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Sentimentos e opiniões de professores de Educação 

Física escolar diante de comportamentos agressivos

Sentimientos y opiniones de profesores de Educación Física escolar ante conductas agresivas

Feelings and opinions of teachers of physical education school in front of aggression

 

*Profa. do Curso de Educação Física da ULBRA/SM

Dra. em Psicologia pela PUCRS

Ms. em Ciência do Movimento Humano: Desenvolvimento

Humano-Psicologia do Esporte pela UFSM

Esp. em Pesquisa em Aprendizagem Motora pela UFSM

Coordenadora de Estágios

Líder e coordenadora do Grupo de Pesquisa

Psicologia na Educação Física (GPEF) ULBRA/SM

Coordenadora do Programa Comunitário

Educação Física Cidadã na ULBRA/SM

**Profa de Educação Física, graduada pela ULBRA/SM

Maria Cristina Chimelo Paim*

Simara Câmara Fontoura**

m.crischimelo@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa buscou analisar os sentimentos e opiniões de professores de Educação Física diante de comportamentos agressivos no contexto escolar da Educação Física. A amostra foi constituída por nove professores de Educação Física de escolas da rede pública, sendo oito do sexo feminino e um do sexo masculino, da cidade de Santa Maria. Como instrumento de coleta dos dados utilizou-se uma entrevista semi-estruturada. Para análise dos resultados estas perguntas foram agrupadas em três categorias: o que é agressividade; atitudes diante de comportamentos agressivos e causas da agressividade. Os resultados indicaram que: para os professores a agressividade no contexto escolar, é uma manifestação natural dos seres humanos, mas que deve ser educada, pois indica que algo não vai bem. Constatamos também que os docentes diferenciam bem a agressividade da violência; quanto às atitudes diante de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física, são unânimes em responder que é através do diálogo que eles conseguem amenizar e até reverter à situação apresentada, sendo que as atitudes agressivas mais freqüentes são o deboche dos colegas em relação à falta de habilidade por parte de alguns alunos, interferência dos pais, xingamentos verbais, socos e pontapés; quanto às principais causas da agressividade nas aulas de Educação Física, relataram que a representação da agressividade no contexto escolar, gira em torno da falta de regras e limites.

          Unitermos: Agressividade. Violência. Educação Física Escolar.

 

Abstract

          This research sought to examine the feelings and opinions of physical education teachers in front of aggressive behavior in the context of school physical education. The sample consisted of nine physical education teachers in public schools, eight females and one male, the city of Santa Maria. As an instrument of data collection used a semi-structured interview. To analyze the results of these questions were grouped into three categories: what is aggression, attitudes toward aggressive behavior and causes of aggression. The results indicated that: teachers for aggressiveness in the school context is a natural manifestation of human beings, but must be educated, because it indicates that something is wrong. We also note that teachers differentiate aggression and violence, as the attitudes of aggressive behavior in physical education classes, are unanimous in responding that is through dialogue that they can mitigate and even reverse the situation presented, and the aggressive attitudes are more frequent mockery from colleagues about the lack of skill on the part of some students, parental interference, verbal insults, punches and kicks, as the main causes of aggression in the physical education classes, reported that the representation of aggression in the context school revolves around the lack of rules and limits

          Keywords: Aggression. Violence. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    A agressividade dos alunos nas escolas cada vez mais vem chamando a atenção da Comunidade escolar. É um assunto polêmico e abrangente dentro da área da Educação. Esse comportamento agressivo evidenciado por crianças e adolescentes não é tema novo na literatura, e faz parte dos estudos de diferentes pesquisadores.

    O comportamento agressivo em crianças e adolescentes esta alcançando grandes proporções dentro e fora da escola. Fortes questões sociais como: desemprego, falta de moradia, fome, descuido com a saúde e a falta de uma educação de qualidade dentro e fora da escola, vêm abalando a estrutura familiar e refletindo no contexto escolar, pois a criança reproduz o que ela vivencia. Estas questões relacionadas com a desigualdade, exclusão social tem conduzido ao crescimento da delinqüência e da violência, quer na sociedade ou no interior da escola (FERNANDES, 2000).

