Estudo comparativo das concentrações de cortisol salivar entre atletas experientes e não experientes no Mixed Martial Arts Estudio comparativo de las concentraciones de cortisol salival entre los atletas experimentados y no experimentados en Mixed Martial Arts |
|||
Universidade Federal do Paraná Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Brasil) |
Andressa Melina Becker da Silva Birgit Keller Israel Charley Pereira Rubens Abraão Tempski Ricardo Weigert Coelho |
|
|
Resumo O Mixed Martial Arts (MMA) é uma mistura de artes marciais e foi criado nos anos 90 com o intuito de mostrar qual seria a arte marcial mais forte e completa em relação às outras. Neste caso, se tratando de uma competição de artes marciais, onde os atletas vem buscando sua melhor performance na qualidade técnica, física, fisiológica e psicológica, este estudo teve como objetivo verificar se as concentrações de cortisol salivar influenciaram no desempenho dos atletas experientes e não experientes que participaram desta pesquisa, nas situações de repouso, pré e pós competição. Foram analisados 7 atletas de uma academia de Curitiba, Brasil, onde foram coletadas as amostras de saliva, uma semana antes, 10 minutos antes e 10 minutos depois da luta. Os resultados mostram que o tempo de prática não apresentou diferenças significativas sobre a concentração de cortisol salivar entre as situações de repouso, pré e pós competição. Desta forma podemos afirmar que a experiência não influencia a secreção do hormônio cortisol deste estudo. Assim devemos considerar outros aspectos que podem alterar o estado de homeostase levando os atletas a situações de estresse. Unitermos: Cortisol. Estresse. MMA.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
1 / 1
Introdução
O MMA é uma mistura de artes marciais e foi criado nos anos 90 com o intuito de mostrar qual seria a arte marcial mais forte e completa em relação às outras, assim a mais forte se sobre-sai sobre as outras. Esta modalidade de luta como outros eventos esportivos pode levar à um estado de estresse.
Nieman (1999, p. 246) diz que o estresse é “qualquer ação ou situação (estressor) que submete uma pessoa a demandas físicas ou psicológicas especiais”.
Atkinson et.al (2002) relaciona as reações psicológicas e fisiológicas ao estresse, portanto são elas: Reações psicológicas – ansiedade, cólera e agressão, apatia e depressão e enfraquecimento cognitivo; Reações fisiológicas – aumento da taxa metabólica, aumento da freqüência cardíaca, dilatação das pupilas, elevação da pressão arterial, aumento da taxa respiratória, tensão dos músculos e secreção de endorfinas e ACTH.
A relação disso tudo com os esportes é o que vem a seguir com o apontamento de Weinberg e Gould (2001, p.102, 103) em que existem duas fontes situacionais de estresse e são elas a importância de um evento e a incerteza do resultado dele. Quanto mais importante for um evento, mais gerador de estresse ele será. Da mesma forma, quanto mais incerto for um resultado, mais estresse ele gerará. Mas é importante lembrar que cada pessoa analisa uma situação de formas diferentes. O que parece importante ou incerto para uma pessoa, pode não ser para outra.
Uma das reações fisiológicas do estresse é a liberação de cortisol, sendo esse o hormônio do estresse, que dará condições físicas à pessoa para lutar ou fugir. As respostas de defesa do estresse (luta ou fuga) estão relacionadas a alterações autonômicas cognitiva, emocional e comportamental (KUWAKI et al. 2008). Em condições normais, quando um desafio ou ameaça é percebido o eixo HPA é ativado, resultando em um aumento do cortisol. Após o grande desafio ter sido resolvido, os níveis de cortisol retornam aos padrões basais (HODGSON et al. 2004).
A sua ação geral é catabólica, trazendo efeitos prejudiciais para mente e corpo (ROHLEDER, NATER, EHLERT, 2005). O nível do metabolismo, promove a degradação protéica, a lipólise, a gliconeogênese, a produção de glicose pelo fígado, o apetite, a síntese de leptina e a diferenciação dos adipócitos; inibe a síntese protéica e a utilização da glicose. Assim, antagoniza as ações da insulina, e é fulcral no período de jejum. Como inibe a síntese e promove a degradação protéica, diminui a massa muscular e a matriz conjuntiva (SARAIVA, FORTUNADO, GAVINA, 2005).
