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Perfil da potência anaeróbica e velocidade em praticantes de rugby

Perfil de la potencia anaeróbica y la velocidad en practicantes de rugby

 

*Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS

**Centro Universitário La Salle, Canoas, RS

(Brasil)

Prof. Thiago Christoff Silveira*

Prof. Ms. Eraldo dos Santos Pinheiro**

Prof. Ms. Osvaldo Donizete Siqueira*

esppoa@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi descrever o perfil da velocidade e da potência anaeróbia de membros inferiores em atletas de rugby. Participaram do estudo, 28 atletas sendo 14 da categoria menores de 17 (M-17) com média de idade de 16,43 anos ± 0,51; e 14 da categoria menores de 19 (M-19) com idade de 18,42 anos ± 0,51 do San Diego Rugby Club de Porto Alegre/RS. Para a avaliação da potência anaeróbia, foram utilizados os valores da Unidade de Potência Anaeróbica Absoluta (UPAA) extraídos do Teste de Potência Flegner (TPF) expresso em valores absolutos (Watts) e para a velocidade foram utilizados os valores do teste de corrida de 20 metros (T20) tendo como unidade de medida em segundos (s). Os dados foram analisados através do programa Microsoft Office Excel 2002. Os resultados indicam que embora os atletas da categoria M-17 estejam totalmente maturados, equiparando-se à estatura e peso corporal à categoria M19, estes, com a idade cronológica mais avançada, obtiveram um melhor resultado no que se refere à questão da velocidade e potência.

          Unitermos: Potência anaeróbica. Velocidade. Rugby.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    O rugby é um desporto que exige uma variedade de respostas fisiológicas de seus atletas como resultado de combinadas e repetitivas corridas de alta intensidade e freqüência de contatos (I.R.B., 2008). Cada atleta do time desempenha funções diferentes, havendo necessidades específicas para cada condicionamento físico e nível de treinamento. No rugby há uma alta incidência de colisões, necessitando de características apropriadas para os participantes. Dragan (1978) apud Bompa (2002) cita como de suma importância para o desporto à velocidade, potência e alta capacidade aeróbica.

    A potência anaeróbica é um componente presente no estímulo gerado pelas demandas da modalidade. Entende-se por potência anaeróbia o maior esforço realizado durante determinada ação pela menor unidade de tempo disponível (HERNANDES JR, 2002, FLECK & KRAEMER 1999). Para o rugby, esta é uma capacidade física de grande relevância, sendo de suma importância realizar ações no menor tempo possível com a maior intensidade de esforço.

    O conhecimento dos efeitos do desenvolvimento da velocidade no desempenho esportivo despertou o interesse em como melhorá-la durante um processo de treinamento, tornando-se importante controlá-la durante um período de preparação. Platanov (2003) diz que a melhora da velocidade de uma ação motora se obtém em função da adaptação do aparato motor e determinadas condições, adquirindo uma coordenação muscular adequada que permita a utilização de todas as possibilidades individuais do sistema neuromuscular.

    No rugby, os movimentos executados pelos atletas são realizados de maneira cíclica através de corridas, trotes e movimentos acíclicos, ocorridos através de fintas. Segundo Weineck (1999) dentro da teoria do treinamento desportivo podem ser identificadas duas grandes manifestações de velocidade: a velocidade de movimentos cíclicos e a velocidade de movimentos acíclicos, a primeira foi controlada neste estudo.

    Com relação à maturação sexual, vários fatores interferem, alguns endógenos e outros exógenos como nível socioeconômico, hábitos alimentares e grau de atividade física. A resultante dessas influências determina a época do surgimento da maturação sexual e suas variações individuais, além das características de uma determinada população (MARCONDES, 1982).

    A precocidade no crescimento morfológico provavelmente proporciona vantagens importantes no esporte. Entre as variáveis de desempenho motor, a potência muscular e a agilidade são freqüentemente citadas como características fundamentais em modalidades esportivas que exigem grandes acelerações e mudanças rápidas na direção do movimento (BARBANTI, 1996; BERNHOEFT, 2008). Portanto o objetivo desse estudo foi descrever o perfil da velocidade e da potência anaeróbia de membros inferiores em praticantes de rugby.

Materiais e métodos

    A amostra foi caracterizada por 28 jovens praticantes de rugby do sexo masculino, vinculados ao San Diego Rugby Club da cidade de Porto Alegre/RS, divididos por categoria segundo ano de nascimento: Categoria M-17 (n=14): nascidos em 1991 e 1992; Categoria M-19 (n=14): nascidos em 1989 e 1990; Os testes feitos estão todos como previstos no cronograma do clube, que faz uma reunião no inicio do ano com todos os pais onde se propõe a aplicação de uma bateria de testes e avaliações e aqueles pais que concordam assinam o termo de consentimento livre e esclarecido. Todos os testes foram aplicados antes dos treinamentos.

