Introdução
O estudo da motivação não constituía grande problema, pois no início o
comportamento era atribuído por forças ocultas, a espíritos ou demônios,
acreditava-se que a culpa era do mau espírito ou do demônio, sendo assim o
espírito determinava a natureza do comportamento. No início do século XX a
motivação ganhou uma ênfase maior devido em parte aos esforços de Willian Mc
Dougall, um cientista britânico do comportamento, fazendo com que esta
motivação ganhe um espaço importante na ciência (MURRAY, 1973).
Hoje o termo motivação denota os fatores que levam às pessoas à ação ou a
inércia em diversas situações. De modo mais específicos, o estudo dos
motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou
executar algumas tarefas, com maior empenho do que outras ou, ainda, persistir
numa atividade por longo período de tempo. A investigação da motivação no
âmbito esportivo durante anos foi centrada no esporte competitivo e de alto
rendimento (SCALON; BECKER; BRAUNER, 1999).
No entanto, é crescente o estudo motivacional na prática de atividades
físicas. A motivação é uma variável importante no esporte e na atividade
física, tanto no que se refere à aprendizagem, quanto para o desempenho.
Entretanto, as definições de motivação, fazem que o termo se aplique com
significados distintos e contraditórios o que dificulta a comunicação entre
os profissionais que atuam nessa área (CRATTY, 1984; MARTINEZ; CHIRIVELLA,
1995).
A motivação depende entre outros, da personalidade dos indivíduos, de
aspirações pessoais, de incentivos de natureza econômica e social, variando
com a idade, com o gênero e com fenômenos étnicos, culturais e sociais. Para
um trabalho de prática desportiva, faz-se necessário saber o que é mais
importante para os participantes, quais os fatores que influenciam decisivamente
os níveis de motivação e qual a melhor maneira de inter-relacionar e usar
estes conhecimentos. A motivação esta associada à palavra motivo, e este é
definido como alguma força interior, impulso, intenção, etc, que leva uma
pessoa a fazer algo ou agir de uma certa forma. Sendo assim, qualquer discussão
sobre motivação implica em investigar os motivos que influenciam em um
determinado comportamento, ou seja, todo comportamento é motivado, é
impulsionado por motivos. O treinador ou professor deve definir a melhor maneira
de se lidar com seus atletas a fim de conseguir extrair do seu grupo o máximo
potencial (ROBERTS, 1986; SAMULSKY; CARRON, 1980; PAIM, 2001; 2002).
Nesta perspectiva, esta pesquisa tem como objetivo verificar como os treinadores
de diferentes modalidades lidam com a questão motivacional. Através de um
questionário elaborado pelos componentes do grupo, os entrevistados responderam
abertamente nossa entrevista.
Método
População
e amostra
A população foi constituída por quatro treinadores de modalidades distintas:
dança; ginástica artística; ginástica aeróbica; e futsal. Todos
participaram da pesquisa de livre e espontânea vontade, assinando um termo de
consentimento livre e esclarecido.
Instrumento
Utilizou-se, para coleta dos dados, um questionário semi–estruturado,
constituído de sete questões relacionadas à temática Motivação de Atletas.
Instrumento este, que foi desenvolvido pelos pesquisadores responsáveis.
Este instrumento pretende verificar os fatores motivacionais no treinamento de
atletas. Tratam se de sete questões sobre o tema motivação, respondidas pelos
treinadores específicos.
As questões analisadas foram: (1) O que você entende por “motivação”?;
(2) Você inclui em seu planejamento métodos de motivação com seus atletas?
Quais são seus métodos?; (3) Como você percebe as diferenças individuais e
particularidades nas reações psicológicas dos seus atletas dentro do aspecto
motivacional?; (4) Em que momento você acredita que é mais importante motivar
seus atletas?; (5) Qual acredita ser o principal fator motivacional que afeta a
performance do atleta? (6) Qual o valor do trabalho motivacional com relação a
sua influência no desempenho dos atletas?; (7) Qual o seu conhecimento e fontes
de pesquisa em relação às teorias de motivação?
Procedimento
Para a coleta dos dados, fez-se necessário uma visita a instituições de
ensino da modalidade e uma conversa com os treinadores responsáveis. As
entrevistas foram realizadas em dias aleatórios, correspondendo ao tempo
disponível dos treinadores. Ficou a cargo de cada integrante do grupo, realizar
uma entrevista.
O instrumento foi aplicado em local reservado e cada entrevista teve como
duração o tempo aproximado de 30min. Todos os dados coletados foram gravados e
transcritos para posterior tratamento dos mesmos.
Análise
dos dados
Os dados foram analisados pelos componentes do grupo, com as respectivas
entrevistas categorizadas segundo as respostas obtidas dos treinadores. Apesar
dos entrevistados não apresentarem conhecimento teórico sobre o assunto,
trabalham a motivação segundo suas próprias percepções acerca do tema.
Resultados
Com relação a análise da primeira questão observa-se que, motivação para
os entrevistados possui componentes extrínsecos e intrínsecos, como podemos
evidenciar na fala do sujeito A: “motivação é a predisposição do
indivíduo em realizar alguma coisa e está condicionada a vários fatores
externos e internos.”
Quanto ao planejamento de métodos de motivação, conteúdo da segunda questão
elaborada, pode-se evidenciar que há divisão entre as respostas, uma vez que
metade dos entrevistados utiliza métodos motivacionais e outra não os planeja.
Na resposta do sujeito B, vemos que: “...é preciso sempre manter um nível
alto de motivação utilizando elogios, exercícios novos e propondo desafios.”
