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Atividade física e envelhecimento: 

epidemiologia e processo saúde-doença

La actividad física y el envejecimiento: la epidemiología y el proceso salud-enfermedad

Physical activity and aging: epidemiology and health-illness process

 

Curso de Educação Física

Faculdade Adventista de Hortolândia

(Brasil)

Helena Brandão Viana

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Realizar pesquisas epidemiológicas com a população idosa é importante, porém desafiador. O crescente número de idosos traz implicações para o sistema de saúde, incluindo os altos custos dos tratamentos. Epidemiologia é a ciência que investiga as causas e controles de doenças em uma população. Entretanto, epidemiologia é, mais especificamente, um método para avaliar comportamentos relativos à saúde, ao meio-ambiente e aos fatores genéticos que impactam a saúde pública. A percepção de pessoas idosas sobre sua doença e dependência de medicamentos pode na verdade tornar as pessoas idosas doentes e dependentes. Atividades físicas podem proporcionar uma menor dependência e um maior bem-estar percebido. Limitações de saúde têm uma influência direta sobre os padrões de atividades físicas de pessoas idosas, pois crenças a respeito do risco de exercícios vigorosos na velhice aumenta a probabilidade de sedentarismo entre os idosos.

          Unitermos: Epidemiologia. Envelhecimento. Atividade física.

 

Abstract

          Conducting epidemiological research in elderly populations is important, but challenging. The growing numbers of older people promote implications for the health system, including higher costs of treatments. Epidemiology is the science which investigates the causes and control of disease in a community. However, epidemiology, more specifically, is a method to evaluate health behaviors, and environmental and genetic factors and their impact on public health. Perceptions of old people about their illness and dependent upon medical intervention may actually to become older people sick and dependent. Physical activities can promote less dependence and improve perceived well being. Health limitations clearly have a direct influence on older people physical activity patterns, because beliefs about the risks of vigorous exercise during old age improve probability of sedentary among older people.

          Keywords: Epidemiology. Aging. Physical activities.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

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Introdução

    Segundo Chaimowicz (2006) estamos vivendo num momento de transição epidemiológica. Esse termo foi cunhado por Omran em 1971 e se refere à mudança dos padrões de morbidade, invalidez e morte. A transição epidemiológica é composta de 3 características principais. A primeira é a substituição das causas de morte; doenças transmissíveis, não transmissíveis e causas externas. A segunda é o aumento da morbimortalidade entre os jovens e atualmente muito presente entre os mais velhos. A terceira é a morbidade dominante. Segundo o autor, há uma correlação direta entre os processos de transição da estrutura etária e epidemiológica (CHAIMOWICZ, 2006).

    Com o advento de novas tecnologias e medicamento, houve uma modificação no padrão de doenças na população. A queda inicial de doenças se concentra entre as doenças infecciosas e tende a beneficiar os jovens. Esses jovens que sobrevivem a esses processos infecciosos passam a conviver com os fatores de risco para doenças crônico-degenerativas. À medida que cresce o número de idosos e aumenta a expectativa de vida tornam-se vez mais freqüentes as complicações daquelas moléstias. Essa transição está mudando o perfil de saúde da população, pois ao invés de processos agudos, que anteriormente eram sanados por meio da cura ou do óbito, tornam-se predominantes as doenças crônico-degenerativas e suas complicações, que resultam em muitos anos de sobrecarga de utilização dos serviços de saúde.

    No Brasil esse processo tem ocorrido de uma forma um pouco diferente e mais sombrio ainda, pois não tem ocorrido uma transição da estrutura etária, mas uma sobreposição. Embora muitas doenças tenham sido controladas através de vacinas, outras doenças têm surgido ou voltado a afetar grandemente a população, como a dengue, o cólera e a malária. No Brasil também temos uma situação epidemiológica diferente para cada região do país.

    Portanto, embora a expectativa de vida no mundo esteja aumentando, há uma perspectiva sombria para o futuro, onde teremos idosos mais dependentes por problemas de saúde, com menor renda e com um número maior de doenças crônicas e estado de morbidade. Para que possamos atingir um envelhecimento populacional bem sucedido, precisaremos que uma fatia muito maior da população tenha acesso às inovações da ciência e da melhoria nos serviços de saúde.