    Para Ajuriaguerra (1983), a agressividade nasce com o ser humano e está presente em qualquer atividade. Já a agressão é um fenômeno difícil de definir. No âmago do seu significado, está atrelada a idéia de uma pessoa cometendo um ato destinado a ferir outra pessoa (MUSSEN; CONGER; KAGAN, 1977). Os psicólogos definem agressão como "qualquer forma de comportamento dirigido ao objetivo de prejudicar ou ferir outro ser vivo que está motivado a evitar tal tratamento" (BARON e RICHARDSON apud, WEIMBERG e GOULD, 2001).

    Nos estudos de Winnicott (1988) a agressividade representa um instinto próprio a todo ser humano necessário para sua existência. Sob a perspectiva etológica Lorenz (1974) postula que a agressão resulta basicamente de um instinto de luta herdado que os seres humanos compartilham com muitas outras espécies. Para o autor existem vários tipos de agressão ou comportamentos que envolvam a agressividade, como a agressividade instrumental que é um comportamento agressivo dirigido para uma meta, tal como desejar algo de outra pessoa; a agressividade hostil que é uma ação destinada a prejudicar a outra pessoa fisicamente (bater ou chutar), ou verbalmente (fazer provocações, falar mal ou expressar desaprovação). A agressividade verbal, tal como provocar ou falar mal, aumenta durante a pré-escola e os primeiros anos do ensino fundamental. Como a criança mais velha tem mais capacidade para entender as intenções de outras pessoas, grande parte de sua agressividade, tanto física como verbal, é retaliatória, consistindo em respostas à frustração ou ataques feitos pelos outros (LORENZ 1974; BIAGGIO, 1991),

    Encontramos como determinantes da agressividade fatores biológicos, como o nível de testosterona, influências familiares, rejeição dos pais e permissividade. Para Lorenz (1974), a raiva é uma emoção básica sentida desde a primeira infância. Essa emoção pode desencadear muitos conflitos internos em crianças, adolescentes e adultos resultando muitas vezes em agressão.

    Já para Amoretti (1992), o meio em que a criança esta inserida é um dos fatores que mais influência na conduta da agressividade. Os fatores que desencadeiam as brigas e discussões surgem muito cedo entre as crianças, seja no ambiente familiar ou escolar. Diferenças sexuais na agressividade são evidentes a partir de dois ou três anos. Na escola maternal, os meninos instigam a agressividade, tanto verbal como física, mais freqüentemente do que as meninas e têm mais possibilidade de revidar a agressividade que sofreram. Os meninos também são alvos mais freqüentes da agressividade (MUSSEN; CONGER; KAGAN, 1977).

    Segundo o mesmo autor, a diferença de maturidade psicoemocional se estrutura na observação de defasagem dos meninos em relação às meninas da mesma idade na linguagem e nas habilidades motoras. Alguns autores afirmam que as meninas tendem a desenvolver condutas cooperativas mais precocemente, modelo que logo se aplica à situação escolar. Também se sugere que os meninos possam desenvolver, ao invés de condutas cooperativas, condutas competitivas. E isso favorece um modelo mais agressivo de comportamento.

    Os pais, que costumam disciplinar os filhos através de gritos, castigos e surras, estão, na verdade, indicando a agressão com um método natural de lidar com os problemas. Alguns estudos mostram que os meninos menos problemáticos eram aqueles que tinham um pai que promovia a coesão familiar e uma mãe crítica com a postura desse pai. Observa-se ainda, que as mães provenientes de ambientes familiares estressantes, tendem a serem mais críticas com seus maridos diante de seus filhos. As crianças de ambos os sexos que não se identificam com os pais, tendem a expressar mais agressividade do que aquelas com forte identificação com seus pais. Quando os pais são autoritários, indiferentes e emocionalmente não-envolvidos, os filhos têm mais tendência a ser. Talvez se espere que os meninos sejam mais agressivos e desobedientes, por serem mais punidos freqüentemente pelos pais e professores do que as meninas (MUSSEN; CONGER; KAGAN, 1977).

