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Comportamento da freqüência cardíaca e percepção subjetiva de

esforço na máxima fase estável de lactato em corredores de fundo

Comportamiento de la frecuencia cardiaca y la percepción subjetiva 

de esfuerzo en la máxima fase estable de lactato en corredores de fondo

Behaviour of heart rate and perceived exertion at Maximal Lactate Steady State on distance runners

 

Bacharel em Educação Física

Laboratório de Pesquisas em Desempenho Humano, LAPEDH

Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC

Bruno Honorato da Silveira

bhsilveira@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente trabalho foi comparar o comportamento da freqüência cardíaca (FC), percepção subjetiva de esforço – CR10 (PSE) em uma sessão de exercício de carga constante referente à intensidade da Máxima Fase Estável de Lactato (MFEL). Treze corredores de fundo realizaram teste incremental e sessão de exercício de carga constante. Foi observado que tanto a FC e PSE tiveram seus valores aumentados com o decorrer do tempo apresentando diferença significativa em momentos diferentes na velocidade da MFEL. Entretanto, as maiores correlações encontradas foram na última série de sessão (21 – 30min), indicando que essas duas variáveis apresentam comportamentos similares em exercício onde ocorre o maior equilíbrio no lactato sanguíneo.

          Unitermos: Freqüência cardíaca. Percepção subjetiva de esforço. Máxima fase estável de lactato. Corrida de fundo.

 

Abstract

          The purpose of study was to compare the behaviour heart rate (HR), perceived exertion – CR 10 (PE) on session of constant load at Maximal Lactate State Steady (MLSS). Thirteen distance runners performed incremental and constant load session. It was observed that both HR and PE showed increments through time period that were significantly different on differents times on constant load session. However, the greatest correlations found were last set (21 – 30th minutes), showing those two variables have similar behaviour on session exercise that get highest balance of blood lactate.

          Keywords: Heart rate. Perceived exertion. Maximal lactate steady state. Distance running.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

1 / 1

Introdução

    Diversas têm sido as variáveis fisiológicas empregadas para controle da magnitude do esforço em avaliações físicas e sessões de treinamento de corrida de fundo. Pode-se citar de um lado, variáveis fisiológicas tais como resposta do lactato sanguíneo, consumo de oxigênio que são normalmente obtidas em laboratórios de esforço. Dentre essas variáveis, destaca-se o fenômeno da máxima fase estável de lactato (MFEL), que particularmente, vem recebendo uma grande atenção por pesquisadores do esporte uma vez que se apresenta como um importante índice fisiológico para a predição da performance, em provas onde a produção de energia ocorra predominantemente a partir do sistema aeróbio (DENADAI, 1999). Como conceito, a MFEL representa a máxima intensidade de trabalho que pode ser sustentada sem uma contínua acumulação de lactato sanguíneo durante exercício de intensidade constante (BENEKE, 2003). Entretanto, sua determinação requer sucessivas visitas com aplicação de testes de carga constante (TCC), aparelhos sofisticados, e sessões de aproximadamente 30min de duração (MADER, 1991; BENEKE, 2003) o que dificulta, em parte, a sua utilização no campo por grande parte dos treinadores.

    De outro lado, variáveis fisiológicas mais simples e baratas são utilizadas para quantificação da intensidade da sessão de treinamento em campo. Com o desenvolvimento de monitores da frequência cardíaca portáteis, o uso do monitoramento da freqüência cardíaca (FC) é um dos métodos mais comuns para identificação da intensidade do exercício no campo (ACHTEN, JEUKENDRUP, 2003). Somado ao uso do monitoramento da FC, a percepção subjetiva de esforço (PSE) parece também ser uma ferramenta útil para quantificar o grau de esforço experimentado durante exercício prolongado (O’ SULLIVAN, 1984). Destaca-se entre as escalas de percepção subjetiva de esforço a CR10 (category-ratio) proposta por Borg (2000) e mundialmente usada por pesquisadores e treinadores esportivos. Inúmeros fatores tais como ambiente (contexto social, intensidade, duração, freqüência, modo de exercício, nutrição e drogas), fatores psicológicos (personalidade, motivação, atenção, emoções) e diferença interindividual (dependentes da idade, sexo, aptidão) podem afetar respostas sintomáticas (BORG, 1998 referência Garcin 2006).


