Profissional nutricionista no mercado de fitness e wellness: atuação, entraves e perspectivas El profesional nutricionista en las empresas de fitness y wellness: intervención, obstáculos y perspectivas |
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*Nutricionistas graduados pelo Centro Universitário São Camilo ** Graduanda do Curso de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo ***Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Doutorando em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Prebisteriana Mackenzie (Brasil) |
Daisy Aparecida da Silva* Elizabete Alexandre dos Santos* Guilherme Akamine* Larissa Nakabayashi Kraemer Esquillaro** Thais Helena Carreira Cotillo* Renata Furlan Viebig*** |
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Resumo A busca pela atividade física nas academias de ginástica tem crescido devido à maior reocupação com a saúde, Assim é imprescindível que prática de exercícios esteja associada a uma alimentação saudável. Os praticantes de atividade física em geral, são indivíduos que buscam a nutrição ideal e adequada ao tipo de treino. Porém, a falta de conhecimentos acerca de hábitos alimentares adequados, a influência dos treinadores e da mídia e a falta de acesso a um profissional nutricionista, são os principais fatores que levam a utilização de suplementos nutricionais e ao surgimento de distúrbios alimentares. Dessa forma, torna-se necessário refletir sobre a importância da atuação do nutricionista na área esportiva. Esta revisão da literatura foi realizada com base nos bancos de dados Lilacs, Medline e Scielo abrangendo artigos do período entre 2002 a 2009, além de dados sobre o mercado brasileiro de wellness e fitness, com o objetivo de realizar uma atualização sobre a atuação do nutricionista na área esportiva. O avanço na inserção do profissional nutricionista em diversos campos da saúde no Brasil faz parte de uma nova perspectiva sobre a promoção da vida saudável, na qual a alimentação adequada exerce papel essencial, juntamente com a atividade física. É importante que os nutricionistas esportivos se valorizem e mostrem seu potencial, por meio de publicações científicas, programas de educação alimentar em academias, atuação em equipes interdisciplinares. Unitermos: Nutricionista. Atividade física. Academias de ginástica. Conhecimentos em nutrição.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
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1. Introdução
A alimentação pouco saudável e a falta de atividade física são as principais causas das doenças crônicas não transmissíveis mais importantes, como as enfermidades cardiovasculares, a diabetes mellitus tipo 2 e determinados tipos de câncer, que contribuem substancialmente para a carga mundial de morbidade, mortalidade e incapacidade1,2,3.
A prática de atividade física e a alimentação saudável combinadas influenciam positivamente na saúde. A atividade física apresenta como benefícios gerais a melhora da saúde física e mental e é importante ressaltar que a atividade física depende da alimentação, pois esta permite que os atletas e desportistas alcancem seus objetivos sejam estes de promoção de saúde ou voltados à competição1,4,5.
A alimentação adequada é o alicerce para o desempenho físico uma vez que os nutrientes proporcionam combustíveis energéticos para os exercícios, além de oferecer elementos essenciais para a síntese de novos tecidos e o reparo das células já existentes. Quanto mais o desportista ou atleta conhecer a respeito dos nutrientes e seus benefícios para com o organismo, associado ainda à atividade física, melhor ele poderá conduzir a escolha dos alimentos que farão parte da sua alimentação diária6. Uma alimentação balanceada não contribui apenas para performance esportiva, mas para estética e qualidade de vida 7.
Atualmente, a busca pela atividade física nas academias tem crescido devido à maior preocupação com a saúde, que torna imprescindível a participação da nutrição no exercício, para modificação de hábitos alimentares e de vida8.
Apesar da grande preocupação dos frequentadores de academias em buscar uma nutrição ideal e adequada ao tipo de treino, a falta de conhecimentos, os hábitos alimentares inadequados, a influência dos treinadores e da mídia e a falta de acesso a um profissional nutricionista, assim como um conhecimento limitado por parte das pessoas em relação à sua alimentação são os principais fatores que levam a utilização de suplementos nutricionais e a adotar um comportamento alimentar nem sempre capaz de atingir os objetivos esperados9.