    A agressividade é explicada por Winnicott (2000), como um movimento natural em si mesma, e que, em seus primórdios, é somente um movimento, como, por exemplo, o agitar de braços de um feto na barriga, é somente um movimento que, por acaso, encontra a barriga como seu limite e não um soco; o mexer de pernas é somente um movimento instintual e não um chute não possui, portanto a intencionalidade de ato agressivo. Quando o bebê percebe que seus gestos não são adequados ou esperados, a reação deste a ela é suprir, com seu intelecto, as funções que falham. Este bebê tem agora que lidar, ele mesmo, com o meio, substituindo esta mãe que falhou, dando conta dessa tarefa a partir dos mecanismos que puder dispor em sua insuficiência ou imaturidade. (MAIA, 2002).

    É justamente nessa falha ambiental que se instaura o que Winnicott (2000) denomina de tendência anti-social. A tendência anti-social é um sinal de pedido de socorro ao meio que se encontra em débito para com a criança. Ela não é um diagnóstico. Caracteriza-se por um elemento que compele o ambiente a tornar-se importante. Desta forma na tendência anti-social há uma necessidade que se exprime em uma externalidade, sendo a culpa do ambiente.

    Como então se distingui a agressividade não acolhida pelo meio e o ato violento? “Encontramos alguma resposta em Costa (1986), quando diz que a “violência” é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos” e principalmente percebida por quem observa o ato de agressividade, assim como por quem recebe essa agressividade, como havendo uma intencionalidade em praticar essa agressão, transformando-a numa “ação violenta”. Portanto, somente haveria violência “quando o sujeito que sofre a ação agressiva sente no agente da ação um desejo de destruição”.

    Segundo Porciúncula (2008), a agressividade está cada dia mais freqüente na escola. Segundo o autor, o mais importante é detectar o problema para buscar a solução, pois não basta olhar apenas o fenômeno e sim a essência. O problema é que se esses sentimentos não forem bem resolvidos podem acarretar em comportamentos violentos com o passar do tempo, podendo causar danos a outras pessoas. Como Sorge (1993), nos sugere quando diz que violência seria o uso exagerado da força física, privando o ser humano da sua liberdade.

    Segundo Felipe (1998) o ato agressivo se difere da violência, pois, o ato agressivo não impede o sujeito de fazer suas construções, já à violência tem a função de causar danos ao outro, de exterminá-lo. A agressividade é um sentimento natural, isto é provém de sentimentos primários: alegria, dor, raiva, curiosidade, medo. E possui sentimentos que pedem um nível de elaboração maior: vergonha culpa remorso, ciúme. Não é bom nem ruim. É natural.

    Zimerman (2000) diz que a compreensão da problemática da violência numa perspectiva histórico-social demonstra que ela tem raízes profundas que perpassam desde a crise familiar, enquanto instituição social, como também pelas desigualdades no âmbito econômico, social, político e cultural. A palavra violência vem do latim, vis, onde significa força, vigor, potência, violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa (MICHAUD, 1989 E ZIMERMAN, 2000). A violência é um fenômeno complexo e resultante de múltiplas determinações. É todo ato de força contra a natureza de algum ser; de força contra a espontaneidade, à vontade e a liberdade de alguém; de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade; de transgressão contra aquelas coisas e ações que determinada sociedade define como justas e como um direito (CHAUÍ, 1998).

    Já para Schwartz (1997), um ato é caracterizado como violento quando atende, de acordo com as seguintes condições: causar dano a terceiros, usar força física ou psíquica, ser intencional e ir contra a vontade de quem é atingido. A violência pode ser considerada sob diversas ópticas, sendo, principalmente, classificada em social ou urbana, psicológica e física.

