A experiência da derrota no esporte contemporâneo La experiencia de la derrota en el deporte contemporáneo |
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Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo Pesquisador do Centro de Estudos em Sociologia das Práticas Corporais e Estudos Olímpicos |
Igor Barbarioli Muniz (Brasil) |
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Resumo Trata-se de um artigo de revisão cuja proposta é discutir a derrota para além de uma condição natural do esporte, considerando-a como um momento de aprendizado e crescimento dos jogadores. O objetivo é superar a visão generalizadora de que no esporte da sociedade contemporânea, que privilegia o resultado, a derrota faz com que o jogador sempre se sinta frustrado e não tenha prazer em jogar. Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica, de caráter qualitativo, mostrando que a relevância do resultado está relacionada à funcionalidade do esporte para o grupo social que o pratica, o que faz com que a derrota ganhe conotações e representatividades distintas, podendo ter conseqüências tanto positivas quanto negativas. Unitermos: Esporte. Derrota. Vitória.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010 |
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Introdução
A Educação Física escolar, as escolinhas esportivas e até mesmo as práticas de lazer têm optado em desenvolver o modelo de esporte espetáculo caracterizado pela priorização do alto rendimento, baseado no sistema padrão vitória-derrota e na busca incessante de superar os adversários. Com isso, o esporte antes conhecido por seus valores amadores, de jogos amigáveis, voltados para a satisfação dos participantes, passa a ter a sua importância baseada na excelência, na motivação individual e social direcionadas para a produção, contribuindo para o desenvolvimento de um modelo esportivo altamente competitivo, que desvaloriza os derrotados e glorifica os vencedores.
O esporte nas condições apontadas acima faz com que o divertimento e o prazer de jogar, principais características desta atividade nos primórdios de sua existência, deixem de ser prioridade para que o resultado – principalmente a vitória sobre o adversário – passe a ser a razão de sua realização. Desta forma, o esporte condicionado ao modelo vitória-derrota é questionado por propiciar que o vencedor seja sempre lembrado e valorizado pela suplantação do outro enquanto o derrotado se sente envergonhado pelo objetivo não cumprido, sentindo-se fracassado, não tendo mais prazer em jogar.
O fardo da derrota: o contexto das aulas de Educação Física e das escolinhas esportivas
De uma forma geral podemos dizer que o esporte desenvolvido no tempo livre (das horas de lazer), nas escolinhas esportivas e nas aulas de Educação Física assumiu as características do esporte globalizado (de alto rendimento). Ainda que estes espaços possam representar universos esportivos distintos, onde os participantes atribuem sentidos e significados diferentes ao esporte, fazendo deste uma prática heterogênea, ainda assim ele tem sido desenvolvido predominantemente de forma homogênea, centralizado no modelo esporte espetáculo.
No Brasil, vários foram os discursos que sustentaram este modelo na Educação Física escolar, como por exemplo, a formação de talentos esportivos; a necessidade de um país olímpico; proteção da nação por homens sadios; atender o mercado de trabalho; o esporte como solução dos problemas de saúde pública.
Apesar de o esporte ser considerado uma atividade construída histórica e culturalmente, ele tem se subordinado aos códigos e significados que lhe imprime a sociedade capitalista e, por isso, não se afastou das características a ela inerentes: exigência de um máximo rendimento atlético, norma de comparação do rendimento que idealiza o princípio de sobrepujar, regulamentação rígida e racionalização dos meios e técnicas, revelando o esporte como atividade que acentua as desigualdades sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Conforme Kunz (1994) esta é uma crítica de pensadores da área da Educação Física ao modelo hegemônico do esporte que se encontra predominante nas aulas de Educação Física, tendo sido alvo de discussão mais intensa a partir de 1980, uma vez que prioriza o rendimento, o aprimoramento das capacidades físicas, técnicas e táticas, através de treinamentos exaustivos, repetitivos e muitas vezes desumanos.
Da mesma forma que personagens (atletas, dirigentes e torcedores) do mundo esportivo encontram dificuldades em lidar com a derrota, ainda tendo todo o suporte profissional a seu favor, o mesmo pode acontecer com alunos nas aulas de Educação Física escolar, com alunos/atletas nos treinamentos/aulas das escolinhas1 esportivas, e com participantes de uma prática esportiva de lazer. De acordo com Rubio (2006) há uma explicação para essa intolerância à derrota; o problema pode residir na condição que a derrota assumiu na cultura contemporânea ocidental. Segundo a autora, “Fincada em um modelo de rendimento-premiação no qual não apenas ganhos materiais estão em questão, mas também o reconhecimento de um efeito que garante a imortalidade é possível dizer que a derrota é a sombra social do esporte contemporâneo” (p. 88).
