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Evolução do desenvolvimento motor de escolares

Evolución del desarrollo motor de escolares

 

*Licenciada em Educação Física pela Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ

Pós-Graduanda em Educação Física Escolar pela

Universidade Federal de Santa Maria, UFSM

**Professor Mestre do Curso de Licenciatura em Educação Física

da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS

Fabiana Ritter Antunes*

Pedro Antônio Batistella**

fabizeenhaa@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O desenvolvimento motor como componente do desenvolvimento humano deve merecer atenção dos demais, para que o referente seja feito de forma integral. O estudo teve o objetivo de analisar a evolução do desenvolvimento motor num período de 6 meses de escolares do 1º ano com idade de 6 anos de uma Escola de nível socioeconômico baixo sem professor especializado para as aulas de Educação Física. Como instrumento utilizou-se a Escala de Desenvolvimento Motor proposta por Rosa Neto (2002) que avalia as variáveis, Motricidade Fina, Motricidade Ampla, Esquema Corporal, Organização Temporal, Organização Espacial, Equilíbrio e Lateralidade. O tratamento estatístico dos dados empregou-se, o programa informático Excel utilizando-se estatística descritiva e teste “T’ de Student para ver diferença na evolução dos escolares com significância de p< 0,05. O perfil motor dos escolares estudados evidenciou-se em padrão de normalidade. Destacando ainda, que 2 áreas apresentaram resultados abaixo do esperado, resultando assim em um déficit motor, merecedor de uma atenção especial. Quando comparada à evolução num período de 6 meses verificou-se na segunda avaliação que houve melhora estatisticamente significante. Quando analisadas as áreas individualmente, observou-se uma melhora na motricidade fina, esquema corporal e organização espacial. Chamou atenção 3 áreas que na segunda avaliação seus resultados foram inferiores: a Organização Temporal, Equilíbrio e Motricidade Ampla e não se obteve a certeza dos motivos desse decréscimo. Observando a lateralidade indefinida, obteve-se valores bem altos. Assim pondera-se que por os escolares estarem com idade de 6 anos, a mesma encontra-se dentro da normalidade.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    Devido à mudança que ocorreu na Base do Ensino Fundamental, que agora passa a ser de nove anos e não mais de oito anos, muitas crianças chegam à escola muitas vezes sem ter tido a oportunidade no meio em que vivem de serem estimuladas de forma adequada fazendo com que as crianças entrando no Ensino Fundamental com idade de seis anos, apresentem um desenvolvimento muito desigual.

    Inicialmente apresentarei uma breve revisão de literatura sobre o desenvolvimento motor e sua relação com as demais facetas do desenvolvimento humano.

    Considera-se o estudo do Desenvolvimento Humano bastante interessante, porém um tanto complexo.

    Nesta perspectiva Papalia e Olds (2000, p.25), constatam que o campo do desenvolvimento humano focaliza o estudo científico de como as pessoas mudam, e também de como ficam iguais, desde a concepção até a morte. As mudanças são mais óbvias na infância, porém ocorrem durante toda a vida.

    O desenvolvimento motor é um processo de alterações no nível de funcionamento de um indivíduo, onde uma maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo.

    Na visão de Gallahue e Ozmum (2001, p.3) “desenvolvimento motor é a continua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente”.

    É oportuno destacar Haywood e Getchell (2004), ao chamar a atenção daqueles estudiosos do desenvolvimento motor que focalizem as mudanças desenvolvimentais em comportamento de movimento e como também os fatores que enfocam a essas mudanças, pois toda mudança no movimento é desenvolvimento.

    A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam a criança dominar seu corpo em diferentes posturas e locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas.

    Do mesmo modo, segundo Pellegreni (2003), os anos iniciais na Escola terão implicações marcantes nos anos subsequentes de vida do ser humano.

    Desta forma, a gama de diferenças individuais aumenta à medida que as pessoas envelhecem. As crianças passam pelos mesmos marcos no desenvolvimento quase na mesma idade. Muitas mudanças na infância parecem vinculadas á maturação do corpo e do cérebro. O desdobramento posterior de uma seqüência definida de mudanças físicas e padrões de comportamento incluindo prontidão para dominar novas habilidades como caminhar e conversar fazem com que, as diferenças nas experiências de vida desempenham um papel mais expressivo. (PAPALIA; OLDS, 2000, p.26).

