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Distribuição do treinamento plurianual de um nadador.

Estudo de caso ao longo de 4 anos

Distribución del entrenamiento plurianual de un nadador. Estudio de caso a lo largo de 4 años

Distribution of multi-annual training of a swimmer. Case study of over 4 years 

 

*Professor Substituto do Curso de Educação Física – UFMG

**Graduado em Educação Física – UFMG

***Mestrando em Ciências do Esporte – UFMG

****Mestre em Educação Física – UFJF

(Brasil)

Renato Melo Ferreira*

Guilherme Nozomu de Freitas Irokawa**

Eduardo Macedo Penna***

Jonas Neves Martins****

carioca_bh@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O treinamento desportivo constitui na principal forma de preparação do nadador, que se realiza por meio dos métodos fundamentais de exercícios. O objetivo do trabalho foi verificar as porcentagens semanais do treinamento, em cada um dos níveis de endurance e sprint, de um nadador ao longo de quatro temporadas. Este trabalho tratou-se de um estudo de caso descritivo, onde foram analisados quatro anos de treinamento de um atleta profissional de natação. A partir dos resultados conclui-se que o treinamento realizado pelo atleta durante as quatro temporadas, em comparação com o proposto pela revisão de literatura, apresenta uma desigualdade em relação ao trabalho de endurance e sprint, apesar do volume semanal total corroborar com sugerido pela literatura.

          Unitermos: Natação. Treinamento. Atleta.

 

Abstract

          Sport training is the main form of preparation for a swimmer, which is made possible by using fundamental methods of exercise. The aim of this study was to verify the weekly percentages of training, in every level of endurance and sprint that a swimmer accomplishes during 4 seasons. This work is a study of a descriptive case, during which the swimmer was analyzed for 4 years. The results showed us that the training the athlete underwent during 4 seasons, in comparison with what's proposed in the reviewed literature, is unbalanced in relation with the work of endurance and sprint, even though the total weekly volume agrees with the literature.

          Keywords: Swimming. Training. Athlete.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    O treinamento desportivo constitui na principal forma de preparação do nadador, que se realiza por meio dos métodos fundamentais de exercícios. De acordo com a interpretação de treinamento proposta por Maglischo (1999), segue-se a necessidade de duas categorias amplas de treinamento para os nadadores: o endurance training (para melhorar o metabolismo aeróbico) e o sprint training (para melhorar o metabolismo anaeróbico). Além dessas categorias se faz necessário a compreensão de outros fatores pertinentes ao treinamento esportivo, como o aquecimento e a recuperação.

    Compreende-se como aquecimento a preparação fisiológica e psicológica para as tarefas do treinamento que estão por vir. Segundo Bompa (2002), o aquecimento eleva a temperatura corporal, que parece ser o principal fator de facilitação do desempenho.

    O aquecimento pode ter objetivo funcional, motor e psicológico. O primeiro é relacionado às alterações fisiológicas do organismo, como a estimulação do Sistema Nervoso Central, que coordena os sistemas biológicos do atleta. Já o motor atua na organização e coordenação do movimento, podendo reduzir o tempo de reação motora e melhorar desempenho motor. Por fim, no aquecimento, o atleta busca auto motivação e/ou incentivo do técnico para superar as dificuldades do treinamento e estar psicologicamente preparado para a realização da tarefa (WEINECK, 2000; BISHOP, 2003; McARDLE et al., 2003; PLATONOV, 2004).

    Para Makarenko (2001), sugere-se que o A1, equivalente à natação compensatória, seja trabalhado em distâncias que variem entre 50 a 5000 metros. Para Maglischo (1999), o A2 (um nível de endurance) tem como finalidade melhorar a capacidade aeróbica na velocidade mais rápida possível sem que o nadador fique excessivamente estressado. Para Makarenko (2001), o A2, varia entre distâncias que variam de 50 a 3000 metros. Segundo Branco, Vianna e Lima (2004), o A3 é uma importante variável para avaliar a potência aeróbica do indivíduo e para prescrever a intensidade do treinamento aeróbico. De acordo com Maglischo (1999), essa forma de treinamento é muito específica para as reais condições metabólicas com que o atleta se depara durante uma competição, sendo que as distâncias sugeridas estão entre 1.500 a 2.000 metros para atletas nadadores adultos.

    Segundo Maglischo (1999), no treinamento de velocidade (AN1) são executados esforços em distâncias curtas que apresentam a ausência de produção de ácido lático e que variam nas distâncias de 15 a 25 metros, sendo de 1500 a 2000 metros semanais. O treinamento de potência (AN2) é caracterizado por distâncias percorridas a 100% e que apresentam recuperação completa, variando entre 2000 e 3000 metros. Já o treinamento de resistência anaeróbica (AN3) é constituído por distâncias percorridas em torno de 100% e com recuperação incompleta, variando entre 2000 e 3000 metros semanais.