As principais críticas do ensino do esporte relacionado ao modelo de espetáculo e de alto rendimento, podem também serem observadas a partir dos estudos de Betti (1991), Bracht (1992,1997), Coletivo de Autores (1992), Kunz (1994) e Assis de Oliveira (1999), para citar alguns, que apontam nessa orientação o esporte como uma atividade que ocorre de forma descontextualizada, de maneira autoritária, excludente (seletiva), valorizando os mais habilidosos e limitando a compreensão dos alunos sobre o fenômeno esportivo. Além disso, promove o respeito às regras e normas de forma incondicional, sendo uma prática alienante e acrítica, que valoriza somente o vencedor, promovendo individualismo, tendo sessões de aulas com repetições exaustivas de movimentos estereotipados; o que reduz a criatividade, a liberdade expressiva e o caráter lúdico.
No caso específico da Educação Física, a predominância do esporte de rendimento nas aulas, priorizando mais o resultado do que o processo em si, tem afastado ainda mais os alunos de sua prática, especialmente no ensino médio. Darido et al. (1999) apontam alguns motivos deste distanciamento a partir da visão dos próprios alunos investigados em uma pesquisa: aulas sempre iguais, sem novidades; aulas que privilegiam os alunos mais habilidosos; atividades voltadas para o alto rendimento; medo de errar e de ser rejeitado pelos colegas também são outros fatores que afastam os alunos das aulas.
Neira e Mattos (2007) explicam que a priorização das competições esportivas nas aulas de Educação Física tem deixado os alunos insatisfeitos, resultando em uma busca extra-escolar de experiências corporais que possam trazer satisfação e aprendizado, como clubes, academias, projetos sociais e escolinhas esportivas. Acontece que muitos desses espaços sociais têm reproduzido também o esporte de alto rendimento, exigindo dos alunos o mesmo comprometimento e lhes oferecendo experiências semelhantes a da Educação Física escolar; cumprimento de horários, participação em campeonatos, bom rendimento físico-técnico e exigência da vitória nos eventos.
Para Rezer (2006) há uma concepção hegemônica acerca do trabalho a ser desenvolvido nas escolinhas de esportes, advindo principalmente do esporte de alto rendimento, utilizando-o como modelo para o desenvolvimento de aulas (ou treinos), materializando uma metodologia amparada por uma concepção instrumental de rendimento técnico-tático específico.
Além das aulas/treinos se desenvolverem de forma específica, voltada para o aprimoramento do rendimento, as escolinhas esportivas oportunizam também que seus alunos participem de competições organizadas de forma semelhante às profissionais2: presença de público; competição com estrutura de alto nível, com camisa exclusiva (personalizada), árbitros profissionais, atendimento médico, premiação para os melhores jogadores e para o artilheiro, distribuição de medalhas e troféus para os primeiros colocados.
A partir da nossa experiência como professores de escolinhas esportivas, podemos também mencionar um fato que parece comum tanto durante os eventos como também no decorrer das aulas de determinada modalidade esportiva. O que temos visto é que não só os treinadores/professores têm exigido boas performances de seus alunos, mas os próprios pais têm corroborado com esse tipo de atitude, agindo mais como um “treinador-torcedor” do que como pais, preocupados com o bem-estar e, principalmente, com a educação e os bons exemplos que devem ser dados aos seus filhos.
Há momentos em que os alunos são submetidos à pressão que muitos pais e treinadores, com suas idades avançadas, talvez nunca tenham passado; como escutar de outros pais “você é grosso”, “vai pra cima dele que ele é fraco”, “chuta que o goleiro é ‘frangueiro’” e mesmo assim continuar jogando. Misturados aos berros dos pais está as orientações do professor-treinador, exigindo movimentações específicas, jogadas ensaiadas, disciplina tática, um combinado de informações para levar sua equipe à vitória. E após todo o período de jogo, exigindo uma vitória que não veio, o professor-treinador, muitas vezes irritado, lamenta a derrota e diz aos alunos que precisam treinar ainda mais para que na próxima competição consigam vencer. Baseado neste tipo de ambiente, que freqüentemente presenciamos a frase mais adequada e pertinente para descrevê-lo no momento seria: só ganha quem não participa. Só ganha quem fica em casa jogando videogame, tendo as sensações de prazer e satisfação, mesmo que virtuais, que o esporte atual muitas vezes não tem lhes proporcionado.