O aumento do cortisol é também responsável por uma diminuição dos RNAs mensageiros que codificam o receptor da serotonina (no nível do hipocampo), levando por isso a uma diminuição do número destes receptores. Esses efeitos combinados vão contribuir para a diminuição dos níveis cerebrais de serotonina, estado típico da depressão (WOLKOWITZ, REUS, 1999; STOKES, 1995; PARIANTE, MILLER, 2001).
O hormônio serotonia afeta numerosos domínios cognitivos incluindo atenção, percepção, memória e processamento emocional. Quando certos estados patológicos emocionais estão presentes, cortisol pode ter um papel na ativação diferencial das regiões cerebrais, especialmente a supressão da ativação hipocampal, a aumento da atividade da amígdala e a remodelação dendrítica nessas regiões, bem como na região prefrontal do córtex (ERICKSON, DREVETS, SCHULKIN, 2003; ELLENBOGEN et al. 2002).
Muitos estudos abordam a influência do cortisol nos exercícios físicos. A resposta hormonal ao exercício depende de condições exógenas, tais como tipo de exercício físico e intensidade; temperatura e umidade; bem como fatores endógenos, como massa muscular e disposição hereditária, condição física e tipo de treinamento realizado anteriormente.
No estudo desenvolvido por Gottschalk et al. (2005), os autores concluíram que pacientes com fadiga exibiram uma maior atividade do eixo HPA do que aqueles sem fadiga, sendo evidenciada pelo aumento significativo de concentrações de ACTH. Em outra pesquisa, desenvolvida por Guigan, Egan e Foster (2004), houve um aumento significativo do nível de cortisol salivar imediatamente após a alta intensidade de uma sessão de exercício. A baixa intensidade de exercício não resultou em qualquer alteração significativa dos níveis de cortisol.
Na pesquisa realizada por Rimmele et al. (2009), esportistas de elite apresentaram significativamente menor cortisol, freqüência cardíaca e estado de ansiedade em comparação com indivíduos não treinados quando submetidos a estresse psicossocial controlado em laboratório.
Existem três formas de coletar o cortisol: Cortisol sanguíneo, cortisol livre na urina e cortisol salivar. As duas primeiras maneiras é invasiva e de difícil coleta, já o cortisol salivar tem sido utilizado por vários pesquisadores (RIMMELE et al. 2009; PAGANI et al. 2009; RICHMAN, JONASSAINT, 2008; HODGSON et al. 2004; KELLNER et al., 2002; CARLSON et al. 2007; CORBETT, 2008; ROHLEDER, NATER, EHLERT, 2005; GILPIN, WHITCOMB, CHO, 2008) e tem sido bastante aceita no meio científico, não só pela sua praticidade mas pela forte correlação encontrada tanto com o cortisol sanguíneo quanto para o cortisol livre na urina. Além disso, o cortisol sendo uma medida psicofisiológica é mais fidedigna do que questionários subjetivos.
Analisando todos esses aspectos, o presente estudo apresentou o seguinte objetivo: Verificar se o tempo de prática dos lutadores de MMA influencia a concentração de cortisol salivar nas situações de repouso, pré e pós competição.
Metodologia
O presente estudo foi quantitativo do tipo ex post facto. Como participantes foram escolhidos de forma intencional 7 atletas devidamente federados nas respectivas entidades das suas modalidades de origem, do sexo masculino. As coletas foram realizadas no circuito de eventos de Mixed Martial Arts (MMA), sendo escolhida a terceira edição do ano, em que 14 atletas lutaram, mas apenas 7 foram avaliados, 4 experientes (mais de 2 anos de treino) e três estreantes (com até dois anos de treino).
Para a coleta de cortisol salivar será utilizado o Salivette. Para tanto, os indivíduos antes de colocarem o rolo de algodão na cavidade oral, farão um bochecho com água destilada para limpeza e ficarão com o rolo de algodão na cavidade oral por 1 minuto. Para análise do cortisol será utilizado o kit ELISA. O teste ELISA é uma técnica bioquímica e imunológica fundamental, utilizada para detectar um antígeno ou anticorpo em uma amostra, com base em interações antígeno-anticorpo.
A descrição das amostras de cortisol salivar foi realizada por meio da estatística descritiva (média e desvio-padrão). Devido ao pequeno número de avaliados não foi possível obter uma distribuição normal da variável cortisol salivar sendo necessário utilizar testes estatísticos não paramétricos.
