efdeportes.com

Verificando aproximações entre a Educação 

Física e as demais áreas do conhecimento na escola

Identificando las similitudes entre la Educación Física y otras áreas de conocimiento en la escuela

 

*Mestranda do Programa de Pós Graduação Associado UEM/UEL

**Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas

Professor/membro do Programa de Pós Graduação Associado UEM/UEL

***Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá

(Brasil)

Profa. Ana Luíza Barbosa Anversa*

Profa. Fabiane Castilho Teixeira*

Prof. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira**

Profa. Cíntia Csucsuly***

ana.beah@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A educação física escolar vem passando por modificações, principalmente a partir da década de 1980, quando se intensificaram as influências das ciências humanas. A partir de então, se fez necessário superar o dimensão motriz da educação física associando-a com os aspectos políticos sociais. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, a educação física se integrou a grade dos componentes curriculares, passando então a ser repensada por estudiosos, que buscaram consolidar as áreas de concentração e interesse para fortalecer a sua identidade. Buscando entender este processo de conquista e reconhecimento como componente curricular, o presente estudo teve como objetivo verificar as aproximações dos conteúdos da educação física com as demais áreas do conhecimento, averiguando como são sistematizados e estruturados os conteúdos, com base no projeto político pedagógico de uma instituição pública de ensino de Maringá, visando propor possíveis formas de readequação em busca de ações interdisciplinares. Foram realizadas por meio do método de estratégia descritiva documental, as análises dos conteúdos presentes do currículo do ensino fundamental, visando contribuir com o processo de estruturação e sistematização dos mesmos, verificando as possibilidades de aproximações das demais áreas com os conhecimentos da educação física escolar, para então, apontar formas plausíveis de readequar ou reorganizá-los dentro de uma proposta interdisciplinar ou de reestruturação curricular. Diante destes apontamentos, observamos que é possível ampliar e enriquecer o processo de ensino aprendizagem, proporcionando a participação ativa dos alunos, ao somatizarem seus conhecimentos sociais e culturais com os conteúdos técnicos científicos apresentados.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Currículo escolar. Interdisciplinaridade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010

1 / 1

Introdução

    O papel da educação física escolar vem passando por modificações ao longo de sua história, sobretudo, a partir da década de 1980, quando se intensificou as influências das ciências humanas no contexto escolar. Com base em Oliveira (2003), se fez necessário, a partir de então, aprender a lidar com a realidade e superar a dimensão motriz da educação física, extrapolando os conteúdos tradicionais.

    Com a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 (BRASIL, 1996), a educação física se integrou a grade dos componentes curriculares, passando então, a ser repensada por estudiosos, que buscaram consolidar suas áreas de concentração e interesse para fortalecer sua identidade, focalizando e estabelecendo objetivos que se relacionem com uma missão comum, que não se findem apenas no ensino de técnicas esportivas, mas que assuma dentro do componente curricular, a responsabilidade pelo trato pedagógico de conteúdos culturais, apoiando-se nos conhecimentos das ciências humanas, sociais e da saúde, para intervir em um sentido formativo dos aspectos psicológico, social e físico.

    Mediante a lei, vislumbramos entender a concepção da educação física escolar, a fim de contribuir com sua estruturação curricular, em especial, a partir de discussões com as demais áreas de conhecimento participantes do processo educacional, pois direta ou indiretamente, seus conteúdos podem estar interligados aos conteúdos tratados na disciplina.

    Buscando entender o processo pelo qual a educação física escolar vem passando para conquistar seu espaço e reconhecimento como componente curricular dentro do contexto educacional e, analisando a relação existente entre os conteúdos propostos por ela e as demais áreas de conhecimento que atuam em uma escola de Maringá, o presente estudo teve como objetivo verificar as aproximações dos conteúdos da educação física com as demais áreas do conhecimento, examinando como são sistematizados e estruturados os conteúdos, com base no projeto político pedagógico da instituição, para então, propor possibilidades de readequação em busca de ações interdisciplinares.

    Procurando atender aos objetivos, o texto encontra-se estruturado em quatro momentos. Inicialmente, apresentamos de forma sucinta a trajetória percorrida pela educação física, ressaltando suas principais conquistas e obstáculos no contexto escolar. Em seguida, apresentamos uma estrutura curricular e apontamentos acerca da interdisciplinaridade, chegando à proposta de readequação dos conteúdos em busca de sua concretização e, por fim, trazemos algumas considerações que entendemos como necessárias à conclusão das idéias apresentadas.