Sabemos que existem algumas escolinhas que não se propõem a desenvolver uma educação mais abrangente (global), restringindo-se apenas ao aprendizado da modalidade e de seus aspectos técnico-táticos. Em contrapartida, outras escolinhas têm como proposta uma educação global, preocupada em formar um cidadão autônomo, capaz de desenvolver suas responsabilidades como membro da sociedade. Pelo menos assim que são apresentadas as intenções pedagógicas. Entretanto, conforme relata Rezer (2006), percebe-se uma dificuldade muito grande por parte dos docentes, para que saiam das especificidades do esporte, a fim de contemplar um entendimento mais amplo para as relações do esporte com a sociedade, o mundo, e com o próprio ser humano.
O esporte nas condições apontadas acima faz com que o divertimento e o prazer de jogar, principais características desta atividade nos primórdios de sua existência, deixem de ser prioridade para que o resultado passe a ser a razão de sua realização. Rubio (2006) resume a condição que o esporte, condicionado ao modelo vitória-derrota, assumiu na sociedade atual, ao explicar que “[…] o vencedor é lembrado e valorizado pela suplantação do outro, independentemente dos recursos utilizados para esse fim. Ao derrotado restam a vergonha pelo objetivo perdido, a confusão com a incapacidade e a falta de reconhecimento pelo esforço realizado” (p. 88). Rubio (2006) completa que este problema é um reflexo dos valores promovidos pela sociedade ocidental contemporânea, que estão baseados na excelência e na motivação individual e social voltadas para a produção, contribuindo para o desenvolvimento de um modelo esportivo altamente competitivo, que desvaloriza os derrotados e glorifica os vencedores.
Neste caso, o esporte espetáculo pode, através da derrota, levar o jogador a desenvolver dois tipos de atitudes: a desistência da modalidade ou até mesmo da vida esportiva; ou o fortalecimento de condutas que o levem a superação. As constantes frustrações, as derrotas consecutivas e a pressão excessiva que o jogador é submetido podem fazer com que se afaste3 das competições esportivas. Quando a derrota não produz um sentimento de frustração permanente, o indivíduo é capaz de se reorganizar e superar as suas limitações.
Consideramos a derrota como uma boa oportunidade para refletir sobre a atuação do jogador ou equipe, configurando-se um momento importante para o aprendizado, mas que às vezes é evitado ou pouco aproveitado pelo professor-treinador. No tópico a seguir discutiremos os aspectos que consideramos como sendo positivos da derrota.
Quem perde e reflete aprende ao perder, mas quem perde e não reflete não aprende ao perder
Antes de iniciar este tópico vale lembrar que não se pode pensar em uma competição sem a presença de pelo menos um adversário (nem que seja imaginário) e sem que tenha um vencedor e um perdedor. Como bem diz Lovisolo (2009), a competição que se expressa em ganhar e perder é alma do esporte, sendo que participar de uma na qual todos ganham também não faz muito sentido, inclusive podemos dizer que é contra a lógica da competição esportiva.
Então quem participa de uma competição esportiva sabe que pode sair perdedor ou ganhador, característica que faz parte de sua essência. E o indivíduo participa do jogo, mesmo sabendo dessa sua característica. O que não se pode é generalizar, dizer que todos os derrotados se sentem fracassados e que isso causa desprazer em jogar. Por que só quem sai vitorioso se diverte durante uma partida? Quantas vezes, mesmo saindo derrotado, o indivíduo volta a jogar momentos depois? Estas perguntas fazem com que a pesquisa de Stigger (2002), desenvolvida durante o seu doutoramento, seja lembrada por destacar a heterogeneidade do esporte, que conforme a identidade social de cada grupo pode também determinar a representatividade do jogo para seus participantes; neste caso, um grupo social pode decidir a funcionalidade e a intencionalidade de determinado jogo, na medida em que seus membros participam porque se divertem, ou por estar na companhia de amigos, ou para promover a aptidão física, dentre outras tantas possibilidades, que não tem necessariamente como prioridade o resultado da partida.
No caso dos grupos estudados por Stigger (2002), muitos foram os depoimentos que se opuseram a idéia de que no esporte o mais importante é o resultado e todo o prestígio social que se tem através da vitória. Mesmos nas derrotas, vários participantes da pesquisa encontram sentido em praticar o esporte, isto é, encontram prazer na atividade. Nestes grupos, o esporte está associado fundamentalmente à idéia de divertimento.