    Pode-se relacionar a violência social a fatores geradores e à forma como se conduzem determinados segmentos da sociedade os quais podem ser exemplificados pela indisciplina no trânsito, transgressões, roubos, assaltos, assassinatos, contrabandos, exploração exacerbação e o confronto são desencadeados no ambiente escolar por ser propício, uma vez que nesse espaço convivem membros representativos de diferentes classes sociais com valores pessoais e de relacionamento divergentes ou até mesmo antagônicos, o que, segundo Aquino (1999), pode levar o aluno a aprender a lidar com as adversidades do mundo globalizado.

    A violência é segundo Silva (1984) um ato produzido proveniente da ação de uma força com brutalidade, por exemplo. Já Felipe (1998) conceitua violência como um ato ou uma série de atos progressivos, com a intenção de submeter o outro à sua vontade, destituindo de seus suportes de identidade, eliminando seus jogos, autonomia e liberdade e Amoretti (1992) define violência como um ato de violentar, causar dano físico, moral ou psicológico, através da força ou coação, exercer opressão e tirania contra vontade e liberdade do outro.

    A violência elimina de um sujeito sua autonomia, vontade, ação, liberdade, por via de agressão no seu ponto mais frágil, garantindo a supremacia absoluta do outro. Agressão é o resultado de um jogo entre dois sujeitos, querendo afirmar-se igualmente sua identidade, colocam-na à prova de ampliar seus limites (FELIPE, 1998). Segundo o mesmo autor os problemas da violência estão ligados a representações sociais que codificam os comportamentos assumidos positiva ou negativamente.

    Quando se fala em violência, é comum a confusão com o termo agressividade, sendo muitas vezes utilizados como sinônimos. Estudiosos como Corsi & Peyrú (2003) dizem que, agressividade e violência não são sinônimos, e que é importante fazermos essa distinção, em especial no contexto social escolar, foco do presente estudo. Segundo o autor ser humano é agressivo por natureza, porém é pacífico ou violento em conseqüência de sua história individual e cultural. Deste modo, a agressividade é uma característica de todos os seres vivos, já violência é um produto humano.

    De acordo com Corsi & Peyrú (2003) o potencial de agressividade, inato, é moldado pela sociedade, a qual, através da socialização e adaptação social das pessoas, faz consolidar as condutas agressivas permitidas no contexto social. A cultura, no entanto, é essencial na transformação dos potenciais agressivos nesse produto final chamado violência. Nesse sentido, os autores definem violência como um fato cultural formado por condutas destinadas a obter o controle e a dominação sobre outras pessoas.

    A respeito da violência que afeta o ambiente escolar, autores como Bee (1986) e Goleman (1995) salientam que, tanto a realidade social (família, escola, amigos), quanto os estímulos gerados pela mídia, especialmente a televisão, podem interferir sensivelmente na formação de indivíduos agressivos, os quais utilizam a agressividade como estratégia de resolução de problemas cotidianos, dentro e fora do ambiente escolar. Crianças que não são capazes de absorver eficientemente informações nem lidar bem com as mesmas, ou sofrem qualquer tipo de discriminação, geralmente, são aquelas zangadas, ansiosas, deprimidas e violentas. São estas emoções negativas que acabam por distorcer a atenção da criança das suas preocupações, representando maior possibilidade de envolverem-se em situações de risco e de levar suas vidas para o mundo das drogas, do crime e do álcool, conforme evidencia (SENICATO, 1998).

    No passado, as análises recaíam sobre a violência do sistema escolar, especialmente por parte dos professores contra os alunos (punições e castigos corporais). Na literatura contemporânea, sociólogos, antropólogos, psicólogos e outros especialistas privilegiam a analise da agressão praticada entre alunos ou de alunos contra a propriedade (vandalismo, por exemplo), e, em menor proporção, de alunos contra professores e de professores contra alunos MORAIS citado por QUEIROZ et al (2006). Para Jaeger et al (1997), agressão existe no âmbito escolar e não podemos simplesmente ignorá-la, porém o que normalmente acontece são brigas sem importância e sem maiores conseqüências, temporalmente insignificantes.

