Fatores de aderência à atividade física por parte de mulheres: subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas Factores de adhesión a la actividad física por parte de las mujeres: el apoyo al desarrollo de políticas públicas |
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*Doutora em Educação Universidade Federal do Paraná CEPELS/REDE CEDES **Mestranda em Educação Física Universidade Federal do Paraná CEPELS/REDE CEDES |
Doralice Lange de Souza* Suelen Barbosa Eiras de Castro** (Brasil) |
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Resumo Este trabalho explora, a partir de uma pesquisa qualitativa, o que leva algumas mulheres à prática de atividade física (AF) regular. O estudo concluiu que os principais fatores de aderência transcendem a questão da saúde e estética. Eles referem-se principalmente ao “gostar” da AF que se pratica e ao prazer que se sente durante a prática. Assim, na idealização de políticas e programas voltados à promoção da AF, necessita-se não somente informar sobre a importância da mesma e oferecer condições concretas para a sua prática, mas também ofertar uma variedade de atividades que atendam às necessidades e interesses dos indivíduos. Unitermos: Atividade física. Aderência. Políticas públicas.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
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Introdução
Várias pesquisas têm indicado uma relação positiva entre a prática adequada e regular da atividade física (AF) e a prevenção de fatores de riscos à saúde (BAUMAN, 2004; CORBIN, 2007; KESANIEMI; DANFORTH; JENSEN; KOPELMAN; LEFEBVRE, REEDER, 2001, KOHL, 2001; PAFFENBARGER; HYDE, 1984; PAFFENBARGER; HYDE; HSIEH , 1986; PATE; PRATT; BLAIR, 1995; POWELL, 1998). Tendo em vista os possíveis benefícios da AF para a saúde, órgãos governamentais têm procurado desenvolver políticas e programas no sentido de promover este tipo de atividade. No entanto, a despeito desses esforços, grande parte da população não pratica AF. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde através de um inquérito telefônico nas capitais Brasileiras, incluindo o Distrito Federal, demonstra que, da população adulta estudada, apenas 19,3% dos homens e 12,3% das mulheres pratica o que o estudo considerou “atividade física suficiente no lazer”. Observe-se que para este estudo, atividade física suficiente no lazer significa prática de “ atividades de intensidade leve ou moderada por pelo menos 30 minutos diários em 5 ou mais dias da semana ou atividades de intensidade vigorosa por pelo menos 20 minutos diários em 3 ou mais dias da semana” (BRASIL, 2007).
Enquanto pesquisas indicam que a falta de adesão a práticas regulares e permanentes de atividade física seja maior nas populações de baixa renda e escolaridade (BRASIL, 2007; MONTEIRO, CONDE, MATSUDO S. MATSUDO V. BONSENOR, LOTUFO, 2003; NONOMURA, 1998; OWEN, BAUMAN, 1992; PITANGA, LESSA, 2005), o fator sócio-econômico por si só não consegue explicar o fenômeno do sedentarismo. Existe um alto grau de sedentarismo também em classes sociais mais abastadas bem como na população em geral de países desenvolvidos onde os níveis de escolaridade são maiores e onde não existe tanta pobreza. Tomemos como exemplo os Estados Unidos. Segundo Schoenborn e Barnes (2002), 38.3% dos americanos adultos afirmam não fazer nenhum tipo de atividade física durante o lazer e 21% da população reconhece fazer menos do que o recomendado de 30 minutos de exercício leve a moderado 5 ou mais dias da semana, ou 20 minutos de atividade vigorosa pelo menos 3 vezes por semana. Já o Department of Health and Human Services (2004) aponta para números menos alarmantes, no entanto, não menos preocupantes. Após compilar e analisar dados de uma amostragem de 170.423 pessoas vivendo em diferentes regiões nos EUA, este órgão concluiu que 25% dos entrevistados no ano de 2002 afirmou não ter praticado nenhum tipo de atividade física ou exercícios fora do trabalho durante o último mês. No caso da Austrália afirma-se que 29.7% da população é sedentária em seu tempo de lazer (OWEN, BAUMAN, 1992). Já na Europa acredita-se que em média 32% dos adultos não pratica nenhum tipo de atividade física durante o seu tempo livre. De acordo com as estatísticas, o grau de sedentarismo neste continente varia desde 12% na Suécia até 61% em Portugal (MONTEIRO, CONDE, MATSUDO S. MATSUDO V. BONSENOR, LOTUFO, 2003).