Instrumentos de avaliação

Maturação sexual

    A maturação sexual dos atletas foi verificação através da avaliação dos pêlos axilares, baseado no protocolo de Tanner (1962), que são classificados em três níveis: 1- ausência; 2- ligeiro crescimento, 3- distribuição adulta. Ordenados em nível 1- Pré-púbere, nível 2 - Púbere e nível 3 – Pós-púbere conforme Siqueira (2007). A avaliação dos pêlos axilares foi realizada pelo avaliador em uma sala reservada com a presença do professor coordenador pedagógico onde os jovens entravam um de cada vez. Foi solicitado aos atletas que levantassem o braço para verificar a presença de pelos axilares. Em seguida era feita a classificação do nível de maturação que o avaliado se encontrava.

Estatura

    Para medir a estatura dos atletas utilizou-se uma fita métrica com precisão de 2 mm, modelo Stanley de 3 metros de extensão, sendo a trena fixada na parede sem roda pé, marcando-se a metragem de baixo para cima. Utilizou-se uma prancheta em forma de para verificar a medida. Realizou-se a medida da estatura a partir da posição ortostática; pés descalços e com os calcanhares unidos; olhar fixo num ponto à frente. Foram realizadas duas medidas consecutivas, anotadas em centímetros.

Massa corporal

    Para mensurar a massa corporal dos atletas utilizamos uma balança digital, Dayhome, com carga máxima de 150 kg e resolução de 0,1 kg de precisão. Foi realizada a calibragem através de um peso conhecido. A pesagem foi realizada com o atleta descalço, em trajes leves (camisetas e calção).

Avaliação da Potência Anaeróbica Absoluta (PAA)

    A PAA foi obtida com a aplicação do Teste de Potência Flegner (TPF) proposto por FLEGNER (1983) apud FAIAL (2007) que consiste em mensurar a potência de membros inferiores, onde o avaliado executou uma seqüência de 10 saltos horizontais com as pernas unidas, objetivando atingir a máxima distância em um menor tempo possível. O TPF foi realizado no mesmo campo de treino, antes do início foi explicado para os avaliados os procedimento de coleta e logo depois um breve aquecimento. O campo foi demarcado com uma fita métrica estendida em 30 metros. Foram permitidas três tentativas, com um intervalo entre as mesmas de cinco minutos e anotando o melhor resultado da distância percorrida e o tempo utilizado para completar o teste.

Absolute Anaerobic Power Unit (AAPU) = Peso Corporal (kg) x Distância (m) / Tempo (seg)

Avaliação da velocidade

    A velocidade foi obtida com a aplicação do teste de corrida de 20 metros (T20) proposto pelo Projeto Esporte Brasil, Gaya e Silva (2007), onde o avaliado percorreu vinte metros no menor tempo possível. O tempo foi registrado em segundos e centésimos de segundos. Foram permitidas duas tentativas, somente o melhor resultado foi levado em consideração.

    O T20 foi realizado no próprio campo de treino, onde foi demarcada com cones em três pontos distintos, o primeiro na linha de partida, o segundo distante 20m da primeira (onde será o ponto de cronometragem), e o terceiro, marcado a um metro do segundo que seria a linha de chegada onde deveria cruzar o mais rápido possível. O cronometro foi acionado quando o avaliado colocou o primeiro pé dentro da pista e fechado quando colocou o primeiro pé fora da pista. O avaliador registrou o melhor tempo de após duas tentativas.

Tratamento estatístico dos dados

    Os dados foram analisados através de estatísticas descritivas (média, desvio padrão, valores mínimos e máximos). Todas as análises foram realizadas através do Programa MS Excel 2002.

Apresentação e discussão dos resultados

Tabela 1. Valores médios e variabilidade do peso e estatura para as categorias.

Variável

Categoria

N

Média

DP

Mínimo

Máximo

Peso

M-17

14

75,45

10,98

53,7

99,8

M-19

14

79,05

7,56

68,6

92,3

Estatura 

M-17

14

174,14

6,4

164

185

M-19

14

175,36

4,98

171

185

    Comparando-se os valores médios e desvios padrão de estatura e peso corporal entre a categoria M-17 e M-19 (tabela 1), observa-se que na categoria M-17 a média de peso corporal é de 75,45 kg ± 10,98, tendo como peso mínimo o valor de 53,7 kg e máximo de 99,8 kg, enquanto que na categoria M-19 a média é de 79,5 kg ± 7,56, e o valor do peso mínimo é de 68,6 kg e máximo de 92,3kg. Observando a estatura, verificamos que a categoria M-17 apresenta uma média de 174,14 cm ± 6,40 sendo que a estatura mínima é de 164 cm e a máxima de 185 cm, já na categoria M-19 a média corresponde a 175,36 cm ± 4,98, tendo como valores mínimos e máximos 171 cm e 185 cm respectivamente.

