Gênero e Educação Física Escolar Género y Educación Física Escolar |
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*Programa de Pós Graduação Latu Senso em Atividade Física em Saúde e Reabilitação Cardíaca Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Programa de Pós Graduação Latu Senso em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, Centro Universitário de Volta Redonda, UNIfoa, Unidade Cataguases, MG ** Programa de Pós Graduação Latu Senso em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, Centro Universitário de Volta Redonda, UNIfoa, Unidade Cataguases, MG ***Laboratório de Biociências da Motricidade Humana, LABIMH Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ ****Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Educação Física e Desporto Universidade Tráz os Montes e Alto Douro, UTAD, Portugal *****Professor da Universidade Presidente Antônio Carlos, UNIPAC, Conselheiro Lafaiete, MG ******Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Educação Física e Desporto Universidade Tráz os Montes e Alto Douro, UTAD, Portugal Professor das Faculdades Sudamérica, Cataguases, MG Professor e Coordenador da Pós Graduação Latu Senso em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo. Centro Universitário de Volta Redonda, UNIfoa, Unidade Cataguases, MG |
Gabriela Rezende de Oliveira Venturini* Victor Hufnagel Guerra** Bernardo Minelli Rodrigues*** Dihogo Gama de Matos**** André Luiz Zanella**** Ricardo Luiz Pace Júnior***** Mauro Lúcio Mazini Filho****** (Brasil) |
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Resumo Desde tempos remotos meninos e meninas têm educação diferente. E neste processo educativo, os meninos correm, lutam, jogam enquanto as meninas também fazem tudo isto, mas em menor volume e intensidade, ficando mais por conta de atividades caseiras como brincar de boneca, casinha, etc. A educação física escolar é uma excelente estratégia para que meninos e meninas se interajam e pratiquem juntas as modalidades esportivas, lúdicas, de cultura corporal, dentre outras, mas o que vimos é o atual despreparo dos professores em lidar com estas situações onde poderiam fazer com que os gêneros trabalhassem juntos nas aulas de educação física, fato este que raramente acontece. O que mais vimos são as separações dos gêneros nas aulas. Enquanto os meninos jogam futebol na grande parte das aulas, as meninas jogam queimadas. Não restam dúvidas que a fisiologia masculina e feminina são diferentes, fato este que nas atividades de força os meninos são beneficiados enquanto que as meninas apresentam maiores níveis de flexibilidade. Mas estes fatos não são tão importantes nas primeiras fases da infância, pois só começam a se destacar com o início da puberdade. O que realmente se faz necessário é o comprometimento dos profissionais que atuam diretamente na frente das aulas de educação física junto ao processo da tão falada inclusão, que neste aspecto não deixa de ser, pois com toda certeza independente do gênero, todos os alunos são capazes de realizar as atividades propostas nas aulas juntos. Unitermos: Educação Física Escolar. Gênero. Inclusão.
Abstract Since ancient times boys and girls have different education. And in this educational process, the boys run, fight, play while girls also do all this but at lower volume and intensity, becoming more because of indoor activities like playing with dolls, house, etc.. Physical education is an excellent strategy for boys and girls interact together and practice the sports, recreational, cultural body, among others, but what we saw today is the unpreparedness of teachers to deal with these situations which could cause that genres work together in physical education classes, a fact that rarely happens. What else we have seen are the separations of the genres in the classroom. While the boys play football in most of the classes, the girls play burned. There is no doubt that the male and female physiology is different, a fact that the activities under the boys are benefited while girls have higher levels of flexibility. But these facts are not as important in the early stages of childhood, because only begin to stand out with the onset of puberty. What really is needed is the commitment of professionals working directly in front of the physical education classes with the process of the so called inclusion, that this aspect is not anymore, because for sure regardless of gender, all students are capable to carry out the proposed activities in the classroom together. Keywords: Physical Education. Gender. Inclusion.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
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1. Introdução
Atualmente, torna-se cada vez mais difícil a prática incomum das aulas de Educação Física para meninos e meninas, devido ás diferenças físicas (biológicas), sociais, comportamental e culturais de ambos gêneros. Essas diferenças são frutos da cultura social transpassadas dos pais para os filhos, através da educação dada pelos e para os mesmos.