    Espera-se que esse trabalho some-se aos referenciais teóricos acerca do assunto, contribuindo para a sistematização e valorização da educação física escolar e, principalmente, disponibilize uma pesquisa que sirva de referencial para profissionais da área, a fim de instigá-los a rever suas intervenções pedagógicas.

Educação Física e escola: em busca da legitimação

    Quando pensamos em educação física escolar, nos reportamos a aulas livres, relacionadas ao jogar e brincar, e não uma disciplina curricular voltada para o pensamento, reflexão, avaliação e intervenção de um determinado contexto e situação. Tal definição do senso comum a respeito da área foi estabelecida devido ao seu percurso histórico, no entanto, a partir de sua legalização como componente curricular em 1996, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9394/96, os estudos na área se intensificaram, em busca de uma prática que não tivesse mais o fim em si mesma, e no ensino da técnica desportiva, mas que se voltasse para os conhecimentos corporais culturais e se apoiasse em fundamentações, além das ciências da saúde.

    A conjuntura deixou uma porta entreaberta para os profissionais da área, que começaram a se perguntar qual o papel da educação física no contexto sociopolítico e cultural, além de seu papel auxiliar no campo da saúde pública. Logo, a área que lidava com a aptidão física e o rendimento atlético, passou a ser reconhecida como área que aborda os elementos da cultura corporal, defendendo a psicomotricidade, ou seja, a educação “do” movimento ou “pelo” movimento. Hurtado (1987, p.19) a conceitua como “[...] a educação dos movimentos ou, objetivando melhor a utilização das capacidades psicofísicas da criança e favorecendo seu desenvolvimento”.

    Este marco pode ser considerado, o grande passo da educação física como área acadêmica. Novas concepções começam a efervescer, e muitos profissionais da área iniciam a defesa de uma visão crítica do esporte e se apóiam em outras áreas de conhecimento, como a antropologia, a sociologia, a psicologia e a história, consolidadas nas ciências humanas, demonstrando explicitamente a preocupação do papel social e político da educação, em busca da reconstrução da sociedade.

    De acordo com a concepção, Mello (2000), afirma que, a escola passa a ser vista, então, como meio para se chegar à transformação social, e todas as disciplinas que fazem parte do currículo escolar devem participar deste processo de questionamento da sociedade e formação do “homem crítico”, ou seja, tendo por intuito expandir o papel social e político e não mais se basear em uma orientação puramente tecnicista.

    Diante disso, a educação física e as demais áreas do conhecimento, sofreram reformas constitucionais educacionais, para atender tendências sociais. Um exemplo destas reformas está na lei nº 9394/96 sancionada pelo ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, na qual ficaram estabelecidas as novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), estabelecendo a educação física como componente curricular, o que a firmou como disciplina acadêmica, que deve ser ministrada com a carga horária determinada na grade e com autonomia, liberdade e flexibilidade em seus conteúdos.

    A educação física com apoio das leis assumiu certa legitimidade no contexto escolar, não sendo, de acordo com Moreira (2004), definida como atividade curricular, mas como disciplina importante na construção de uma cultura reflexiva, no qual o físico e a aptidão não é mais requisito básico para acesso aos seus conhecimentos.

    A abordagem da educação física como componente curricular, se fortaleceu no ano de 1998, quando o ministro Paulo Renato Souza, sanciona os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s). No entanto, questionamos se a educação física está dentro da escola apenas para cumprimento das leis ou por realmente ser entendida como disciplina que trabalha conteúdos imprescindíveis para os educandos? Como romper este paradigma (imaginário social) e construir um novo, com base em uma formação para a vida, com consistência teórica e que proporcione aos freqüentadores do sistema educacional “autonomia” sobre o conhecimento da educação física para suas vidas?

    Para responder tais questionamentos, cabe aos profissionais da área analisar sua prática docente e verificar se suas aulas abrangem algumas das possibilidades encontradas dentro dos conteúdos da educação física escolar, já que se aponta, de acordo com Oliveira (1994) que o despreparo dos professores, a falta de interesse em estimular novas abordagens metodológicas e a desarticulação dos conteúdos da área com as demais disciplinas, como um dos possíveis responsáveis pela descaracterização da disciplina de Educação Física. Sendo assim, o tópico subseqüente busca apresentar uma possibilidade de trabalho interdisciplinar, interligando os conteúdos das diferentes áreas em busca de movimento dinâmicos entre o conhecimento empírico (visão caótica do todo) e o conhecimento científico (proporcionado pelo ambiente escolar).

