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Bullying nas aulas de Educação Física e o papel do professor

Bullying en las clases de Educación Física y el rol del profesor

 

*Graduanda em Licenciatura em Educação Física.

**Mestre em Ciência da Motricidade Humana, UCB, RJ

Centro de Ensino Superior do Amapá, CEAP, AP

(Brasil)

Dienny Salomão Furtado*

diennysalomao@bol.com.br

Paulo José dos Santos de Morais**

paulojose@ceap.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi investigar a atitude de Professores de Educação Física do Ensino Fundamental, mediante a possível ocorrência do Bullying. Considera-se a necessidade de intervenções dos professores, visto que, eles estabelecem uma relação direta com seus alunos, tendo possibilidade de influenciá-los, principalmente, em sua conduta. Esta pesquisa realizada de cunho exploratório utilizou-se de instrumentos de observação direta intensiva e observação direta extensiva. Observou-se a presença do fenômeno nas aulas de Educação Física, onde os professores apresentaram uma postura autoritária e omissa diante o problema. Adotar estratégias de prevenção parece ser a maneira mais adequada para reduzir a chance de que este (Bullying) e outros problemas, como, as dificuldades emocionais e de aprendizagem sejam desenvolvidos.

          Unitermos: Bullying. Ensino fundamental. Educação Física. Professor.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    A violência escolar é questão que requer um olhar atento dos profissionais da educação, entretanto, quando a tratamos, visualizamos apenas uma série de situações nas quais os educandos trocam chutes, se ferem, se batem, quebram pertences. Na realidade, a violência é bem mais ampla e se manifesta nos relacionamentos educativos, no processo de ensino-aprendizagem ou até mesmo no currículo escolar (CÉZAR & NETA, 2008).

    Nesse contexto, há um tipo de violência não menos cruel, nem menos incidente no âmbito escolar: o Bullying. Praticar humilhações, discriminações, gozações, apelidos constrangedores, intimidações, perseguições, ou seja, tencionar, de alguma forma, desmoralizar seus receptores, e a partir do momento em que estes passam a sofrer as conseqüências desses atos, tenham eles reflexos no âmbito afetivo ou na aprendizagem, se tornam vítimas desse tipo de violência.

    Felizardo (2007) e Santos (2007) definem Bullying como “toda forma de agressão, física ou verbal, exercida de maneira contínua, sem motivo aparente, causando conseqüências que vão do âmbito emocional até na aprendizagem”. A incidência desse fenômeno tem sido um problema cada vez mais presente dentro das escolas (COLOVINI & COSTA, 2006), sejam públicas ou privadas podendo trazer conseqüências negativas para o aluno, demonstrando, com isso, que intervenções no sentido de coibi-lo devem ser efetivas.

    Somente a partir da década de 1970 o fenômeno passa, pela primeira vez, a ser objeto de investigação na Noruega, na procura de entender o número crescente de tentativas de suicídio entre os adolescentes nas escolas. Pesquisas e campanhas passaram a disseminar conhecimentos sobre suas causas e investigar estratégias preventivas para este fenômeno objetivando reduzir a incidência de comportamentos agressivos nessas escolas (SIQUEIRA, 2008).

    Um dos primeiros pesquisadores a estudar o fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade de Bergen, na Noruega, que desde o início da década de 1970, vem realizando pesquisas em escolas norueguesas com relação às conseqüências que o Bullying pode acarretar em suas vítimas, dando por meio destas, mais tarde, origem à Campanha Nacional Anti-Bullying (SANTOS, 2007).

    No Brasil, as pesquisas em relação ao fenômeno Bullying ainda estão em fase inicial, apesar de suas implicações e relevância. Um dos trabalhos de maior visibilidade foi desenvolvido pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA, 2003), que em parceria com a Petrobrás, realizou o “Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes” em 11 escolas do município do Rio de Janeiro, com a participação de 5.875 alunos de 5ª a 8ª séries. Os resultados divulgados mostraram que 40,5% desses alunos estavam envolvidos com o Bullying, seja como agressor, vítima ou em ambas as posições.