Os meios de comunicação e pessoas que nem ao menos se preocupam com as consequências que possam vir gerar uma má alimentação e a prática irregular e excessiva das atividades físicas, são fatores que contribuem para atitudes extremas na busca e desejo de um corpo magro, e não um corpo saudável10,11. Assim, os frequentadores de academias, muitas vezes, apresentam estilo de vida desordenado, que os leva ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia nervosas; treinam excessivamente, e apresentam obsessão com a forma corporal12.
Neste contexto, o nutricionista da área esportiva torna-se cada vez mais solicitado para atender aos desportistas e as pessoas que praticam exercícios físicos habitualmente contribuindo, por meio de uma conduta alimentar adequada, para manutenção de um bom estado de saúde e otimização do rendimento13.
A avaliação freqüente da atuação profissional nos diversos setores constitui uma prática comum das entidades de classe ligadas à profissão. Porém, a menos avaliada é a de nutrição esportiva14. Baseado nisso, este estudo tem como objetivo realizar uma atualização sobre a atuação do nutricionista na área esportiva.
2. Material e métodos
Este estudo consiste numa revisão de literatura realizada em bancos de dados como Lilacs, Medline, Scielo, e páginas eletrônicas (Conselho Federal de Nutrição, Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Associação Brasileira de Academias) abrangendo artigos, matérias de revistas e livros relacionados ao tema proposto. Os materiais utilizados na pesquisa contemplaram os anos de 2002 a 2009, nas línguas português, inglês e espanhol.
Para determinação dos termos para a busca foi realizada uma pesquisa nos descritores em Ciência da Saúde - Decs - da Bireme (disponível em http://www.bireme.br/decs). Os seguintes termos foram utilizados: nutrição, atividade física, nutricionista desportivo, academias de ginástica. Os descritores foram cruzados nos idiomas português, inglês e espanhol.
Os artigos selecionados tinham como base características do mercado de fitness e wellness (crescimento das academias, panorama mundial e brasileiro), perfil dos frequentadores de academias, aspectos relacionados à nutrição e atividade física e atuação do nutricionista nesta área.
3. Desenvolvimento
3.1. A expansão do mercado de fitness e wellness no mundo e no Brasil
O contexto da economia capitalista gerou transformações no mundo do trabalho, que repercutiram nas academias de ginástica gerando várias transformações: aluno torna-se cliente, a mercadoria não é produzida para o consumo, mas para venda; o educador físico passa a ser um vendedor15.
Uma tendência fundamental nesse processo é a mudança na visão adotada pelas academias ao deixar de enfocar o conceito de fitness e passar a enfocar o conceito de wellness15. O termo fitness está associado à capacidade de realizar atividades físicas e promoção de condicionamento físico. Sob esse termo se enquadram as academias mais tradicionais que oferecem apenas atividades como ginástica aeróbica, alongamento e musculação16. As academias de ginástica surgiram tendo essa finalidade, tanto é que os donos das primeiras academias muitos deles eram halterofilistas, atletas, ou pessoas que, em geral, estavam envolvidas em práticas corporais. Com o desenvolvimento do ramo das academias de ginástica como negócio, ou seja, com a boa capacidade de acumulação de capital apresentada pelas academias de ginástica, a visão antes restrita ao fitness foi se ampliando e aos poucos foram sendo aglutinados outros enfoques para atingir seu mercado de forma mais eficaz e também ampliar seu público alvo15. Surge o wellness, que parte de um entendimento mais amplo de bem-estar, incluindo aspectos emocionais, sociais, físicos e intelectuais, remodelando o conceito das antigas academias para centros de bem-estar, ampliando a gama de atividades como yoga, dança, shiatsu, lanchonete e restaurantes com comidas balanceadas16.
