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Análise do perfil do estilo de vida de participantes recém-ingressos

em programa de reabilitação cardiopulmonar e metabólica

Análisis del perfil del estilo de vida de los participantes recién ingresados 

a un programa de rehabilitación cardiopulmonar y metabólica

 

* Professora Mestre em Educação Física – UDESC

** Acadêmicas de Educação Física e Fisioterapia – UDESC

*** Médico Cardiologista, professor Doutor – UDESC

Núcleo de Cardiologia e Medicina do Exercício – UDESC

(Brasil)

Fernanda Guidarini Monte*

Schirlei Casas** | Isabel Schenkel**

Natalia Cauduro** | Tales de Carvalho***

fernandamonte@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Estudo transversal que objetivou traçar o perfil do estilo de vida individual de participantes recém-ingressos em Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (RCPM. Foram investigados 108 pacientes de ambos os sexos que se matricularam no programa em 2009. Os dados foram coletados por meio do questionário “Pentáculo do bem estar”, proposto por Nahas et al (2000). Os resultados demonstraram que os pacientes tinham um estilo de vida considerado positivo quando realizada um análise geral do grupo. Ao estratificar o estilo de vida por domínios, observou-se que o único setor com baixa pontuação foi o da atividade física regular. Ao estratificar por sexo, obtiveram-se resultados semelhantes aos escores gerais. Conclusão: A análise dos dados permitiu concluir que os pacientes recém-ingressos possuem carência de atividades físicas regulares. O programa de RCPM ajudará a preencher esse domínio, auxiliando na manutenção de um estilo de vida saudável.

          Unitermos: Estilo de vida. Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    A Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (RCPM) é reconhecida como sendo a integração de intervenções, denominadas "ações não farmacológicas", que visam assegurar as melhores condições físicas, psicológicas e sociais para o paciente com doença cardiovascular, pulmonar e metabólica. Programas formais de RCPM efetivamente melhoram a capacidade funcional, diminuem o estresse, melhoram a qualidade de vida, reduzem a mortalidade de causa cardiovascular e mortalidade geral (WHO, 1993; Goble e Worcester, 1999; Lessa, 2003). A reabilitação tem como objetivo contribuir para o mais breve retorno do paciente às suas atividades sociais e laborais, nas melhores condições físicas e emocionais possíveis (Carvalho et al, 2006). Assim, existe a preocupação em promover ações que resultem em melhorias na qualidade de vida dos pacientes participantes de programa de RCPM. Estas ações objetivam uma auto-avaliação do estilo de vida pelos sujeitos a fim de possibilitar a modificação dos hábitos de vida, tornando-os mais saudáveis.

    Considerando que a qualidade de vida e o estilo de vida possuem uma relação direta, mudanças nos padrões de comportamentos cotidianos serão possíveis por meio da revisão das crenças, dos valores e das atitudes dos sujeitos.

    Desta forma, os programas de RCPM são compostos por exercícios físicos regulares e as palestras educacionais, que são direcionadas à modificação do estilo de vida, com ênfase na reeducação alimentar, controle do estresse e estratégias para cessação do tabagismo.

    Nesse contexto, o levantamento das informações a respeito do estilo de vida relacionado à saúde de pacientes participantes de programa de RCPM tem importância no sentido de identificar os comportamentos de risco à saúde para a elaboração de planos de ação para adequada intervenção.

Método

    Trata-se de um estudo transversal com 108 pacientes recém-ingressos em “Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica” (RCPM), com média de idade de 63,4 (DP+9,8) anos, sendo 48,1% do sexo feminino. A escolha desta amostra delimitou-se a todos os indivíduos que realizaram matrícula no programa de janeiro a março de 2009. O objetivo geral foi analisar o perfil do estilo de vida de pacientes recém-ingressos em programa de RCPM. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados o questionário Perfil de Estilo de Vida Individual (Nahas, Barros & Francalacci, 2000) conhecido como “Pentáculo do Bem Estar: base conceitual para a avaliação do estilo de vida de indivíduos ou grupos”.

    As questões envolviam quinze aspectos relacionados à nutrição, atividade física, prevenção, relacionamentos e controle de estresse, sem levar em consideração, fatores genéticos, ambientais, nível socioeconômico, concepções políticas ou religiosas, ou qualquer outro fator que pudesse influenciar os resultados.

    Os dados foram analisados de forma descritiva, conforme as respostas dos pacientes: zero (0) para as questões que não fazem parte do seu estilo de vida, um (1) as quais às vezes correspondem ao seu comportamento, dois (2) para aquelas que quase sempre estão de acordo com o seu comportamento e três (3) para as que fazem parte do seu estilo de vida.