    Hoje é reconhecido que o Bullying, como fenômeno social, pode surgir em diversos contextos, como parte de problemas de relações pessoais entre adultos, jovens e crianças em diferentes locais, como: escola, ambiente familiar, trabalho, prisões, asilos de idosos, clubes e parques, entre outros (CARVALHO, 2005).

    Assim, o Bullying não é fenômeno exclusivo da escola, apenas existem condições que favorecem sua ocorrência dentro do espaço escolar. Outrossim, é um fenômeno social que acaba sendo visto inicialmente na escola por ser o segundo ambiente de socialização que temos em nossa cultura, excetuando-se a família que a ela é concedida a primeira e mais importante geratriz dos valores e princípios do ser humano.

    Sendo assim, a família, veículo na formação da personalidade do indivíduo, deve estabelecer um laço afetivo, baseado em uma relação de carinho, amor, respeito, tolerância, cooperação, solidariedade, desenvolvendo a auto-estima e a autoconfiança da criança, possibilitando-a lidar com seus próprios sentimentos, emoções e com os conflitos surgidos nas relações interpessoais, criando mecanismos de defesa e de auto-superação (FANTE, 2005).

    Tendo a escola, consciência de que o Bullying não é um problema de sua exclusiva responsabilidade, mas que, no entanto, sua omissão pode vir também a contribuir para a conduta agressiva do indivíduo, deve tomar medidas de intervenção que incentivem a participação e o acompanhamento dos pais na vida escolar das crianças, conscientizando-os de seu papel.

    Assim como, surge também, a necessidade do professor apresentar a sua contribuição, de forma que seu trabalho esteja intrinsecamente relacionado sob uma postura de prevenção e auxílio diante da exposição dos fatos para que, assim, se obtenha resultados mais efetivos, frente à complexidade dos casos que se remetem ao Bullying.

    A Educação Física é uma disciplina curricular de enriquecimento cultural, fundamental à formação da cidadania dos alunos, baseada num processo de socialização de valores morais, éticos e estéticos, que consubstancia princípios humanistas e democráticos. Para isto, através de seus profissionais, deve dar a sua contribuição para a superação da violência, que deixa marcas, por vezes irreversíveis nos alunos, seja no aspecto corporal, moral ou emocional (CHAVES, 2006). Oliveira e Votre (2006) confirmam a incipiência do tema quando mencionam que “[...] na Educação Física ainda não se encontra quase nada a respeito [...]”.

    Este trabalho, de cunho exploratório e, utilizando instrumentos de observação, teve como objetivo investigar a atitude de Professores de Educação Física do Ensino Fundamental, mediante a possível ocorrência do Bullying, e se espera, somar com pesquisas existentes, bem como, proporcionar uma efetiva contribuição ao desempenho profissional no âmbito escolar, uma vez que níveis elevados de violência estão atingindo as escolas.

Procedimentos metodológicos

    O presente estudo caracteriza-se como pesquisa exploratória visando proporcionar maior familiaridade com o problema de modo a torná-lo explícito ou a construir hipóteses (PIOVESAN & TEMPORINI, 2005), tendo o estudo de caso como foco norteador, contendo uma abordagem quanti-qualitativa. Envolveu levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e análise de exemplos que estimulassem a compreensão. (SILVA, 2004).

    Foi desenvolvido em Escola Estadual no município de Macapá, capital do Amapá, Norte do Brasil, funcionando nos três turnos, sendo que no período matutino e vespertino, se realizou a coleta de dados, com alunos do Ensino Fundamental II (5° a 8° série). A Direção da escola assinou uma declaração autorizando a realização desta pesquisa e os professores da escola assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que autorizou a sua participação na pesquisa.

    Foram considerados sujeitos dessa pesquisa três professores de Educação Física todos lecionando no ensino fundamental II, sendo que um trabalha em turno matutino e vespertino, lecionando para 5ª e 6ª série, outro apenas no matutino e outro somente no vespertino com ambos lecionando para 7ª e 8ª série.

    As informações coletadas foram obtidas por meio de observação direta intensiva e observação direta extensiva, que permitiram identificar e saber as atitudes, posicionamentos e comportamentos do professor e dos alunos nas aulas de Educação Física.