Essa mudança de enfoque do fitness para o wellness acompanha, portanto, a consolidação e o desenvolvimento das academias como um negócio15. Dessa forma, a cada dia cresce o mercado de fitness e wellness impulsionado pelos que procuram melhor qualidade de vida e saúde e por aqueles que anseiam os padrões de beleza valorizados pela sociedade17.
O mercado mundial de academias de ginástica e condicionamento físico é liderado pelos EUA, onde cerca de 13% da população – 33 milhões de pessoas – frequentavam estes estabelecimentos em 2000. Em dados de 2003, esta participação correspondia a 23000 academias de health and sportclubs que somavam em faturamento 12,2 bilhões de dólares. A segunda posição no mercado de fitness, em 2006, era ocupada pela Inglaterra, cujo giro financeiro se situava próximo a US$2,4 bilhões / ano, porte similar ao mercado alemão ocupante da terceira posição18.
No Brasil, há dez anos, havia um número de pessoas abaixo da linha de pobreza, o que tornava difícil falar de negócios de malhação em um país onde a população muitas vezes não tem o que comer19. Apesar deste contexto, segundo Bertevello18, em 2006, o Brasil ocupava o quarto lugar no mercado de fitness com um faturamento anual, naquela época, de US$1,2 bilhões. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Academias (ACAD), no ano de 2004, as 7 mil filiadas atendiam a um público de aproximadamente 5,6 milhões de pessoas17. A partir do ano de 2007, duplicaram o número de academias existentes no país, passando de 7 mil estabelecimentos para mais de 14 mil, segundo dados da International Health, Racquet and Sportsclub Association (IHRSA). Esse crescimento deve-se ao incremento da qualidade de vida, que aos poucos levam as pessoas a ter acesso a políticas de bem-estar e saúde19.
O aumento da longevidade no Brasil, as políticas de prevenção de doenças e as campanhas de esclarecimento também tem colaborado para intensa procura dos produtos wellness. Os consumidores já veem a melhoria de hábitos alimentares como um investimento que representa economia em tratamentos médicos e proporciona melhor performance nas atividades pessoais e profissionais20.
O segmento das academias de ginástica também vem passando por uma mundialização em seus investimentos, bem como o surgimento de gigantescas cadeias corporativas que deslocam seu capital para diversas partes do mundo, configurando-se como verdadeiras empresas multinacionais16.
A atividade econômica do esporte/práticas corporais vem gerando no Brasil cerca de 41 bilhões de reais, o que corresponde a 2% do PIB. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, a indústria de artigos esportivos faturou em 2006 na faixa de 27,7 bilhões de reais em indumentária, calçados, acessórios, equipamentos importados, alimentos, bebidas e vitaminas16.
O levantamento realizado pela ACAD em 2003 mostrou que a mensalidade média nas academias era de R$55, 00, sendo arrecadados R$1,5 bilhões por este setor. No período relativo aos anos de 1999 e 2000, houve um crescimento de 12,3% ao ano. Esse número em 2003, já correspondia a 55,6%. Em resumo, é indiscutível a grande escala e ritmo de crescimento do mercado brasileiro de academias18.
Neste contexto é importante conhecer o perfil do praticante de atividade física brasileiro e qual tipo de atividade/atendimento buscam nesses estabelecimentos.
3.2. O perfil do praticante de atividade física no Brasil
Em geral, os freqüentadores de academias de ginástica são indivíduos com alta escolaridade, com motivação e recursos para a prática de atividades físicas e para uma alimentação saudável e com acesso a informações sobre nutrição e atividade física21.
Analisando o perfil geral dos praticantes de atividade física, verifica-se que grande parte são indivíduos jovens, seguidos por indivíduos de meia-idade. Em Campinas, SP, um estudo mostrou que mais de noventa por cento dos freqüentadores das academias tinham idade que variava entre 17 e 40 anos. Quanto à escolaridade, 57,2% declarou ter concluído ou estar cursando o terceiro grau, 39,5% informou estar cursando ou terem concluído o Ensino Médio, e apenas 3,2% declararam estar cursando ou ter concluído o Ensino Fundamental22.
