efdeportes.com

Antropometria, aptidão cardiorrespiratória e 

dermatoglifia em atletas paralímpicos de futebol de sete (PC)

Antropometría, aptitud cardiorrespiratoria y dermatoglifia en jugadores paralímpicos de fútbol de siete (PC)

 

*Professor da Fundação Universitária de Itaperuna – FUNITA

**Centro de Excelência em Avaliação Física – CEAF

***Presidente da Associação Nacional de Desportos para Deficientes

****Professor Adjunto da Escola de Educação Física e Desportos - UFRJ/EEFD

(Brasil)

Diogo Cordeiro da Costa Ferreira* **

Ivaldo Brandão Vieira***

Paula Roquetti Fernandes**

José Fernandes Filho****

diogo@ceafbr.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve por objetivo descrever as características dermatoglíficas e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) de atletas paralímpicos da seleção brasileira de futebol de campo (futebol de sete), portadores de paralisia cerebral. A população foi composta por 26 atletas com idade média de 23±6,43 anos, massa corporal total média de 64±11,09 Kg e estatura média de 169±6,27 cm. Para obtenção do VO2Máx. foi utilizado um teste direto (analisador de gases) e do tipo máximo (protocolo de Rampa), sendo encontrado uma média de 51,92±6,66 mL.Kg-1.min-1 para esta variável. Na avaliação das características dermatoglíficas foi utilizado o método Cummins & Midlo (1942), sendo encontrada uma maior freqüência para o aparecimento de Presilha (L), 59%, seguido de verticilo (W), 35%, e arco (A), 6%. O somatório da quantidade total de linhas (SQTL) médio apresentado pela amostra (n=24) foi de 140,3±46,79 linhas e o índice delta médio encontrado foi de 13±4,18. Conclui-se que os atletas estudados possuem uma excelente aptidão cardiorrespiratória apesar de apresentarem comprometimentos motores e que seus elevados valores apresentados nas variáveis dermatoglíficas SQTL e D10 sugerem que o grupo possui características de alto nível esportivo.

          Unitermos: Futebol de sete. Consumo máximo de oxigênio. Dermatoglifia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

1 / 1

Introdução

    A encefalopatia crônica da infância, mais conhecida como paralisia cerebral (PC), é uma síndrome derivada de lesões ou disfunções cerebrais de diferentes origens ocorridas nos períodos pré, peri ou pós natal e tem por conseqüência uma série de complicações neuromotoras e posturais (Miller, 2002). A lesão cerebral não é progressiva, porém, como ocorre quando o sistema nervoso central (SNC) ainda se encontra em formação, os distúrbios motores podem evoluir à medida que se exija mais do SNC. A classificação das Paralisias Cerebrais depende da região onde o distúrbio motor se manifesta e do tipo da anormalidade motora. No âmbito desportivo, a CP-ISRA (Cerebral Palsy International Sports & Recreation Association) classificou o atleta de futebol de campo, ou futebol de sete, de acordo com singularidades da síndrome. A classificação varia de 5 a 8, sendo classificado como 5 o indivíduo com um maior grau de comprometimento motor e como 8 um menor grau de comprometimento.

    Tubino (2003) afirma que a capacidade aeróbica seria uma qualidade física indispensável aos atletas, uma vez que estando capacitado aerobicamente o mesmo resistiria melhor a períodos de trabalho volumosos. Para Weineck (2000), um bom condicionamento aeróbico proporciona uma série de benefícios para o futebolista como: aumento do desempenho físico, diminuição do aparecimento de lesões, melhor capacidade de recuperação e melhorias no sistema imunológico. O mesmo autor afirma que a resistência aeróbica seria um pré-requisito importante para que a performance do futebolista seja satisfatória, devendo ser trabalhada de acordo com o princípio da especificidade do treinamento desportivo. Além de auxiliar na prescrição do treinamento, o VO2máx. ou consumo máximo de oxigênio é um índice importante na predição da condição aeróbica do indivíduo, uma vez que a capacidade de realizar exercícios de longa duração é dependente predominantemente do metabolismo aeróbico. A ergoespirometria pode ser considerada como método gold standard na obtenção do VO2máx., já que ao determinar volumes de oxigênio consumido e de gás carbônico produzido na ventilação pulmonar em esforço, torna-se um instrumento muito preciso e reproduzível (Roquetti Fernandes, 2004).