Essa cultura implica que, a educação feminina deve ser influenciada por sentimentos maternais, atitudes gentis, desenvolvimento de atividades domésticas, entre outras. Por sua vez, a masculina deve ser influenciada pela exacerbação da virilidade e coragem do homem. Todavia, com o avanço da sociedade, esses comportamentos se modificaram devido ao apogeu da independência feminina.
As aulas de Educação Física são um importante “cenário” para a reflexão dessas diferenças, bem como para a determinação ou não, de atividades incomuns, que atendam as necessidades de ambos gêneros.
Dessa forma, o objetivo do presente estudo, é a reflexão das diferenças entre os gêneros na prática cotidiana das aulas de Educação Física.
Entendendo sobre a questão de gêneros
Segundo Silva (1996) o conceito de gênero, tem uma história bem recente, sendo utilizado, pela primeira vez em 1955 pelo biólogo Jonh Money, para dar conta dos aspectos sociais do sexo.
Gênero é uma categoria analítica criada para explicar como se articulam as relações entre homens e mulheres (meninos e meninas) e como essas relações são efeitos de estratégias educativas. É nesse sentido e, sob essa perspectiva conceitual, que faz sentido compreender os sujeitos (as crianças) e as práticas educativas produzidas e inscritas no interior de redes de poder (FOUCAULT, 1988). É considerado uma categoria conceitual que traz à tona a compreensão de que ninguém nasce mulher/homem, menino/menina, e que essas condições são produzidas pela história e pela cultura, não são fundadas apenas na ordem da natureza (corporal), são da ordem do vir-a-ser e do fazer, da produção. É “a civilização como um todo que produz” a posição de gênero (BEAUVOIR, 1988, p. 301). (SCHWENGBER, 2009)
Vimos que os corpos e suas estruturas têm diferentes organizações sociais, políticas religiosas e culturais. Portanto existe uma evidente relação diante os perfis biológicos e sociais e que diferentes atividades podem definir o corpo como feminino ou masculino de forma socialmente normais. (CONNEL, 1990). Portanto, o processo de educação de homens e mulheres supõe uma construção social e corporal dos sujeitos, o que implica – no processo ensino/aprendizagem de valores - conhecimentos, posturas e movimentos corporais considerados masculinos ou femininos. (SOUSA e ALTMANN, 1999: 54)
Podemos entender que a sociedade compreende q existem comportamentos e movimentos que individualizam meninas e meninos, que o processo de aprendizagem, valores e atitudes, supõe os movimentos quem serão considerados masculinos e femininos. (CONNEL, 1990)
Gênero não somente tem relação a parte biológica dos indivíduos, mas também se relaciona com aspectos sociais. Desde muito tempo que existem maneiras diferentes de educar e ensinar homens e mulheres, que também apresentam diferentes habilidades para cada gênero. Na sociedade atual é possível perceber claramente mulheres exercendo papeis secundários em relação aos homens em todos os setores de empregos. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 116) As instituições, escola e família, são consideradas as principais responsáveis pela construção e/ou reprodução de conceitos equivocados, ou melhor, valores estereotipados a cerca das questões de gênero. Assim sendo, Althussen (1985,p.28), classifica escola e a família, como Aparelhos Ideológicos, uma vez que : (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 116)
Em 1920, foram criadas escolas mistas para igualar o acesso e métodos de ensino para homens e mulheres, mas esta relação conflituosa entre os mesmos continua até os dias atuais já que os(as) professores(as) exigem resultados diferentes de ambos os gêneros, que desta forma assumem aleatórias posturas perante a sociedade. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 116)