Os dados acima sugerem que, embora fatores sócio-econômicos, educacionais e culturais exerçam influência no grau de sedentarismo e/ou adesão à atividade física, esses fatores por si só não dão conta de explicar o baixo nível de engajamento das pessoas neste tipo de atividade. Segundo Nonomura (18), alguns fatores importantes associados ao sedentarismo são: falta de tempo; cansaço e fadiga; falta de motivação; falta de conhecimento e autonomia para a prática da atividade física; baixo nível de capacidade física e motora; problemas médicos; falta de acesso a instalações e equipamentos. Também segundo este autor, os fatores mais significativos relacionados com a adesão à atividade física são: controle do peso e estética; sensação de bem estar e disposição; benefícios à saúde; prazer; alívio de ansiedade e stress; socialização; nível de esclarecimento em relação à importância da atividade física; percepção de tempo disponível; acesso a ambientes/instalações/equipamentos; apoio da família; participação prévia em programas de atividade física e autoconfiança no sentido de se obter novamente bons resultados neste tipo de atividade. Outras variáveis citadas por interferirem ambos com o grau de sedentarismo e/ou adesão à atividade física são idade, sexo, estado civil, estado de saúde e tipo de ocupação.
Ferreira e Najar (2005), baseados em uma extensa revisão de literatura sobre o tema, destacam os seguintes fatores de adesão à AF:
experiências anteriores na prática desportiva e de exercícios físicos; apoio do cônjuge e de familiares [...] aconselhamento médico [...] conveniência do local de exercitação [...] aspectos biológicos/fisiológicos [...]; gênero [...]; auto-motivação para a prática do exercício [...]; disponibilidade de tempo [...]condição sócio-econômica [...]; conhecimento sobre exercício físico e acesso a instalações e espaços adequados à prática de exercícios físicos.
Se é bem verdade que os fatores citados acima exercem influência nos graus de adesão e aderência à atividade física, eles, no entanto, não dão conta de explicar porque pessoas em condições semelhantes de vida, umas se engajam e outras não em AF de forma regular e permanente. Eles não explicam questões tais como: Por que pessoas que teoricamente possuem condições ideais para a prática da AF (indivíduos que possuem um bom nível sócio-cultural e educacional, bom estado de saúde, tempo de lazer disponível, fácil acesso a espaços e equipamentos desportivos, etc.), mesmo sabendo da importância da AF para a sua saúde, não aderem, e/ou facilmente desistem desta prática? Por que, por outro lado, algumas pessoas mesmo diante de inúmeras dificuldades (ex. limitações financeiras, filhos pequenos, falta de tempo e/ou falta de acesso a locais seguros e bem equipados) não abrem mão desta prática? Tendo em vista estas questões, desenvolvemos um projeto de pesquisa de cunho qualitativo visando investigar o que leva um grupo de mulheres trabalhadoras a se manterem em atividade física regular. A partir de um entendimento mais aprofundado sobre como indivíduos que aderem à AF vivenciam e pensam sobre este tipo de atividade, esperamos gerar subsídios para o desenvolvimento de políticas e programas que de fato promovam a AF de forma com que as pessoas não apenas dêem início a este tipo de atividade, mas de fato permaneçam aderentes à mesma. A metodologia da pesquisa e alguns de seus resultados serão apresentados a seguir.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa se configura como qualitativa e envolveu 10 mulheres acima de 30 anos provenientes de diferentes níveis educacional e sócio-econômico. Todas trabalham em atividade remunerada no mínimo 8 horas por dia, 5 vezes por semana, e têm praticado atividade física de forma regular, por no mínimo 45 minutos, 2 vezes por semana. A opção de se incluir no estudo trabalhadoras com este perfil foi feita para que possamos melhor entender o que leva esta população a aderir à atividade física mesmo tendo uma parcela significativa de seu tempo comprometida com atividades profissionais, quando também não com obrigações domésticas e familiares. Já a opção de se incluir no estudo mulheres de diferentes classes sociais se deu no sentido de nos permitir explorar as diferentes razões que levam pessoas com diferentes perfis a aderir à atividade física e que tipo de dificuldades os indivíduos encontram—e como eles superam estas dificuldades—para aderirem à atividade física no lazer de acordo com as suas diferentes condições concretas de vida. Dados os limites deste trabalho, discutiremos aqui apenas os fatores mais importantes apontados pelas mesmas, para a sua aderência à prática. Todas as participantes do estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que lhes informava de todos os procedimentos da pesquisa. Elas foram entrevistadas por um período que variou de 1 a 2 horas, conforme a necessidade de aprofundamento de suas respostas. As entrevistas foram semi-estruturadas, com o objetivo de se obter respostas às questões norteadoras da pesquisa, e ao mesmo tempo garantir um grau de liberdade para a contextualização das questões de acordo com a realidade das participantes e do momento vivido entre o pesquisador e o pesquisado durante a entrevista. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. A análise de dados centrou-se nos temas mais importantes que emergiram da fala das participantes.