Relativo à terceira questão, todos percebem as diferenças individuais e
reações psicológicas dos atletas quando precisam ser motivados. Evidencia-se
na resposta do sujeito C que alguns respondem melhor com uma maior cobrança;
outros são mais sensíveis e necessitam de elogios constantes.
Quanto à quarta questão, metade dos entrevistados acredita que o momento que
é mais importante motivar seria durante os treinos. Os outros acreditam ser
importante motivar constantemente, como vemos com o sujeito B, em “ todas as
fases do ano são importantes. Tem que estar alta o tempo inteiro.”
Na quinta questão, os entrevistados citaram palavras chaves como: “determinação”;
“confiança”; “preocupação” e “competição”. Estes fatores, como
podemos analisar, podem afetar tanto positivamente quanto negativamente a
performance dos atletas.
Referente à sexta questão, houve novamente unanimidade. Todos os treinadores
acreditam que o trabalho motivacional é importante pois colabora para um melhor
desempenho de seus atletas, além de auxiliar na auto-estima.
Na sétima e última questão, quando perguntados se obtinham algum conhecimento
sobre o tema todos responderam que não haviam pesquisado nada específico.
Porém, o entrevistado C citou que procura locais de treinamento avançado para
pesquisar na prática como lidam com a questão motivacional: “Mantenho
contato com técnicos e centros de excelência, de treinamento de alta
qualificação”.
Discussão
dos resultados
Percebemos, na resposta dos treinadores, em relação à primeira questão o
mesmo que podemos evidenciar nos estudos de DECI & RIAN (1975). A
motivação pode ser extrínseca ou intrínseca. Fatores externos como elogios,
cobranças, “broncas”, deixam claro que são usados estímulos extrínsecos
pelos treinadores. Já a vontade de realizar alguma coisa, transpor um desafio,
vencer limites, superar-se, explicam a contribuição da motivação
intrínseca.
A falta de métodos por parte dos treinadores reflete o que foi analisado na
sétima questão. Todos responderam não ter conhecimento teórico específico
sobre o tema, por isso a falta destes recursos. Para os treinadores que utilizam
métodos sem o conhecimento devido, podemos constatar conforme MARTINEZ &
CHIRIVELLA, 1995, onde as definições de motivação, fazem que o termo se
aplique com significados distintos e contraditórios o que dificulta a
comunicação entre os profissionais que atuam nessa área.
Com relação à terceira questão, onde trata-se das diferenças individuais e
reações psicológicas, podemos expressar as idéias de CARRION; CRATTY; BIDDLE
(APUD GAYA; CARDOSO, 2004), que explicam que a motivação depende entre outros
fatores, da personalidade dos indivíduos, de aspirações pessoais, de
incentivos de natureza econômica e social, variando com a idade, com o gênero
e com fenômenos étnicos, culturais e sociais. Para um trabalho de prática
desportiva, faz-se necessário saber o que é mais importante para os
participantes, quais os fatores que influenciam decisivamente os níveis de
motivação e qual a melhor maneira de inter – relacionar e usar estes
conhecimentos.
Discutindo a quarta questão, percebemos que o perigo da desmotivação dos
atletas está justamente no período de treino, quando estes podem perder a
motivação intrínseca, mais atuante em momentos de competição e
apresentação. Neste momento, entra o papel do treinador, que influenciará no
atleta com suas motivações extrínsecas.
As questões cinco e seis, sobre o principal fator motivacional e o valor deste
trabalho no desempenho dos atletas podem ser explicadas conforme BARCELONA &
SANFELICE (2004), Dentre os vários componentes psicológicos a motivação é
um fator de importância significativa no rendimento total do atleta, partindo
da premissa de que o rendimento está relacionado a três sub-áreas de
treinamento: o físico, o psicológico e o técnico tático. No que tange a
variável psicológica, a motivação é determinante na estimulação de uma
equipe em relação ao estabelecimento de metas individuais e coletivas, gestão
de grupos, comunicação inter-atleta e atleta-técnico. Estas relações
coadjuvam na área da psicologia do esporte, em conceitos como: auto-estima,
ansiedade, tensão psicológica, competência percebida, etc.
Conclusão
Como já citado, este trabalho objetivou analisar a motivação no treinamento
desportivo, de distintas modalidades. A partir dos resultados obtidos,
interpretou-se que os treinadores, mesmo sem o conhecimento específico
consideram importante o trabalho motivacional.
Para os treinadores os fatores extrínsecos e intrínsecos são importantes no
momento de lidar com seus atletas. Mesmo sem os devidos conhecimentos teóricos,
utilizam seus próprios métodos motivacionais (suas intuições), o que julgam
afetar positivamente o desempenho dos seus atletas e conseguem através disso
perceber as reações dos mesmos.
Com isso, sugerimos uma possibilidade de pesquisa. Poderia ser feita uma
comparação de rendimento de atletas em equipes em que os treinadores são
conhecedores de métodos teóricos de motivação e os aplicam com seus atletas.
E outro grupo, de treinadores que apenas motivam através da intuição, do que
percebem ser motivante para seus atletas, como os nossos entrevistados.
Por fim, consideramos também que outros fatores intervenientes venham a
influenciar estes resultados, como a conduta e objetivos dos treinadores e a
participação positiva ou negativa, parcial ou total da família na mentalidade
do atleta, aspetos que outras análises mais qualitativas podem nos ajudar a
compreender.
Referências
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CRATTY,
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DECI,
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MURRAY,
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M. C. C. Fatores Motivacionais e Desempenho no Futebol. In: Revista da
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ROBERTS,
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SAMULSKY,
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SCALON,
R. M.; BECKER JR., B. & BRAUNER, M. R. Fatores Motivacionais que influem
na aderência dos Programas de Iniciação Desportiva pela Criança. In: Revista
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