    Esses índices acompanham os resultados proposto pelo próprio instrumento: foram somados os três valores de cada domínio e divididos entre as três afirmativas, para confecção da média de um resultado geral. (Fórmula = Afirmativa 1 + Afirmativa 2 + Afirmativa 3 = Total ÷ 3 = resultado do domínio). Sendo que foi estipulado que médias acima de 2, considera-se positiva; de 1 a 1,9 regular; e abaixo de 1, a média foi considerada negativa.

    Quando considerados agrupados por sexo, para efeitos de comparação, utilizou-se freqüência e percentual.

Resultados

    Os pacientes recém-ingressos no programa de RCPM possuem um estilo de vida considerado positivo de forma geral e na maioria dos domínios questionados. (vide quadro 1).

Quadro 1. Estilo de vida dos pacientes de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica

Domínios do Estilo de Vida

Pontuação (média)

Percentual de valores positivos

Nutrição

2,3

79,6

Atividade Física

1,5

38,9

Comportamento Preventivo

2,7

94,4

Relacionamento Social

2,2

67,6

Controle do Estresse

2,3

74,1

Pontuação geral

2,2

70,4

    Observa-se que o único domínio que necessita de melhora para ter-se efetivamente um estilo de vida mais saudável é o da “Atividade Física”, classificado como regular.

    Para verificar se esses valores são influenciados pelo sexo, optou-se por analisar os dados de forma diferenciada.

Quadro 2. Resultado dos domínios do estilo de vida por sexo

Domínios do Estilo de Vida

Masculino (média)

% de respostas positivas Masc.

Feminino

(média)

% de respostas positivas Fem.

Nutrição

2,2

74,5

2,4

84,9

Atividade Física

1,5

32,7

1,6

45,3

Comportamento Preventivo

2,7

90,9

2,7

98,1

Relacionamento Social

2,0

60,0

2,3

75,5

Controle do Estresse

2,3

76,4

2,2

71,7

Pontuação geral

2,1

67,3

2,2

73,6

    O quadro 2 elucida que os valores encontrados por sexo, em sua maioria, são semelhantes, representando uma amostra homogênea. Observa-se também que os escores e percentuais para o Comportamento Preventivo foram altos. Os valores baixos encontrados na análise geral para o domínio “Atividade Física” permanecem regulares quando analisado por sexo.

Discussão

    O estilo de vida sedentário foi estabelecido como o principal fator de risco modificável pela American Heart Association (Thompson et al, 2003).

    O crescimento do número de sedentários, adultos e idosos, é espantoso. De acordo com o departamento de saúde humana dos Estados Unidos, 70% dos americanos adultos são sedentários ou subativos. As razões têm estreita relação com a industrialização e automação (Larry & Ray, 2007).

    Atualmente, a necessidade de caminhar, realizar tarefas domésticas, subir escadas ou participação em atividades físicas no local de trabalho diminuiu drasticamente para uma grande maioria de pessoas. Desta forma, neste século os indivíduos devem fazer uma escolha consciente para serem fisicamente ativos (Larry & Ray, 2007). Buscar optar por movimentar-se mais durante as atividades da vida diária, escolher um lazer mais ativo e realizar exercícios físicos regulares auxiliam na melhora do estilo de vida.

    As evidências que associam níveis satisfatórios de saúde a prática regular de atividade física estão bem documentados na literatura. Estudos clássicos epidemiológicos sobre atividade física ocupacional demonstram a importância de ter um trabalho com maior dispêndio energético para a diminuição do risco de desenvolvimento de doenças coronarianas (Taylor et al, 1962; Morris et al, 1966; Paffenbarger et al, 1975). No mesmo sentido, pesquisas sobre atividade física no período de lazer evidenciam a importância do aumento do gasto energético para a prevenção, manutenção e aquisição de saúde. Estudos epidemiológicos longitudinais como o Harvard Alumini Study e o Nurses Health Study, evidenciam a relação direta entre dispêndio energético e risco de desenvolvimento de eventos coronarianos (Moris et al, 1980; Paffenbarger et al, 1984; Manson et al, 1999; e Sesso et al, 2000).

    A aplicação do questionário sobre o estilo de vida em pacientes de programa de RCPM no momento de ingresso ao programa auxilia no planejamento de palestras informativas e apoio de profissionais nas áreas mais prejudicadas. No caso desta amostra, verificou-se que o domínio relacionado à atividade física regular foi pouco pontuado, sendo considerado insatisfatório. Este déficit será plenamente sanado com o início das atividades propostas pelo programa de RCPM que tem como ênfase os exercícios físicos.