Na tentativa de interferir nesta realidade os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs 1998), de Educação Física diante das questões de gêneros, cita de fundamental importância as aulas mistas favorecendo assim meninos e meninas a serem respeitosos e tolerantes, evitando desta maneira a estereotipia. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 117)
Como diz as confederações do PCN (1998), devemos administrar aulas mistas para que se evite a construção e/ou a reprodução estereotipada dos sexos, mas de uma forma que não seja cobrado resultados diferentes de meninas e meninos. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 117)
Ao exemplificar com dados do cotidiano RABELO (op. cit.) nos diz que quando meninos e meninas são expostos a determinados jogos ou brincadeiras, as respostas motoras a essas atividades, auxiliam como fator indicador de gênero apontando que a tendência é a de que meninos se identifiquem mais com determinadas atividades do que as meninas. Conclui afirmando que os brinquedos em si, não trazem nenhuma indicação de sexo, são as ações dos outros que os codificam e associam aos aspectos significantes da criança, ajudando na construção do gênero. (ROMERO, 2001)
Mediante um estudo de ROMERO (1990 e 1992) resultante da prática de atividades física sexista foi observado uma diferença no desenvolvimento motor de meninos e meninas. Logo após ROMERO e PASSINI (1997) e ROMERO (1999) obtiveram como resultado uma diferença facilmente percebida entre o tratamento motor dos sexos. O fato para esta sustentação era a separação dos estudantes segundo o sexo para aulas de Educação Física não ocorrendo o mesmo para outras disciplinas. ROMERO (2001)
RABELO (op. cit.) é de opinião de que o desenvolvimento se molda através do poder de influência da cultura e das formas sociais a que está inserida, e nessa engrenagem a identidade é “um processo, é um lugar social, uma lacuna disponível dentro das estruturas representacionais do mundo social (41)”. Para o autor as representações vêm antes das identidades, pois, os indivíduos primeiro fazem parte do mundo das representações para depois formarem sua identidade. (ROMERO, 2001)
Os estereótipos, representações sociais sobre a formação de gênero
Os estereótipos e as representações traduzem o pensar da sociedade. Enquanto o estereótipo é fator que influi no processo de percepção das pessoas e simplificam a realidade objetiva, a representação social vem a ser uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos (ROMERO, 2001)
Os estereótipos têm a capacidade de influenciar a população, desde que se atribuam a um determinado grupo e características que podem ser, simpática ou antipática, acessível ou distante, amiga ou inimiga. (ROMERO, 2001) (ROMERO, 2001: 176)
Gêneros e desenvolvimento motor
Durante as aulas de Educação Física está evidente da diferenças corporais entre meninos e meninas; os meninos se destacam nas atividades físicas, principalmente nas de um grau maior de dificuldades, isto é de conseqüência das diversificações de experiências motoras (SOUSA e PALMEIRA, 2009: 119). Já as meninas, por não praticarem esportes, não correr, pular, saltar, escalar, brincar de bola, têm seus desenvolvimento motor comprometido, e subestimado.
Ainda neste parâmetro podem existir a consolidação deste conhecimento muitas vezes deturpados, pois na Educação Física a pseudo-superioridade masculina ainda é presente. Mesmo que sabendo que isto só existe diante o fato do maior repertório de atividades e desenvolvimento motor dos meninos. (SCHWENGBER, 2009: 117). Em um estudo de Wex (2001), entra em destaque no ambiente escolar que as meninas são repreendidas quando se trata de modos corporais, mais do que os meninos. Outro dado era que o espírito agressivo era estimulado nos meninos e que nas meninas era sempre controlado. (SCHWENGBER, 2009).