    As impressões digitais são formadas entre o 3º e 6º mês de vida fetal juntamente com o sistema nervoso do estrato blastogênico no ectoderma (NIKITIUK, 1988). Dermatoglifia é um termo proposto por Cummins & Midlo e nada mais é que a análise ou estudo das impressões digitais. Tem sido largamente utilizada na clínica médica, como na estimação de riscos de aparecimento de certas patologias ( síndrome de Down, glaucoma, PC, etc) e no esporte, como por exemplo ao correlacionar tipos de desenhos com qualidade físicas básicas. Pode-se afirmar que as características dos dermatóglifos atuam como marcadores genéticos, podendo ser do tipo qualitativo (análise dos desenhos) e quantitativo (contagem de linhas). Diversos autores brasileiros como Fernandes Filho (1997), Medina (2002) e Pável (2003), têm estudado variáveis dermatoglíficas com o objetivo de identificar o potencial esportivo, criando perfis destas variáveis em diferentes modalidades e níveis de qualificações esportivas.

    Assim, o objetivo do presente estudo foi descrever as características dermatoglíficas e o VO2máx. de atletas paralímpicos da seleção brasileira de futebol de campo (futebol de sete), portadores de paralisia cerebral.

Metodologia

    O estudo foi realizado com N=26, atletas adultos, do sexo masculino, de alto rendimento esportivo no Brasil e no mundo, abrangendo todo o elenco da seleção brasileira Paralímpica de futebol de sete, o que representa a população. É importante ressaltar que as impressões digitais foram coletadas em um dia diferente dos testes antropométricos e ergoespirométricos, resultando em falta de dois atletas, fazendo com que o universo amostral para as variáveis dermatoglíficas deixasse de ser população para ser amostra.

    Primeiramente, alguns dados antropométricos foram tomados, como estatura e massa corporal, sendo utilizado um estadiômetro da marca Sanny® e uma balança da marca Filizola® com precisão de 10g.

    Para obtenção do consumo máximo de oxigênio, o teste utilizado foi do tipo máximo em esteira (protocolo de Rampa), com a utilização de um analisador de gases tipo Metalizer RII da marca CORTEX®. O ergômetro utilizado foi uma esteira da marca Imbramed®, modelo super ATL e o eletrocardiógrafo utilizado foi o MICROMED® sendo conhecido como método gold standard de aferição das trocas gasosas.

    Antes de iniciar o teste, o aparelho (analisador de gases) deve passar por 5 calibrações. Calibrou-se com gás conhecido, o ar ambiente, a pressão atmosférica e o volume (seringa de 3L). Com o indivíduo em pé na esteira, foi colocada uma máscara de silicone de tamanho proporcional ao rosto do indivíduo. Após esta estar conectada ao analisador de gases o teste teve início, sendo esta conexão interrompida apenas ao final do período de recuperação do esforço. O próprio aparelho é responsável pelo cálculo do volume de oxigênio consumido (VO2) e volume de dióxido de carbono (VCO2) produzido por minuto.

    Com o intuito de avaliar as impressões digitais foi utilizado o método dermatoglífico de Cummins & Midlo (1942) apud Fernandes Filho (1997). O processamento e obtenção das impressões digitais fazem parte do método citado. Para tanto, foi utilizado um coletor de digitais eletrônico da marca CROSSMATCH®, modelo VERIFIER 320 LC conectado a um laptop.

    Depois de obtidas as imagens das impressões digitais, estas foram classificadas pelo pesquisador de acordo com os tipos de desenho, que são três: Arco, que se caracteriza pela ausência de deltas e núcleo, e se compõe de cristas, que atravessam, transversalmente, a almofada digital; Presilha, que caracteriza-se por um desenho que apresenta um único delta e um único núcleo; e Verticilo, que caracteriza-se por um desenho que apresenta sempre dois deltas podendo apresentar um ou dois núcleos.

    Além de serem classificados de acordo com suas formas, alguns índices padronizados das impressões digitais puderam ser calculados, como o somatório da quantidade total de linhas (SQTL) e o índice de delta (D10). O SQTL nada mais é a soma da quantidade das linhas dos 10 dedos segundo a linha que liga o delta e o núcleo, não levando em consideração a primeira e a última linha da crista. Já o D10 pode ser encontrado seguindo a soma de deltas de todos os desenhos, de modo que a “avaliação” de Arco, (A) é sempre 0, devido à ausência de delta, de cada Presilha, (L), é sempre 1 (um delta), e de cada Verticílo (W) é sempre 2, (dois deltas), ou seja:

Estatística

    O tratamento estatístico utilizado foi o de análise descritiva, que Thomas & Nelson (2007), afirmam que “o seu valor tem como base a premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio de descrição objetiva e completa”, utilizando assim as medidas de tendência central (média e mediana), de amplitude (mínimo e máximo) e de dispersão (desvio padrão).