Resultados
Todas as participantes afirmaram que a AF tem lhes proporcionado melhoras tanto em seu estado físico quanto psicológico, o que as motivava a dar continuidade à prática. Entre os benefícios da AF, elas apontaram um ou mais dos seguintes fatores: diminuição de dores corporais, emagrecimento, aprimoramento estético, aumento do condicionamento físico, diminuição no nível de stress e melhoria do humor. Ao serem questionadas sobre quais seriam os principais benefícios da atividade física e/ou o que mais as motivava a manterem-se em AF de forma sistemática e regular, o que todas as participantes enfatizaram—sem nenhuma exceção—foi o prazer e o bem estar físico e mental que sentem durante a prática da AF. Na verdade, a questão do prazer e do bem estar que sentem ao realizar a AF constituiu-se no tema mais importante da fala de todas as entrevistadas. Elas afirmaram, de uma forma ou de outra, que durante esta prática, relaxam e “esquecem-se” de seus problemas. Vejamos, como exemplo, algumas passagens onde as mesmas ressaltam esta questão:
Participante 1
P1- Eu sinto prazer. Eu amo a ginástica. Eu gosto mesmo porque você trabalha com o corpo e trabalha com a mente também, né?
E – Você trabalha com a mente em que sentido?
P1- A gente não pensa nos problema, né?
E – Não pensa?
P1 – Só pensa na atividade que tá fazendo né? [...] Daí a gente relaxa, fica bem relaxada [...] você pode tá cansada, como você tiver né? [...] Você chega aqui e você começa a fazer ginástica e você esquece da tua canseira. Esquece tudo [...] [ servente, 43 anos, grifo meu]
Participante 2
P2 – Eu adoro a ginástica. Eu gosto porque eu acho assim que fazendo ginástica, o meu corpo descansa [...] Eu me sinto leve [...] A parte que eu gosto mais da ginástica, é que ela descansa a memória [...]. [A gente] se esquece de coisas que as vezes ia ficar pensando. Então ali é um meio para eu descansar, tanto o físico como a memória, né?
E – Como você se sente quando faz ginástica?
P2 – Me sinto leve, me sinto assim tranqüila. Então tira assim tudo de ruim. Que nem a gente sai do serviço, a gente sai as vezes cansado e pesado. A ginástica faz a gente se sentir com o corpo mais alongado, mais sossegado, assim descansado mesmo, sabe?
E – Aham. Você falou que a ginástica te descansa a memória. O que você quis dizer com isso?
P2 –[...] Em vez de você ficar pensando só em trabalho e em fazer coisas, você esquece. Naquele momento de fazer ginástica você esquece de tudo. Você põe a cabeça naquilo ali só que você ta fazendo, né? A gente se torna ali naquele momento uma criança que não pensa em coisas. [empregada doméstica, 43 anos, grifo meu]
Participante 3
P3- Você fica só com o pensamento ali, escutando a música, fazendo a aeróbica ali e não pensa em nada [...]. Isso alivia a cabeça [...] A gente vive com a cabeça a mil, né? Fica pensando em uma coisa, pensando em outra e estas duas horas por semana [as horas da ginástica] são as únicas 2 horas que a mente esvazia, a não ser quando dorme né? Mas mesmo assim ainda sonha e pensa [...]. [empregada doméstica, 44 anos, grifo meu]
Ao analisarmos a fala das três participantes citadas acima, podemos observar o quanto elas gostam da AF (no caso delas, da ginástica) e o quanto sentem prazer em realizá-la (todas praticam a atividade em locais públicos em Campo Largo, uma cidade do núcleo metropolitano de Curitiba, Brasil). Observamos também que elas tendem a entregar-se inteiramente ao “aqui e ao agora” da prática física relaxando e esquecendo-se de seus problemas cotidianos. O que não conseguimos observar, no entanto, a partir da fala das mesmas, exatamente de que forma esses fatores interagem. Ou seja, não conseguimos saber se elas gostam da AF porque esta atividade para elas é relaxante e gera um bem estar, ou se relaxam, esquecem-se de seus problemas, e sentem-se melhor com a prática da AF porque gostam dessa atividade. Os dados obtidos até então nos permitem apenas concluir que, independentemente de qual fator aparece primeiro, eles geram uma espécie de “círculo virtuoso”, onde o gostar leva à uma maior entrega à atividade e a um maior grau de relaxamento e bem estar; e por outro, a entrega, o relaxamento e o bem estar gerado pela AF levam a um “ mais gostar”.