    Na tabela 2 são apresentados os índices médios, desvios padrão, máximos e mínimos valores referentes à potência anaeróbica absoluta e velocidade para a categoria M-17.

Tabela 2. Valores médios e variabilidade do teste de 20 metros (T20)

e Teste de Potência Flegner (TPF) da categoria M-17

Variável

N

Média

DP

Mínimo

Máximo

T20 (s)

14

3,05

0,14

2,78

3,26

TPF (w)

14

243,6

44,5

150,3

310,2

    A tabela 2 demonstra a relação entre T20 e TPF. Quando analisamos este quadro percebemos que a categoria M-17 em teste de velocidade e potência alcançou a média de 3,05 ± 0,14 segundos e 243,6 ± 44,5 Watts.

    Nos atletas avaliados verificamos o intervalo de 2,78 segundos como tempo mínimo e 3,26 segundos como tempo máximo, enquanto que em relação à potência o mesmo grupo atingiu o valor mínimo de 150,3 Watts e o valor máximo de 310,2 Watts.

    Na tabela 3 são apresentados os índices médios, desvios padrão, máximos e mínimos valores referentes à potência anaeróbica absoluta e velocidade para a categoria M-19.

Tabela 3. Valores médios e variabilidade do teste de 20 metros (T20)

e Teste de Potência Flegner (TPF) da categoria M-19

Variável

N

Média

DP

Mínimo

Máximo

T20 (s)

14

2,92

0,15

2,69

3,21

TPF (w)

14

259,1

36,55

202,5

323,6

    A tabela 3 demonstra a relação entre T20 e TPF para a categoria M-19. Os dados em teste de velocidade e potência para a referida categoria são: em velocidade, foi atingida a média de 2,92 ± 0,15 segundos, tendo como intervalo de tempo entre o mínimo e o máximo, os valores de 2,69 e 3,21 segundos. Já no teste de potência os indivíduos analisados alcançaram os valores de 259,1 ± 36,55 Watts e como valor mínimo 202,5 Watts e máximo 323,6 Watts.

    Comparando as categorias M-17 e M-19 percebeu-se que, dos atletas avaliados apenas um não estava em sua maturação completa, ou seja, encontrava-se na fase púbere, nos demais indivíduos encontravam-se na fase pós-púbere. A partir desses dados constatou-se que os atletas com idade cronológica mais avançada apresentaram os melhores resultados quanto à velocidade e potência nas variáveis T20 e TPF.

    Segundo os autores e pesquisadores Eriksson, (1980); Imbar & Bar-Or, (1986); Paterson, Cunningham & Bumstead, (1986); Tourinho Filho, H. & Tourinho, L., (1998) utilizando diferentes métodos de investigação, tem fornecido evidencias de uma mudança no metabolismo anaeróbico durante o crescimento. Lactato sangüíneo e muscular, atividade enzimática glicolítica, débito e déficit de oxigênio, performance de potência máxima em exercícios de curta duração e velocidade máxima em testes de campo aumentam da infância à fase adulta. Onde a progressão da potência anaeróbica com o crescimento, está provavelmente ligada aos níveis de testosterona no organismo. (Falgairette et alii, 1991; Imbar & Bar-Or, 1986; Tourinho Filho, H. & Tourinho, L., 1998). Estudos realizados por Butler, Walker, Walker, Teague, Fahmy & Ratcliffe (1989); Tourinho Filho, H. & Tourinho, L., (1998) evidenciam um aumento nos níveis de testosterona com a progressão da puberdade com diferenças significativas em todos os níveis de maturação.

    Conforme Gutman, Hanzlikova & Lojdaz, (1970) Krotkiewski, Kral & Karlsson, (1980); Tourinho Filho, H. & Tourinho, L., (1998) O efeito da testosterona sobre a musculatura esquelética tem sido observado em estudos com animais através de castração ou administração do referido hormônio, sendo constatado que a testosterona tem efeito sobre a musculatura esquelética, aumentando a porção relativa de fibras de contração rápida e a atividade da fosforilase, que é uma enzima-chave da glicogenólise e um indicador da capacidade glicolítica.

Conclusão

    A partir dos dados analisados neste estudo, pode-se concluir que apesar dos atletas da categoria M-17, mais novos, estarem totalmente maturados e se equipararem à categoria M-19 quanto à estatura e peso corporal, os indivíduos mais velhos obtiveram resultados melhor em questão de velocidade e potência.

    Estes resultados estão demonstrados na tabela 2 e 3, onde objetivamos que a categoria M-17 nos testes T20 e TPF alcançaram uma média menor que a categoria M-19.

    Portanto, este estudo sugere que novas pesquisas sejam realizadas a fim de qualificar o desempenho de atletas de Rugby, visto que não encontramos estudos no Brasil envolvendo atletas de Rugby nesta faixa etária e seus desempenhos.

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