    Dessa forma, o objetivo do presente estudo é comparar o comportamento da FC, PSE (CR10) em uma sessão de exercício de carga constante referente à intensidade da MFEL em corredores de fundo.

Metodologia

Amostra

    Participaram desse estudo treze corredores de provas de fundo (30 ± 8,48 anos; 171,3 ± 7,14cm; 70,4 ± 8kg; 7,2 ± 4,40% gordura). Como critério de inclusão foram considerados a idade (20-45 anos), período mínimo de dois anos de treinamento regular e performance nos 10km entre 35 e 50min. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição no qual foi realizado o estudo (Protocolo nº 47/2009). Todos os atletas foram informados sobre os objetivos, procedimentos da pesquisa e dos possíveis riscos envolvidos no estudo e logo após assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, concordando em participar voluntariamente da pesquisa.

Procedimentos

    Todas as avaliações do estudo foram realizadas na pista de atletismo sintética e descoberta com perímetro 200m. Os avaliados foram orientados a não realizar nenhum tipo de exercício físico intenso no período de 24 horas que antecederam cada sessão de teste.

    As avaliações tiveram início a partir da avaliação antropométrica: a massa corporal (MC) foi mensurada com uma balança digital de precisão 100g marca Toledo®; a estatura (ES) foi obtida em um estadiômetro profissional de precisão 0,5cm da marca Cescorf®; o percentual de gordura foi determinado a partir da equação de três dobras cutâneas (peitoral, abdômen e coxa média) proposta por Jackson e Pollock (1978) com uso do adipômetro científico da marca Cescorf®. A temperatura e umidade relativa do ar foram registradas durante os testes com um termômetro/higrômetro digital da marca Vacumed®. Todos os testes foram realizados em uma pista de atletismo descoberta com valores 23 ± 3,76ºC e 56 ± 11,65% de temperatura e umidade relativa do ar, respectivamente.

Teste Incremental de corrida Vameval (TVAM)

    Para o teste incremental de corrida foi adotado o TVAM muito utilizado em centros de rendimento (CAZORLA, 1990), com velocidade inicial de 8,5km·h-1 e incrementos de 0,5km·h-1 a cada estágio de duração ~1min). O ritmo de corrida foi controlado por meio da emissão de sinais sonoros (bips) e cones de “pvc” distribuídos na pista a cada 20m.

    Os sujeitos foram orientados a realizar um teste máximo, recebendo incentivo verbal durante os estágios finais de do TVAM. O teste foi encerrado por exaustão voluntária ou quando o atleta não conseguiu manter o ritmo imposto pelo protocolo (atraso a uma distância superior a 2m em três cones consecutivos). A velocidade final do TVAM foi denominada Pico de velocidade (PV) e nos casos em que o sujeito interrompeu o teste antes de finalizar um estágio do protocolo, a velocidade final foi corrigida a partir da seguinte equação:

PV (km·h-1) = v + [(nv / tv) · 0,5]

    Onde: “v” é a velocidade do último estágio completo em km·h-1, o “nv” é o número de voltas percorridas no estágio incompleto, “tv” é o número total de voltas do estágio não completado (adaptado de KUIPERS et al. (1985)).

    A FCmax foi considerada o maior valor registrado no final do teste concomitantemente com o PV, sendo considerado como critério de teste máximo a FC ter atingido pelo menos 90% da FCmax predita pela idade (FCmaxpred = 220 - idade).

    A FC foi registrada por meio de um monitor de FC da marca Polar Electro® - modelo S610, armazenadas em intervalos de 5 segundos para obtenção do PDFC visual. A transição de um aumento linear (ou quase linear) da FC em cargas intermediárias para um incremento não linear em cargas mais altas foi definida como a intensidade do PDFC. Para a análise visual do PDFC, individualmente três avaliadores experientes determinaram o PDFC visual identificando a respectiva velocidade e FC. A partir da identificação dos três avaliadores foi adotada a moda para determinação do PDFC visual; em todas as análises do PDFC visual foi possível encontrar a moda.