Estrutura curricular e interdisciplinaridade: possíveis aproximações

    Para que pudéssemos alcançar os objetivos pretendidos a presente pesquisa, fez-se necessário levantar os conteúdos propostos por todas as áreas de conhecimento atuantes em um Colégio da Cidade de Maringá por meio do método de estratégia descritiva documental, analisando os conteúdos abordados neste nível de ensino.

    Segundo Barros e Lehfeld (1986), esta ferramenta de pesquisa permite ao pesquisador observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos variáveis sem manipulá-los. Guba e Lincoln (1981) ressaltam que este tipo de pesquisa apresenta uma série de vantagem, devido ao uso de documentos na pesquisa ou na avaliação educacional, devido ao fato dos documentos serem fontes estáveis e ricas em informações, garantindo estabilidade aos resultados obtidos.

    Triviños (1987) destaca também que este tipo de pesquisa, visa descrever um processo de uma organização, o nível de atendimento de entidades, dispondo-se a descobrir a existência de associações entre variáveis.

    Ao analisarmos o projeto político pedagógico do colégio em questão, percebemos que está embasado na metodologia histórico - critico, proposta Saviani (1997) e sistematizada por Gasparin (2002), que tem sua prática pedagógica apoiada na reflexão crítica, colocando o aluno como ser social e, partindo de uma teoria dialética do conhecimento, ou seja, partindo de uma prática social, questionando-a e analisando-a dentro de uma ação cotidiana, tornando guia na construção de um conhecimento teórico, a partir da prática social, do questionamento e análise da ação.

    Assim, a pedagogia histórico-crítico prima por uma tendência que revisitasse o papel da escola, de modo a transformá-la numa escola contextualizada com a realidade local, atingindo assim as camadas populares.

    O projeto político pedagógico estruturado pela escola salienta que a “[...] formação educacional se fundamenta em pressupostos histórico-filosóficos, pautada no desenvolvimento humano e social, e deve ter como alvo principal a formação inicial organizada curricularmente de forma que os conteúdos garantam uma sólida formação histórica e filosófica, incorporando a práxis em todas as áreas”. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E PLANO DE AÇÃO DO COLÉGIO PESQUISADO, p.25. 2007-2008)

    Para se atingir esta formação, busca-se desenvolver uma metodologia dialética que, segundo Saviani (1999), está pautada no movimento que vai da síncrese – visão caótica do todo à síntese – uma rica totalidade de determinações e de relações numerosas –, pela mediação da análise – as abstrações e determinações mais simples. Essa metodologia permite um processo de transmissão- assimilação do conhecimento.

    Nota-se que o currículo da escola, conjunto de atividades nucleares desenvolvidas (Saviani 1997, p.20), busca desenvolver uma reflexão pedagógica de questões sociais, como solidariedade e individualismo, cooperação e disputa, entre outras, enfatizando a liberdade de expressão e a emancipação. “A essência da ação norteada por esse método pressupõe considerar os conhecimentos reais dos educandos, sua prática vivida, seu cotidiano que precisa ser teorizado, fundamentado, instrumentalizado para que esse desenvolva uma consciência mais concreta da realidade vivida.” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E PLANO DE AÇÃO DO COLÉGIO PESQUISADO, p.25. 2007-2008)

    Ressaltamos que, estes currículos têm passado por modificações em sua forma de avaliação e gestão educacional, objetivando maior qualidade na educação, bem como atender às Diretrizes do Banco Mundial, que direcionam as formas educativas nos países de terceiro mundo, mantendo um contexto da reforma do Estado e da educação. Estas diretrizes buscam adequar o conjunto das políticas educacionais num plano ampliado, envolvendo o Estado como um todo nos processos educacionais, frente aos desígnios do processo de acumulação mundial de capital. Essas alterações levaram algumas áreas a questionar sua identidade, e a educação física, em especial, ao se fazer parte integrante do currículo escolar, tem demonstrado dificuldades em apresentar uma proposta de seus conteúdos.

    Em busca de uma educação com qualidade, uma possível alternativa seria desenvolver um projeto interdisciplinar, no sentido de facilitar o entendimento dos temas dos diferentes componentes curriculares e, conseqüentemente, perceber por meio do pensar e do agir coletivo, nova maneira de vivenciar a escola.