    A recuperação ou descanso ativo, para Bompa (2002) pode efetivamente diminuir o número e a freqüência das lesões porque a fadiga prejudica a coordenação e a concentração, levando à diminuição do controle de movimento. Atletas com mais experiência recuperam-se rapidamente porque têm adaptação fisiológica muito mais veloz e, talvez, maior eficiência nos movimentos (NOAKES 1991).

    Mais importante para o êxito da natação do que a metragem completada por dia, semana ou temporada são as porcentagens relativas de treinamento que são praticadas em cada um dos níveis de endurance e sprint (Maglischo, 1999). O equilíbrio, quantidade exata de volume trabalhado em cada zona de treinamento, é uma importante diretriz para o desempenho. Maglischo (1999) sugere uma metragem mínima para cada tipo de treinamento durante a semana: Endurance (63,12%), Sprint (9,15%), aquecimento / recuperação (27,73%) e metragem semanal total em torno de 40,5 a 93 km.

    O objetivo do trabalho foi verificar as porcentagens semanais do treinamento, em cada um dos níveis de endurance e sprint, de um nadador ao longo de quatro temporadas.

Método

Amostra

    Este trabalho tratou-se de um estudo de caso descritivo, onde foram analisados quatro anos de treinamento de um atleta profissional de natação.

    Com este tipo de pesquisa é possível descrever detalhadamente um fenômeno e determinar suas características únicas, com o objetivo de compreender melhor a situação presente (THOMAS, NELSON e SILVERMAN, 2007).

Instrumento / Procedimento

    Baseado em um arquivo de dados coletados ao longo dos anos, por meio de registros pessoais de um nadador profissional, analisou-se o volume de treinamento de quatro anos, foi realizada a digitalização dos dados para uma planilha do Microsoft Excel, com o objetivo de transferir os 48 meses de treinamento para um único arquivo.

    Subdividiu-se cada sessão de treinamento de acordo com a nomenclatura utilizada na prática do treinamento em: aquecimento, A1 (abaixo do limiar de lactato), A2 (no limiar de lactato), A3 (acima do limiar de lactato), AN1 (velocidade ou distâncias curtas que apresentam a ausência de produção de ácido lático), AN2 (potência ou distâncias percorridas a 100% e que apresentam recuperação completa), AN3 (resistência anaeróbica ou distâncias percorridas em torno de 100% e com recuperação incompleta) e descanso (recuperação ativa ou “soltura”).

    Apenas foram consideradas as semanas de treinamento do período básico e especifico, já que no período competitivo o volume semanal diminui devido ao polimento realizado pelos atletas.

Análise dos dados

    Por se tratar de um estudo de caso retrospectivo e baseado em anotações de treinamentos, sem o objetivo de testar ou construir modelos teóricos, foi realizada uma análise descritiva dos dados (THOMAS, NELSON e SILVERMAN, 2007).

Cuidados éticos

    Foi assinado um termo de Consentimento no qual o atleta disponibilizou e permitiu a utilização / publicação dos dados anotados em suas agendas de treinamento. Além disso, foi mantido o anonimato do atleta.

Resultados:

    A Tabela 01 apresenta os resultados referentes às semanas treinadas no ano, ao percentual de volume treinado de endurance e sprint, assim como o aquecimento / recuperação e a média da metragem semanal ao longo da temporada.

Tabela 01. Scout do treinamento realizado ao longo de 4 temporadas

Temporada

Semanas

Endurance

Sprint

Aquec. / Rec.

Metragem semanal

2002 - 2003

25

50,02 %

3,83 %

46,15 %

53,1 km

2003 - 2004

26

44,07 %

3,37 %

52,56 %

50,1 km

2004 - 2005

25

50,22 %

4,12 %

45,66 %

48,7 km

2005 - 2006

26

40,18 %

4,78 %

55,05 %

50,8 km

    A Tabela 02 apresenta os resultados referentes ao total de volume treinado (Km) em cada um dos níveis de endurance e sprint, assim como de aquecimento e recuperação, ao longo das 4 temporadas analisadas.

Tabela 02. Scout do treinamento (Km) nos níveis de endurance e sprint ao longo das 4 temporadas

Ano

Aquecimento

A1

A2

A3

AN1

AN2

AN3

Recuperação

2002 - 2003

587,8

517,7

129,3

28,2

23,5

10,9

3,8

36,1

2003 - 2004

657,3

431,7

102,6

40,5

14,0

17,4

13,7

26,9

2004 - 2005

544,3

474,6

119,6

18,5

22,4

15,0

5,2

17,6

2005 - 2006

705,9

396,1

113,3

28,7

30,6

12,0

2,0

34,2

    Vale ressaltar que foram consideradas apenas as semanas de treinamento do período básico e específico. Não foram consideradas semanas de treinamento do período competitivo (polimento), pois o volume do treinamento sofreu acentuada diminuição.