    As aulas de educação física não significam somente momentos de descontração e brincadeiras. Cada vez mais, escolas estão percebendo que a educação física tem um papel essencial na formação de crianças e adolescentes, e quando bem desenvolvida é capaz de reduzir a agressividade e a indisciplina dentro da classe. Durante as atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física ocorre situações em que expectativas e opiniões costumam divergir. Frente a estes problemas e na busca de um melhor aproveitamento da afinidade que normalmente é observada no relacionamento entre o professor de Educação Física e a criança. Desta forma os professores buscam respaldo em abordagens que possam melhor fundamentar seu trabalho (SCHIEIBER; SCOPEL; ANDRADE, 2005).

    Hoje, a Educação Física Escolar visa o desenvolvimento e o conhecimento de seus alunos não somente por meio da capacidade motora, mas também como desenvolver a capacidade de transformação pessoal, aspecto fundamental para a melhora no âmbito social. Freire (1991) acredita que as atividades de Educação Física podem atuar no comportamento do aluno, nas suas atitudes e até mesmo em sua personalidade. Face ao exposto acima se elegeu como objetivo de pesquisa analisar os sentimentos e opiniões de professores de Educação Física diante de comportamentos agressivos no contexto escolar da Educação Física.

Metodologia

    Este estudo tem uma natureza qualitativa e foi desenvolvido por meio de uma pesquisa exploratória. A amostra foi constituída por nove professores de Educação Física de escolas da rede pública, sendo oito do sexo feminino e um do sexo masculino, da cidade de Santa Maria. Como instrumento de coleta dos dados utilizou-se uma entrevista semi estruturada. Onde as perguntas versaram sobre o tema: agressividade no contexto escolar. Os dados foram coletados em escolas da rede pública da cidade de Santa Maria. As coletas foram realizadas nos intervalos das aulas, sempre com a autorização do (a) respectivo (a) coordenação escola. Antes da aplicação das entrevistas o pesquisador apresentava os objetivos da pesquisa e ressaltavam da importância de respostas individuais e sinceras por parte dos pesquisados. Os dados foram analisados através da análise de conteúdo de Bardin (1979). A analise dos dados foi realizada a partir do discurso dos professores, cujas inter-relações foram validadas a partir do tema agressividade e violência no contexto escolar em especial na aula de Educação Física.

Resultados e discussões

    O objetivo deste estudo foi abordar questões referentes ao tema agressividade no contexto escolar na percepção professores de Educação Física da rede pública de Santa Maria. Assim para a organização da análise dos resultados foram elencadas categorias que representasse os sentimentos dos professores sobre o tema estudado:

O que pensam os professores de Educação Física sobre a agressividade no contexto escolar

    Os colaboradores da pesquisa ao serem questionados sobre quais sentimentos construíram durante sua vida profissional sobre a agressividade no contexto escolar, descreveram-na, de maneira geral como sendo “uma manifestação natural dos seres humanos, mas que deve ser educada”, e "é uma manifestação de que algo não vai bem”. Constatamos também que os docentes diferenciam bem a agressividade da violência. É o que ficou evidenciado através das falas dos professores:

    “Acredito que a agressividade é um meio de mostrar que algo não está bem, é um pedido de socorro de alguém que quer ter o direito de ser ouvido e notado enquanto pessoa humana..... Já a violência vejo como uma ação voluntária, maldosa e que reflete nesse comportamento o caráter do indivíduo.” (Professor A)

    “É um sentimento que se manifesta no ser humano de forma natural, mas que precisa ser moldado e educado para que possa ser utilizado de forma positiva, vejo que através da educação, através da prática da Educação Física e do esporte conseguimos muito sucesso...Já a violência é um produto do meio, é reflete uma sociedade sem limites, sem sentimentos de solidariedade e cooperação... gera o caos social” (Professor I)