Para verificar a diferença entre as concentrações de cortisol salivar nas situações de repouso, pré e pós competição utilizou-se o teste estatístico de Friedman seguido do teste de Wilcoxon para medidas repetidas efetuando a correção de Bonferroni. Para verificar a diferença das concentrações de cortisol salivar entre os grupos experientes e não experientes nas diferentes situações (repouso, pré e pós competição) foi utilizado o teste estatístico não paramétrico de U de Mann Whitney. Todas as análises foram realizadas no pacote estatístico SPSS versão 17.0.
Resultados e discussão
Primeiramente foram verificadas as concentrações de cortisol salivar em repouso (0,13), pré (0,31) e pós competição (0,34). Com esses valores pode-se comparar entre eles se houve diferença significativa, como indicado na tabela abaixo:
Tabela 1. Diferença entre o cortisol salivar na situação de repouso, pré e pós competição
|
Repouso |
Pré |
Pós |
Concentrações de Cortisol Salivar |
0,13 |
0,31 |
0,34* |
*Diferença significativa em relação a situação de repouso (p<0,02)
Percebe-se que houve uma variação significativa das concentrações de cortisol salivar nas situações de repouso e pós competição (luta).
Esses resultados convergem com a pesquisa de Guigan, Egan e Foster (2004) que houve um aumento significativo do nível de cortisol salivar imediatamente após a alta intensidade de uma sessão de exercício. A baixa intensidade de exercício não resultou em qualquer alteração significativa dos níveis de cortisol. Nesse caso a alta intensidade ocorreria após a competição tendo em vista que os atletas apresentam uma demanda motora, fisiológica e psíquica elevadas.
Uma das reações fisiológicas do estresse é a liberação de cortisol, sendo esse o hormônio do estresse, que dará condições físicas à pessoa para lutar ou fugir. As respostas de defesa do estresse (luta ou fuga) estão relacionadas a alterações autonômicas cognitiva, emocional e comportamental (KUWAKI et al. 2008). Tudo isso é necessário para uma competição esportiva e interferir no resultado da mesma.
Quando comparadas as médias de concentrações de cortisol salivar entre atletas experientes e não experientes não houve diferenças significativas (p>0,05). A tabela abaixo representa a comparação entre experientes e não experientes nos diferentes momentos de coleta, repouso, pré e pós competição.
Tabela 2. Comparação da média de cortisol salivar entre as situações de repouso, pré e pós competição de atletas experientes e não experientes
|
Não experiente |
Experiente |
Repouso |
0,10 |
0,16 |
Pré |
0,28 |
0,35 |
Pós |
0,35 |
0,32 |
Esses resultados divergem dos encontrados na pesquisa realizada por Rimmele et al. (2009) em que esportistas de elite apresentaram significativamente menor cortisol, freqüência cardíaca e estado de ansiedade em comparação com indivíduos não treinados quando submetidos a estresse psicossocial controlado em laboratório.
Com o apontamento de Weinberg e Gould (2001, p.102, 103) em que existem duas fontes situacionais de estresse, e são elas a importância de um evento e a incerteza do resultado dele. Quanto mais importante for um evento, mais gerador de estresse ele será. Da mesma forma, quanto mais incerto for um resultado, mais estresse ele gerará. Pode-se concluir com isso que esses fatores não foram percebidos pelos atletas a ponto de gerar estresse e aumentos nas concentrações de cortisol.
Conclusão
O tempo de prática dos lutadores de Mixed Martial Arts (MMA) não apresentou diferenças significativas sobre a concentração de cortisol salivar entre as situações de repouso, pré e pós competição. Desta forma podemos afirmar que a experiência não influenciou a secreção do hormônio cortisol deste estudo. Assim deve-se considerar outros aspectos que podem alterar o estado de homeostase levado os atletas a situações de estresse. Outros estudos são necessários com diferentes populações, maior número de participantes e diferentes sexos para se obter conclusões mais plausíveis.
Referências bibliográficas
ATKINSON, R. L.; ATKINSON, R. C.; SMITH, E. E.; BEM, D. J.; INOLEN-HOEKSEMA, S. Introdução à psicologia: de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
CARLSON, L. E.; CAMPBELL, T. S.; GARLAND, S. N.; GROSSMAN, P. Associations among salivary cortisol, melatonin, catecholamines, sleep quality and stress in women with breast cancer and healthy controls. Journal of Behavioral Medicine, vol. 30, n. 1, p. 45-58, 2007.