    Foram utilizadas duas técnicas de observação: a assistemática e a não-participante. A assistemática, também denominada informal, consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas. É mais empregada em estudos exploratórios e não tem planejamento e controle previamente elaborados. (LAKATOS & MARCONI, 2008). Os registros foram realizados por meio de anotações escritas e câmara fotográfica da marca Sony Cyber-shot 7.2 Mega Pixels pelo mesmo observador.

    A não-participante, também conhecida como observação passiva. O pesquisador não se integra ao grupo observado, permanecendo de fora. Presencia o fato, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações, faz mais o papel de espectador. Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim determinado. O procedimento tem caráter sistemático (LAKATOS & MARCONI, 2008).

    Na observação direta extensiva foi utilizada somente uma técnica, a do questionário; técnica de investigação composta por questões apresentadas por escrito ao informante e por eles respondidas, também por escrito e sem a presença do pesquisador (LAKATOS & MARCONI, 2008).

    O questionário, elaborado de acordo com o referencial teórico (CARVALHO, 2005; GONTIJO & SABOIA, 2008; SANTOS, 2007), conteve 1 bloco de identificação, com o estado civil, idade, tempo de atuação na escola, escolaridade, disciplina, etc.; e 1 bloco com 11 questões sobre aspectos que envolvem a temática exposta, sendo 09 com enunciados fechados e duas questões abertas, a fim de saber como o professor lida e qual é a sua percepção diante de casos de Bullying no ambiente escolar. Juntamente com o questionário, foi entregue para cada professor participante um texto, que teve por objetivo esclarecer o que é Bullying.

    Foram observadas 24 aulas no total de todas as turmas, 4 aulas em cada turma, duas aulas em cada semana, perfazendo dois encontros em cada turma, entre os dias 10 de março a 09 de abril de 2010 em 6 (seis) turmas divididas em 3 (três) ensinos fundamentais II com 3 professores de Educação Física, sendo uma turma da 7ª e uma da 8ª série do professor A, uma da 5ª e uma da 6ª série do professor B e uma da 7ª e uma da 8ª série do professor C.

Apresentação e discussão dos resultados

    Os dados obtidos através da observação foram descritos e discutidos conforme os acontecimentos presenciados durante as aulas. As respostas obtidas nos questionários serão apresentadas na forma de tabelas e figuras.

    Foram identificadas agressões físicas (tapas, socos e chutes), verbais (apelidos, palavrões) e psicológicas (gozações, ameaças) por parte dos alunos. As agressões aconteciam com certa repetição, sem nenhum motivo à vista e sempre direcionadas aos mais tímidos, o que vai ao encontro do exposto por Fante (2005) para a qual o Bullying compreende todas as formas de agressão, exercidas de maneira repetitiva, sem motivação evidente, direcionadas sempre às pessoas mais fracas”.

    Os eventos de Bullying ocorriam com mais freqüência quando os conteúdos das aulas eram focados somente na competição. Resultando em maior alteração no comportamento das turmas. Para Abramovay & Rua (2002) a violência existente entre os estudantes nas escolas é freqüentemente estimulada mais nas disputas esportivas, mostrando, desta forma, a necessidade do esporte ser trabalhado em uma nova proposta pedagógica, voltada para a união, cooperação, respeito, amizade, tolerância e solidariedade, valores que são construídos por meio de um esporte ou jogo ético.

    Quando alguém - ou algum grupo - perdia o jogo, ocorriam: zombarias com o colega que era empurrado e recebia tapas na cara; comentários maldosos do tipo “você não sabe jogar”, “joga direito” ou “sai do jogo”; palavrões, sendo excluído da brincadeira, não lhe dando chance para participar novamente, devido sua “incapacidade” de vencer ou de ajudar seus colegas a vencerem o jogo.

    Houve ocorrência de ações diretas e indiretas pelos alunos, estas que segundo Neto e Saavedra (2003), configuram os dois tipos de ações de Bullying. As ações diretas subdivididas em físicas - bater, chutar, roubar pertences - e verbais - apelidos, insultos, atitudes preconceituosas - e as ações indiretas, emocionais, que se relacionam com a disseminação de histórias desagradáveis, indecentes ou pressões sobre outros, para que a pessoa seja discriminada e excluída de seu grupo social.