Discussão

    Apesar da metragem semanal durante o período corroborar com o que foi proposto por Maglischo (1999), é importante destacar, de acordo com a Tabela 01, que em nenhuma das quatro temporadas analisadas, tanto o volume de endurance (entre 40% e 50% do volume total) quanto o de sprint (entre 3% e 4 % do volume total) semanal atingiu o sugerido de 63,12 % para endurance e 9,15% para sprint. Outra importante constatação é que o volume de aquecimento/recuperação realizado durante este período encontra-se muito acima do sugerido pelo autor de 27%, o valor encontrado no estudo apresentou que durante aproximadamente 50% do tempo o atleta estava realizando um trabalho de aquecimento ou de recuperação.

    Em 2002-2003 ocorre uma queda do volume de AN3, uma queda de AN2 (sendo este o ano com menor volume de AN2 desse bloco de quatro anos). Ocorre ainda um aumento do volume de A2 e um aumento do volume de descanso ativo. Mesmo com tal queda de volume da via anaeróbica, o ano de 2002 é considerado como o ano de melhor desempenho de toda a plurianuidade, talvez pelo aumento do descanso ativo, cinesioterapia (NOAKES, 1991), ou pelo simples acerto da quantidade necessária para estimular o atleta a melhorar o seu desempenho.

    Já em 2003-2004 é exacerbado o aumento do volume de aquecimento e de AN2 e AN3 (Tabela 02), o descanso ativo diminui, o que parece ser desproporcional, pois a recuperação deveria aumentar também com o objetivo de acompanhar o aumento de trabalho anaeróbico.

    Em 2004-2005, as características de treinamento apresentam diferenças em relação aos anos anteriores em relação ao volume de A3 (28200 metros anuais para 18500 metros). Neste ano existiu uma diferença marcante: um aumento do volume de AN2 e uma queda no volume de descanso ativo, o que de acordo com Bompa (2002) poderia levar a uma sobrecarga no organismo do atleta e uma não obtenção de desempenho.

    Em 2005-2006, última temporada analisada, observou-se um aumento no volume relacionado ao aquecimento, no entanto, ocorreu uma queda em relação aos volumes de A1 (396,1 km) e AN3 (2,0 km), o que não corrobora com o sugerido por Maglischo (1999) que afirma que as distâncias percorridas semanalmente devem ser entre 50 e 5.000 metros (A1) e 2.000 a 3.000 metros (AN3).

Conclusão

    A partir dos resultados concluiu-se que o treinamento realizado pelo atleta durante as quatro temporadas, em comparação com o proposto pela revisão de literatura, apresenta uma desigualdade em relação ao trabalho de endurance e sprint, apesar do volume semanal total corroborar com sugerido pela literatura. Outra conclusão é que o atleta teve um dispêndio de tempo e energia maior na realização do aquecimento / recuperação do que com o treinamento em sua especificidade competitiva. Além disso, em termos práticos, estes resultados possibilitam que treinadores devem rever a distribuição das cargas de treinamento durante a realização de sua periodização, com a prerrogativa de privilegiar o treinamento específico de cada atleta ao longo da temporada.

Referências

  • BISHOP, D. Warm up II: Performance changes following active warm up and how to structure the warm up. Sports Med, v.33, n. 7, p. 483-498, 2003.

  • BOMPA, T. O. Periodização: Teoria e Metodologia do Treinamento. 4ª edição. São Paulo: Phorte Editora, 2002

  • BRANCO, F. C., VIANNA, J. M., LIMA, J. R. P. Freqüência cardíaca na prescrição de treinamento de corredores de fundo. Revista Brasileira Ciência e movimento, 12(2): 75-79, 2004.

  • MAGLISCHO, E. W. Nadando Ainda Mais Rápido. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole. Ltda, 1999.

  • MAKARENKO, L. P. Natação: Seleção de Talentos e Iniciação Desportiva. 1ª edição. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001.

  • MCARDLE W. D.; KATCH F. L.; KATCH V. L. Fisiologia do exercício: Energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • NOAKES, T. Lore of running. Champaign, IL: Leisure Press, 1991.

  • PLATONOV, V. N. Teoria geral do treinamento desportivo olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • THOMAS, J. R.; NELSON, J. K.; SILVERMAN, S. J. Métodos de pesquisa em atividade física. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

  • WEINECK J. Biologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2000.

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