Resultados e discussões

    Observando a obra de Mello (2004), quando estudou uma população semelhante à do presente, percebe-se que os atletas de 2009 (Tabela 1) são mais jovens e mais leves, porém, mais baixos que os de 2004, uma vez que o referido autor encontrou valores médios iguais a 25,8anos, 66,5Kg e 172cm para idade, massa corporal e estatura, respectivamente.

Tabela 1. Análise descritiva da idade, massa corporal e estatura dos jogadores de futebol de campo PC

N=26

Idade (anos)

Massa (Kg)

Estatura (cm)

X

23

64

169

S

6,43

11,09

6,27

Mediana

21

64

169

Mínimo

15

49

156

Máximo

35

95

180

Legenda: N=população; X=média; S= desvio padrão

    As Tabelas 2 e 3, por sua vez, fazem alusão às variáveis dermatoglíficas.

    A tabela 2 mostra um percentual maior para a impressão digital do tipo presilha (L), seguida pela impressão digital do tipo verticilo (W), e, conseqüentemente um menor valor médio para a impressão digital do tipo arco (A).

    Tal resultado é semelhante ao encontrado por Roquetti Fernandes e colaboradores (2004a), quando estudaram as características dermatoglíficas de atletas de futebol de campo das seleções brasileira, australiana, portuguesa, argentina e alemã, dotados de paralisia cerebral. Entretanto, quando as variáveis dermatoglíficas analisadas são o índice delta (D10) e o somatório da quantidade total de linhas (SQTL), os resultados encontrados (Tabela 3) no presente estudo diferem dos resultados encontrados pela pesquisadora supracitada. Naquela ocasião, os valores médios encontrados de SQTL das seleções brasileira, argentina, australiana, portuguesa e alemã foram iguais a 100,63±41,52linhas, 103,67±41,37linhas, 90,36±17,39linhas, 109,32±18,34linhas e 81,50±30,25linhas, respectivamente. Já em relação à D10, os resultados, seguindo a mesma ordem das seleções acima, foram: 10,83±2,95; 10,25±4,0; 12,43±2,3; 12,91±3,18 e 13,5±3,33. Ou seja, no presente estudo foram encontrados valores médios maiores para ambas variáveis em questão, com exceção do índice delta da seleção alemã. Tal fato indica que a população estudada no presente momento possivelmente possui uma maior predisposição genética para a coordenação, resistência de velocidade e agilidade, uma vez que para Silva Dantas, Roquetti Fernandes e Fernandes Filho (2004), níveis de D10 e SQTL maiores se correlacionam com níveis mais elevados dessas 3 qualidades físicas.

Tabela 2. Percentil do tipo de desenho

Variáveis

N

Percentil

A (%)

24

6

L (%)

24

59

W (%)

24

35

Legenda: n=amostra; X=média; S= desvio padrão

 

Tabela 3. Análise descritiva do SQTL e do D10

  

SQTL

D10

n

24

24

X

140,3

13

S

46,79

4,18

Mediana

144,5

14

Mínimo

52

5

Máximo

251

20

Legenda: n=amostra; X=média; S= desvio padrão

 

Tabela 4. Valores de VO2Máx. da população estudada

 

VO2Máx.(mL.Kg-1min-1)

N

26

X

51,92

S

6,66

Mediana

53,92

Mínimo

37,31

Máximo

64,93

Legenda: N=população; X=média; S= desvio padrão

    A Tabela 4, acima, mostra a análise descritiva do consumo máximo de oxigênio (VO2Máx.) da população estudada. O resultado encontrado para a variável estudada nesse momento é semelhante (menos de 1MET) ao encontrado por Roquetti Fernandes et all. (2004b), quando encontraram valor médio de VO2Máx. = 50,77mL.Kg-1.min-1 em atletas da seleção brasileira de futebol de campo PC e ao encontrado por Roquetti Fernandes et all. (2004c), quando encontraram um valor médio de VO2Máx. = 47,20mL.Kg-1.min-1 em atletas participantes do 4º Campeonato Brasileiro de futebol de campo PC. Ainda sobre o VO2Máx., o resultado do presente estudo também assemelha-se ao encontrado por Silva et all. (2002), quando os pesquisadores encontraram um valor médio igual a 50,9±4,2mL.Kg-1.min-1 em atletas de futebol de campo PC. Um fato que merece destaque é que o valor médio apresentado dessa variável pela população em questão pode ser classificado como excelente de acordo com o Instituto Cooper (HEYWARD, 2006).

