Afirma também que a Educação Física quando vista pelo processo individual desenvolve potencialidades humanas. Por outro lado, como fenômeno social, auxilia os indivíduos a estabelecer relações com o grupo a que pertencem.

    Pode-se observar que durante uma aula de Educação Física os indivíduos, ao mesmo tempo em que estão se relacionando, estão aprendendo habilidades, valores, normas e, sobretudo papéis que os ensinam a viver em sociedade.

    Torna-se importante ressaltar que os lugares nos quais as pessoas estão inseridas, influenciam diretamente em seu aprendizado, seja no meio da família, no meio de amigos, na escola, em programas de contra turnos, na igreja entre outros que oferecem as mesmas uma base se para viver em sociedade. De acordo com Coll et al. (2000, p. 139), “este tipo de aprendizagem, realizado sempre em contextos interativos, é conhecido pelo nome de socialização”.

    Para Bracht (2005, p.61) “o processo de socialização não é um processo neutro, pois ele acontece dentro de um contexto de valores específicos”. Ressalta ainda que a Educação Física deve estar relacionada com a educação e que a mesma deve ter um papel social, sendo por sua vez positiva.

    Diante desses ambientes nos quais o indivíduo freqüenta, torna-se necessária a interação com o grupo no intuito de evitar que essa prática não seja construída no vazio, e nem de forma única, mas sim dentro de algumas bases sociais onde, aos poucos, através de negociações, cada indivíduo impõe seus valores respeitando seu próximo.

    “A interação social é definida como uma relação entre pessoas, de maneira que o comportamento de uma se constitui ou serve de estímulo para o comportamento da outra”, é o que explica Cunha (1996) e Ulrich (1975 apud DARIDO E RANGEL, 2005, p. 108).

    Percebe-se que as aulas de Educação Física se preocupam algumas vezes em trabalhar com o lado social da criança, seja através de jogos, esportes, brincadeiras, dança, recreação, entre outras atividades que a disciplina permite. Ao realizá-las de forma consciente o professor almeja alcançar entre seus objetivos propostos, a socialização. É este o discurso mais acentuado na fala dos professores, e também em literaturas vigentes.

    As Diretrizes Curriculares de Educação Física (2006) orientam que os conteúdos estruturantes direcionados para o Ensino Fundamental são as manifestações esportivas, as manifestações ginásticas, as manifestações estético – corporais na Dança e no Teatro, jogos, brinquedos e brincadeiras. Com essa orientação acredita-se que os mesmos conteúdos trabalhados dentro das escolas, poderão ser trabalhados dentro dos projetos sociais, porém com características diferenciadas do trabalho da educação formal, ou seja, na escola.

    No caso de projetos desenvolvidos em Centros de Integração, a disciplina de Educação Física recebe o nome de “práticas esportivas”, e por este motivo as atividades que as crianças fazem são chamadas de “aulas extras”.

    É necessário lembrar também que além de a Educação Física trabalhar com os conteúdos específicos da área, torna-se importante o professor estar sempre relacionando essa disciplina com a vida do aluno, com questões de saúde, lazer, entre outros.

Esporte na escola

    Na busca de tornar possível a relação dos conteúdos propostos nas atividades com a vida social do aluno, observa-se que a escola, desde os tempos antigos até a atualidade, possui uma forte tendência para se trabalhar o esporte. Assim, entre as múltiplas possibilidades que a Educação Física apresenta o esporte por sua vez, continua sendo o fator determinante nas aulas.

    Entretanto, cabe aos professores perceberem que são várias as formas e métodos que poderão se utilizar ao trabalhar o esporte dentro ou fora das escolas. O esporte quer seja com finalidade de iniciação esportiva, de rendimento ou apenas para o conhecimento dele pode ser iniciado de forma lúdica, sem que haja uma preocupação inicial com a perfeição dos movimentos.

    Quando se trabalha o esporte sem cobrança de gestos técnicos e perfeitos, a criança, independente do talento terá a oportunidade de participar e, ao mesmo tempo, de se expressar conforme suas possibilidades de movimentos. A partir do momento em que os movimentos das crianças são valorizados, acredita-se que o esporte se tornará mais prazeroso e atrativo para as mesmas. Desse modo, é necessário “entender que o esporte na escola necessita de um tratamento diferenciado, se comparado ao esporte competitivo.” É neste contexto que Darido e Rangel (2005, p. 191), entendem o esporte na escola.