Teste de Carga Retangular (TCR)

    Foi adotado antes de todas as sessões de carga retangular um aquecimento de 5min à velocidade de 60%PV com intervalo passivo de 3min para o início da primeira série do TCR. Cada sessão de TCR teve duração de 30min divididos em três séries de 10min de corrida e intervalo de 1min. Logo após o aquecimento e nos intervalos das séries do TCR foram coletadas amostras de 25µL de sangue capilar do lóbulo da orelha (previamente hiperemiada com pomada Finalgon®) e a análise da concentração de lactato sanguíneo foi realizada imediatamente no aparelho YSI 1500 Sport® (EUA); ainda nos intervalos foi mensurado a FC e PSE.

    O primeiro TCR foi realizado com a velocidade correspondente ao PDFC visual. Subseqüentes TCRs foram aplicados nos intervalos de 2 a 5 dias com variação de 2 a 5% do PV (para mais ou para menos) sobre a velocidade do PDFC visual até que a MFEL fosse confirmada. A MFEL foi definida como a maior velocidade em que ocorreu a fase estável de lactato, aumento não superior a 1,0 mmol·l-1 entre o 10º e o 30º minuto (BENEKE, 2003).

Análise estatística

    Foi aplicado o teste de normalidade Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Os dados foram tratados pela estatística paramétrica e apresentados pela estatística descritiva (média, desvio-padrão, mínimo e máximo, coeficiente de variação). As comparações entre os valores da FC, PSE na intensidade da MFEL foram realizadas pela Anova Oneway e, quando foi encontrada diferença, utilizou-se o post-hoc de Tukey. A correlação entre as variáveis foi verificada pelo coeficiente de correlação de Pearson. Em todos os testes foi adotado o nível de significância de 5% (programa SPSS® v. 17.0).

Resultados

    Os comportamentos da FC e a PSE durante a sessão de carga constante na MFEL estão dispostos na tabela 1. Foi observado que os valores da FC aumentaram ao longo do tempo apresentando diferença significante a FC10min com a FC20min e FC30min, respectivamente. De forma semelhante, a PSE aumentou durante os 30min com diferença significante entre PSE20min e PSE30min.

Tabela 1. Resposta da Frequência cardíaca (FC) e Percepção subjetiva de esforço (PSE) durante uma sessão de carga constante na MFEL

Sujeitos

FC10min

FC20min

FC30min

FCméd

PSE10min

PSE20min

PSE30min

PSEmed

1

159

160

162

160

2,5

3

3

3,0

2

169

169

174

169

5

6

6,5

6,0

3

166

166

168

166

3

4

4

4,0

4

174

176

175

175

6

7

7,5

7,0

5

174

175

174

174

3,5

4

4,5

4,0

6

176

177

184

177

5

7

8

7,0

7

152

152

159

152

5

2,5

2,5

2,5

8

156

158

158

158

2

2

2

2,0

9

167

174

177

174

4

4,5

5,5

4,5

10

177

178

186

178

4

6

8

6,0

11

161

161

163

161

3,5

4

4,5

4,0

12

165

168

170

168

4

7

9

7,0

13

174

177

176

176

3

3

4

3,0

Média

167*

169

174**

169

4

4+

4,5

5

DP

8,08

8,57

8,93

8,36

1,14

1,79

2,30

1,79

*Diferença significante entre a FC10min e FC20min ( p< 0,05); ** Diferença significante entre a FC10min

e FC30min ( p< 0,05); + Diferença significante entre a PSE20min e PSE30min ( p < 0,05).

    Quando associadas FC e PSE, observou-se que as correlações foram sempre positivas, onde os maiores valores de correlações estavam presentes na série final do esforço (21 – 30min).

Tabela 2. Correlações entre FC e PSE nos 10°min, 20°min e 30°min

   

FC10min

FC20min

FC30min

PSE10min

PSE20min

PSE30min

FC10min

-----

0,975**

0,921**

0,339

0,645*

0,673*

FC20min

0,975**

-----

0,935**

0,645*

0,622*

0,671*

FC30min

0,921**

0,935**

------

0,384

0,659*

0,726**

PSE10min

0,339

0,645*

0,384

------

0,690**

0,604*

PSE20min

0,645*

0,622*

0,659*

0,690**

------

0,972**

PSE30min

0,673*

0,671*

0,726**

0,604*

0,972**

------

* Correlação significante (p = 0,05) ** Correlação significante (p = 0,01)

Discussão

    O principal achado do estudo foi que a FC e a PSE apresentaram respostas semelhantes em exercício de carga constante na MFEL. Nessa intensidade, a concentração de lactato permanece constante, resultado do maior ponto de equilíbrio onde as velocidades de produção e remoção são iguais (BILLAT, 2003). Teoricamente, nessa intensidade a sobrecarga metabólica é mantida ao longo de uma duração definida pois o exercício encontra-se no limite superior do domínio pesado. Entretanto, a intensidade de um exercício aeróbio não corresponde somente à velocidade da corrida, mas também a outros fatores tais como terreno, duração, temperatura e umidade, entre outros.