    Mas o que seria interdisciplinaridade? Com base em Assumpção (2001), este termo se compõe de um prefixo “inter”, que significa posição ou ação intermediária e de um sufixo “idade”, que quando atribuído a um adjetivo pode dar sentido de ação ou resultado de uma ação. Ambos se justapõem ao substantivo “disciplina”, que pode ser caracterizado como ordem que convêm ao funcionamento de uma organização, logo interdisciplinaridade nomeia o encontro de um ser, em certo fazer, a partir de uma direcionalidade.

    Para Japiassu (1976, p.32), por meio da interdisciplinaridade, se permite incorporar os resultados de várias disciplinas, tomando-lhes de empréstimo esquemas conceituais de análise, a fim de fazê-lo integrar, após tê-lo comparado e julgado.

    Na educação física, esta relação, de acordo com Freire (1989) se dá na identificação de pontos comuns do conhecimento e na interdependência do corpo com a mente, já que ambos necessitam ser trabalhados de forma holística. Bordoni (2004) enfatiza que a interdisciplinaridade não propõe a eliminação de disciplinas, mas sim o estabelecimento de associações entre as mesmas, tendo como ponto de convergência um trabalho cooperativo e reflexivo, possibilitando a construção de um conhecimento coletivo e privilegiado.

    De acordo com Tapia e Fita (2003), essa construção coletiva de conhecimento permite aproximar das questões acadêmicas, as expectativas e características dos alunos, garantindo envolvimento e motivação para a aprendizagem com propriedade.

    Diante disso, essa pesquisa procurou correlacionar a metodologia adotada pela escola, e readequar a estruturação curricular com as propostas de Oliveira (2004). Em seguimento, se buscou compreender as necessidades do processo e esboçar um quadro explicativo que possibilita a compreensão das relações existentes entre os conteúdos propostos para a educação física e as outras áreas de conhecimento, apontando para possibilidades de reorganizar os conteúdos, em busca da interdisciplinaridade dentro da realidade e espaço escolar.

    No primeiro momento, procuramos relacionar as possibilidades de aproximações com todas as áreas do conhecimento atuantes na escola. No entanto, depois de analisarmos os conteúdos das diversas áreas (geografia, ciências, arte, historia, biologia, física, química, matemática, língua estrangeira, filosofia e português) ano a ano, viabilizamos nossa proposta interdisciplinar entre as seguintes: Geografia, arte, ciências, biologia, história e matemática, visto que, apresentaram em dado momento, conhecimentos com aproximações e possibilidades de articulação disciplinar e contribuições mútuas.

Apresentando uma proposta de conteúdos interdisciplinares

    O Projeto Político Pedagógico da instituição certifica-se que, “a matriz curricular que norteia o trabalho pedagógico está amparada no Art. 36 da LDB 9394/96, no que se refere à compreensão do significado da ciência, das letras e das artes, o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura”. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E PLANO DE AÇÃO DO COLÉGIO PESQUISADO p.25. 2007-2008)

    O projeto ressalta que:

    “Dentro do uma abordagem histórico-crítico, a Educação Física no contexto escolar apresenta-se como conteúdos estruturantes, os conhecimentos relativos ao movimento humano através da expressividade corporal, a ginástica, a dança e lutas, o esporte e jogos, por meio de ações integradas e participativas como o brincar e o lúdico, para o desenvolvimento corporal e entendimento de uma vida saudável e harmoniosa” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E PLANO DE AÇÃO DO COLÉGIO PESQUISADO, p.36. 2007-2008)

    Os objetivos defendidos são ampliar nos alunos as capacidades de explorar e analisar o mundo motor por meio da cultura corporal, para então, se levar ao entendimento social e a estimulação ao desenvolvimento das potencialidades motoras e da autonomia, frente aos conhecimentos relativos à prática da atividade física permanente.

    Assim, ao analisar o currículo da escola, em especial, os conteúdos da educação física, nota-se que se estruturam de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), que subdividem seus conteúdos em três blocos: Esportes lutas e ginástica, atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o corpo.

    Já a proposta de Oliveira (2004), reestrutura os conteúdos da educação física de acordo com o objeto de estudo da área, o movimento humano, subdividindo em quatro núcleos, o que proporciona conteúdos melhores distribuídos e ampliados, frente à realidade dos educandos. Diante disso, podemos afirmar que os núcleos propostos pelo autor vem a colaborar com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s), sendo organizados e estruturados da seguinte forma:

Quadro 1. Organização dos núcleos temáticos e seus respectivos conteúdos. Base em: Oliveira (2004)

Núcleos

Abordagem Central

Conteúdos Básicos

1. O movimento em construção e estruturação:

Compreende a fase inicial do movimento humano. Os conteúdos devem oferecer vivencia e entendimento do mundo motor base e suas diversas manifestações.