CORBETT, B.A.; MENDOZA, S.P.; BAYM, C.L.; BUNGE, S.A.; LEVINE, S. Examining cortisol rhythmicity and responsivity to stress in children with Tourette syndrome. Psychoneuroendrocrinology, vol. 33, p. 810-820, 2008.
ELLENBOGEN, M. A.; SCHWARTZMAN, A. E.; STEWART, J.; WALKER, C. Stress and selective attention: The interplay of mood, cortisol levels, and emotional information processing. Psychophysiology, vol. 39, p. 723-732, 2002.
ERICKSON, K.; DREVETS, W.; SCHULKIN, J. Glucocorticoid regulation of diverse cognitive functions in normal and pathological emotional states. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, vol. 27, p. 233-246, 2003.
GILPIN, H.; WHITCOMB, D.; CHO, K. Atypical evening cortisol profile induces visual recognition memory deficit in healthy human subjects. Molecular Brain, vol. 1, p. 4, 2008.
GOTTSCHALK, M.; KUMPFEL, T.; FLANCHENECHER, P.; UHR, M.; TRENKWALDER, C.; HOLSBOU, F.; WEBER, F. Fatigue and regulation of the hypothalamus-pituitary-adrenal axis in multiple sclerosis. Arch. Neurol. Vol. 62, p; 277-280, 2005.
HODGSON, N.; FREEDMAN, V. A.; GRANGER, D. A.; ERNO, A. Behavioral correlates of relocation in the frail elderly: Salivary cortisol, affect, and cognitive function. Journal of American Geriatrics Society, 52, p. 1856-1862, 2004.
KELLNER, M.; YEHUDA, R.; ARLT, J.; WIEDMANN, K. Longitudinal course of salivary cortisol in post-traumatic stress disorder. Acta Psychiatrica Scandinavica, vol. 105, p. 153-156, 2002.
KUWAK, T.; WEIZHANG; NAKAMURA, A.; DENG, B. Emotional and state-dependent modification of cardiorespiratory function: Role of orexinergic neurons. Autonomic Neuroscience: Basic and Clinical, vol. 142, p. 11-16, 2008.
NIEMAN, D. C. Exercício e saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício como seu medicamento. 1. ed. Barueri: Manole, 1999.
PAGANI, M.; PIZZINELLI, P.; TRAON, A.; FERRERI, C.; BELTRAMI, S.; BAREILLI, M.; SALON, M.; BÉROUD, S.; BLIN, O.; LUCINI, D.; PHILIP, P. Hemodynamic, autonomic and baroreflex changes after on night sleep deprivation in healthy volunteers. Autonomic Neuroscience: Basic and Clinical, 145, p. 76-80, 2009.
PARIANTE, C. M.; MILLER, A. H. Glucocorticoid receptors in major depression relevance to pathophisiology and treatment. Biol. Psychiatry, vol. 49, p. 391-404, 2001.
RICHMAN, L. S.; JONASSAINT, C. The effects of race-related stress on cortisol reactivity in the laboratory: Implications of the Duke Larrosse scandal. Am. Behav. Med, vol. 35, p. 105-110, 2008.
RIMMELE, U.; SEILER, R.; MARTI, B.; WIRTZ, P. H.; EHLERT, U.; HEINRICHS, M. The level of physical activity affers adrenal and cardiovascular reactivity to psychosocial stress. Psychoneuroendocrinology, vol. 34, p. 190-198, 2009.
SARAIVA, E. M.; FORTUNADO, J.M.S.; GAVINA, C. Oscilações do cortisol na depressão e sono/vigília. Revista Portuguesa de Psicossomática, vol. 7, n.2, 2005.
STOKES, P. E. The potential role of excessive cortisol induced by HPA hyperfunction in the pathogenesis of depression. European Neuropsychophamacology Supplement, p. 77-82, 1995.
WEINBERG, R. S. ; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2. ed. Porto Alegre : Atmed, 2001.
WOLKOWITZ, O. M.; REUS, V. I. Treatment of depression with antiglucocorticoid drugs. Psychosomatic Medicine, vol. 61, p. 698-711, 1999.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires,
Agosto de 2010 |