Segundo as entrevistadas, a AF lhes melhora o humor, ou gera alegria e “alto astral”, como afirma por exemplo, a seguinte participante:
E- O que acontece com você quando está fazendo a AF?
P4 - É uma sensação de alegria, de felicidade, não sei se é por causa da endorfina ou o que é. Mas eu posso estar, por exemplo triste, é difícil eu acordar assim , mas às vezes agente acorda meio assim e você vai lá e de repente parece que você meio que esquece. Sei lá o que acontece, mas eu sei que ...você fica num astral bom. Chega um e diz bom dia, bom dia! Todo mundo tá, parece que, de astral bom na academia. Então parece que todo mundo está feliz quando vai para lá. Eu não vejo nenhuma cara amarrada nem nada [...]. Eu vejo todo mundo feliz, contente. Bom dia! Bom dia! [...] acho que o alto astral [que sinto ] é proveniente disto. A gente vê as pessoas felizes e alegres. E quando você começa a se movimentar e exercitar o corpo, eu acho que realmente libera alguma coisa no cérebro [...].Você sente uma alegria interior [..]. Não sei o que é.. Só sei que a AF faz isto. Eu lembro de quando eu dançava eu sentia isto. Quando eu nadava eu também sentia isso [...]. [professora, 63 anos, grifo meu]
Outro tema importante que emergiu da fala das entrevistadas é que a prática da AF denota um “cuidar” e um “investir” nelas mesmas. Para algumas delas, inclusive, o tempo que dedicam à AF é o único tempo que possuem para entrar em contato com elas mesmas. Vejamos, por exemplo, a seguinte passagem:
P5- Eu to sempre pensando em fazer alguma coisa. Eu não sei ficar sentada. Eu sou esse tipo de pessoa [...] Não sei ficar quieta [...] eu não sei pedir pros outros. Se os outros não fizerem na hora que eu quero, eu pego e vou eu fazer. Então eu não paro né? E daí, se eu estiver na ginástica, daí eu não to fazendo nada disso. Eu to ocupando o tempo pra mim né. Pro meu eu [...] pro meu próprio corpo, né? [empregada doméstica, 43 anos, grifo meu].
Outro benefício da atividade física é que ela ajuda a melhorar a auto-estima das participantes, conforme podemos observar na fala a seguir:
P6 - A sua auto estima fica mais alta [...]
D- Por que você acha que melhora a auto-estima?
P6- Você começa a pular lá, a fazer novas amizades e aí conversa com as pessoas, uma fala uma coisa diferente da outra. Assim, uma conta um pouco da vida de cada uma e a gente vê que não é só aquele mundinho teu ali, né? Ficar ali em casa, não sair de casa, só fazendo serviço de casa, cuidando de marido, cuidando de filho, você nem sabe o que tá se passando lá fora. E se você sair pra ir pra a ginástica, passa a hora que você nem vê. Nossa é muito bom. Eu adoro [...] Eu me sinto mais nova lá pulando [...] pelo menos uns 20 anos. Tipo assim, dá uma volta no tempo. Só sei que é gostoso. [empregada doméstica, 43 anos]
Conforme podemos perceber na fala acima, a socialização que a AF pode proporcionar pode contribuir no sentido de motivar as pessoas a darem continuidade à prática da AF. Este fator, no entanto, não foi enfatizado pela maior parte das mulheres entrevistadas nesta pesquisa. Talvez isto tenha ocorrido devido ao fato das participantes trabalharem fora, o que significa que todas possuem a oportunidade de interagir com pessoas fora do lar e da família. Se a pesquisa tivesse englobado pessoas profissionalmente inativas, talvez o fator socialização enquanto um fator de motivação para a permanência na prática teria ganho mais destaque.