Habilidades motoras de base (locomotoras, não locomotoras, manipulativas, coordenação visomotora), esquema corporal, percepção corporal

2. O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas

Abrange o estudo da cultura elaborada em relação ao mundo motor, complementando as funções básicas de movimento. A sociedade pode ser demonstrada e estudada por meio dos conteúdos deste núcleo e, o estudo pormenorizado dos conteúdos aqui tratados, poderá contribuir no entendimento maior de como este se organiza.

Jogos (motores, sensoriais, criativos, intelectivos e pré-desportivos); esporte institucionalizado (basquetebol, voleibol, handebol, atletismo, futebol, futsal, ciclismo, outros) e Esportes Alternativos (capoeira, escaladas, caminhadas, passeios, bets, malha, peteca, outros)

3. O movimento em expressão e ritmo

Realçar as possibilidades motoras por meio de movimentos expressivos, visando a reestruturação biopsicológica dos alunos. Deve-se se abordar as habilidades artístico-motoras, buscando contribuir na compreensão da arte, do corpo e suas possibilidades.

Ginástica, dança, brinquedos cantados, cantigas de roda, outros

4. O movimento e a saúde

Proporcionar as condições básicas de saúde, abordando fatores relacionados a higiene, saúde, e atividade física permanente

Higiene e primeiros socorros, ergonomia, bases anátomo-fisiológica do corpo humano, bases nutricionais, aspectos básicos da metodologia do treinamento, avaliação do crescimento,desenvolvimento, composição corporal e aptidão física.

    O autor ressalta que estes conteúdos devem ser distribuídos ao longo das séries escolares (quadro 3), de forma proporcional, levando em consideração o crescimento, desenvolvimento e maturação dos educandos.

Quadro 2. Proposta de distribuição dos conteúdos ao longo das séries escolares. (Oliveira, 2004)

Núcleos

Educação Infantil

Ensino Fundamental

Ensino médio

I

II

1. O movimento em construção e estruturação

50%

50%

45%

40%

40%

30%

30%

20%

15%

10%

10%

10%

5%

5%

2. O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas

15%

15%

20%

30%

30%

30%

30%

40%

45%

50%

50%

45%

40%

40%

3. O movimento em expressão e ritmo

30%

30%

30%

20%

20%

20%

20%

15%

15%

10%

10%

10%

15%

15%

4. O movimento e a saúde

5%

5%

5 %

10%

10%

20%

20%

25%

25%

30%

30%

35%

40%

40%

    Adotando esta distribuição de conteúdos, de acordo com os núcleos e distribuição percentual, propostos por Oliveira (2004), se proporciona o desenvolvimento de um trabalho amplo, complexo e significativo para o sistema educacional, porque o mesmo, se sistematizado de forma adequada em parceria com as demais disciplinas da grade curricular, pode vir a contribuir com o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar, que no Brasil, vem ganhando força no contexto educacional, desde o final da década de 1960, com a elaboração da Lei Nº 5692/71 e, sobretudo, devido à nova LDB Nº 9394/96 e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s).

    Contudo, para que tal trabalho seja desenvolvido da forma almejada, se faz necessário construir um conhecimento que supere a visão dicotômica entre teoria e prática, conteúdos e realidade. Mas, como realizar este trabalho?

    O primeiro passo é proporcionar um contexto que viabilize a interação entre professor e aluno, no qual os educandos possam resgatar memórias de sua história, a partir de conteúdos trabalhados, constituindo um único saber, o interdisciplinar, capaz de articular o conteúdo transmitido com o vivido, extrapolando conhecimentos parcelados da realidade e do currículo oficial. Libâneo (1986, p.13) afirma que o importante no processo de ensino aprendizagem “não é a transmissão de conteúdo especifico, mas despertar uma nova formula de relação com a experiência vivida”.

    Assim, professor e aluno são partes integrantes do processo, sendo importante que o aluno se envolva no processo de ensino como parte integrante e atuante. A escola deve ser um espaço no qual o educando tenha prazer de estar presente, de se relacionar com os outros e de reconstruir e opinar no que for preciso. Já aos professores e funcionários cabe uma ação transdisciplinar, que mantêm em constante articulação o pedagógico, o técnico e o político, na ação escolar.