    De acordo Pellegrini (2003), a aquisição de habilidades motoras que ocorre ao longo dos anos é fruto não só das disposições do indivíduo para a ação, mas principalmente do contexto físico e sócio-cultural onde o indivíduo está inserido.

    Portanto deve-se salientar a importância da educação psicomotora na pré-escola e séries iniciais do ensino fundamental, onde possui função preventiva, sendo evitado assim, problemas de concentração, confusão no reconhecimento de palavras, com letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à má alfabetização. (MOLINARI; SANS, 2003).

    O desenvolvimento motor de alguns escolares de seis anos que estão no 1º ano do Ensino Fundamental e que estão em uma situação socioeconômica baixa pode ser afetado, devido à falta de informação sobre a importância do desenvolvimento motor pelos meios de comunicação, ao desleixo de alguns pais, ou até mesmo a certa comodidade, onde fica mais fácil deixar uma criança na frente de um aparelho televisor, do que oportunizar a este novas experiências motoras.

    Desta forma, objetivo deste estudo foi analisar a evolução de áreas do desenvolvimento motor em escolares do 1º ano com idade de seis anos com nível socioeconômico baixo e que não praticam Educação Física na escola.

Procedimentos metodológicos

    Participaram do estudo 15 crianças com idade de seis anos, de ambos os gêneros, alunos do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola de Ensino Médio Maria Bandarra Westphalen da Cidade de Cruz Alta - RS, cujos pais assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O desenvolvimento motor de cada criança foi avaliado e re-avaliado em um intervalo de 6 meses.

    As avaliações foram realizadas por meio da Escala de Desenvolvimento Motor – EDM sugerida pro Rosa Neto (2002), a qual utiliza uma bateria de testes envolvendo Motricidade Fina, Motricidade Global, Equilíbrio, Esquema Corporal, Organização Espacial, Organização Temporal e Lateralidade.

    A Escala de Desenvolvimento Motor, sugerida por Rosa Neto (2002), compreende as tarefas específicas para cada faixa etária (2 a 11anos) em cada elemento da motricidade. A complexidade da tarefa a ser realizada aumenta de acordo com o aumento da idade. Comparando-se a Idade Cronológica e a motora pode-se determinar o avanço ou atraso motor da criança.

Resultados e discussões

    Este estudo teve como objetivo analisar a evolução do desenvolvimento motor de escolares do 1º ano, com idade de seis anos, de um nível socioeconômico, e que não possuem professor especializado em Educação Física na Escola.

    Para tanto utilizou-se a Escala de Desenvolvimento Motor – EDM (ROSA NETO, 2002).

    Expressam-se os resultados na tabela 1:

Tabela 1. Distribuição do comportamento das variáveis IC, IMG, IM1, IM2, IM3, IM4, IM5, IM6, QMG, QM1, QM2, QM3,

QM4, QM5, QM6 dos escolares com seis anos de idade da Escola de Ensino Médio Maria Bandarra na Segunda Avaliação

Variável

Média

Desvio Padrão

Valor Mínimo

Valor Máximo

Moda

Mediana

Idade Cronológica - IC

84,33

2,60

80

89

83

84

Idade Motora Geral - IMG

79,33

8,09

64

90

84

82

Motricidade Fina - IM1

85,6

10,00

60

96

84

84

Motricidade Ampla - IM2

96,8

18,40

60

108

108

108

Equilíbrio - IM3

77,6

18,62

48

108

72

72

Esquema Corporal - IM4

80,66

12,50

60

108

72

84

Organização Espacial – IM5

69,6

12,17

48

96

72

72

Organização Temporal – IM6

65,6

8,91

48

84

60

60

Quociente Motor Geral - QMG

94,03

8,85

77,6

104,9

100

95,5

Motricidade Final - QM1

101,4

10,72

75

117,1

101,2

101,2

Motricidade Ampla - QM2

114,6

21,04

70,6

131,7

131,7

122,7

Equilíbrio - QM3

91,86

21,34

56,5

131,7

86,7

86,7

Esquema Corporal - QM4

95,78

14,22

72,3

125,6

86,7

95,5

Organização Espacial -QM5

82,56

14,93

57,8

115,7

73,2

81,8

Organização Temporal -QM6

77,84

10,57

53,9

97,7

72,3

75

    Analisando os resultados da tabela 1,observa-se uma diferença de cinco meses entre a Idade Motora Geral e a Idade Cronológica das crianças estudas, essa diferença de acordo com a Escala de Desenvolvimento Motor sugerida por Rosa Neto (2002), não é significativamente significante, e evidencia que os alunos apresentam um desenvolvimento motor considerado normal para suas Idades Cronológicas, mas é importante ressaltar da necessidade que esta diferença não aumente e sim que se aproxime mais da Idade Cronológica.