    As situações de agressões nas aulas eram praticadas mais por meninos do que pelas meninas. Agressividade e competitividade se associaram fortemente aos meninos, enquanto para as meninas predominou mais a fragilidade. Para Myers (2000) “a agressividade refere-se ao ato de ferir o outro, física ou simbolicamente”, e os homens, mais voltados às atividades tipicamente masculinas, como caçar, lutar e guerrear, são mais propensos à agressividade do que as mulheres. Isto não quer dizer que o comportamento agressivo não apareça nas meninas, pois elas também o são, principalmente entre si.

    Não se observou, durante a realização do estudo, tanto por parte da escola como dos professores, o seguimento e a atenção aos objetivos do ensino fundamental propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's, 1998) que preconizam que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais; de participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, adotando, no dia-a-dia, atitudes de respeito mútuo, dignidade, solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças.

    O Bullying ocorre com maior freqüência e gravidade entre a faixa etária de 11 a 14 anos, sendo menos freqüente na educação infantil e no ensino médio. É a partir dos onze anos que as posições de agressor e vítima começam a ficar evidentes nas manifestações desse fenômeno (FANTE, 2005; NETO, 2005).

    Os professores (A e B) em suas aulas, sempre comparavam o desempenho de um aluno que executava um movimento certo com o outro que errava, por exemplo, o saque do voleibol, dizendo para esse “não sabe de nada”, “burro!”, “desinteressado!”, “não tem raciocínio”, castigando-o com flexão de braço. Para os que não prestavam atenção e faziam bagunça nas suas aulas, eram também castigados dessa maneira, ou proibidos de participar das mesmas.

    O professor que critica constantemente o seu aluno, comparando-o com outro a respeito da sua capacidade intelectual e motora, o ignora, e o expõe a ser mais uma vítima do Bullying. Os outros alunos ao verem esta atitude do professor poderão pensar que humilhar é uma atitude normal de relacionamento, podendo se basear nas atitudes desse docente, desrespeitando seus colegas e até mesmo ao professor promovendo na sala de aula um ambiente de insegurança com conflitos constantes (ABRAPIA, 2003; FANTE, 2005; JORGE, 2009; SANTOS, 2007).

    Os professores (A e B) diante casos de Bullying tinham por hábito dar as chamadas broncas, expondo os alunos agressores a situações constrangedoras, ameaçando-os de não ir ao banheiro ou beber água, ou deixando-os sem aula, utilizando de uma forma de controlar a turma, porém, passado um pequeno espaço de tempo, as ofensas tornavam a acontecer. Em nenhum momento fizeram com que os alunos refletissem sobre o acontecido, e não mantinham diálogo com os mesmos.

    De acordo com Souza (2007), é necessário que os professores não culpem a criança ou o jovem por agredir ou não se defender, mas conversem com ela sobre o tema, pois neste momento precisam mais de ajuda do que punição, além da necessidade de reflexão de sua família e da escola.

    O professor C não se mostrava preocupado com as ocorrências do Bullying, não procurava se envolver muito com seus alunos, se mostrando passivo e omisso diante os problemas em sala de aula, somente chamava a atenção do agressor que ainda eram raríssimas vezes, estava preocupado em apenas cumprir o conteúdo didático.

    Os professores estavam mais preocupados em cumprir suas funções didáticas, de atender à necessidade de cumprir o cronograma de matérias e tarefas, o que vai ao encontro com a denúncia exposta por Camacho (2007). Tal postura se justifica a certas limitações existentes entre os educadores, uma delas é despreparo ou falta de interesse de saber como agir, principalmente no que diz respeito a questões práticas encontradas no dia-a-dia, como a violência, nas suas variadas manifestações (JORGE, 2009).

    A Educação Física ao tratar de temas como a Ética pode atuar de maneira positiva na prevenção do Bullying, pois ao levantar questões relevantes onde se prioriza o convívio escolar, como o respeito mútuo, o diálogo, a justiça, a solidariedade, valores que podem ser exercidos dentro de contextos significativos, estabelecidos em muitos casos de maneira autônoma pelos próprios participantes. E podem, para além de valores éticos tomados como referência de conduta e relacionamento, se tornar procedimentos concretos a serem exercidos e cultivados nas práticas da cultura corporal.