As formas de brincar são outros modos de avaliar como as distinções corporais entre os gêneros masculino e feminino vão se constituindo. Costumeiramente os meninos recebem como brinquedos carrinhos, armas, bolas; as meninas recebem bonecas e suas brincadeiras girarão no universo das casinhas de bonecas (panelinha, comidinha, mobília) e elementos em torno do cuidado corporal das bonecas e de si (vestuário, maquiagem, bolsas, calçados, bijuterias).As crianças internalizam as categorias dos brinquedos destinados a cada sexo, sendo estimuladas a brincarem com este ou aquele determinado brinquedo. Educa-se as crianças com brinquedos como “próprios para um gênero” ou “impróprios ao outro, como feminino (bonecas) e masculino (bolas). Os brinquedos provocam nas crianças reações diferentes. (SCHWENGBER, 2009)
Outra questão importante a ser destacada é que meninas não são vítimas de uma exclusão masculina. Vitimá-las significaria coisificá-las, ‘aprisioná-las pelo poder’, desconsiderando suas possibilidades de resistência e também de exercício de dominação (Altmann 1998). Como exemplo do exercício dessa resistência, trazemos o relato de um dia em que meninas jogaram futebol durante um recreio – espaço diariamente ocupado apenas por meninos. (SOUSA, 1999: 59). Além disso, lembrando Sacristán (1995, p. 89), cabe ressaltar que “a escola não opera no vazio; a cultura que ali se transmite não cai em mentes sem outros significados prévios”. Os estudantes são seres com uma bagagem prévia de crenças, significados, valores, atitudes e comportamentos adquiridos fora da escola. A televisão, os quadrinhos, a fala e as atitudes cotidianas dos adultos e dos grupos de amigos estão cheios de estereótipos de gênero, de crenças sobre o que é ser homem ou mulher em nossa cultura. (SOUSA, 1999: 64)
A sociedade que constituímos, exerce uma determinada influencia e desenvolvem estereótipos para suas próprias crianças. Podemos perceber que existem dois lados da mesma questão, a escola, alem de limitar nossa intervenção, é a mesma escola que também constrói cultura e que propostas político-pedagógicas sejam criadas para vincular a mesma com a sociedade. (SOUSA, 1999: 64)
Educação e Educação Física Escolar
Louro (1997) diz que o espaço escolar produz sujeitos femininos e masculinos, e desde sua criação é um espaço planejado para imprimir distinção, um exemplo disso é a separação entre gêneros.(SCHWENGBER, 2009)
Simões (2003) diz que, “na Educação Física, até o final da década de 70 e início da década de 80, alguns estudos sugeriram a separação dos sexos, como também a distribuição desses em função dos esportes e das brincadeiras.” (SIMÕES, 2006: 8)
A autora diz sobre a dificuldade na socialização entre os gêneros, já que cada um deles leva para a escola uma “história de vida” de um “menino” e uma “menina” e até mesmo quando se diz respeito de diferentes condições de formação de desenvolvimento como por exemplo, a classe social, tipo de educação familiar e etc. (SIMÕES, 2006: 9)
Dessa forma, [...] é a partir deste entendimento que uma criança cresce, comportando-se de acordo com padrões culturais e históricos dentre os quais é educada [...]. O papel sexual que a criança vai desempenhar será punido ou reforçado, segundo a cultura e o contexto social no qual ela está inserida. A determinação e manutenção do comportamento sexual para homens e mulheres criam e mantêm as desigualdades entre eles existentes na sociedade, quase sempre com prejuízos para a mulher que acaba desempenhado um papel de menor prestígio e valor (ROMERO, 1994, p. 226). (SIMÕES, 2006: 9)
Cunha Júnior revela ter registrado frases e depoimentos discriminatórios que apareciam cotidianamente nas aulas de Educação Física, tais como: “menino não chora!”; “futebol é coisa para homem!”, “o esporte de menina é queimado!” “mulher não pode brigar!”; “eu não fico em grupos com meninas!”; e outros mais, que concebiam as meninas enquanto grupo frágil, submisso e desprovido de qualidade nas habilidades motoras. Ele acredita que uma grande causa da referida problemática esteja mesmo na Educação Física ligada à aptidão física. (SIMÕES, 2009: 10)