Epidemiologia e atividade física

    Relacionando a os aspectos epidemiológicos do envelhecimento com a atividade física, trazemos a contribuição de Matsudo (apud Litvoc e Brito, 2004). A autora cita que “como grande parte das evidências epidemiológicas sustenta um efeito positivo de um estilo de via ativo e/ou do envolvimento dos indivíduos em programas de atividade física e exercícios na prevenção e minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento”, a ciência cada vez mais enfatiza a necessidade de que a atividade física seja parte fundamental dos programas mundiais de promoção de saúde. Segundo a autora, é muito evidente a relação da atividade física, o exercício e a longevidade. Os benefícios da atividade física são extremamente abrangentes. Como benefícios psicológicos, temos a melhora da auto-estima, da auto-imagem, do bem-estar, a diminuição da incidência e sintomas de depressão e a diminuição do isolamento social. A atividade física também alivia o estresse e mantém a autonomia do indivíduo. Os benefícios fisiológicos incluem a diminuição da pressão arterial, o aumento da força muscular, aumento da densidade óssea e minimização da perda óssea, aumento da resistência física, da mobilidade articular e um maior controle do peso corporal.

    Matsudo (apud Litvoc e Brito, 2004) relata a importância de estimular a prática de atividade física entre os idosos e entre os adultos e jovens para que estes cheguem à velhice com melhor capacidade funcional. A atividade física atua na prevenção de inúmeras doenças e está associada à melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida.

    Matsudo (2001) aponta para os motivos que levam o idoso à prática de atividades físicas. Citando o estudo de Andrade et al (2000), os motivos mais apontados por pessoas acima de 50 anos, foram orientação médica, influência de amigos, familiares, procura por companhia, convite de colegas de trabalho e programas institucionais que convidam a comunidade à prática de atividades físicas.

    Embora vários estudos tragam a informação que a maior parte da população idosa é saudável e podem ser ativa fisicamente, outros estudos revelam que a maioria dos idosos tem vida sedentária ou não fazem atividades físicas regularmente. As barreiras mais comuns apresentadas pelos idosos para não praticarem atividades físicas, além de problemas graves de saúde, são a diminuição da velocidade de marcha, depressão ou sintomas depressivos. Estudos de Satariano et al (2000, apud Matsudo, 2001), mencionam que mulheres deixam de fazer atividades físicas por falta de companhia. A fadiga e problemas funcionais também foram mencionados, como medo de quedas e fraturas.

Processo saúde-doença

    Ao relatar sobre o processo saúde-doença, ficará ainda mais evidente a importância da adoção de um estilo de vida ativo. Spirduso (2005, p. 316) menciona que “na idade avançada, as perdas são inevitáveis e cumulativas. As perdas de massa muscular, força, resistência física, flexibilidade e coordenação são óbvias e visíveis”. Conforme envelhecemos nosso estado de saúde se torna mais tênue e aumenta a incidência de doenças, doenças mais graves e maiores períodos de recuperação. Segundo Spirduso (2005, p. 317) “é difícil para os indivíduos de qualquer idade enfrentar desafios emocionais quando sua saúde física está comprometida”. Para o idoso que têm problemas adicionais como conviver com a artrite, glaucoma, catarata, problemas cardíacos, osteoporose é ainda mais difícil.

    Todos esses fatores de saúde, que afetam o aspecto emocional, afetam também o estilo de vida. “É difícil separar a relação entre saúde emocional, saúde física, condicionamento físico e o processo comportamental de exercitar-se” (SPIRDUSO, 2005, p. 321). Segundo a autora, os indivíduos com saúde debilitada, níveis de estresse elevado, ansiosos, depressivos e com baixos níveis sócio-econômicos têm menor probabilidade de participar de práticas de saúde benéficas.

    O tratado de Geriatia e Gerontologia traz a informação das doenças que mais acometem os idosos. São elas: doenças respiratórias, insuficiência cardíaca, doenças cerebrovasculares, isquemia, hipertensão, doenças infecto-intestinais, diabetes mellitus, doenças renais e fraturas. Destas patologias citadas, a maioria, se não todas, são beneficamente influenciadas pela prática de atividade física regular e orientada. Muitas delas podem ser prevenidas, retardadas, ter seus sintomas aliviados através do exercício físico.