    Já outros autores complementam ainda que:

    Na escola, é preciso resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão de que jogo se faz “a dois”, e de que é diferente jogar “com” o companheiro e jogar “contra” o adversário.(COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71).

    No ambiente escolar, segundo Carvalho (1987, apud Paes, 2004), o esporte pode contribuir com meio de integração do aluno, não estando subordinado ao esporte administrado por federações, pois na escola, ele deve ter sua própria função, que visa oferecer as crianças o acesso a sua iniciação, como um conhecimento de cultura física.

    Nesse sentido cabe lembrar a visão de Kunz (2006, p.126) sobre a transformação didático-pedagógica do esporte, “[...] pois não é tarefa da escola treinar o aluno, mas ensinar-lhe o esporte, de forma atrativa, o que inclui a sua efetivação prática”.

    Partindo deste pressuposto, percebe-se dentre as diversas formas de se trabalhar o esporte, que o aspecto mais relevante é a postura do professor, isto é, a forma que ele utilizará para trabalhar com tal conteúdo, de modo a incluir todos os alunos em sua prática.

    Desta forma deve-se levar em consideração suas características físicas, sociais, morais, etnias, sexo, a fim de que todos tenham a oportunidade de vivenciar as práticas esportivas.

    Neste caso, acredita-se que se deve ensinar o esporte dentro dos programas sociais a partir de vários elementos, sempre procurando iniciá-lo de forma lúdica e caso apareçam talentos esportivos nestes projetos, cabe ao professor indicar o espaço correto para esta formação.

3.     Análise e discussão dos dados

    Ao investigar, por meio da fala das coordenadoras, a percepção das aulas de Educação Física aplicadas no projeto, perguntamos se às aulas de Educação Física se aproximam das aulas desejadas pelos alunos. As Coordenadoras dos centros responderam que sim, afirmando inclusive que essas aulas são trabalhadas de forma dinâmica e adequadas à faixa etária dos alunos, tornando-as então, a partir da visão delas, muito prazerosas as crianças. Uma das coordenadoras relatou que no início percebeu que as aulas não eram as esperadas pelas crianças, pois pelo fato de nomearem as aulas de “práticas esportivas”, as crianças esperavam inicialmente que fosse trabalhado o esporte em si, mas não foi isso que ocorreu desde o primeiro dia de aula do projeto. Isso fica evidente no discurso de uma das coordenadoras: 1:“[...] eles achavam que seria só para jogar futebol, mas a didática da professora é muito boa, trabalhando a socialização e a integração do aluno e as atividades são tão prazerosas que tornou-se a aula extra mais atrativa, até para as inclusões. É a única aula que os hiperativos e o alunos com down 4 fazem inteira”.

    Os apontamentos a cima colaboram com as idéias de Darido e Rangel (2005, p. 166) quando afirmam que o professor tem a obrigação de valorizar os alunos, independente de etnia, sexo, classe social, religião, registro lingüístico, nível de habilidade entre outros. Ele deve “favorecer a discussão sobre o significado do preconceito, da discriminação e da exclusão. Assim, o processo ensino-aprendizagem é baseado na compreensão, esclarecimento e entendimento das diferenças.”

    Em relação ao interesse das crianças pelas aulas de Educação Física as coordenadoras confirmaram o interesse por parte delas, ressaltando que isso pode ocorrer pelo fato de as aulas serem dinâmicas e bem elaboradas, havendo muitos momentos de descontração. As coordenadoras ainda apontaram que a Educação Física é uma das aulas mais esperadas durante a semana pelas crianças, como se verifica no discurso da coordenadora 2: [...] “pois eles gostam das atividades trabalhadas e pedem que tenha mais aulas durante a semana.”

    Kunz (2006, p.98) diz que dentro de projetos educacionais que objetivam formar cidadãos, é necessário “que não apenas aprendam os conhecimentos elaborados pela humanidade como verdades absolutas e imutáveis”. É necessário que o professor propicie aos alunos momentos que de reflexão, conduzindo-os para se sentirem capazes de interferir e reelaborar estes conhecimentos apreendidos. Essa questão é defendida por Darido e Rangel (2005) que dizem que os objetivos de cada aula deverão ser discutidos com os alunos juntamente com suas experiências vivenciadas em aula.