Diante destas informações encontramos dificuldades em concordar que a maioria dos participantes de um jogo competitivo sente-se fracassado após uma derrota. Pocera (2008) explica que na maioria dos casos os perdedores se conformam com a derrota, sendo confortados pela famosa frase “o importante é competir”, além disso, “A maioria incute em sua mente a idéia de inferioridade, afastando-se das atividades” (p. 15-6). Por outro lado, Ferrando, Otero e Barata (1998, apud Rubio, 2006) optam por uma linha de pensamento na qual concordamos, priorizando o equilíbrio desta relação vitória-derrota, ao afirmarem que uma vitória não é idêntica a uma experiência de êxito, e uma derrota não é em si, uma experiência de fracasso.
Talvez, a palavra experiência, utilizada pelos autores acima referenciados, seja a expressão correta para explicar as implicações de uma derrota. Lovisolo (2009), por exemplo, salienta que é comum os esportistas entrarem em competições sabendo que não poderão ganhar, mas com o intuito de acumular experiência, para superar seus próprios desempenhos anteriores ou para chegar a alguma etapa da seleção, entre outros motivos.
Não há dúvidas de que o jogador vitorioso goza de mais prestígio social e se sente mais confiante por ter alcançado seu objetivo do que o jogador que sai derrotado de uma competição. Conforme Rubio (2006), diante do resultado obtido e comparando-o com o desejado, é compreensível o sentimento de frustração, raiva ou talvez decepção do atleta quando ele não consegue atingir sua meta. Mas a questão que deve ser enfatizada é se em todas as situações de derrota, o perdedor se sente frustrado e fracassado. Há casos em que uma equipe ou um atleta não consegue conquistar uma medalha, no entanto, encontra-se satisfeita com o seu próprio desempenho, superando sua melhor marca e, até mesmo, quebrando um recorde nacional ou continental da modalidade, conquistando o seu objetivo na prova4. Em contrapartida, existem situações em que o ganhador da prova conquista a medalha de ouro, mas declara estar insatisfeito com o seu desempenho, pois sequer chegou perto de sua melhor performance (marca ou tempo).
Reforçamos que a competição que se expressa em ganhar e perder é alma do esporte, mas não pode se resumir a essa condição, pois acreditamos também que seja um momento de aprendizagem, de reconhecer que a partir da derrota se aprende e cresce; através da conversa e da compassividade que se deve ter com os outros (LOVISOLO, 2009). Nesse sentido, quais são os “ganhos” que um jogador pode ter através da experiência da derrota?
Apesar de concordar com Lovisolo, a derrota não deve ser encarada apenas como um processo natural das competições, mas como um momento de reflexão e avaliação da ação do jogador (ou equipe). A partir da derrota se visualiza com mais clareza os erros cometidos, os pontos vulneráveis, apontando aqueles que podem ser melhorados. Além disso, após uma derrota o diálogo se torna mais freqüente entre os companheiros (e professor), pois há uma preocupação em buscar soluções para os problemas encontrados, e, quando, de alguma forma, essa preocupação se transfere para as ações de altruísmo, contribuindo para a evolução e a aprendizagem do outro, as pessoas sentem-se bem em ajudar umas as outras. Nesta situação comunicativa, pode-se ainda compartilhar pontos de vistas diferentes entre os jogadores, revolver problemas e conflitos através das sugestões de cada um para melhorar em determinado comportamento ou proeza, que no momento de um dado jogo tenha sido considerado deficiente ou impróprio.
Diferentemente da derrota, a vitória pode criar poucas oportunidades para refletir sobre as ações dos jogadores ,ou até mesmo sequer as criam, dando a performance a falsa sensação de êxito e perfeição, pois apenas o resultado final é valorizado, enquanto o processo não é considerado, mesmo quando ocorre com muitas falhas, escondendo alguns aspectos negativos da vitória.
Estas interpretações permitem discordar de Rubio (2006), que coloca o momento da derrota como “[…] sempre tidos como próprios para avaliar erros e refazer planejamentos, levando atletas e equipes a se considerarem duplamente punidos.” (p. 88) e completa que “[…] a vitória não é preciso elaboração” (idem). Se não houver responsabilidade pedagógica no ensino do esporte, provavelmente os aspectos negativos da derrota poderão sobrepor-se aos positivos e, então, o momento de reflexão sobre a ação será sempre entendida como próprio para punir o aluno. Achamos realmente que a derrota pode oferecer oportunidades para discutir sobre temas polêmicos do esporte, alguns já citados aqui, que no caso da vitória talvez fossem omitidos ou simplesmente esquecidos pela sensação de êxito criada
Considerações finais
Podemos afirmar que a importância atribuída ao resultado, especialmente à vitória, torna-se subjetiva na medida em que os participantes decidem a funcionalidade e a intencionalidade dada à prática esportiva, ou seja, a sua representatividade, atribuindo a performance relevância secundária, fazendo com que mesmo na derrota, os seus praticantes se divirtam e aprendam, não tendo necessariamente desprazer em jogar.
