Efeito do treinamento de natação no perfil antropométrico de universitários Efecto del entrenamiento de natación en el perfil antropométrico de universitarios |
|||
*Mestranda em Treino de Alto Rendimento pela Universidade Técnica de Lisboa, Portugal **Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas ***Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde pela UFSM ****Dra. Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria *****Dra. Associada da Universidade Federal de Santa Maria (Brasil) |
Mabel Micheline Olkoski* *** Juliana Izabel Katzer** *** Danieli Castro Mello*** Silvana Corrêa Matheus**** Sara Teresinha Corazza***** |
|
|
Resumo O objetivo desse estudo foi avaliar a composição corporal de alunos praticantes de natação antes e após 20 sessões de condicionamento físico. Participaram desse estudo 14 universitários (22,50±2,14 anos e 170,11±11,90cm), praticantes de natação há mais de um ano em nível de condicionamento físico. A composição corporal foi verificada ao iniciarem as atividades do ano e após 20 sessões de treino. O protocolo utilizado para determinação das medidas foi o descrito por Carnaval (2002), a densidade corporal foi obtida através da equação de Petroski et al. (1995). Os resultados de percentual de gordura, massa corporal magra e massa muscular foram verificadas através do programa de Avaliação da Composição Corporal – COMPOCOR. Os dados foram submetidos a teste de normalidade (Shapiro-Wilk) e posteriormente à Teste-t pareado (p<0,05). Os resultados não mostraram diferenças significativas na composição corporal após as 20 sessões de treino de natação-concidionamento físico. Conclui-se que 20 sessões de treino de natação não são suficientes para que ocorram alterações significativas na composição corporal de nadadores universitários em nível de condicionamento físico. Unitermos: Antropometria. Natação. Condicionamento físico.
Abstract The aim of this study was to evaluate the body composition of students practicing swimming before and after 20 sessions of physical conditioning. Participated this study 14 students, (22,50±2,14 anos e 170,11±11,90cm), practitioners of swimming for over 1 year in level of physical conditionting. Body composition was found to initiate the activities of the year and after 20 sessions of physical training. The protocol used was described by Carnaval (2002), and the Equation of Petroski et al. (1995) was used to obtain the body density. The results of percentage of fat, lean body mass and muscle mass were obtained through the Composition Program for the Assessment of Body - COMPOCOR. Data were tested for normality (Shapiro-Wilk) and then the paired t-test (p<0.05). The results showed no significant differences in body composition after the 20 sessions of training for swimming-conditioning physical. It is concluded that 20 training sessions of swimming are not enough for any significant changes in body composition in college swimmers fitness level. Keywords: Anthropometry. Swimming. Physical conditioning.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
1 / 1
Introdução
A natação é um dos esportes mais praticados no mundo (Maglischo, 1999). A sua prática regular como um exercício aeróbico, tende a melhorar a condição cardiorrespiratória do indivíduo (Pendergast et al., 1977) e pelo fato de envolver grande número de músculos em seus movimentos, especula-se que a natação forneça um alto gasto energético, proporcionando a perda de gordura corporal e o ganho da massa corporal magra (MCM). Contudo, na natação desportiva uma componente de massa gorda mais expressiva poderá oferecer algumas vantagens, como maior flutuabilidade, que leva a um menor gasto energético para um dado trabalho mecânico, além de facilitar o posicionamento dos membros inferiores para a manutenção de um correto alinhamento horizontal do corpo (Costill et al., 1992), o que pode ser ainda mais expressivo nas mulheres já que possui, em termos médios, um percentual de massa gorda superior (Fernandes et al., 2005).
A avaliação da composição corporal fornece informações preciosas acerca do estado de preparação do atleta, do seu potencial de rendimento futuro além do controle do treino, já que possibilita conhecer as características individuais e do grupo (Thorland et al., 1983).
Contudo, os estudos acerca das medidas corporais em praticantes de natação, mostram que os padrões antropométricos são altamente influenciados pela idade (Lavoie & Montpetit, 1986), a modalidade a ser praticada (Siders et al., 1993; Drinkwater & Mazza, 1994), o gênero (Novak et al., 1968) bem como a técnica e a distância percorrida (Siders et al., 1993). Entretanto, a maioria destes trabalhos apresenta apenas uma análise descritiva dos padrões antropométricos encontrados nos praticantes de natação (Novak et al., 1968; Wade, 1976; Meleski et al., 1982; Siders et al., 1993). Além disso, o tipo de treino pode influenciar os parâmetros antropométricos após um determinado período (Vilas-Boas, 1989).
Visto que a composição corporal é um fator importante na natação desportiva, mas que é dependente de inúmeros fatores, esse estudo teve como objetivo avaliar o efeito de 20 sessões de condicionamento físico na composição corporal de universitários praticantes de natação.
Metodologia
Participaram desse estudo 14 sujeitos (6 homens e 8 mulheres), universitários e praticantes de natação em nível de condicionamento físico há no mínimo 1 ano.