    No que diz respeito ao ponto de vista se as Coordenadoras dos Centros quanto a existência de alguma mudança significativa referente à participação das crianças durante as aulas de Educação Física, as mesmas observaram esta mudança, apontando que no início algumas crianças tiveram certa recusa por pensar que seria trabalhado somente o esporte como citado acima. Mas com o passar das aulas, elas acostumaram com as múltiplas formas de trabalho ofertadas pela professora do projeto, no qual as práticas esportivas são trabalhadas, obedecendo à organização proposta pelo projeto.

    As coordenadoras apontaram que após serem inseridas as atividades de Educação Física nos Centros de Integração, muitos alunos se tornaram mais sociáveis nos trabalhos de grupo, como se verifica na fala da coordenadora 3: “[...] desenvolvem trabalhos com seriedade, companheirismo e respeito para com o outro[...]”.Essa fala se assemelha a uma observação de Darido e Rangel (2005, p.34) especialmente quando apontam que a disciplina de Educação Física deve estar junto a suas atividades formando cidadãos que deverão “usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as manifestações que caracterizam essa área”, sendo assim, comprometidos com a educação e formação dos indivíduos.

    Para Oliveira (2004, p. 97) a função da Educação Física não pode se esgotar somente em seu relacionamento com o indivíduo. “Este não deve ficar isolado do contexto no qual está inserido, pois corre o risco de se transformar num simples paciente (agora no sentido social) das forças que interagem a sua volta.

    Em relação à postura da professora de Educação Física que desenvolve o trabalho nos centros, as coordenadoras apontam que a mesma possui uma postura adequada a um profissional da área da Educação, e percebem que as aulas dadas são planejadas e possuem sempre uma segunda opção.

    Ressaltaram ainda que no trabalho nos Centros são as próprias coordenadoras que dividem as crianças em dois grupos, sendo A (os menores) e B (os maiores). Elas percebem que na maioria das vezes a professora trabalha o mesmo conteúdo com as duas turmas, porém de maneira diferenciada, como cita a coordenadora 4 : “[...] no centro as turmas são divididas em grupo A e B, se a aula vai ser, por exemplo, handebol, com o grupo A que são crianças de 6 a 10 anos ela trabalha através de recreação e brincadeiras. Já o grupo B que as crianças têm entre 11 e 14 anos o mesmo esporte é trabalhado através de dinâmicas, competições e gincanas, e assim ela consegue passar o conteúdo proposto às duas turmas”.

    Mesmo assim, vale ressaltar que no Coletivo de Autores (1992, p. 35) há aqueles que discordam da explicação do mesmo conteúdo para idades diferenciadas, pois os ciclos são divididos por série e idade, sendo assim afirmam:

    O primeiro ciclo vai da pré-escola até a 3ª série. É o ciclo da organização da identidade dos dados da realidade[...]. O segundo ciclo vai da 4ª a 6ª séries. É o ciclo da iniciação a sistematização do conhecimento[...]. O terceiro ciclo vai da 7ª a 8ª séries. É o ciclo da ampliação da sistematização do conhecimento[...]. O quarto ciclo se dá na 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio. É o ciclo de aprofundamento da sistematização do conhecimento. [...]

    Em relação à preferência de aula extra que os Centros de Integração oferecem as crianças, foi perguntado as coordenadoras qual dessas aulas eram mais apreciadas pelas crianças. As mais destacadas são as aulas de Educação Física, as crianças gostavam também das aulas de Karatê e dança, que são práticas e animadas, o que atrai sua atenção. Apontam também que a Educação Física aparece na maioria das vezes como sendo uma das aulas extras mais esperadas pela maioria das crianças.

    Coordenadora 5 : “[...] Não existe preferência por aula especificamente, mas as aulas que têm maior participação são as de karatê e Educação Física.”

    Quanto a credibilidade das aulas de Educação Física as coordenadoras responderam que estavam de acordo com suas perspectivas. Mas ao justificarem suas falas, apareceram vários olhares, complementados por palavras no sentido de despertar nos alunos a cooperação em grupo. A questão dos centros de integração não possuírem espaço adequado e suficiente para as práticas esportivas exigindo uma adequação conforme a limitação, também foi mencionado por elas, também foi mencionados por elas argumentos que se referem a professora, esclarecendo se ela apresenta didática e controle de turma, foram citados por exemplo: coordenadora 6: “São atividades elaboradas e desenvolvidas com seriedade, sendo assim tendo um resultado positivo e satisfatório para professor, alunos e coordenação.”