    Na tabela 1 encontram-se reunidas as respostas às questões fechadas do questionário e representa a postura e a percepção dos professores diante de casos de Bullying no ambiente escolar.

Tabela 1. Casos de Bullying no ambiente escolar segundo professores (n=3)

    Na figura 1 estão respostas obtidas à questão 10 do questionário sobre quais ações a escola pode implementar para o enfrentamento do Bullying?

Figura 1. Ações que a escola pode implementar para o enfrentamento do Bullying

    Na figura 2 são apresentadas as respostas obtidas à questão 11 do questionário: onde se origina o Bullying?

Figura 2. Origem do Bullying

    Na 1º questão nota-se que os docentes já ouviram falar ou leram algo sobre o fenômeno, ou seja, embora tema recente de estudos no Brasil, pois pesquisas sobre o assunto começaram a ganhar espaço a partir do ano 2000, já se encontram um número considerável de livros, trabalhos acadêmicos, publicações sobre o tema em revistas educacionais, e reportagens na mídia (JORGE, 2009).

    No entanto, devido falta de estudos sobre o fenômeno durante sua vida acadêmica, evidenciado na 2º questão, observa-se que os professores conhecem o Bullying, porém é um conhecimento muito superficial, ainda de maneira geral, nada aprofundado e específico na sua área de atuação.

    Na 3º e 4º questão em relação à prática do Bullying entre os alunos na escola percebe-se que os professores têm consciência sobre esse fenômeno. “é necessário que a comunidade escolar esteja consciente da existência do fenômeno e, sobretudo, das conseqüências advindas desse tipo de comportamento.” (FANTE, 2005) para que seja capaz de agir e combater esse comportamento cada vez mais freqüente nas escolas.

    A escola e o educador devem conhecer as formas de violência que seus alunos podem sofrer, de modo a poderem encaminhar soluções, bem como, tratar do tema de forma a prevenir novos casos. Ações como encontros com pais e alunos, internalizando a noção de que a questão da violência não é apenas sua, mas também do outro, e deste modo poder contribuir para um novo momento, em que se enfrente o problema. Ou seja: escola, educadores, família e comunidades envolvidas, buscando em conjunto a prevenção da violência (ASSIS, 1994).

    Na 5º e na 6º questão os professores mostram que têm a consciência da possibilidade de gerar casos desse fenômeno em algumas situações e afirmam que já realizaram e realizam intervenção, que segundo as observações realizadas resumem-se a “chamar atenção” e a mais utilizada é aquela realizada sem a mínima cautela, diálogo e reflexão do professor para com os alunos sobre seus atos, fato que descarta a existência de intervenção

    Para muitos professores “chamar a atenção” é visto como uma intervenção cabível diante o Bullying, porém há varias formas de executar esta ação (CARVALHO, 2005). A forma como o professor se impõe em sala de aula pode servir de modelo educativo e dessa maneira o transformar-se num exemplo para seus alunos. Para Neto (2004) o Professor ao “adotar uma postura autoritária dará origem ao surgimento de condutas tiranas por parte de alguns alunos e outros poderão sentir medo e insegurança”.

    Tal assertiva vai ao encontro com a 7º questão ao mostrar que apesar dos professores afirmarem que às vezes sentem-se preparados para prevenir possíveis situações de Bullying, o que se percebe é a insegurança existente entre eles, parte por não possuírem conhecimento ou noção da maneira correta de agir e parte por falta de preparo constante, pois segundo Botelho & Souza (2007) a fragilidade em lidar com o fenômeno pode estar intrinsecamente relacionado aos poucos estudos voltados para identificação, prevenção e controle deste tipo de violência na área da Educação Física.

    O educador tem a grande responsabilidade na ação de combater a esse fenômeno. Sua função seria, de primeiro, chamar a atenção dos alunos com firmeza em relação ao respeito ao outro, à convivência social e às regras ligadas a esta, procurando dessa forma mostrar aos mesmos as conseqüências que seus atos desrespeitosos podem causar, tanto para o agressor como para a vítima do Bullying; de segundo, desenvolver todas as práticas e estratégias pedagógicas que favoreçam a educação voltada para as relações e para os enfrentamentos entre os membros do mesmo grupo-classe (CONSTANTINI, 2004).