Para concluirmos, podemos afirmar que para todas as mulheres entrevistadas, a prática da AF é um prazer. Ela lhes proporciona não somente um bem estar físico, mas também—e talvez principalmente—mental. A AF para elas, não é meramente um meio de alcançar uma melhor aptidão física, saúde ou benefícios estéticos em algum dia no futuro. É algo que lhes dá um retorno imediato: Ela lhes alivia as tensões, produz relaxamento, e lhes gera prazer e bem estar no momento em que a prática ocorre.
Considerações finais
Muitos sugerem que a informação sobre a importância da AF para a adesão e aderência à atividade física é um elemento fundamental para a prática de tal atividade (6). De fato, muitos programas de fôlego, como por exemplo, o Agita São Paulo, se baseiam neste princípio (FRAGA, 2005; MATSUDO S., MATSUDO V., ARAÚJO, ANDRADE, ANDRADE, DE OLIVEIRA, BRAGGION, 2003). Se por um lado informações sobre os benefícios da AF à saúde são importantes e certamente influenciam no nível de adesão à atividade física, por outro, elas, por si só não dão conta da aderência a longo prazo neste tipo de atividade. Ao se retirar o acesso às informações e aos estímulos para a prática da AF, muitos tendem a abandoná-la (MARCUS, OWEN, FORSYTH, CAVILL, FRIDINGER, 1998).
Conforme apontam Kunz e Santos (2005), a AF pode se tornar um fator de risco à saúde se feita de forma destituída de significado. Por exemplo, a execução de um determinado tipo de atividade física sob pressão para o alívio do estresse pode se tornar mais um fator de estresse, e portanto, de risco à saúde. Embora este pensamento possa parecer radical, ele oferece elementos para explicar, pelo menos em parte, porque muitos, a despeito de seu grau de informação sobre a importância da AF e apesar de terem condições materiais de se engajarem de forma permanente na mesma, acabam não se engajando. Muitos são obrigados a fazer tantas atividades destituídas de um significado pessoal em seu cotidiano profissional e/ou no âmbito do lar, que em seu tempo de lazer não querem se submeter a nada mais que possa comprometer os seus interesses pessoais e as coisas que realmente gostam de fazer. Quando a atividade é prazerosa e tem um significado pessoal para quem a pratica, ela pode alimentar a motivação e a força de vontade necessárias para que os indivíduos superem todas as dificuldades para não abrirem mão da mesma, como no caso das participantes de minha pesquisa.
Concluímos este trabalho com três considerações no sentido de contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e programas que visem promover a AF com vistas à saúde: (1) Vários fatores influenciam a saúde e a prática—ou não—da AF, como por exemplo, nível salarial, condições e tipo de trabalho, moradia, segurança, grau de escolaridade, acesso a serviços de saúde e à espaços e equipamentos próprios para a AF, etc. (CARVALHO, 2001; FERREIRA, 2001; OWEN, BAUMAN, 1992). Estes fatores, portanto, precisam ser levados em consideração para que se possa proporcionar à população condições materiais para a prática da AF e também para que não se incorra em propagandas enganosas que “culpabilizam as vítimas” por não fazerem AF de forma regular, como se para a maioria da população, fazer tal atividade fosse uma opção. Muitos nem mesmo podem sonhar com esta prática por estarem doentes, por estarem famintos, por estarem exaustos devido à suas longas jornadas de trabalho, ou por não terem condições de segurança para se arriscar nas ruas de sua vizinhança. (2) Necessita-se da promoção de programas no sentido de se educar as crianças já desde cedo sobre a importância da AF para a sua saúde, bem como para ajudá-las a desenvolver o gosto e o hábito de tal atividade. Isto somente será possível se condições concretas para a prática da AF forem ofertadas através do acesso às diferentes opções de espaços e equipamentos e a profissionais bem preparados para orientá-las de forma que este tipo de atividade seja feita de forma adequada, lúdica e prazerosa. (3) Já para a população adulta, necessita-se de políticas públicas, programas, espaços públicos e profissionais que incentivem e possibilitem a prática de uma variedade de atividades físicas. Assim os indivíduos poderão escolher dentro destas, as que mais lhes interessam e que potencialmente lhes proporcionarão um senso de prazer durante a prática, e não somente no futuro distante. Desta forma, as pessoas terão mais chance de não apenas aderir momentaneamente à AF, mas de dar continuidade à mesma de forma regular e permanente.
Referências
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