    Buscando abarcar os aspectos sobre interdisciplinaridade supracitados, procuramos exemplificar, a partir de um quadro exemplo, com os conteúdos já trabalhados na educação física escolar, a estruturação de um projeto interdisciplinar envolvendo a educação física com os demais componentes curriculares.

Quadro 3. Modelo de proposta de conteúdos para 2ª série do ensino fundamental

Núcleo

(Oliveira, 2004)

Conteúdos da educação física

Conteúdos das demais áreas condizentes aos núcleos

O Movimento em construção e estruturação

Esquemas corporais:

· Aprofundamento dos estudos das diferentes formas de movimentar-se: movimentos locomotores, não locomotores, preensão

· Estudos de postura corporal para as diversas tarefas: pegar objetos grandes, pequenos e de formas irregulares

 

Lateralidade:

· Ampliação das vivências das muitas possibilidades com os diversos segmentos do corpo; movimentos independentes e interdependentes, membros superiores e inferiores, nominação do lado dominante e não dominante

· Noção de direção e sentido

 

Equilíbrio Corporal:

· Reconhecer quando está equilibrado corporalmente

· Estudos, levantamentos e compreensão da ação corporal nos diferentes tipos de solo (inclinado, declinado, grama, ondulado e liso)

 

Habilidades Motoras de Base: 

(rolar, segurar, transportar, manipular objetos)

· Reconhecimento e conceituação da ação motora

· Vivência das Habilidades

 

Estruturação Espaço Temporal:

· Organização e compreensão temporal: antes, depois, agora, daqui a pouco, noite, dia, rápido, lento.

· Ampliar vivências motoras em relação a si, com os outros e com objetos

 

Coordenação Motora:

· Reconhecimento e vivência das possibilidades de ação motora (ações que impliquem pouca ou muita habilidade motora)

· Movimento com membros superiores e inferiores

· Movimentos empregando diversos tipos e tamanho de pesos materiais.

Artes:

· Explorar e manipular diversos materiais criando desenhos, recortes, colagem, pintura, gravura, escultura, considerando a vivência do aluno.

· Identificar e reconhecer algumas técnicas e procedimentos presentes nas obras de alguns artistas maringaenses e nas próprias produções.

· Interferir na produção de diferentes telas de diferentes artistas e comparar seu trabalho com o original.

· Conhecer artistas maringaenses e suas obras.

 

Geografia:

· O município e suas características

· O trajeto de casa para a escola

· Localização e interpretação do mapa do município

· Pontos cardeais

· Leitura do mapa: relevo, clima, vegetação, hidrografia.

 

O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas

Jogos Populares e Brinquedos do mundo infantil:

· Cinco Marias: Histórico, nomenclaturas em várias regiões do Brasil, confecção dos materiais, regras, formas de vivência (convencional e criativa).

· Bets: nomenclatura em várias regiões do Brasil, regras (elementares e construídas pelo grupo), vivência, utilização de diferentes formas geométricas como “casinha”.

· Peteca: nomenclatura em várias regiões do Brasil, regras (elementares e construídas pelo grupo), vivência.

· Eleição de outros jogos e brincadeiras da realidade loco- regional.

 

Atletismo:

· Corridas curtas: vivência e utilização de relógio digital e de ponteiro para verificar o tempo em relação a distância percorrida.

· Salto em distância: utilizar fita métrica para medir a distancia dos saltos.

· Lançamento de pelota: utilizar diferentes instrumentos de medida, para medir a distância do lançamento

 

Ginástica Geral:

· Elementos de solo: rolamento, movimentos pré-acrobáticos e acrobáticos elementares.

Matemática:

· Leitura das horas em relógio digital e com ponteiro.

· Instrumentos de medida de comprimentos.

· Medida e conversão das medidas de comprimento (centímetros, metros, milhas)

· Caracterização de corpos redondos e poliedros.

Movimento em expressão e ritmo

Brinquedos Cantados:

· Pesquisa de músicas

· Construção e apresentação de brinquedos cantados com coreografia

· Outras brincadeiras da realidade loco - regional.

 

Danças Folclóricas:

· Quadrilhas elaboradas

· Danças das diferentes culturas regionais

 

O corpo como elemento rítmico:

· Diferentes sons com o corpo (barbatuque)

 

Danças Populares:

· Danças típicas dos imigrantes maringaenses.