Em estudo realizado com uma amostra de 1696 indivíduos, com objetivo de analisar o perfil de praticantes de atividade física em academias no Município de Concórdia, SC, a média de idade dos praticantes de atividade física foi de 30 a 45 anos23. Esse dado assemelha-se com o encontrado por Duran et al (2004) que encontrou uma média de idade de 35,1 anos, com idade variando de 18,4 anos a 56,7 anos, entre os frequentadores de uma academia em Cotia, SP. Em relação à escolaridade, 31,3% tinham nível superior, 21,9% algum tipo de pós-graduação, 28,1% estava cursando nível superior e 18,8% tinham estudado até o ensino médio24.
Os estudos não mostram diferenças significativas em relação ao gênero dos frequentadores de academias e clubes, porém nas unidades do clube SESC no Distrito Federal um estudo mostrou que a maior concentração de indivíduos que praticam exercícios físicos são mulheres, jovens, detentores de boa formação acadêmica, alto poder aquisitivo, que vivem em situação de união estável, e cuja preferência de prática físico-esportiva é a ginástica. Em relação à faixa etária, a maioria dos indivíduos que praticava exercícios físicos encontrava-se entre 21 e 40 anos de idade, seguida do grupo etário de 41 a 60 anos25.
Neste estudo, também foi constatado que os indivíduos do gênero masculino tinham uma participação maior em esportes coletivos como o futebol e o vôlei, assim como na musculação e na corrida, enquanto que, entre as mulheres, a preferência é pela ginástica, hidroginástica, dança e caminhada. Quanto à escolaridade, 41,4% dos indivíduos da amostra do presente estudo possuem nível superior25.
O status econômico tem uma relação direta com a prática de exercícios físicos. Um estudo constatou que os participantes dos programas de exercício físico do SESC/DF com renda familiar acima de R$ 3.000,00 constituíam a maior parte da amostra estudada25.
Por geralmente terem um nível socioeconômico elevado e um ótimo grau de instrução, parte-se do pressuposto de que os praticantes de atividade física possuem conhecimentos básicos em relação à nutrição associada à prática de atividade física26. Porém, percebe-se que a alimentação dessas pessoas não se encontra adequada do ponto de vista nutricional, o que mostra a necessidade de haver orientação nutricional disponível para tal população, os auxiliando a atingir seus objetivos, esclarecendo dúvidas e desmistificando os muitos conceitos errôneos que correm nas academias24.
Um estudo realizado em uma academia na região norte do município de São Paulo, mostrou que o meio mais utilizado pelos praticantes de atividade física para saber sobre nutrição eram revistas, geralmente aquelas relacionadas à saúde e boa forma, internet, principalmente sites de busca e pelo educador físico, respectivamente21.
Em outro estudo realizado com objetivo de avaliar o conhecimento nutricional de atletas profissionais, verificou que ambos os grupos avaliados apresentaram conhecimento nutricional moderado. Porém, a pontuação obtida no teste por atletas amadores foi significativamente superior a dos atletas profissionais. Eles relataram que a população de atletas amadores foi composta exclusivamente por indivíduos do sexo feminino. Isso poderia influenciar os resultados, visto que o público feminino tem uma preocupação maior com a estética, o que faz com este grupo busque maiores informações sobre nutrição associada à atividade física8.
Tanto para desportistas como para atletas, uma alimentação adequada é necessária para suprir a demanda energética requerida pelo exercício, pois a mesma fornece uma ingestão ideal de nutrientes importantes para o rendimento físico. Nota-se a importância que o conhecimento sobre nutrição para prevenção de doenças é fundamental para ambas as populações8.