    Percebe-se aqui, que os professores participantes da pesquisa pensam a agressividade dissociada da violência, sendo a agressividade vista mais como uma reação a um determinado estimulo, um aviso que algo não está bem, seja consigo mesmo, seja com os seus relacionamentos familiares, com amigos, entre outros. Já a violência é vista como um problema social, uma situação que necessita de atenção especial, com um trabalho conjunto da comunidade e da família. Este ponto de vista também é compartilhado por outra professora, quando questionada sobre a agressividade no contexto escolar. Temos o seguinte recorte:

    “A cada dia e cada vez mais cedo os alunos chegam à escola mais agressivos. Desde cedo esses comportamentos devem ser trabalhados e canalizados para o lado inverso: estimulando o respeito pelo colega, respeito pelo professor, investir na amizade, priorizando as relações cordiais e cooperativas, e tratar com afeto.” (Professor B)

    As falas das professoras encontraram respaldo nos estudos realizados por Corsi & Peyrú (2003) os quais consideram agressividade diferenciada de violência. Para os autores, a agressividade é uma característica de todos os seres vivos, e permite as pessoas vencerem dificuldades, pois mantêm os seres humanos em estado de alerta. Já violência é um produto cultural. Sendo o meio onde a pessoa vive o fator de maior influencia na transformação do potencial agressivo, no produto final chamado violência, que segundo os autores, sempre resulta da interação entre natureza e cultura.

    Outro enfoque investigado foi à representação da agressividade nas aulas de Educação Física pelos participantes da pesquisa, essa representação refere-se à grande exposição de movimentos; competições entre os alunos, a grande presença de emoções, é o que pode ser observado nas falas dos professores:

    “Durante as aulas de Educação Física a agressividade torna-se mais evidenciada, pois a exposição física proporciona determinadas atitudes agressivas, como a competição” (Professor H)

    “A aula de Educação Física, por ser uma disciplina onde se trabalha com contato físico, é muito comum a presença de comportamentos agressivos...Se não trabalharmos atitudes de respeito, regras limite e aceitação da diversidade, acaba em violência” (Professor C)    

    Pela fala das Professoras H e C pode-se perceber que, no decorrer de sua atuação, foi constante a busca pela compreensão dos sentimentos que permeiam as atitudes de agressividade no contexto da Educação Física, viso que esses comportamentos agressivos não deveriam estar presentes, e o que deixa revelar a professora C, “é a agressividade é um sentimento desnecessário, pois para a maioria das pessoas a Educação Física é uma prática prazerosa, que favorece uma sensação de bem-estar aos seus praticantes...” Freire (1991) corrobora com as falas das professoras quando diz que as atividades de Educação Física devem cuidar do domínio do corpo e da mente o que proporciona ao indivíduo, trabalhar com seus medos, tensões, ansiedade, incentivando desta forma o seu o autoconhecimento, apreensão de limites, entre outros.

O professor diante de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física

    Os professores quando questionados sobre suas atitudes diante de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física, relatam que atitudes como o deboche dos colegas em relação à falta de habilidade por parte de alguns alunos; interferência dos pais; xingamentos verbais; socos e pontapés são as atitudes mais evidenciadas nas aulas de Educação Física. A Professora A relata que no início de seu trabalho sentiu-se bastante insegura, pois na escola em que trabalhava a maneira usual das crianças se comunicarem era através da agressividade, com muitas agressões verbais e também físicas. Este ponto de vista pode ser compartilhado através das falas a seguir:

    “Certa vez um aluno se pegou com outro a socos e pontapés porque este aluno não conseguiu fazer um saque e o outro debochou dele.” (Professor B)