    O exercício físico possui um papel importante tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças cardiopulmonares e metabólicas. Os benefícios deste para pacientes de programa de RCPM são diversos. A prática regular resulta em melhorias nos fatores de risco coronarianos; nas estruturas das artérias coronárias; no metabolismo da glicose reduzindo o risco para diabetes tipo 2; na função do sistema nervoso autônomo e na função endotelial. Ainda pode reduzir a progressão da aterosclerose coronariana e diminuir o risco de trombose (Larry & Ray, 2007).

    A respeito dos valores obtidos domínio Comportamento Preventivo, é provável que estes escores altos estejam diretamente ligados às perguntas realizadas, as quais questionam se os indivíduos usam cinto de segurança e se eles verificam a pressão arterial e/ou controlam os indicadores metabólicos (colesterol e triglicerídeos). O instrumento utilizado nesta pesquisa, questionário “Pentáculo do bem estar”, foi concebido anteriormente a lei brasileira que obriga aos passageiros de veículos o uso de cinto de segurança, o que praticamente fez com que a maioria das pessoas utilize este equipamento, anulando a efetividade desta questão e interferindo na média final para classificar este domínio. Outra pergunta proposta neste questionário, que se refere aos cuidados com a saúde, também fica prejudicada pelas características da amostra deste estudo. Por serem pacientes indicados para a RCPM, possuem médicos que os acompanham e costumam solicitar exames periódicos assim como realizar a mensuração da pressão arterial sistêmica regularmente. Desta forma, duas das três questões que indicariam o grau de Comportamento Preventivo são discutíveis por questões legais ou de amostragem.

Conclusões

    O estilo de vida dos pacientes participantes recém-ingressos em programa de RCPM mostrou-se de forma geral positivo, sugerindo que os sujeitos da amostra, apesar de recém ingressos no programa, parecem saber da importância de modificações no estilo de vida para obterem melhorias na saúde. A efetividade das ações para um estilo de vida saudável depende da motivação dos sujeitos, do apoio de profissionais, de informações seguras e de oportunidades. Os programas de RCPM com ênfase em exercícios físicos têm como foco auxiliar os pacientes no sentido de promover ou manter um estilo de vida positivo e adequado à saúde.  

Referências bibliográficas

  • Carvalho T, Cortez AA, Ferraz A, Nóbrega ACL et al. Diretriz Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica: Aspectos Práticos e Responsabilidades. Arq Bras Cardiol 2006; 83 (5): 448-52.

  • Goble A, Worcester M. Best practice guidelines for cardiac rehabilitation and secondary prevention 1999, Department of Human Services: Victoria, Australia.

  • Lessa I. Medical care and death due to coronary artery disease in Brazil, 1980-1999. Arq Bras Cardiol. 2003; 81(4): 329-35.

  • Manson, JE, Hu FB, Rich-Edwards JW, et al. A prospective study of walking as compared with vigorous exercise in the prevention of coronary heart disease in women. N Engl J Med, 1999; 341: 650-658.

  • Morris JN, Kagan A, Pattison DC, Gardner MJ, Raffle PAB. Incidence and prediction of ischemic heart disease in London busmen. Lancel, 1966; 2: 553-559.

  • Morris JN, Everitt MG, Pollard R, Chave SPW, Semmence AM. Vigorous exercise in leisure time: protection against coronary heart disease. Lancel, 1980; 2: 1207-1210.

  • Nahas, M.V.; Barros, M.V.G. & Francalacci, V. O pentáculo do bem-estar- base conceitual para avaliação do estilo de vida de indivíduos ou grupos. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 2000; 5(2):48-59.

  • Paffembarger RS, Hale WE. Work activity and coronary heart mortality. N Engl J Med, 1975; 292: 545-550.

  • Paffembarger RS, Hyde RT, Wing AL, Steinmetz CH. A natural history of athleticism and cardiovascular health. JAMA, 1984; 252: 491-495.

  • Rehabilitation after Cardiovascular Diseases, with Special Emphasis on Developing Countries. Report of a WHO Expert Committee. 1993.

  • Sesso HD, Paffembarger RS, Lee IM. Physical activity and coronary heart diasease in men: the Harvard Alumini Health Study. Circulation, 2000; 102: 975-980.

  • Taylor HL, Klepetar E, Keys A, Parlin W, Blackburn H, Puchner T. Death rates among physically active and sedentary employees of the railroad industry. Am J Pub Health, 1962; 52: 1697-1707.

  • Thompson PD, Buchner D, Pina IL, et al. AHA scientific statement. Exercise and physical activity in the prevention and treatment of atherosclerotic cardiovascular disease. Circulation, 2003; 107;3109-3116.

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