    Com o intuito de identificar a sobrecarga cardiovascuular, o uso da FC é amplamente utilizada para controle do treinamento de endurance (ACHTEN, JEUKENDRUP, 2003). No presente estudo, a FC teve aumento significativo durante os 30min da sessão de carga constante na MFEL o que já tem sido reportado como um ajuste cardiovascular, destacadamente em sessões no campo em condições climáticas desfavoráveis (ACHTEN, JEUKENDRUP, 2003). Entretanto, a FC é uma mensuração de um sistema biológico que, como os outros sistemas biológicos, apresenta uma variação biológica. Assim, os nossos resultados vão de encontro com Brisswalter, Legros (1994) que encontraram uma variação biológica no teste de reprodutibilidade em intensidade submáxima de 6bpm.

    Outra variável de grande apelo no controle da sobrecarga do treinamento é a escala de percepção de esforço. Sua importância parece estar baseada na premissa de que os ajustes fisiológicos promovidos pelo estresse físico produzem sinais sensoriais aferentes que são capazes de alterar a percepção subjetiva do esforço. No presente estudo os valores da percepção de esforço aumentaram apesar da velocidade ser mantida, o que nos leva a especular que a demanda metabólica aumenta ao longo da duração do esforço.

    Por fim, podemos concluir que a FC e PSE em exercício de carga constante na MFEL estão fortemente associados indicando um comportamento similar nessas duas variáveis de intensidade. Vale ressaltar que, diferentemente dos valores estáveis das concentrações de lactato sanguíneo, a PSE e FC tiveram um aumento constante durante exercício de 30min em corredores de fundo.

Referências

  • ACTHEN, J.; JEUKENDRUP, A. E. Heart Rate Monitoring: applications and limitations. Sports Medicine, v. 33, n. 7, p. 517-38, 2003.

  • BENEKE, R. Methodological aspects of maximal lactate steady state-implications for performance testing. European Journal of Applied Physiology, v. 89, n. 1, p. 95-9, 2003.

  • BILLAT, V. L.; SIRVENT, P.; GUILLAUME, P.; KORALSZTEIN, J.; MERCIER, J. The concept of Maximal Lactate Steady State: a bridge between biochemistry, physiology, and sport science. Sports Medicine, v.33, n.6, p. 407-26, 2003.

  • BRISSWALTER, J.; LEGROS, P.; Daily stability in energy cost of running, respiratory parameters and stride rate among well-trained middle distance runners. International Journal of Sports Medicine, v. 12, n. 5, p. 238-41, 1994.

  • BORG, G. V. Borg perceived Exertion and pain scales. Champaign, IL: Human Kinetics, 1998.

  • BORG, G. V. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São Paulo: Manole, 2000.

  • CAZORLA, G. Test de terrain pour evaluer la capacite aerobie et la vitesse aerobic maximale. In: Actes du colloque international de la Guadeloupe. 1990. p.151-73.

  • DENADAI, B. S. Índices Fisiológicos de Avaliação Aeróbia: conceitos e aplicações. Ribeirão Preto, 1999.

  • JACKSON, A. S.; POLLOCK, M. L. Generalized equations for predicting body density of men. The British Journal of Nutrition, v. 40, n. 3, p. 497-504, 1978.

  • KUIPERS, H.; VERSTAPPEN, F. T.; KEIZER, H. A.; GEURTEN, P.; VAN KRANENBURG, G. Variability of aerobic performance in the laboratory and its physiologic correlates. International Journal of Sports Medicine, v. 6, n. 4, p. 197-201, 1985.

  • MADER, A. Evaluation of the endurance performance of marathon runners and theoretical analysis of test results. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 31, n. 1, p. 1-19, 1991.

  • O’ SULLIVAN, S.B. Perceived exertion: a review. Physical Therapy, v. 64, n. 3, p. 343-46. 1984.

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