3.2.1. Consumo Indiscriminado de suplementos alimentares
A falta de acesso ao nutricionista e aos conhecimentos adequados em relação à nutrição leva muitos indivíduos a fazerem uso abusivo de substâncias que possam melhorar seu desempenho físico, e com o intuito de atingir objetivos a curto prazo. Isso porque nem sempre se tem cautela e paciência para esperar a evolução natural resultante do treino e da dieta27. O meio mais utilizado para alcançar estes objetivos tem sido o uso de suplementos alimentares.
Estudo realizado em academias de Caxias do Sul, RS, mostrou que do total da amostra, composta por 87 homens, 26 indivíduos consumiam suplementos alimentares. A média de consumo de proteínas destes indivíduos era superior ao limite mínimo recomendado, diferentemente dos que não consumiam que possuíam a média diária de ingestão de proteína adequada. Dos suplementos alimentares utilizados, 80,8% eram à base de proteínas e apenas 19,2% à base de carboidratos28. Talvez a utilização de suplementos esteja relacionada à prática de atividade predominante nas academias, a musculação23,29.
A musculação é atividade responsável pela hipertrofia muscular e sabe-se que os praticantes dessa modalidade de exercício possuem necessidades nutricionais diferenciadas das de indivíduos sedentários ou pouco ativos. Porém, o problema ocorre quando a preocupação de um indivíduo de que seu corpo seja pequeno ou franzino se torna excessiva, passando a ter um padrão alimentar específico, que geralmente é composto por dieta hiperprotéica, além de inúmeros suplementos alimentares ou substâncias para aumentar o rendimento físico, sem a devida orientação, trazendo danos à saúde28.
A musculação é praticada principalmente por indivíduos do gênero masculino consequentemente, o uso de suplementos alimentares é maior neste grupo27,30 como confirma o estudo de Domingues e Marins27, no qual 90% dos praticantes de musculação estudados eram do gênero masculino.
O maior consumo de suplementos está associado ao maior tempo de prática de atividade física e permanência na academia. Hallak et al31, em seu estudo verificou que em geral, os usuários de suplementos praticam atividade física cinco vezes por semana e que o grupo de suplementos mais utilizados são os aminoácidos ou concentrados protéicos, seguidos pela creatina. A maioria dos usuários consome apenas um suplemento, que é em geral a bebida esportiva. A finalidade mais citada para o consumo de suplementos é o hipertrofia, hidratação (bebidas esportivas), melhorar a performance, compensar deficiências da alimentação e prevenir doenças30,31.
Grande parte dos indivíduos que consomem estes produtos não conhece a finalidade dos mesmos, especialmente os protéicos e de vitaminas e minerais30. Um estudo demonstrou que apenas 14% dos entrevistados declararam consumir suplementos nutricionais com prescrição de algum profissional apto e capacitado31. Assim, é importante ressaltar que os consumidores de recursos ergogênicos normalmente se autoprescrevem, principalmente quando se trata de bebidas esportivas 27,31.
Os suplementos alimentares devem ser consumidos apenas quando comprovada real necessidade e sob orientação de profissionais capacitados. É consenso, na comunidade cientifica que a dieta pode fornecer todos os nutrientes necessários a uma vida saudável, portanto a suplementação da dieta é recomendada apenas em situações específicas. Médicos e nutricionistas são os únicos profissionais legalmente habilitados para a prescrição de suplementos27,30,31.
O consumo de suplementos sem uma correta prescrição pode produzir efeitos prejudiciais à saúde do consumidor. Esses efeitos podem não ser graves e reversíveis, como cãibras e cansaço muscular, mas também podem ser extremamente graves como a acromegalia causada por consumo e produção excessiva de hormônio do crescimento (GH)27.