Considerações finais

    O idoso sedentário tem menor probabilidade de ser acometido de doenças, inclusive as de natureza psicológica como a depressão, ansiedade e outros problemas emocionais. Muitas vezes o idoso encara o processo de doença como sendo normal e esperado nessa fase da vida. Além disso, a doença muitas vezes provoca a diminuição das relações sociais, aumenta os cuidados e a necessidade de um cuidador. O declínio físico e a doença afeta psicologicamente o idoso (MONTEIRO, 2007). O autor ainda fala que a saúde e a doença não podem ser vistas como um fenômeno individual; este fenômeno é compartilhado e se estende a todos os outros corpos que convivem com o doente (p. 80). A prova disso é a incidência de doenças que acometem cuidadores que toma conta de pessoas com doenças crônicas, por muitos anos.

    Em nossa experiência prática, coordenando um projeto de atividade física para idosos e realizando algumas pesquisas, detectamos que houve no grupo partipante, diminuição de sintomas depressivos, diminuição de uso de medicamentos (ansiolíticos, anti-depressivos e para dormir), melhora da imagem corporal, da auto-estima e da percepção da qualidade de vida. Essas pesquisas corroboram os dados já encontrados na literatura e confirmam a influência da atividade física sobre o processo saúde-doença.

    Spirduso (2005, p. 335), aborda a relação que existe entre a saúde, a atividade física e a função emocional. Segundo a autora, a saúde física tem 3 facetas, sendo elas, a condição física, o estado funcional e o estado de saúde subjetiva. Essas 3 facetas, sofrem grande influência dos hábitos de atividade física. Na condição física, há inúmeros relatos sobre a influência de um estilo de vida ativo sobre o funcionamento cardiovascular, sobre as condições respiratórias, sobre os sistemas circulatório, gastrointestinal, hormonal entre outros benefícios. No estado funcional temos uma melhora na capacidade de realização das atividades diárias e nas atividades instrumentais de vida diária. O idoso ativo fisicamente tem melhora ou consegue manter essas capacidades funcionais em melhor condição que idosos sedentários. Outra faceta da saúde, segundo a autora, é o estado de saúde subjetiva. Em pesquisas realizadas por Neri (1998), sobre bem-estar subjetivo, ficou demonstrada a importância da percepção do idoso sobre seu próprio bem-estar. Ser positivo sobre seu estado de saúde é importante para qualquer indivíduo, mas particularmente para o idoso pode proporcionar uma real melhora em seu bem-estar.

    Em pesquisa realizada por Salgado e Viana (2004) com idosos ativos fisicamente e idosos sedentários, detectou-se que os idosos ativos tiveram melhor percepção de seus corpos, de sua capacidade funcional e um auto-conceito mais positivo do que o grupo de sedentários.

    Embora não seja simples determinar as relações causais da atividade física sobre os fatores emocionais e o processo saúde-doença, o que conhecemos sobre os efeitos positivos da atividade física regular sobre a saúde em geral, na prevenção de doenças e na promoção de um envelhecimento bem-sucedido, já justifica a necessidade de estimular a população idosa à prática regular de atividades físicas.

Referências

  • CHAIMOWICZ, F. Epidemiologia e o envelhecimento populacional no Brasil.. In: Freitas EV; Py L; Cançado FAX; Gorzoni ML; Doll J. (Org.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006, v. , p. 106-130.

  • LITVOC, J.; BRITO, F. C. Envelhecimento: Prevenção e promoção da saúde. São Paulo: Atheneu Editora, 2004.

  • MATSUDO, S. M. M. Envelhecimento e atividade física. São Paulo: CELAFISCS, 2001.

  • MONTEIRO, P. P. Envelhecer: histórias, encontros, transformações. São Paulo: Autêntica, 2005.

  • NERI, A. L. Qualidade de vida e idade madura. Campinas, SP: Papirus, 1998.

  • SALGADO, G. N.; VIANA, H. B. Auto-conceito e atividade física em idosos ativos e inativos fisicamente. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Educação Física. Centro Universitário Adventista São Paulo, 2004.

  • SPIRDUSO, W. W. Dimensões físicas do envelhecimento. São Paulo: Manole, 2005.

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