Altmann (1999) menciona outros aspectos importantes que devem ser relacionados: relações como o espaço físico escolar, sua apropriação e ocupação; a outra diz respeito a separação de turma por sexo. Era claramente percebível que a ocupação de locais de difícil acesso por meninos era maior em relação com as meninas, através do esporte que desta maneira era relacionado a imagem da masculinidade como forte, violento e vitorioso. Outra era a separação por sexo, dessa forma estabelecia-se uma divisão polarizada entre os gêneros, privando-os da possibilidade de cruzarem fronteiras de divisão, impedindo-os de escolher entre estar ou não estar juntos. (SIMÕES, 2002: 11)
Escola é uma entidade aberta a todos e que ao mesmo tempo o sucesso dependerá do interesse de cada um, além de se tratar também de um mundo à parte com acesso controlado e papeis predeterminados: o aluno cala, escuta, obedece e é julgado; o professor sabe, ordena, julga e ao mesmo tempo anota e pune. (AMARAL, SANTOS e ANDRADE, 2007: 28)
Em um ambiente em que muito é cobrado dos alunos e pouco lhes é oferecido, a escola parece ser muitas vezes um mundo desligado da realidade, em que não tem utilidade e significação imediata para os mesmos em que sua maior quantidade são injustiçados, sofrem carências materiais e efetivas na sociedade. . (AMARAL, SANTOS e ANDRADE, 2007)
Piletti (2001, p. 63): Para poder planejar adequadamente a tarefa de ensino e atender às necessidades do aluno é preciso, antes de mais nada, saber para quem vai planejar. Por isso, conhecer o aluno e seu ambiente é a primeira etapa do processo de planejamento. É preciso saber quais as aspirações, frustrações, necessidades e possibilidades dos alunos. (AMARAL, SANTOS e ANDRADE, 2007)
Freire (1989) afirma que “a Educação Física brasileira, filha maternal do militarismo e filha adotiva da medicina higiênica”. Argumentando essa citação podemos dizer que mesmo com a ocorrência de aulas mistas não foi possível a total introdução de aulas co-educativas, mediante muitas vezes da acomodação ou rendimento, sendo que ambos objetivos já tenham espaço na história. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 121)
Na tentativa de explicar a separação de gênero, professores (as) argumentam em maioria das vezes sobre as diferenças de habilidade e força entre os meninos, mas só caberia essa justificativa se o objetivo da educação Física fosse o rendimento. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 121)
Outro argumento comum diz que meninos e meninas ao chegar à escola já sofreram separação de gênero, nas ruas, em casa, já que cada um tem seu “brinquedo”, podendo haver assim recusa em atividades conjuntas nas aulas de Educação Física. Contra isso Freire (1989) afirma: ”por mais que compreenda a questão cultural envolvida no contexto social, manter esta separação seria o mesmo que reforçar o preconceito já existente, e conformar as pessoas, á sociedade, inclusive aos seus vícios.” (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 121)
Romero apud Saraiva (1999, p. 27), alerta sobre o papel dos/as professor/as de Educação Física na escola, já que estes/as em suas práticas ajudam a reproduzir velhos valores, auxiliando na manutenção dos estereótipos sexuais diferenciados para meninos e meninas. Todavia, Meyer (2004, p. 11) alerta que não é tarefa fácil para o docente perceber as diferenças entre o que é natural e o que é cultural, “a compreensão de que gênero e sexualidade são culturalmente construídos e não naturalmente dados não é imediata”. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 121)
Durante muito tempo se fundamentou nas aulas de Educação Física a separação dos sexos durante a concepção de ensino com base na visão dualista e diante disto era função da Educação Física cuidar do corpo, ora educando-o e ora adestrando-o. Porém, Gaspari et. al. (2003), aponta que as preferências pelas turmas mistas se dão de maneira que os alunos possam aprender com diferenças, respeito, cooperação, solidariedade e também é notável a facilitação de questionamento ou tratamento de gênero. Isso pode trazer conseqüências imediatas. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 122)
Está considerada como educação conjunta entre os gêneros como forma de equidar o aprendizado nas aulas de Educação Física, mediante a perspectiva progressista, esta separação faz apenas reafirmar as diferenças entre os mesmos. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 122)
Quando falamos de força física, os meninos têm realmente uma vantagem sobre as meninas e isso pode sim machuca-las. Essas diferenças entre sexo não se pode negar, mas também implica em aulas conjuntas com objetivo de conscientizar os próprios alunos que essas diferenças podem ser amenizadas. (CRUZ e PALMEIRA, 2009: 127)
Deste modo a escola se transformou em um espaço social, um lócus privilegiado na formação de meninos e meninas, homens e mulheres; espaço também genereficado, atravessado pelas representações de gêneros (LOURO, 2000: 77). É neste ambiente, também social, que as diferenças sexuais são entendidas e que ”são trazidas para prática social e tornadas parte do processo histórico” (CONNEL, 1995, p. 189). (SIMÕES, 2006: 7)
Entre as décadas de 70 e 80, estudos na Educação Física, não sugeriam a separação e como também a distribuição dos gêneros em função dos esportes e brincadeiras. Somente no fim da década de 80 foi possível observar, outros estudos bio-fisiologicos que estabeleciam diferenças e semelhanças entre os sexos e suas capacidades físicas. A partir daí nos anos 90 com os movimentos políticos e sociais, pesquisas acadêmicas denunciam a opressão contra as mulheres a inferioridade desta em relação ao homem. A Educação Física encontra nos estudos da estereotipia sua temática, um privilégio no objeto de estudo, a partir então passa a agregar o discurso das representações pessoais. (ROMERO, 2001)doudo, a partir intajetoria diferenças e semelhançasentre objetivo da educaç
Considerações finais
Tendo em vista que os fatores que asseguram a perpetuação desta realidade são de ordem cultural e não biológica, faz-se necessário romper com os preconceitos arraigados na nossa cultura, principalmente na cultura escolar. Cabendo aos professores de Educação Física compreenderem as diferenças existentes entre os gêneros e respeitá-las, não as considerando como obstáculos no desenvolvimento de quaisquer que sejam as atividades. E mais, considerá-las como importante pauta de discussão, a fim de propor a igualdade de oportunidade para todos, tolerância e respeito às diferenças.
O esporte, se tratado numa perspectiva não centrada na competição ou no desempenho, ou seja, numa perspectiva lúdica e co-educativa, torna-se uma grande possibilidade educacional não só para os meninos, mas também para as meninas, uma vez que o lúdico constitui-se como um espaço possível de transformação cultural, já que proporciona as/os alunas/os um espaço para criar, recriar e transformar, fato que possivelmente poderá levá-las/os a serem cidadãos/ãs produtores/as de cultura, e não consumidores/as passivos/as. Portanto, devemos procurar alternativas pedagógicas que auxiliem na instrumentalização do ser humano para a transformação da sociedade, sendo as aulas de Educação Física co-educativas uma delas.
Referências bibliográficas
AMARAL, G. R; SANTOS J. C. D. da G; ANDRADE P. A. D., Educação Física no Ensino Médio: Qual a Aula Desejada? Universidade Tiradentes, 2007
ARRUDA, Angela. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cad. Pesqui. [online]. 2002, n.117, pp. 127-147.
CRUZ, M. M. S; PALMEIRA F. C. C, Construção de identidade de gênero na Educação Física Escolar, Motriz, Rio Claro, v.15 n.1 p.116-131, jan./mar. 2009
ROMERO, E. Os estereotipos, as representações sociais, as questões de gênero e as repercussões sobre o corpo. Livro: Imaginários e Representações Sociais em EFI, Esportes e Lazer. Ed. Gama, 2001
SCHWENGBER. Mª Simone Vione, Meninas e meninos apresentam desempenho motor distinto? Por quê?. EFDeportes.com, Revista Digital. Bueno Aires, Año 14, Nº 131, Abril de 2009. http://www.efdeportes.com/efd131/meninas-e-meninos-apresentam-desempenho-motor-distinto-por-que.htm
SIMÕES, R. D. Gênero e Educação Física: Um olhar sobre a produção teórica brasileira, USP, 2006
SOUSA, Eustáquia Salvadora de and ALTMANN, Helena. Meninos e meninas: expectativas corporais e implicações na educação física escolar. Cad. CEDES [online]. 1999, vol.19, n.48, pp. 52-68.
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digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires,
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