    “Um dos casos mais freqüentes, é de alunos que se mostram mais habilidosos, de não saberem aceitar quando o colega que ele caracteriza como menos habilidoso, lhe “rouba” a bola durante o jogo. Sua reação é de esperar o próximo “confronto” durante o jogo e agredir fisicamente seu colega” (Professor F)

    Quando questionados sobre suas reações a partir desses comportamentos os professores foram unânimes quando relataram que é através do diálogo que eles conseguem amenizar e até reverter à situação apresentada, é o que pode ser confirmado;

    “Parei a aula, conversei longamente com os alunos, retirei das atividades os envolvidos na agressão, para que se acalmassem e pensassem sobre seu comportamento” (Professora D)

    “Após o término da aula, falo em particular com os alunos envolvidos, de forma a fazê-lo compreender sua atitude e sempre tive bom resultado” (Professor G)

    Zagury (1996) salienta que o ambiente escolar é o meio onde á criança permanece por um grande período, tornando-se indispensável à atenção de educadores quanto a alternativas no sentido de educar para a prevenção ou diminuição da agressividade no comportamento social destas crianças, e uma das alternativas encontradas pelos professore é através do diálogo.

Principais causas da agressividade no contexto escolar na visão dos professores de Educação Física

    Os professores quando questionados sobre as principais causas da agressividade nas aulas de Educação Física, relataram que a representação da agressividade no contexto escolar, gira em torno da “Falta de regras e limites”. O que pode ser confirmado na fala dos professores:

    “Quando incentivamos a competição exacerbada, estamos colaborando com o incentivo a comportamentos agressivos. Penso que a agressividade na escola é um reflexo da vida atual: famílias desestruturadas, a falta de limites....” (Professor B).

    “Acho que é a dificuldade que os alunos apresentam em lidar com as regras, já que em muitos casos não existe essa prática na vida pessoal deles.” (Professor H).

    Percebe-se aqui que na concepção dos professores de Educação Física a agressividade é o resultado da falta de limites, e do cumprimento de regras sociais, que chegam também as escolas. A agressividade desses adolescentes resulta da inaptidão ao cumprimento das regras e do transtorno no controle de impulsos. De acordo com Balista et al... (2004), o despreparo da família em administrar os conflitos e controlar os impulsos agressivos dos adolescentes em muitos casos manifesta-se sob forma de violência física e verbal criando uma dinâmica própria de canalização de situações pessoais mal resolvidas. Em decorrência disso, muitos jovens para suprir o sentimento de rejeição afetiva e abandono físico por parte de seus pais se valem de condutas anti-sociais (mentiras, roubos, comportamentos agressivos) como forma de defesa contra a ansiedade e a neurose, geradas a partir da desagregação familiar. Esses comportamentos são observados também no contexto escolar, como foi evidenciado pelas falas dos professores.

Conclusões

    Esse estudo tem como objetivo analisar os sentimentos e opiniões de professores de Educação Física diante de comportamentos agressivos no contexto escolar da Educação Física.

    Com base nos resultados encontrados neste estudo, ficou evidenciado que: para os professores de Educação Física participante da amostra a agressividade no contexto escolar, é uma manifestação natural dos seres humanos, mas que deve ser educada, pois indica que algo não vai bem. Constatamos também que os docentes diferenciam bem a agressividade da violência. A agressividade é vista aqui como uma reação natural a um determinado estimulo, desde que controlada. Já a violência é percebida como um problema social, uma situação que necessita de atenção especial, em conjunto com a comunidade e a família.

    Quanto às atitudes dos professores diante de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física, esses são unânimes em responder que é através do diálogo que eles conseguem amenizar e até reverter à situação apresentada. Citaram também que as atitudes agressivas mais freqüentes são os deboches dos colegas em relação à falta de habilidade por parte de alguns alunos, interferência dos pais, xingamentos verbais, socos e pontapés.

    E quanto às causas da agressividade nas aulas de Educação Física, os professores têm como representação da agressividade no contexto escolar, a falta de regras e limites.

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revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
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