    A coordenadora também relatou: “[...] trabalha o esporte e a recreação tendo sempre como referência a questão da vida saudável, proporcionando as crianças o gosto pela atividade física”. Outras relataram que a professora desenvolve seu trabalho com comprometimento e preocupação com o conteúdo que é aplicado.

    Entre os pontos positivos das aulas de Educação Física foi mencionada também a questão da socialização e integração das crianças no decorrer das aulas, conforme representado no discurso de uma das coordenadoras: “[...] a professora busca trabalhar junto aos alunos o resgate de valores como companheirismo, cooperação e respeito ao próximo. Por trás das atividades que são aplicadas há sempre um porquê, não são apenas atividades soltas ou recreativas cada uma delas tem o seu propósito”.

4.     Considerações finais

    Sabe-se que a Educação Física é uma das disciplinas mais desejadas e esperadas pelas crianças. Contudo, de modo geral, ela ainda é vista por muitos como sendo somente práticas esportivas. E quando suas práticas são verificadas fora do “mundo do trabalho, sistematizadas em torno da Ginástica, do Atletismo, dos Jogos, dos Jogos esportivos, da Dança, possuem características especiais e específicas”. Na visão de Soares (1996, p.6) elas tendem a se modificar de acordo com a técnica, com a ciência, e principalmente pelas “dinâmicas culturais”.

    Estas atividades que são desenvolvidas no projeto de Ação Social da Prefeitura de Campo Mourão - PR são importantes. Essa importância é percebida nos discursos das coordenadoras, nos quais se identificam de maneira geral, que as atividades trabalhadas com as crianças nas aulas de Educação Física no ano de 2009 foram realizadas propiciando o conhecimento e o desenvolvimento das crianças de forma integral, possibilitando a ampliação do seu desenvolvimento motor, a partir das diversas atividades. O grupo de crianças que faz parte do projeto possui idade entre 07a 14 anos, e pode se identificar que as atividades tinham teor específico com a idade apresentada.

    Quanto à ocorrência de melhoria de participação das crianças durante as atividades realizadas nas aulas de Educação Física, a partir da fala das Coordenadoras, foi bem positivo, pois elas apontaram que as crianças vêm apresentando maior participação no projeto, a partir da inserção das aulas. Talvez pela própria característica de as aulas que ajudam a manter o gosto e o interesse das crianças ao realizá-las, ou ainda, pelo fato de as atividades serem, em sua maioria, serem atrativas e dinâmicas, despertando o interesse das mesmas.

    Outro ponto relatado pelas coordenadoras foi em relação à postura da profissional que trabalha as atividades com as crianças. A postura foi considerada condizente com o esperado de um profissional da área da Educação, e a professora, na visão das coordenadoras, procurava adequar às atividades de acordo com a faixa etária de cada grupo.

    Foi possível identificar, através dos relatos das coordenadoras, que as aulas de Educação Física estão entre as aulas preferidas da maioria das crianças que freqüentam os Centros.

    Desta forma, segundo as coordenadoras, as aulas desenvolvidas geraram uma participação efetiva por parte das crianças envolvidas.

    É importante ressaltar que estes objetivos se referem ao ano de 2009, mas servem como base para os profissionais que estiverem envolvidos nos projetos sociais desenvolvidos pela Ação Social. Além disso, as coordenadoras se mantém diariamente atentas ao que se passa nas aulas, principalmente, quando se trabalha com profissionais que entendem o processo educacional e social destes projetos.

Notas

  1. O grifo no legal se refere à Educação Física ser uma atividade que de uma maneira geral os alunos procuram sempre fazê-la, pois suas atividades são dinâmicas e prazerosas.

  2. Todas as vezes que aparecer o termo “professor”, estaremos remetendo ao profissional contratado pela Fundação de Esportes de Campo Mourão, que trabalha com este projeto e possui a graduação em Licenciatura, pois apesar de ser um projeto social, ele se pauta nos elementos teóricos e metodológicos que a formação do licenciado aponta.

  3. A utilização do instrumento de pesquisa como “aula de Educação Física” se dá devido ao próprio projeto considerar as intervenções realizadas semanalmente pelos professores envolvidos no projeto como aulas.

  4. A coordenadora se refere às crianças portadoras de Síndrome de Down.

Referências

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revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
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