    Ao verificar as áreas isoladamente, observa-se que a Motricidade Fina (IM1) das crianças estudadas estão em um nível superior à Idade Cronológica (IC) das mesmas. Cabe destacar que, nesta idade, as crianças estão sendo preparadas para a alfabetização com intensas atividades relacionadas à motricidade fina. Também se percebe que as áreas do Equilíbrio (IM3) e Esquema Corporal (IM4) apresentam resultados inferiores, mas muito próximos da Idade Cronológica. Já as variáveis Organização Espacial (IM5) e Organização Temporal (IM6), apresentam valores muito baixos, sendo que estas áreas exigem uma atenção especial, seja por parte da escola ou da família, é interessante ressaltar que a maturação está muito evidente nesta idade, necessitando de uma estimulação constante.Ainda mais por serem áreas que apresentam uma relação muito importante com as aprendizagens cognitivas.

    Acrescenta-se a isto, a importância de um profissional especializado na área, para que, conforme Borges (2002) atenda às necessidades das crianças com seis anos de idade. Nesta faixa etária necessitam de atividades de duração breve, atividades expressivas e rítmicas, manuseio de diferentes objetos, oportunizando a prática em equilíbrio de movimentos unilaterais, bilaterais e cruzados.

    É oportuno destacar Caetano (2005), as oportunidades que a criança tem para explorar o ambiente e suas próprias potencialidades geram experiências, que podem afetar a aquisição e o aprimoramento de habilidades motoras.

Tabela 2. Comparação do comportamento das variáveis IC, IM1, IM2,IM3 , IM4, IM5 ,IM6 dos escolares do primeiro ano com idade 

de 6 anos da Escola de Ensino Médio Maria Bandarra Westphalen do município de Cruz Alta – RS. Após um período de seis meses

Variável

Média

Desvio Padrão

Média

Desvio Padrão

p

Idade Cronológica – IC

77,83

2,77

84,33

2,60

5,04

Idade Motora Geral – IMG

71,22

6,17

79,33

8,09

0,00134

Motricidade Fina – IM1

59,33

2,82

85,6

10,00

0,000000000000

Motricidade Ampla – IM2

99,33

16,36

96,8

18,40

0,33

Equilíbrio – IM3

80,66

17,36

77,3

18,62

0,31

Esquema Corporal – IM4

66

11,08

80,66

12,50

0,000591

Organização Espacial – IM5

54,66

9,40

69,6

12,17

0,000195

Organização Temporal – IM6

67,33

8,37

65,6

8,91

0,28

* Diferença significativa para um p< 0,05

    Ao fazer a análise dos resultados da tabela 2, em que estão os resultados levantados das crianças após um intervalo de seis meses. Observa-se que na Idade Motora Geral os resultados da segunda avaliação apresentaram diferença de oito meses superior na segunda avaliação.

    Ressalta-se ainda que esta diferença é estatisticamente significante e que mostra uma evolução importante no desenvolvimento motor geral das crianças estudadas.Acredita-se que esta evolução seja decorrente da interação dos fatores tarefa, indivíduo e ambiente.

    Quando as variáveis analisadas individualmente, podemos salientar que a Motricidade Fina, Esquema Corporal e Organização Espacial na segunda avaliação mostraram resultados superiores, resultando em uma diferença estatisticamente significante.

    Já as variáveis Motricidade Ampla, Equilíbrio e Organização Temporal, obtiveram resultados inferiores na segunda avaliação. Não se tem explicação para o fato, pois se usou o instrumento com validade científica. Acredita-se que seja em decorrência da utilização da avaliadores diferentes em cada momento, mas como o instrumento tem validade, não justifica o erro. Pode-se também atribuir a outros fatores como ambiente e, horário diferentes, bem como a individualidade de cada avaliador e ou seu treinamento.