Conclusão

    Conclui-se, portanto, que os atletas da seleção brasileira de futebol de campo PC, quando observados os índices dermatoglíficos, apresentam uma maior freqüência para o aparecimento de presilha (L), seguida pelo verticilo (W) e depois o Arco (A). Além disso, apresentam valores elevados tanto para D10 como para SQTL, corroborando com a literatura que investiga essas variáveis no alto rendimento, sugerindo que a amostra estudada possui características de atletas de alto nível esportivo.

    Quanto ao consumo máximo de oxigênio, observando as médias de idade e do VO2Máx. apresentado pelo grupo, os futebolistas Paralímpicos em questão demonstraram uma condição cardiorrespiratória classificada como boa pela American Heart Association (AHA) e como excelente por Cooper, mostrando que mesmo possuindo um comprometimento motor, a aptidão cardiorrespiratória do grupo encontra-se compatível com a excelência esportiva.

Referências bibliográficas

  • ABRAMOVA T. F., NIKITINA T.M., CHAFRANOVA E.I. Impressões Dermatoglíficas. Marcas genéticas na seleção nos tipos de esportes. Atualidades na preparação de atletas nos esportes cíclicos. In: Coletânea de artigos científicos. Volvograd, cap.2, p. 86-91, 1995.

  • CP-ISRA. Cerebral Palsy International Sport & recreation Association. Classification & Sport Rules Manual. 8ª Ed. Netherlands. 2004.

  • CUMMINS H., MIDLO CH. Palmar and plantar dermatoglyphics in primates. Philadelphia, p.257, 1942.

  • FERNANDES FILHO, J. Impressões dermatoglíficas: marcas genéticas na seleção dos tipos de esporte e lutas (a exemplo de desportista do Brasil). 1997. Tese (Doutorado). Moscou. URSS.

  • Heyward H., V. Advanced Fitness Assessment and Exercise Prescription, Fifth Edition, 2006, Champaign, IL: Human Kinetics.

  • MEDINA, M.F.; FERNANDES FILHO, J. Identificação dos perfis genético e somatotípico que caracterizam atletas de voleibol masculino adulto de alto rendimento no Brasil. Revista Fitness e Performance Journal. v.1, n.4, p.12 – 20, 2002.

  • Mello, M.T. Avaliação Clínica e da Aptidão Física dos Atletas Paraolímpico Brasileiros: Conceitos, Métodos e Resultados. São Paulo. Editora Atheneu, 2004.

  • MILLER G. e CLARK G., Paralisias Cerebrais – Causas, Consequências e Conduta. Ed. Manole. São Paulo. Brasil. 2002.

  • Nikitiuk B.A. Impressões Dermatoglíficas como marcas do desenvolvimento pré natal do ectoderma // Marcas genéticas na antropologia e mediciina. Anais de trabalhos científicos no Simpósio.- Rimelnitzki,.-pág.133, 1988.

  • PÁVEL, D.A.C; Identificação dos perfis dermatoglifico, somatotipico e das qualidades físicas básicas em atletas de alto rendimento na modalidade natação em provas de meio-fundo e fundo. Dissertação de Mestrado Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro, 2003.

  • ROQUETTI FERNANDES, P., ROQUETTI, R. W., BRANDÃO, I., FERNANDES FILHO, J.. Dermatoglyphics characteristics of the Brazilian, Australian, Portuguese, Argentine and Dutch National Soccer Team Athletes with Cerebral Palsy. Journal of the International Federation of Physical Education. V.74 – Special Edition – Article, p.115-119, 2004a.

  • ROQUETTI FERNANDES, P., BRANDÃO, I., DANTAS, P.M.S., FERNANDES FILHO, J.. Morphofuncional characteristics in Brazilian Field Soccer Athletes with Cerebral Palsy – Qualified for the 2004 Paralimpics Games. In: Pre-Olympic Congress. Aristotle University of Thessaloniki; Tessaloniki/Greece;V.1, p.398-99, 2004b.

  • ROQUETTI FERNANDES, P. ET AL. Perfil Antropométrico e Somatotípico de Atletas Paralisados Cerebrais Participantes do 4º campeonato Brasileiro de Futebol 7 – 2003. Journal of the International Federation of Physical Education. V.74 Special Edition, p.150, 2004c.

  • SILVA DANTAS, P., ROQUETTI FERNANDES, P., FERNANDES FILHO, J. Relação entre Estado e Predisposição Genética no Futsal Brasileiro. 2004. Tese (Doutorado). Natal,RN. Brasil.

  • THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Métodos de pesquisa em atividade física. 5ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

  • TUBINO, M.J.G., MOREIRA, S.B. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. 13ªed. Shape, Rio de Janeiro. 2003.

  • WEINECK, J. H. Futebol Total. São Paulo: Manole. 2000.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados