Dança de Salão no Ensino Especial: um estudo de caso El baile de salón en la Educación Especial: un estudio de caso |
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Graduanda em licenciatura em Educação Física Mestre em Ciência da Motricidade Humana, UCB, RJ Centro de Ensino Superior Amapá, CEAP, AP (Brasil) |
Samanda Nobre do Carmo Sabóia* Paulo José dos Santos de Morais** |
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Resumo O presente artigo retrata reflexões a respeito da dança de salão e sua participação no processo educacional enquanto conteúdo da disciplina Educação Física escolar direcionada para pessoas com deficiência visual. Tem como objetivo verificar como a dança de salão pode contribuir no desenvolvimento da pessoa com deficiência visual, concorrendo para a aquisição da sua lateralidade, do conhecimento de seu esquema corporal, assim como trazer um contributo à discussão sobre a importância da educação física no interior da escola. O estudo será conduzido a partir da abordagem qualitativa descritiva e de campo, utilizando entrevista semi-estruturada, preconizada por Bruno (1999), e aulas práticas com ritmo em compasso binário. A amostra foi constituída de aluno com Deficiência Visual, de seu pai, e do seu professor. Os resultados permitem inferir que a dança de salão nas aulas de Educação Física contribui para a melhora do desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo de pessoas com deficiência visual, melhorando sua orientação espacial resultando em uma mobilidade mais segura e independente. Unitermos: Dança. Dança de Salão. Educação Física. Deficiência visual.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
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Introdução
Acredita-se que a dança faz parte do repertório do homem há muito tempo. Há vestígios de que o homem já dançava na pré-história. Desenhos grafados em cavernas de sítios arqueológicos comprovam isso. Muito antes de se tornar uma arte apreciativa, a dança foi e continua sendo um instrumento de comunicação do homem com seu semelhante. Nasceu na expressão das emoções primitivas e manifestações do homem com a natureza, ou seja, o homem que ainda nem falava, se utilizou do gesto simples para expressar suas emoções em um ritmo natural (CERIBELLI, 2008).
A dança daria magnitudes corretas ao corpo, seria fonte de boa saúde, além de ser ótima maneira de reflexão filosófica e estética, o que a fez ganhar espaço na educação grega. O homem grego não separava o corpo do espírito e acreditava que o equilíbrio entre ambos era o que lhe trazia o conhecimento e a sabedoria. Os gregos utilizavam a dança para a educação dos guerreiros como forma de prepará-los para as lutas, pois, os melhores dançarinos se tornavam os melhores guerreiros (NAIG, 2008).
No século XIV a dança passou a ser vista como um artifício para entreter reis, príncipes e toda a aristocracia. Enquanto isso, os camponeses desenvolviam outro tipo de dança, popular e folclórica. Não demorou muito para que houvesse um intercambio entre estes dois estilos que foram levados, aperfeiçoados para serem apreciadas nos grandes salões imperiais nos bailes das cortes reais europeias. (CERIBELLI, 2008).
A partir do século XVIII surgiu o dança a dois. É possível que o abraço lateral venha do fato de que, na época, os soldados carregavam a espada no lado esquerdo, também era evidente a postura clássica, ereta e com o torso fixo como no balé, desde então esta dança foi se transformando, se adequando e tornou-se acessível às camadas menos privilegiadas da sociedade. Essas alterações de comportamento foram se unindo às danças sociais, dando origem, assim, a uma nova vertente da música que dançada por casais mais tarde foi denominada de “Danças de Salão”.
No Brasil a Dança de Salão está presente antes da chegada da realeza, mas foi após a vinda da família real, que sua prática se intensificou graças às influencias européias como as danças e os bailes, pois a música e a dança eram as manifestações de lazer preferidas pela corte e pela sociedade culta. (ANTÔNIO, 2002).
A escola pode estar apropriando-se do conteúdo dança, proporcionando a qualquer que seja o individuo a possibilidade para que ele se encontre e compreenda o seu corpo, e o corpo dos outros, através do componente curricular Educação Física, que por um tempo excluía os menos habilidosos, masque precisa quebrar estes preconceitos, trabalhando numa concepção inclusiva, ancorada na idéia de que todos são capazes dentro de suas limitações (TINOCO. 2009).
Segundo Winnick (2004, apud TINOCO 2009) “o termo inclusão designa a educação de alunos portadores de deficiências num ambiente educacional regular”.
A pessoa com deficiência visual é aquele que se difere da média a tal ponto que necessita de professores especializados, adaptações curriculares e materiais específicos de ensino, para ajudá-la a atingir um nível de desenvolvimento proporcional às suas necessidades.
Os alunos com deficiência visual não constituem um grupo homogêneo, com características comuns de aprendizagem, sendo um erro considerá-los como um grupo à parte, uma vez que suas necessidades educacionais principais são geralmente as mesmas que as das crianças de visão normal.
A escola, portanto, tem um papel fundamental, que é assumir de forma responsável a educação de alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais (PNEE), ao garantir a eles acesso a tudo aquilo que é necessário para seu bom desenvolvimento junto às crianças ditas “normais”.
A prática da dança na Educação Física tem que estar voltada não só para a recreação, ou simplesmente para o treino de habilidades motoras, mas também para o equilíbrio psíquico, para a expressão criativa e espontânea, a fim de assegurar aos alunos a possibilidade de reconhecimento e compreensão do universo simbólico (BAMBIRRA 1993)
De acordo com Tortora & Lara (2009):
A dança de salão se coloca como conhecimento a ser apreendido na escola não apenas porque conduz à experimentação das várias habilidades de movimento e formas expressivas, mas especialmente porque ela pode nos proporcionar um conhecimento mais profundo do nosso corpo.
Para Laban (s/d, apud SANTOS, 2009) a dança inserida no contexto da educação, integra conhecimento intelectual e habilidades criativas, pois ao compreender as qualidades de movimento, implícitas nas diversas formas de expressão humana, educa-se através do movimento/dança.
A dança pode contribuir para o aprimoramento de habilidades básicas, padrões fundamentais de movimento. Além de influenciar no desenvolvimento das potencialidades humanas e a relação com o mundo. Dentre estas potencialidades, o seu ensino facilitaria a aquisição do esquema corporal e lateralidade, por parte do Deficiente Visual (DV).
Romero (1988) diz que “a lateralidade está diretamente relacionada com o conhecimento corporal e percepção dos movimentos no tempo e espaço”. Patcher & Fischer (2008) a comparam como uma espécie de bússola do corpo é por meio dela que o ser situa-se no ambiente e por isso defendem que o esquema corporal se entrelaça com a lateralidade.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) observam na dança uma forma de promover o conhecimento das qualidades do movimento expressivo, e a preconizam como meio de levar o indivíduo a usar sua expressividade com mais “‘inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade”. A diversidade cultural que caracteriza o país tem na dança uma de suas expressões mais significativas, construindo um amplo leque de possibilidades de aprendizagem.
Nesse contexto, o presente artigo através de um estudo qualitativo-descritivo tem como finalidade verificar como a dança de salão pode contribuir no desenvolvimento da pessoa com deficiência visual, concorrendo para a aquisição da sua lateralidade, do conhecimento de seu esquema corporal, assim como trazer um contributo à discussão sobre a importância da educação física no interior da escola.
Procedimentos metodológicos
Esse estudo utilizou a abordagem do tipo qualitativo-descritivo através do estudo de caso, que segundo Trivinos (1987) é “uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente”. A amostra, intencional por voluntariado, foi constituída de aluno com Deficiência Visual de natureza congênita e irreversível, idade cronológica de 21 (vinte e um) anos regularmente matriculado e freqüentando escola pública, e participando das aulas de Educação Física; de seu pai e seu professor de educação física.
Buscando a aproximação direta com o objeto de estudo é que decidimos pela entrevista semi-estruturada, adaptada de Bruno (1999), contendo dez perguntas com roteiro prévio.
Para a sonorização das atividades propostas nas aulas práticas de dança de salão, utilizou-se um computador Eee PC series (ASUS), e caixa amplificada marca ELITE. Como instrumento de registro, utilizou-se maquina fotográfica marca LUMIX de 12 mega pixels e câmera de vídeo Sansung de 8.0 mega pixels. Os planos de aulas elaborados tiveram como objetivos viabilizar a prática de atividades em dança garantindo à pessoa participante, a aquisição de elementos especiais como: espaço, tempo e energia. Foram realizadas anotações para cada aula prática, ressaltando aspectos relevantes em relação aos propósitos a serem alcançados.
Partindo da noção de aproveitar o conhecimento prévio, o estilo musical foi escolhido pelo próprio aluno, que optou pelo “Brega Melody”, que se constitui de um ritmo essencialmente nortista que tem em suas origens a batida rítmica da jovem guarda e do rock de Elvis presley, com letras baseada no samba de “fossa” e boleros.
O modo de dançar o brega melody; é em um ritmo de um compasso simples binário, ou seja, dois tempos fortes e contínuos marcados pela batida da caixa da bateria. As atividades propostas tinham seu inicio com o aluno realizando o reconhecimento do ambiente, com objetivo de se situar diante dos possíveis objetos, para assim ter a noção do espaço reservado para a execução dos exercícios propostos.
Apresentação e discussão dos resultados
No trabalho com pessoas cegas para elaboração de um plano educacional adequado às características e necessidades do educando, há necessidade de um conhecimento prévio de cada caso. Algumas informações importantes devem ser obtidas junto aos pais ou responsáveis pela mesma, as quais serão posteriormente ampliadas ou rejeitadas de acordo com o desenvolvimento das atividades no contato direto com o aluno.
No caso do Deficiente Visual (DV) congênito, precisa-se de maior atenção para a elaboração dos conteúdos a serem trabalhados principalmente ao se utilizar a dança. O DV desconhece todas as possibilidades gestuais, portanto, utiliza a percepção tátil e o estímulo verbal como meio para introduzi-lo no mundo do movimento (GÂNDARA, 1994).
A família exerce papel fundamental no processo de desenvolvimento da pessoa com deficiência visual como intercessor nas relações com o mundo e no processo de construção do conhecimento.
A família torna-se, então, o suporte primário na integração do DV no âmbito escolar e na sociedade. O processo educativo envolve a relação direta educador-aluno-família, tendo em vista a preocupação com a elaboração eficiente de conteúdos que realmente estejam relacionados às necessidades do aluno com deficiência visual.
Nesse sentido, Blanco & Duk (1997 apud BRUNO 1999) afirmam que:
A participação dos pais de crianças com deficiência no processo educacional de seus filhos pode contribuir muito para um desenvolvimento de qualidade. Essa colaboração, tão importante, pode ser nas atividades da escola, no planejamento do currículo, no apoio à aprendizagem em casa e na observação do progresso do filho.
Por este sentido, que procuramos evitar a visão ingênua de que a escola por si só terá a capacidade de mudar o rumo da historia, pois é necessária a atitude de adoção de práticas, nas quais, o diálogo mostre as contradições, sejam de que âmbito venha a ser originárias, pois somente assim segundo Freire (1970) será capaz de ‘”prover pela consciência, pela prática da liberdade e participação, a transformação social que almejamos”.
A seguir, apresentaremos nas Figuras 1 a 3 os temas e subtemas identificados nos discursos do pai, aluno e professor:
Figura 1. Identificação dos discursos do pai
Discutiremos a partir do discurso do pai em virtude de ser o suporte mais próximo, causador de expectativas e aspirações; depois, apresentaremos as representações do aluno, verificando como dão significado à sua própria deficiência e quais as dificuldades enfrentadas no ambiente escolar e de que forma a mesma pode influenciar no seu desenvolvimento.
Por último, falaremos sobre o posicionamento diante da problemática educação para pessoas com deficiência mais especificamente a deficiência visual e trataremos também sobre a prática da dança numa ótica pedagógica nas aulas de Educação Física voltada para o (aluno DV).
Tema: Expectativas do pai
As informações coletadas nas entrevistas foram agrupadas em subtemas retiradas da fala do pai, procurando abstrair o conteúdo que possibilitam reflexão sobre as representações manifestadas. Assim, abordaremos dois subtemas: a) Desvelando o significado da deficiência e b) Expectativas e desejo do pai em relação ao filho.
Subtema: A deficiência
Sentimentos gerados a partir da deficiência: medo, tristeza, impotência, dificuldades. Inicialmente, foram esses os sentimentos relatados pelo pai. Mas nota-se que à medida da convivência, da experiência e da informação, esses sentimentos são transformados e cede lugar a sentimentos mais positivos como nos mostram os discursos abaixo:
(depoimento do pai).“Logo no inicio foi dificultoso e continua sendo difícil, pois ele precisa da gente pra ir a escola, ir buscar e outros afazeres. Hoje (...) eu me sinto bem, pois já estou adaptado com ele.”
“A partir do tempo passando (...) fui chegando à conclusão, vendo o desenvolvimento do meu filho que ele poderia ter um desenvolvimento normal, como as outras crianças (...) então a aceitação passou a ser muito maior.” (depoimento do pai).
Os sentimentos aqui relatados por este pai revelam a reação e atitude da aceitação de um fato novo, desconhecido e inusitado que é o nascimento de uma criança com deficiência O sentimento inicial foi de não-aceitação, não da criança, mas do fenômeno deficiência em virtude do medo e dificuldade de enfrentar a cegueira, como discutem Cantavella & Leonhardt (1999).
A imagem da deficiência elaborada e a atitude diante da deficiência, confessada por esse pai, nos remete ao que Amaral (1994) relata: “Atitudes são uma disposição psíquica ou afetiva em relação a determinado alvo: pessoas, grupos ou fenômenos, fatores dos indivíduos como necessidades, valores e, principalmente emoções”.
A fala do pai denota, de maneira geral, o forte desejo de independência e autonomia para seu filho, como ilustra o depoimento abaixo:
“Que ele seja independente. Andar pelas ruas, de ônibus, que continue estudando (...) Não que ele não precise de alguém ao lado dele: Mas independente no sentido de conseguir realizar todos os seus desejos independente de sua deficiência.”
Os discursos manifestam o mesmo sonho de independência e autonomia citado por Castoríadis (l982), no qual a autonomia é a instauração de uma relação do outro e o discurso do sujeito e a alteridade como um vir a ser, a previsão inesgotável de mudança e a transformação que desafia a significação já estabelecida pela sociedade.
A análise do discurso do pai entrevistado permite concluir que os conceitos de deficiência, envolvem duas dimensões, uma individual, com um significado particular, característico para o indivíduo, e outro, num aspecto social, construído pelos significados ideológicos, voltado para a convivência em sociedade.
Figura 2. identificação dos discursos do aluno
Tema: Expectativa do aluno
Subtema: A deficiência
Foi observado, nos diferentes relatos do aluno que sentimentos como: frustração, aceitação, amizade e carinho estão bastantes presentes, principalmente, nas atitudes e posturas das pessoas com as quais convivem diariamente.
(aluno).“Eu tenho cegueira congênita é difícil ser participativo em todas as aulas em especial (...) a de educação física, pois tem algumas atividades que não são adaptadas para meu tipo de deficiência (...) isso muitas das vezes traz dificuldade na escola (...)”
Evidencia-se aqui a importância da mediação social, o papel da escola, da família como agentes mediadores da promoção do desenvolvimento, superação dos limites.
O aluno revela desejo, felicidade, independência, e participação ativa na escola, As expectativas em relação às suas possibilidades e potencialidades são positivas, projetam êxito escolar e futuramente sucesso profissional. O desejo de independência é expresso no relato do participante:
“Eu gostaria de ser mais independente assim (...) eu quero ser jornalista”.
Constata-se aqui o desejo, do filho, de independência e autonomia, no sentido de participar integralmente da vida. Esses valores determinam à natureza das relações pais-filhos, impulsionando-os na busca de alternativas de bem-estar, integração, socialização, qualidade de vida e, acima de tudo, na busca da felicidade:
Figura 3. Identificação dos discursos do professor
Tema: Expectativa do professor
A imagem construída pelo professor acerca de seu aluno com deficiência anuncia mudança e transformação na elaboração de praticas motora especifica. Nessa percepção generosa, o aluno é visto como uma pessoa alegre, comunicativa, interessada, e que gostam de participar de tudo que acontece na escola.
“É um adolescente inteligente, é muito extrovertido, ele se comunica muito bem com todos os colegas (...) e (...) presta muita atenção nas minhas aulas (...) é um pouco complicado, pois eu utilizo muito a linguagem corporal esquecendo que a verbalização é a fonte primordial para sua aprendizagem.” (professor).
Este depoimento nos revela que a imagem mais forte e a representação que este professor constrói acerca de seu aluno que apontam para a dimensão humana da pessoa, com suas características positivas que marcam a personalidade do mesmo. O foco de atenção não está centrado na deficiência, na ausência, mas, sobretudo, nas possibilidades de realizar as atividades a ele propostas.
O professor aponta como fatores fundamentais para o sucesso no processo de alfabetização de alunos com deficiência: recursos e materiais pedagógicos variados. Além de estratégias de ensino utilizando caminhos e recursos variados também contribui para o êxito de todos.
Os depoimentos, desejos e as expectativas do pai, aluno e professor, aqui entrelaçados, ajudaram a pontuar algumas reflexões e nos levou a delinear caminhos para uma prática pedagógica mais coerente com as necessidades apresentadas.
A todo instante o individuo vive a ação física, atividades corporais são fundamentais para desenvolver potencialidades motoras, afetivas e cognitivas de maneira integral. A criação espontânea contribui para construção da imagem corporal, que é fundamental para o crescimento individual e consciência social (BRASIL 1997, apud MICHELETTO, 2009).