 

Mímicas:

· Jogos imitativos de objetos, personagens, sentimentos e estórias.

 

Teatro:

· Representações cênicas envolvendo contos e causos da colonização paranaense.

 

Música:

· Composição de frases musicais simples, utilizando-se de diferentes ritmos

· Explorar as composições musicais, tocando instrumentos de percussão como; pandeiros e atabaque, ou alternativos.

História:

· História familiar

· História do município

· Comunidade indígena: modo de vida social, religiosa, artística.

· Semelhanças e diferenças entre o modo de vida dos alunos e da cultura indígena.

O movimento e a saúde

Atividade física e o meio ambiente:

· Levantamento dos equipamentos necessários para uma caminhada ecológica/ passeio ciclístico.

· Vivência de diferentes tipos de passeio; caminhadas, passeio ecológico e ciclístico.

· Importância do sol, ar e água para a qualidade de vida.

 

Alimentação

· Estudos elementares sobre a qualidade e quantidade de alimentos por refeição.

 

Postura e atividade física

· Estudo sobre as conseqüências de uma postura incorreta.

 

Primeiros socorros

· Conceitos, estudos e simulações iniciais sobre procedimentos e cuidados com pequenas escoriações, cortes e queimaduras.

Ciência

· Ciclo da água

· Poluição das águas

· Astronomia: sistema solar e relógio solar.

· Ar: ocupa espaço, tem peso, quente/ frio.

· Composição dos alimentos; proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas, sais, minerais, água e fibras.

· Principais cuidados com os alimentos.

    Ao estruturar esta sistematização de conteúdos, foi possível perceber que o estudo desenvolvido por Oliveira (2004) procura ampliar e sistematizar as diretrizes apontadas pelos PCN`s, já que este sistematiza os conteúdos da educação física em quatro grandes núcleos, facilitando o desenvolvimento de um ensino interdisciplinar. Ressalva-se também, que no primeiro ciclo de ensino, se faz necessário abordar a exploração dos movimentos fundamentais, intensificando as vivências motoras e ampliando progressivamente seu grau de complexidade, para que no segundo ciclo se propicie a especialização destes movimentos fundamentais para adaptação e reconstrução dos modelos presentes nas manifestações culturais.

    Por isso no quadro de conteúdos da segunda série apresentado acima, foram acrescentados algumas propostas de Oliveira (2004) tais como: o trabalho com a lateralidade no núcleo de movimento em construção e estruturação. Sentiu-se necessária a inclusão de conteúdos específicos ligados ao atletismo e jogos e brincadeiras populares do mundo infantil no segundo núcleo. No núcleo três, o movimento em expressão e ritmo, incluiu-se conteúdos relacionados ao teatro e música, em construção do conhecimento das danças populares. Por fim, no núcleo 4, o movimento e a saúde, é importante a iniciação de trabalho de primeiro socorros e noção básica de alimentação saudável.

    Mas como interligar estes núcleos em diferentes disciplinas? Para exemplificar partimos de um tema gerador, exemplificando como três disciplinas diferentes podem trabalhar o mesmo conteúdo, mantendo suas especificidades e auxiliando na ampliação de um conteúdo já apresentado por outra disciplina.

Proposta Interdisciplinar

Tema Gerador: Movimento em expressão e ritmo – Brincadeiras Cantadas

Educação Física

· Trabalhar os aspectos de ritmo, formações, deslocamento, coreografias.

· Explorar os brinquedos cantados com coreografia e em diferentes ritmos

· Identificar e vivenciar os diferentes brinquedos cantados regionais

História

· Pesquisar quais são os brinquedos cantados conhecidos pelos pais, avós, tios e as histórias familiares relacionados a essa atividade de expressão e ritmo.

· Visitar os diferentes espaços recreativos do município verificando quais os brinquedos cantados mais encontrados e suas variações

· Estudo das diferentes comunidades regionais. Ex: Comunidade indígena modo de vida social, religiosa, artística, brincadeiras e brinquedos.

Educação Artística

· Confeccionar os materiais utilizados em brinquedos cantados

· Explorar diferentes enchimentos nos chocalhos ex: arroz, feijão, areia entre outros, experimentando a variação de ritmo.

    Logo, com esta estruturação dos conteúdos, busca-se a possibilidade de significação dos conteúdos da educação física e sua interação com as demais disciplinas, trazendo uma formação democratizada que prime pela inclusão social. Assim, se faz necessário resgatar os elementos do contexto social, decodificá-los e resgatá-los, em uma interação recíproca.