Os indivíduos foram formalmente convidados a participarem do estudo na primeira aula do ano, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sob o número 0027.0.243.000-07 e foram submetidos a um programa de natação – condicionamento físico. Cada sessão teve duração de 50 minutos, três vezes por semana, totalizando 20 sessões. Os alunos percorreram em média 900 metros/sessão, sendo que essa distância aumentava a cada aula. Além disso, todos os alunos realizavam os quatro estilos de nado durante todas as sessões de treinamento. Cabe ressaltar que todos os participantes não realizaram outro exercício físico regularmente durante o período de treinamento e tiveram uma participação de 100% das aulas.
As coletas realizaram-se no início das aulas de natação (pré-avaliação) e após 20 sessões (pós-avaliação), no Laboratório de Cineantropometria (LABCINE) do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM.
A avaliação da composição corporal foi realizada através do método antropométrico. A estatura e a massa corporal foram verificadas através de um estadiômetro de madeira e uma balança da marca Welmy, com resolução de 0,100 kg, respectivamente. Para a obtenção de dobras cutâneas (subescapular, tricipital, bicipital, peitoral, axial, supra-ilíaca, supraespinhal, abdominal, coxa e panturrilha) foi utilizado um compasso científico da marca CescorfTM com resolução de 0,1 mm. Os diâmetros ósseos (femural e rádio-ulnar) foram obtidos através de um paquímetro de barra de metal com precisão de 0,01 mm. Já as circunferências (antebraço e cintura) foram verificadas com uma fita métrica Cardiomed com precisão de 1mm.
O protocolo utilizado para a indicação do local a ser medido foi o descrito por Carnaval, (2002). Os resultados de percentual de gordura (%GC), massa corporal magra (MCM) e massa muscular (MM) foram obtidos através do programa de Avaliação da Composição Corporal – COMPOCOR, sendo que a equação utilizada para a obtenção da densidade corporal foi a de Petroski et al. (1995) e o %GC através da fórmula de Siri (1961).
Para a análise estatística dos dados, inicialmente realizou-se o teste de Shapiro-Wilk para verificação da normalidade dos dados. Após utilizou-se o Test-t pareado, para verificar a diferença entre a primeira e após as 20 sessões de treino. O nível de significância adotado foi de 5%, sendo que o pacote estatístico utilizado para as análises foi o SPSS versão 13.0
Resultados
Para a obtenção dos dados do presente estudo foram investigados 14 estudantes universitários, de ambos os gêneros, cujas características encontram-se na tabela 1.
Tabela 1. Caracterização do Grupo de Estudo quanto à idade e a estatura
Os resultados referentes às avaliações realizadas antes de iniciarem o treinamento (pré-treinamento) e após as 20 sessões de treinamento (Pós-treinamento) podem ser observados a seguir.
Tabela 2. Resultados do percentual de gordura corporal (%GC), percentual de massa corporal magra (%MCM),
percentual de massa muscular (%MM) e a massa corporal (MC) para o grupo de estudo pré e pós treinamento
* indica resultados estatisticamente significativos;
Índice de significância de 5%.
O resultado do teste mostrou que não houve diferença significativa em nenhuma variável relativa à composição corporal após as 20 sessões de treino de condicionamento físico.
Discussão
A avaliação da Composição Corporal em atletas é muito importante para treinadores e preparadores físicos, uma vez que fornece inúmeros dados essenciais na prescrição e/ou avaliação do treinamento.
Os resultados comparativos entre as avaliações realizadas antes e após as 20 sessões corroboram com outro trabalho (Gwinup, 1987) que apesar de ter analisado um período maior (seis meses de treinamento), também verificou a MC e o %GC de nadadoras. O tempo das atividades foi aumentado gradativamente até 60 minutos diários. Após o término, que como no presente estudo não envolveu restrições alimentares, as praticantes de natação não perderam MC (na verdade houve um aumento médio de 2,5 kg). Além disso, esse estudioso não verificou perda significativa de gordura corporal nas nadadoras, bem como o encontrado no presente estudo. Segundo esse autor, uma das explicações para a suposta ineficiência da natação na redução da gordura corporal está em um possível aumento de apetite causado pelo ambiente onde é realizada a atividade, fato que alguns praticantes relataram através de observações pessoais. No entanto, trabalhos (Jang et al., 1987; Flynn et al., 1990; Lambert et al., 1999) que analisaram e compararam a ingestão de calorias de corredores e nadadores e verificaram que não havia diferença entre as duas modalidades na percepção de fome nem na ingestão calórica após as atividades.