Nesse sentido, podemos concluir que a derrota pode trazer ganhos para o jogador (ou equipe), pois não se trata apenas de uma condição natural e característica do esporte, mas de um momento de aprendizado, de acumulo de experiência, de reflexão e avaliação sobre a ação do jogador (ou equipe). A partir da derrota se visualiza com mais clareza os erros cometidos, os pontos vulneráveis, apontando com exatidão aqueles que podem ser melhorados. Consideramos um momento de aprendizado da competência comunicativa, pois, compartilham-se pontos de vistas diferentes entre os jogadores, revolvem-se problemas e conflitos através das sugestões de cada um para melhorar em determinado comportamento ou proeza, que no momento de um dado jogo tenha sido considerado deficiente.
Notas
Estamos utilizando a expressão “escolinhas” para fazer referência aos espaços que desenvolvem modalidades esportivas, não de uma forma pejorativa, mas porque são nomeadas assim pelos próprios professores/proprietários.
Acreditamos que a experiência na competição esportiva pode ser proveitosa, independentemente de o participante sair vencedor ou perdedor, pois para as duas condições existem aspectos positivos e negativos a serem considerados. No entanto, o ambiente construído nesse tipo de evento trás consigo uma carga psicológica muito elevada para o participante, devido à pressão tanto do professor-treinador como dos pais e familiares que prestigiam o evento e esperam uma vitória.
O estudo feito por Bara Filho e Gullén Garcia (2008) mostra os principais motivos de desistência no esporte em ex-atletas espanhóis. Foram entrevistados 332 jovens (179 meninos e 153 meninas) que apontaram como as principais causas do abandono: estudo (34% dos ex-atletas), falta de tempo para amigos/namoro/lazer (17%), outros interesses fora do esporte (16%). Diferenças significativas (p < 0,05) ocorreram na comparação de ex-atletas de modalidades coletivas e individuais, com maior incidência dos motivos outros interesses, monotonia dos treinos, desmotivação, esgotamento e excessivo tempo de dedicação como mais significativos para ex-atletas.
Nem sempre o objetivo de um atleta ou de uma equipe é o de se consagrar campeão de uma competição, mas apenas participar e melhorar seu próprio rendimento. Alguns atletas se sentem satisfeito de representar suas nações em um campeonato internacional, como no caso de uma Olimpíada, estando presente entre os melhores atletas de sua modalidade esportiva, sabendo que não tem chances de subir no pódio.
Referências
BARA FILHO, M. G.; GARCIA, F. G. Motivos do abandono no esporte competitivo: um estudo retrospectivo. Rev. bras. Educ. Fís. Esp. v.22 n.4 São Paulo dez. 2008
BRACHT, V. et al. Metodologia do ensino de Educação Física: Coletivo de autores. São Paulo: Cortez, 1992.
DARIDO et al. Educação física no ensino médio: reflexões e ações. Motriz, Rio Claro, v. 5, n.2, p. 138-145, 1999.
LOVISOLO, Hugo. Competição, cooperação e regulações. In: LOVISOLO, Hugo; STIGGER, Marco. Esporte de rendimento e esporte na escola. Campinas, SP: Autores associados, 2009, p. 211-217.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação Física na adolescência: construindo o conhecimento na escola. São Paulo: Phorte, 2000.
POCERA, Joverci Antonio. Análise das relações desencadeadas pelos jogos cooperativos na educação física do colégio agrícola Senador Carlos Gomes de Oliveira. 2008. 94 f. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola). Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.
REZER, Ricardo (Org.). O Fenômeno esportivo: ensaios crítico-reflexivos. Chapecó: Argos, 2006.
RUBIO, Kátia. O imaginário da derrota no esporte contemporâneo. Psicologia & Sociedade. Psicol. Soc. v.18 n.1 Porto Alegre jan./abr. 2006.
STIGGER, Marco Paulo. Esporte, lazer e estilos de vida: um estudo etnográfico. Campinas, SP: Autores asssociados, 2002.
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