O tipo de dança de salão que propomos ensinar é espontânea, única a cada indivíduo, onde o aluno tem a oportunidade de criar e conhecer seus próprios movimentos, de sugerir novas formas de execução de exercícios, ou seja, pensar no que está fazendo. Esta dança pode ser ensinada a qualquer indivíduo, e no caso da pratica dançante do DV, pode-se iniciar especificamente com estilos musicais que ofereçam movimentação rítmica com compassos binários e contínuos que exijam movimentação simples do corpo.
O aluno apresentou dificuldade de compreender e executar as atividades propostas e criar. Gândara (1992) explica que isto acontece porque os deficientes visuais (DV) congênitos desconhecem todas as possibilidades gestuais, por isso o ensino da dança para DV deve recorrer a estímulos verbais e táteis, como meio de introduzi-los ao mundo do movimento.
A música vibrante foi utilizada também como estímulo. Nas aulas buscaram-se ritmos fortes e contínuos. Para Gândara (1995), a música tem papel vital na dança e expressão corporal, pois oferece aos alunos estímulos adequados que os leva ao limite máximo de rendimento físico e à riqueza expressiva.
O aluno não sentiu vergonha ou se intimidou em trabalhar o "toque", ou seja, tocar as partes do próprio corpo e as do professor, observando entre eles diferença e semelhança. Através de experiências do sentir, perceber e movimentar o corpo, o aluno percebeu as diferenciações das partes do corpo, a consciência e importância da mesma: "nunca pensei que dançar fosse tão bom (...) ela faz me sentir livre sem medo”. (aluno Praticante)
Segundo Nanni (1995), a consciência corporal permite aguçar componentes internos como a atenção visual, dimensão espacial, lateralidade, identificação das partes do corpo e componentes internos como: direcionalidade, orientação espacial, sentido do movimento total e parcial cinestésico, por exemplo. Além de proporcionar melhor controle adaptativo.
Durante as atividades, percebemos que o aluno sentiu mais dificuldade de se manifestarem corporalmente diante de ritmos lentos e que os ritmos mais vibrantes foram mais preferidos por ele.
A dança de salão significativamente contribui no processo de aprendizagem em relação a espontaneidade e criação de movimentos do corpo da pessoa com deficiência visual (DV) .A dança, seja ela como proposta, como, expressão, manifestação social ou o conteúdo que ela apresenta, constrói significado na vida das pessoas, e “cada pessoa, com o corpo que tem, do jeito que é, tem uma dança diferente” (COLL; TEBEROSKY, 2000).
Para Cunha (1992), a dança merece destaque junto à Educação Física complementando as atividades de "ginástica, lúdicas, esportivas e recreativas". Também para Claro (1988,) "(...) a dança e a Educação Física se completam", em que "a Educação Física necessita de estratégias de conhecimento do corpo e a dança das bases teóricas da Educação Física".
No aspecto afetivo-social, desenvolveram-se através da dança atitudes como auto-estima e confiança e mais ainda o reconhecimento de suas possibilidades, independência de movimentos, pré-disposição para a prática da dança de salão. A mudança que mais se evidenciou e que foi objeto de maior ênfase neste estudo foi à expressão corporal, havendo também grande melhora na atitude postural e diminuição dos maneirismos.
Considerações finais
O adolescente deficiente visual demonstrou possuir poucas experiências corporais provavelmente devido à falta de vivências motoras ocasionadas muitas vezes pela super-proteção dos pais ou da ausência de propostas ofertadas no ambiente escolar.
As defasagens apresentadas pelo DV são mais acentuadas no aspecto corporal. A educação física adaptada utilizando a dança de salão consegue minimizar esses problemas, se esta experiência for realizada por um profissional competente preocupado com a integração de todos independente de suas limitações.
Conhecer e vivenciar o mundo do deficiente visual,nos fez acreditar que dança trilhar caminhos diferentes,dos quais devemos concedermos a cidadania do corpo,respeitando particularidades,compartilhando as regras técnicas corporais e discutindo de acordo com as expectativa de determinado grupo social.
A prática da dança de salão não se limitaria somente a um período certo de realizações, e sim uma atividade corporal continuada. Sua utilização no contexto escolar deve proporcionar ao aluno DV prazer em se movimentar, que consiga compreender a importância da prática com dança na melhoria de habilidades básicas corporais.
Diante dos resultados obtidos podemos inferir que a dança de salão nas aulas de Educação Física contribui para a melhora do desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo de pessoas com deficiência visual, melhorando sua orientação espacial resultando em uma mobilidade mais segura e independente, e representa uma forma de potencializar a educação pelo viés da cultura, pois que esse campo de conhecimento traz ao aluno saberes não só gestuais como também históricos, contribuindo efetivamente em prol de uma educação integradora e inclusiva.
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