Tabela 3. Freqüência da lateralidade dos escolares de 6 anos de idade da Escola de Ensino Médio Maria Bandarra Westphalen do município de Cruz Alta – RS

Lateralidade

N

%

Destro Completo

04

26,67

Sinistro Completo

00

00

Lateralidade Cruzada

04

26,67

Lateralidade Indefinida

07

46,66

    Partindo-se da análise da frequência de lateralidade dos escolares de seis anos de idade da Escola de Ensino Médio Maria Bandarra Westphalen, encontram-se a grande maioria das crianças com a mesma indefinida, mas apresentam resultados de normalidade com referencia a idade,seguidos de destro completo e lateralidade cruzada. É interessante ressaltar que não apresenta nenhum escolar com lateralidade sinistro completo.

    Dados estes que apesar de apresentarem diferença entre si, são considerados dentro dos parâmetros normais quando relacionados à idade dos escolares estudados.

    Recomenda-se que nos quatro primeiros anos do Ensino Fundamental o responsável por ministrar e oportunizar essa gama de atividades diferenciadas, nas aulas de Educação Física, seja um especialista na área, para que o mesmo de acordo com Freire (1999) organize um programa, que apresente a preocupação com o aperfeiçoamento e aprimoramento das habilidades perceptivas, em relação à faixa etária de cada aluno.

    Considerando-se todas as discussões explanadas, confirma-se que os resultados estão dentro da normalidade, e referendado por Santos apud Gallahue e Ozmun (2001), cada criança desenvolve-se dentro dos seus níveis individuais, pois se detecta que nem todas as crianças que ingressam no primeiro ano do Ensino Fundamental possuem o mesmo nível perceptivo.

Conclusão

    Após analisarmos os resultados do presente estudo, pode-se concluir que os escolares de seis anos apresentaram um nível de Desenvolvimento Motor considerado normal em relação à idade.

    Vale salientar que ao analisar as áreas individualmente, destaca-se que as áreas da Organização Espacial e Organização Temporal, apresentaram resultados deficitários, passíveis de atenção especial.

    Dessa maneira constata-se que o Quociente Motor Geral (QMG),apresentou a média de 94,03 que para a Escala de Desenvolvimento Motor, sugerida por Rosa Neto (2002), encontra-se em uma classificação Normal Médio.

    Com efeito, ao se comparar as áreas individualmente, após um intervalo de seis meses, verifica-se que as variáveis, Motricidade Fina, Esquema Corporal e Organização Espacial, obtiveram diferença estatisticamente significante sendo superiores a primeira avaliação.

    Outro aspecto a ser salientado centra-se nas áreas da Motricidade Ampla, Equilíbrio e Organização temporal que obtiveram resultados na segunda avaliação inferiores à primeira, não havendo justificativa para que tais resultados apresentarem-se.

    No tocante a verificação da incidência da lateralidade, explicita-se que a grande maioria das crianças encontram-se com a lateralidade indefinida, não descartando que são resultados de normalidade para a idade delas.

    É interessante ressaltar que não apresenta nenhum escolar classificado como sinistro completo.

    Dessa forma, é possível diagnosticar que o Desenvolvimento Motor dos escolares do 1º ano, mesmo que não haja professor especializado de Educação Física, contribui significativamente com o desenvolvimento motor das mesmas.

Referências

  • BORGES, C.J. Educação Física para o Pré-Escolar. Rio de Janeiro -RJ. Sprint. 2002.

  • CAETANO, M.J.D. SILVEIRA, C.R.A. GOBBI, L.T.B. Desenvolviemnto motor de pré-escolares no intervalço de 13 meses. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, n. 7, v. 2, p. 05-13, Rio Claro - SP, 2005.

  • FREIRE, J.B. Educação de Corpo Inteiro. São Paulo: Scipione, 1999.

  • GALLAHUE, D.L. OZMUN, J.C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor. 3 Ed. São Paulo: Phorte, 2005.

  • NETO, R. Escala de Desenvolvimento Motor. 2002.

  • PAPALIA, D.E. OLDS, S.W. Desenvolvimento Humano. São Paulo: Artmed, 2000.

  • PELLEGRINI, A.M. et al. Desenvolvendo a Coordenação Motora no Ensino Fundamental. São Paulo,v.1,n.1, p.178-191, ano 2003.

  • ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre-RS: Artmed, 2002.

  • SANTOS, J.M. Desenvolvimento Motor: Um estudo comparativo entre escolas de municípios diferentes. Cruz- Alta – RS.2008. Trabalho de Conclusão de Curso.

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