3.2.2. Imagem corporal, consumo alimentar e atividade física
Um programa de atividade física bem elaborado pode aumentar a massa muscular, ou reduzir o peso corporal, como é o desejo das mulheres. A prática de atividade física pode levar os indivíduos a alcançar os corpos que idealizam, porém em alguns casos, pode resultar em conseqüências negativas, aumentando, nas mulheres, a preocupação com a magreza e, nos homens, ocasionando o fenômeno conhecido como dismorfia muscular ou anorexia reversa e outros distúrbios alimentares32.
A insatisfação com o próprio corpo, ou melhor, com a imagem que se tem dele, talvez seja um dos principais motivos que levem as pessoas a iniciar um programa de atividade física33. Indivíduos com transtorno alimentar (bulimia, anorexia nervosa e dismorfia muscular) utilizam a atividade física como método para perda/controle de peso34. Assim nas academias e clubes é encontrado esse perfil de praticante de atividade física, que se exercita compulsivamente. Essas pessoas passam horas dentro das academias treinando tanto que acabam se tornam perfeccionistas consigo mesmas e obsessivas pelo exercício35.
Estudo realizado por Cosio et al33 em uma academia na cidade de São Paulo mostrou que as mulheres possuem uma imagem corporal retorcida, enquanto que a maioria dos homens, encontra-se satisfeitos com seu corpo. Por meio dos resultados encontrados, os autores concluíram que o sexo feminino apresenta uma tendência à distorção entre imagem atual e ideal o que não foi observado no caso dos avaliados do sexo masculino, o que pode acarretar, em virtude o ideal de perfeccionismo da mulher, diversos problemas como risco de desenvolvimento de distúrbios alimentares.
Baptista e Pandini10 verificaram que 20% das freqüentadoras de uma academia em São Paulo foram classificadas como tendo possibilidade de desnutrição, e de induzir o aparecimento de um distúrbio alimentar, além disso, grande parte das entrevistadas encontrava-se acima do peso, o que pode influenciar ainda mais o aparecimento de distúrbios alimentares.
Distúrbios alimentares em indivíduos do sexo masculino têm sido cada vez mais descritos, mas ao contrário das mulheres que procuram se tornar magras, indivíduos do gênero masculino querem se tornar cada vez mais fortes e musculosos. A dismorfia muscular, quadro associado à distorção de imagem corporal em homens, parece ser uma resposta equivalente àquela feminina em se adequar ao padrão corporal ideal, descrito e apreciado socialmente35.
Este sintoma está relacionado a padrões de alimentação específicos, geralmente compostos de dieta hiperprotéica, além de inúmeros suplementos alimentares a base de aminoácidos ou substâncias para aumentar o rendimento físico. A atividade física pode ser realizada de forma excessiva, inclusive causando prejuízos nos funcionamentos social, ocupacional e recreativo do indivíduo, chegando a ocupar de 4 a 5 horas por dia. As atividades aeróbias são evitadas para que não ocorra perda da massa muscular adquirida durante as pesadas sessões de musculação. Os possíveis ganhos musculares são checados exaustivamente chegando a 13 vezes ao dia35, 36.
Apesar da falta de conhecimento em relação à nutrição, muitos praticantes de atividade física acham importante a orientação nutricional dentro das academias e clubes. Esse fato é demonstrado pelo estudo de Migliorança et al37, realizado no município de São Paulo, em que aproximadamente 80% dos entrevistados achava importante a presença de um nutricionista na área esportiva, sendo o principal motivo a procura por um melhor desempenho.
3.3. Importância da atuação do nutricionista em atividade física e esportes
Tendo em vista o exposto, percebe-se que o acompanhamento de um nutricionista, especializado em nutrição esportiva, é fundamental a fim de ajudar os praticantes de atividade física a manterem uma dieta saudável que possa maximizar os resultados obtidos por eles e não prejudicá-los.
O nutricionista, principalmente aquele dedicado à área de nutrição esportiva, é o profissional responsável por orientar e elaborar uma dieta específica que assegure a perfeita relação entre performance física, saúde e qualidade de vida26.
Muitas vezes o treinador ou personal trainer, os amigos e leigos e o fácil acesso a informações na mídia eletrônica acabam contribuindo de forma negativa para o trabalho do nutricionista nas academias devido à indicação de suplementos e disseminação de conceitos errados sobre nutrição27, 30. Por estarem diretamente vinculados às academias, os profissionais de educação física vem sendo requisitados a orientar dietas e/ou na utilização de suplementos e recursos ergogênicos. Entretanto, não cabe a estes profissionais este tipo de orientação26.
Dessa forma, faz-se necessário a implementação de programas de educação alimentar, coordenados e gerenciados por nutricionistas, atuando com os demais profissionais nas academias ou locais em que se pratiquem exercícios físicos para uma orientação adequada sobre alimentação e nutrição38.
O avanço na inserção do profissional nutricionista em diversos campos da saúde no Brasil faz parte de uma nova perspectiva sobre a promoção da vida saudável, na qual a alimentação adequada exerce papel essencial, juntamente com a atividade física39.
O campo de atuação do nutricionista vem se expandindo desde a regulamentação da profissão em 1967. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Nutricionista (CFN), em 2005 dos graduados em nutrição em todo o Brasil 41,7% trabalhavam na área de Nutrição Clínica, 32,2% em Alimentação Coletiva, 8,8% em Saúde Coletiva, 8,8% em ensino e educação, apenas 4,1% em Nutrição Esportiva14, 39. O estudo de Akutsu40 que analisava a diferença da atuação dos nutricionistas brasileiros em face das variáveis pessoais, demográficas e de trabalho, obteve que a maioria dos nutricionistas trabalha em empresas privadas (55,9% n=587) e apenas 0,5% na área esportiva. Outro estudo realizado com nutricionistas egressos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) mostrou que de 111 indivíduos apenas um atuava em nutrição esportiva. Esses dados mostram que apesar da necessidade crescente de orientação e educação em nutrição esportiva para ajudar os esportistas e atletas a melhorar seus hábitos alimentares, o nutricionista está pouco inserido neste mercado de trabalho38. Talvez, parte da carência de profissionais nessa área deva-se a não incorporação da disciplina de nutrição esportiva na grade curricular de alguns cursos de graduação, que focam mais a nutrição humana e a dietética, apesar da Resolução CFN n° 380/2005 descrever que esse profissional pode atuar em academias e clubes esportivos13, 41.
Um estudo conduzido em Brasília (DF) com administradores de academias acerca do nutricionista esportivo mostrou que 23,1% dos administradores consideravam o profissional importante para o oferecimento de um serviço de melhor qualidade para os alunos, 38,5% acreditam que a nutrição deve ser complementar à atividade física, 23,1% relatam que, com a participação da alimentação adequada os alunos atingirão resultados mais eficazes, 7,7% enfatizaram a importância do trabalho em equipe e 7,7% referiram à melhora do rendimento e à importância da educação nutricional26.
Baseando-se nesses dados surge a seguinte questão: “Por que não há um grande número de nutricionistas trabalhando na área esportiva?”. A questão é que não basta reconhecer a importância do nutricionista desportivo, este precisa ter mais espaço e presença dentro das academias a fim de que sua atuação seja mais eficaz26.
Talvez o pequeno número de profissionais trabalhando na área seja reflexo da idéia de que o nutricionista tem apenas o papel de prescrever dietas para pessoas que estão acima do peso39. Outro fato, que possa explicar é a renda média (R$ 1.276,06), que é a menor de todas as áreas de atuação, segundo CFN14. Isso pode levar a migração desse profissional para outras áreas. A pesquisa realizada pelo CFN com os nutricionistas do Brasil identificou como principais motivos para mudança da área esportiva para outras a falta de perspectiva de trabalho juntamente com oportunidades e baixos salários14.