A diferença de composição corporal de um esporte para outro, já é bem confirmada pela literatura (Jang et al., 1987; Flynn et al., 1990; Lambert et al., 1999), onde observa-se que nadadores normalmente apresentam maiores quantidades de percentuais de gordura corporal em comparação com atletas de outros esportes. Em estudo realizado por Jang et al. (1987), foram comparados nadadores e corredores. Os resultados mostraram diferenças em atletas de ambos os sexos, no caso dos homens, os corredores possuíam em média 7% de gordura, enquanto os nadadores possuíam 12%, já para as mulheres os valores foram de 15 e 20%, respectivamente. A análise de gasto calórico no trabalho supracitado não revelou a origem das diferenças, visto que no caso dos homens não houve diferença entre o balanço energético nem entre o gasto calórico (3380 kcal para nadadores e 3460 kcal para corredores). No caso das mulheres, a situação foi ainda mais interessante, tendo em vista que as nadadoras gastavam mais energia (2490 kcal para nadadoras e 2040 kcal para corredoras) e ainda se encontravam em um balanço energético negativo.
Cabe ressaltar, que a natação desportiva se benefecia de atletas com uma componente de massa gorda mais expressiva que proporcionará maior flutuabilidade e consequentemente menor gasto energético para um dado trabalho mecânico. Além disso, também facilita o posicionamento dos membros inferiores, favorecendo um correto alinhamento horizontal do corpo (Pendergast et al., 1977).
Apesar de não ter sido o principal objetivo desse estudo, outro dado se torna relevante. Ao verificar os resultados médios apresentados pelos sujeitos do presente estudo, pode-se verificar que os atletas aqui avaliados apresentaram valores semelhantes de %GC, %MM, %MCM e MC ao de outros trabalhos (Novak et al., 1968; Wade, 1976; Meleski et al., 1982; Siders et al., 1993) que descreveram o perfil antropométrico de atletas de natação de nível universitário. Esse achado pode elucidar o fato de não ter havido diferenças significativas da composição corporal após as 20 sessões de treinamento, uma vez que os atletas já estavam próximos de valores de referência.
Conclusão
Pode-se concluir que o grupo de atletas aqui estudado está dentro dos padrões referentes à composição corporal, esperados para nadadores de nível universitário.
Também foi possível afirmar, que 20 sessões de treino-condicionamento físico não provocam alteração da composição corporal dos nadadores de nível universitário.
Referências bibliográficas
Carnaval P. Cinesiologia aplicada aos Esportes. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.
Costill DL, Maglischo EW, Richardson A. Swimming. London:Blackwell Scientific Publications, 1992.
Drinkwater D. & Mazza JC. Body composition. In: J.E. Carter & T. Ackland (eds.), Kinanthropometry in aquatic sports. A study of world class athletes. Human Kinetics 1994: 103-137.
Fernandes R, Barbosa T, Vilas-Boas JP. Fatores cineantropométricos determinantes em natação pura desportiva. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano 2005;7:30-34.
Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Mitchell JB, Houmard JA, Fink WJ, Beltz JD, D´Acquisto LJ. Fat storage in athletes: metabolic and hormonal responses to swimming and running. International Journal of Sports Medicine 1990;6:433-440.
Gwinup G. Weight loss without dietary restriction: efficacy of different forms of aerobic exercise. American Journal of Sports Medicine 1987;15:275-279.
Jang KT, Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Houmard JA, Mitchell JB, D´Acquisto LJ. Energy balance in competitive swimmers and runners. Journal of Swimming Research 1987;1:19-23.
Lambert CP, Flynn MG, Braun WA, Boardley DJ. The effects of swimming and running on energy intake during 2 hours of recovery. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 1999;4:348-354.
Lavoie JM & Monpetit R. Applied physiology of swimming. Sports Medicine 1986;3:165-189.
Maglischo S. Nadando Ainda Mais Rápido. São Paulo: Manole, 1999.
Meleski BW, Shoup RR, Malina RM. Size, physique, and body composition of competitive female swimmers 11 through 20 years of age. Human Biology 1982;54:609-625.
Novak L, Hyatt R, Alexander J. Body Composition and physiological function of athletes. JAMA 1968;205:764-770.
Pendergast DR, Di Prampero PE, Craig Jr AB, Wilson DR, Rennie DW. Quantitative analysis of the front crawl in men and women. Journal of Applied Physiology 1977;43:475-479.
Petroski EL, Pires N, Simões C. Validação de equações antropométricas para a estimativa da densidade corporal em mulheres. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde 1995;1:65-73.
Siders W, Lukaski H, Bolonchuk W. Relationships among swimming performance, body composition and somatotype in competitive collegiate swimmers. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 1993;33:166-171.
Siri WE. Body composition from fluid spaces and density: analysis of methods. In J. Brozek & A. Henschel (Eds.), Thechniques for measuring body composition 1961;223-224. Washington DC, National Academy of Sciences.
Thorland W, Johnson GO, Housh TJ, Refsell MJ. Anthropometric characteristics of elite adolescent competitive swimmers. Human Biology 1983;55:735-748.
Vilas-Boas JP. Controlo do treino em Natação: considerações gerais, rigor e operacionalidade dos métodos de avaliação. Comunicação apresentada às Jornadas Técnicas Galaico-Durienses de Natação Espanha, 1989.
Wade CE. Effects os a season’s training on the body composition of female college swimmers. Research Quartly of Exercise 1976;47:337-356.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires,
Agosto de 2010 |