    Em relação à 8º e 9º questão, os professores afirmam que não conhecem nenhum trabalho de intervenção da escola e dizem que esta não está preparada para intervir. Para Fante (2005) “a intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidades para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar”.

    Compreende-se que a escola precisa ser um local seguro, tranqüilo, agradável e solidário, que possa ter o compromisso de promover uma educação de qualidade, permitindo à criança aprender a socializar-se, desenvolver responsabilidades, defender idéias e, acima de tudo, assumir uma autonomia própria. Porém, para que esta atinja tal objetivo, faz-se necessária a iniciativa de prevenir a violência antes que ela se instale em seu meio e inviabilize o processo educativo, senão a recuperação eficaz deste ambiente, permitindo o desenvolvimento saudável do processo de ensino-aprendizagem do aluno (FANTE, 2005).

    Ao questionar quais ações a escola pode implementar para o enfrentamento do Bullying, 2 dos entrevistados responderam que a escola pode promover palestras, atividades sociais e campanhas educativas e 1 respondeu a formação continuada.

    Percebe-se que os professores têm consciência da necessidade de a escola planejar e desenvolver intervenções educativas que envolvam o Bullying. Para Neto (2004) “a escola deve propor em conjunto, com professores, alunos e pais, estratégias preventivas, no intuito de tornar a maneira mais eficaz de combater esse tipo de violência e melhorar o ensino”.

    Propiciar à comunidade a reflexão sobre sua própria realidade é dar-lhe direito de exercer a cidadania, a democracia e a criatividade na busca de soluções para seus próprios problemas, colocando em prática valores que devem permanecer enraizados no pensamento e nas atitudes dos alunos em sua vida adulta. É, acima de tudo, uma maneira solidária de cada um fazer a sua parte e, conjuntamente, modificar o ambiente em que vive, resultando, como conseqüência, na modificação da própria sociedade (FANTE, 2005).

    Com intuito de perceber o que professores entendem sobre a origem dessa prática, 2 (dois) a consideram um fenômeno social, originado por uma somatória de fatores, e 1 (um) respondeu ser originado na família e na escola. Damke (2007) e Fante (2005) informam que o comportamento agressivo existente nas escolas é hoje o fenômeno social mais complexo de compreender, por ser resultante de vários fatores externos como internos à escola, afetando a sociedade como um todo.

    Os fatores externos estão relacionados sob a influência do contexto social, familiar e dos meios de comunicação. Os internos pela influência do clima escolar, das relações interpessoais e da relação professor – aluno (DAMKE, 2007).

    Portanto, a escola não é exclusivamente responsável pelo comportamento agressivo dos alunos, há vários fatores fluentes, mostrando que todos esses devem estar comprometidos pela prevenção do fenômeno nesta, impedindo sua proliferação. Para Assis (1994) “a ação solidária de cada um, individualmente, e de todos unidos é, portanto, uma necessidade urgente”.

Considerações finais

    Há casos de Bullying nas aulas de Educação Física observadas, principalmente quando a aula prioriza atos de competição. Havendo uma incidência de atos agressivos, acrescida a falta de opções de estímulos positivos, de conscientização e de conhecimento sobre o universo lúdico, e incremento de atitudes capazes de influenciar atitudes e condutas de rebeldia.

    Embora os professores se considerem conhecedores do assunto, mostraram-se distantes com respeito aos problemas que ocorrem no interior da sala de aula, assumindo uma postura ora autoritária, ora de omissão, ocasionadas por não saberem como intervir. O professor tem papel fundamental na prevenção e combate ao Bullying na sala de aula, porém se ele adota uma postura ausente e não interfere nestes atos agressivos, o fenômeno continua presente.

    Adotar estratégias de prevenção, bem como detectar precocemente o problema (Bullying) parece ser a maneira mais adequada para reduzir a chance de que este e outros problemas, como, as dificuldades emocionais e de aprendizagem sejam desenvolvidos. Logo, deve-se preocupar com a capacitação e a formação continuada dos professores, dando-lhes subsídios para conhecer melhor e saber como intervir e diminuir os casos de Bullying, assumindo, uma postura crítica diante do problema.

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revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
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