Não há conhecimento por parte da população das atribuições gerais do nutricionista, e pior ainda nesta área específica. Portanto, a seguir apresentaremos as competências técnicas realizadas na subárea Clubes esportivos,academias e similares da nutrição e esportes de acordo com o CFN (Tabela 1)14.
Tabela 1. Competências técnicas das chefias na subárea Clubes Esportivos, Academias e Similares da Nutrição e Esportes. Brasil– 2005
Fonte: Adaptado. Conselho Federal do Nutricionistas - CFN. Perfil da atuação profissional do nutricionista no Brasil, 2006. Tabela 47. p. 84
Em 2005, atuavam na área de nutrição esportiva apenas 122 nutricionistas, sendo a maioria concentrada na 3ª região (n=48) que engloba o estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná; e 4ª região (n=43) correspondente aos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro14.
Caracterizando o perfil dos profissionais que atuam na área esportiva quanto ao gênero e estágio de vida, observa-se que na grande maioria são mulheres (90%), com estágio de vida entre 20 a 30 anos14. Esta área, diferente das outras existentes, é a que tem um percentual masculino significativamente alto, porém não ultrapassa 10%.
De acordo com o CFN14, quanto a questão da valorização do profissional nutricionista pela sociedade por área de atuação, nota se que 89,3% valorizam a área de Nutrição Esportiva.
Após tudo que foi apresentado neste artigo, é necessário refletirmos “Por que apesar do nutricionista da área esportiva ser tão valorizado- visto que é capacitado para atuar na área de fitness e wellness - esta é a área que concentra o menor número de profissionais?” É uma questão a ser pensada.
4. Considerações finais
É indiscutível o ritmo de crescimento do mercado fitness e wellness no Brasil e a procura de desportistas e esportistas, por esse serviço. Muitas vezes esses indivíduos apresentam comportamentos alimentares inadequados, que são influenciados pelo grande número de informações sobre alimentação e nutrição divulgadas por meios não científicos, como a mídia em geral, ou mesmo por educadores físicos que atuam neste mercado, mas que não tem competência para orientar esse público.
Assim, nota-se a necessidade do nutricionista inserido no mercado de fitness e wellness, visto que ele é o único profissional capacitado para orientar os indivíduos em relação à alimentação e nutrição adequadas, alcance dos objetivos, escolha de produtos (suplementos alimentares, produtos wellness), além de atender as necessidades específicas no caso de indivíduos que apresentam distúrbios alimentares e de imagem corporal. Portanto, o nutricionista da área esportiva não atua apenas para melhorar a performance de atletas ou desportistas, mas também para promover e melhorar a qualidade de vida.
Mesmo o nutricionista sendo essencial para este mercado, há muitos entraves: treinador ou personal trainer, leigos e a mídia, por exemplo. Os poucos profissionais que atuam, migram para outras áreas por falta de incentivos e baixos salários.
A área de nutrição esportiva é uma nova perspectiva de atuação do nutricionista, mas para que isso seja efetivo é importante que os próprios profissionais se valorizem e mostrem seu potencial, por meio de publicações científicas, programas de educação alimentar em academias, atuação em equipe interdisciplinar (composta por fisioterapeutas, médicos e educadores físicos, por exemplo), divulgação por parte dos Conselhos Federal e Regional e exigência da inserção da disciplina na grade curricular das universidades que oferecem o curso de graduação.
O nutricionista deve ser empreendedor, independente da área de atuação, mas principalmente na área esportiva que atualmente precisa de maior valorização.
Sugere-se que mais estudos não só para avaliação da área de esporte, mas também com estratégias de inserção do nutricionista neste mercado sejam realizados, a fim de contribuir positivamente na saúde da população em geral que tanto necessita deste profissional, e também para melhorar a satisfação do mesmo em relação às oportunidades de crescimento e remuneração.
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digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires,
Agosto de 2010 |