Considerações finais

    Procuramos identificar as áreas de conhecimento inseridas no projeto pedagógico, em especial, a educação física no contexto escolar, para compreender como se configura na realidade educacional, e, buscar readequar e/ou reorganizar tais conteúdos, a fim de encontrar possibilidades de ações interdisciplinares.

    O delineamento da educação física escolar nos fez refletir sobre a necessidade de intervenção neste campo de atuação, já que sua legitimação e real valorização no contexto escolar ainda se encontram em pausada construção.

    Percebemos que, os apontamentos em busca da interdisciplinaridade da educação física com as demais áreas do conhecimento, se colocam como fundamentais, visto que a forma que o presente projeto político pedagógico da escola está estruturado permite as aproximações e as colaborações entre as áreas. Diante desses apontamentos, observamos que por meio da interdisciplinaridade, é possível aprimorar o processo de ensino aprendizagem, uma vez que se viabilize a participação ativa dos alunos, ao somarem seus conhecimentos sociais e culturais aos conteúdos técnicos científicos apresentados.

    Lembramos ainda, que o estudo se limita, na medida em que reflete a realidade de uma única escola, mesmo que a referida apresente afinidades curriculares com o cenário nacional, estabelecido com base nos PCN´s. Portanto, é interessante ressaltar a necessidade de outras pesquisas, com um olhar voltado às falhas peculiares do contexto social. Fica aqui a expectativa que o presente estudo sirva como base para inserção da interdisciplinaridade e, que a proposta apresentada auxilie os profissionais que demonstram inquietações com a educação física no contexto escolar.

Referências

  • BARROS, A.J. Paes; LAHFELD, N.A. de Souza. Fundamentos da metodologia: uma guia para a iniciação cientifica. São Paulo: McGraw-Hill, 1986.

  • BORDONI, Tereza C. Uma postura interdisciplinar. Disponível em: www.forumeducação.ig.com.br. Acessado em: 30/04/2005.

  • BRACHT, V. Educação Física: a busca da autonomia pedagógica. Revista da Educação Física/ UEM_ V.1, n.0(1989)- Maringá- UEM, 1989, p. 28-32.

  • BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº9394/96). Brasília, 1996.

  • COLÉGIO PESQUISADO DA CIDADE DE MARINGÁ. Projeto Político Pedagógico e Plano de ação 2007-2008. Maringá: 2007

  • GASPARIN, J. L. Uma didárica para a Pedagogia Histórico-crítica. 4.ed. rev. e ampl. Campinas – SP: Autores Associados, 2007. (Coleção educação contemporânea).

  • GUIRALDELLI JR, Paulo. Educação física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a Educação Física brasileira. São Paulo: Loyola, 1988.

  • HURTADO, Johann G.G. Educação Física Pré-Escolar- 1ª à 4ª série: uma abordagem psicomotora. Curitiba: Prodil, 1987.

  • JAPIASU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1976.

  • LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo; Loyola, 1986.

  • LUDKE, M.;ANDRÉ M.E.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

  • MELO, V. A. Por que uma revista brasileira de História do Esporte? Recorde: Revista de História do Esporte, v. 1, p. 1, 2008.

  • MOREIRA, E.C. Educação Física escolar: desafios e propostas. Evandro Carlos Moreira, (org.)—Jundiaí, SP: Editora Fontoura, 2004.

  • OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de. Planejando a educação física escolar. In: VIEIRA, José Luiz Lopes. Educação física e esportes: estudos e proposições. Maringá, PR: Eduem, 2004. p.25-55.

  • OLIVEIRA, Marcos Aurélio Taborda de. Práticas pedagógicas da educação física nos tempos e espaços escolares: a corporal idade como tema ausente? In: BRACHT, Valter; CRISORIO, Ricardo. A educação física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados; Rio de Janeiro: PROSUL, 2003. p.155-177.

  • OLIVEIRA, V. M. Consenso e conflito da Educação Física Brasileira. – Campinas, SP: Papirus, 1994.

  • PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) Paulo Renato Souza- Ministro da Educação e Desporto, v.7, 1997.

  • SAVIANI, Demerval. Pedagógica histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.

  • SOARES. et alii. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas , 1987.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

revista digital · Año 15 · N° 147 | Buenos Aires, Agosto de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados