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Estudo dos sintomas osteomusculares

em fisioterapeutas. Estudo de caso

Estudio de los síntomas osteomusculares en fisioterapeutas. Estudio de caso

 

*Acadêmicos de Fisioterapia da

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM

**Professor assistente do Departamento de Fisioterapia da UFVJM

(Brasil)

Hércules Ribeiro Leite*

Ana Paula Nogueira Nunes*

José Márcio Mucida Couto*

Débora Alves de Ávila Bueno*

Marcus Alcântara**

herculesfisio@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Dentre os profissionais da área de saúde que apresentam distúrbios posturais estão os fisioterapeutas, cujas atividades implicam em exigências dos sistemas musculoesqueléticos. O objetivo desse estudo foi verificar a presença de sintomas osteomusculares nesses profissionais em um Núcleo de Reabilitação do Sistema Único de Saúde. Através da aplicação de Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares verificou-se que dentre os sintomas musculoesqueléticos relatados nos últimos 12 meses, foram citados a coluna cervical (75%), lombar (75%) e dorsal (75%), e já nos últimos 7 dias relataram a coluna lombar (50%) e dorsal (50%). Entretanto no que se refere aos sintomas relacionados ao abandono de atividades diárias, as regiões corporais responsáveis foram o pescoço (50%) e os ombros (50%). Através dos resultados obtidos neste estudo, concluiu-se que as atividades nessa clínica são de alto risco para o surgimento de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho nos fisioterapeutas.

          Unitermos: Fisioterapeutas. Distúrbios osteomusculares. Dor.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    Atualmente questões relacionadas ao processo saúde doença dos trabalhadores têm sido amplamente discutidas por diversos setores da sociedade. As mudanças no processo e organização do trabalho, o mercado altamente competitivo e a busca por maior produtividade têm levado trabalhadores a vivenciarem, cada vez mais, situações de adoecimento no trabalho, modificando substancialmente o perfil do trabalhador e seus determinantes de morbidade (VIANA e cols., 2003).

    Segundo Coury e cols., (1999) distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (D.O.R.T) são nomes de caráter genérico que procuram caracterizar um conjunto de disfunções e de lesões que possuem fatores comuns em suas origens. Desse modo, têm sido extensamente discutidos os fatores que podem participar da promoção e do agravamento dessas disfunções e lesões. Persiste a controvérsia sobre esses fatores, os quais têm sido agrupados em quatro grandes grupos: fatores individuais que incluem a idade, gênero, hereditariedade, disfunções da tireóide, dos rins, alcoolismo, gravidez, fatores hormonais, disfunções ginecológicas, doenças crônicas como artrite, diabetes e práticas de esportes; fatores psicossociais, incluindo satisfação no trabalho, relação com chefia, relacionamento com colegas de trabalho, personalidade, clima da empresa, autonomia, expectativas individuais, dentre outros; fatores físicos e biomecânicos, incluindo postura, uso de força, repetição de ferramentas e equipamentos, layout do ambiente etc; e fatores organizacionais envolvendo pausa, ritmo, sazonalidade da produção, dentre outros.


    Como relatado por Rodrigo e cols., (2003), as posturas extremas somadas ao trabalho pesado e ao manuseio de peso representam situações de sobrecarga músculo-esquelético e têm sido associadas às lesões sobretudo na coluna vertebral.

    Dentre os profissionais da área da saúde que apresentam sintomas osteomusculares estão os fisioterapeutas, cuja atividade implica em exigências dos sistemas musculoesqueléticos, como os movimentos repetitivos, manutenção de posturas estáticas, levantamento de peso por tempo prolongado, e movimentos e posturas inadequados para a coluna vertebral.

    Segundo Peres (2002) citam como atividades relacionadas aos comprometimentos da coluna lombar em fisioterapeutas atos mobilizar, curvar-se, segurar, transportar, empurrar e puxar os pacientes. Assim, o fato dos fisioterapeutas trabalharem em centros de reabilitação com pacientes altamente dependentes e de sobrecarga física, induz uma efetiva participação dessa classe profissional em um grupo de alto risco de comprometimento músculo-esquelético desde o início da sua carreira profissional.

    Apesar de a fisioterapia ser uma profissão cujo objetivo maior é promover a saúde do indivíduo, na grande maioria dos ambientes de trabalho, as condições ergonômicas são precárias o que proporciona execução de tarefas de trabalho que induzem danos a sua própria condição física no atendimento dos seus pacientes (PERES, 2002).

    O objetivo desse estudo foi verificar a presença de sintomas osteomusculares nos fisioterapeutas de um Núcleo de Reabilitação do Sistema Único de Saúde, e assim, propor alternativas para ajudar na melhoria das condições profissionais e conseqüentemente contribuir para uma melhora da qualidade de vida no trabalho.

Materiais e métodos

    O objetivo primário desse trabalho foi verificar a presença de sintomas musculoesqueléticos em fisioterapeutas de uma clínica do Sistema Único de Saúde. O Objetivo secundário consistiu em identificar possíveis fatores de risco através de uma avaliação ergonômica e correlacionar com a potencial ocorrência dos sintomas nestes profissionais.

    A amostra do estudo consistiu de quatro fisioterapeutas (n=4) que trabalhavam em um Núcleo de Reabilitação em Fisioterapia na cidade de Diamantina (MG). Foi entregue um consentimento livre e esclarecido, e após a coleta dos mesmos deu-se início o registro dos dados. A coleta de dados constou de uma entrevista semi-estrutura, que questionava aspectos como idade, gênero, prática de atividade física regular, carteira assinada tempo de trabalho, carga horária, férias, lazer, área de atuação dentro da fisioterapia, e os principais eventos posturais dentro da rotina de trabalho; e aplicação do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), validado para a língua portuguesa por Pinheiro e cols., (2002). É um questionário que avalia problemas como dor, desconforto ou dormência nos últimos 12 meses, algum problema nos últimos 7 dias e se durante os últimos 12 meses o indivíduo teve que evitar suas atividades normais por causa de problemas osteomusculares, sendo que para cada quesito o fisioterapeuta deveria assinalar a região corporal envolvida,

    Os dados coletados foram registrados em porcentagem e analisados através de gráficos.

Resultados

    Da amostra prevista, quatro fisioterapeutas (100%) foram incluídas no estudo. Todos os participantes eram do sexo feminino (100%), sendo a média de idade de 31 anos (DP=9,29). O índice de massa corporal (IMC) teve média de 23,14 Kg/m2 (DP=3,72), sendo que 25% estavam na categoria de maior risco à saúde (> 25 Kg/m2). Dentre os indivíduos 100% relataram praticar alguma atividade de lazer, sendo que 100% relataram não praticar atividade física regular.

    O tempo de trabalho na profissão variou de 1 a 21 anos. Em relação às áreas de atuação dentro da fisioterapia encontrou-se: ortopedia (100%), neurologia (75%) e outras (25%). A carga horária total teve média de 11,5 horas diárias, variando de 10 a 13 horas, sendo que a carga horária real no núcleo é de 5 horas e a prescrita de 4 horas. No que se refere ao vínculo empregatício 100% era informal.

    Encontrou-se também que tais profissionais não realizavam pausa regular, e que 25% delas faziam uso de medicamentos analgésicos. 25 % já haviam se afastado do trabalho (INSS) por problemas osteomusculares, sendo que 100% das fisioterapeutas relataram que os sintomas vêm se exacerbando com a prática clínica, contudo, 100% informaram não realizar auto-prevenção quanto às lesões. Foram citados também outros distúrbios decorridos por causa do trabalho, são eles: fadiga física, nervosismo, varizes, irritabilidade, ansiedade e perda de interesse pelo trabalho.

    De acordo com a ocorrência de eventos posturais durante a rotina de trabalho (Tabela 1) 100% dos fisioterapeutas relataram: flexão parcial ou total de troco em pé, rotação do tronco em pé, postura dinâmica por tempo prolongado em pé, transferência de pacientes (leito, maca, cadeira de rodas, etc), utilização de técnicas manuais, sustentação de peso na postura em pé, deambulação assistida ao paciente e atividades com elevação dos membros superiores.

Tabela 1. Freqüência de eventos realizados durante a rotina de trabalho pelos fisioterapeutas (n=4)

    Os resultados do QNSO se encontram nos gráficos abaixo. As principais áreas de ocorrência foram: pescoço, ombros, coluna dorsal e lombar, e quadril. Sendo que cotovelos, antebraços, punhos, mãos, dedos, joelhos, tornozelos e pés não foram citados como regiões de distúrbios pelos fisioterapeutas.

    O Gráfico 1 mostra a porcentagem dos sintomas osteomusculares nos fisioterapeutas (n=4) em diferentes partes do corpo nos últimos 12 meses. Observou-se que 100% dos indivíduos citaram sintomas osteomusculares nas regiões de pescoço, coluna dorsal e lombar nos últimos 12 meses, diferente das outras partes do corpo que não atingiram 100% dos valores.

    No gráfico 2 pode-se perceber a presença de sintomas osteomusculares em relação aos últimos 7 dias. Pôde-se notar que a presença desses sintomas não chegou a 100% em nenhuma parte do corpo. Observou-se ainda que esses valores diminuíram em relação aos últimos 12 meses, sendo que os valores que permaneceram maiores em relação às outras partes corporais foram na coluna dorsal (50%) e lombar (50%).

    No gráfico 3 observa-se a porcentagem de abandono das atividades diárias dos fisioterapeutas (n=4) decorrentes de sintomas osteomusculares em diferentes partes do corpo nos últimos 12 meses. Notou-se que as regiões corporais que levaram ao abandono foram pescoço (50%), ombros (50%), e coluna lombar (25%).

Discussão

    Os resultados obtidos nesta pesquisa revelaram alta incidência de distúrbios posturais nos fisioterapeutas. Observou-se que a carga horária de trabalho diária teve significativa representação pela jornada de trabalho que variou de 10 a 13 horas. Como relataram D’Ávila e cols., (2005) fisioterapeutas que trabalham mais de 8 horas diárias em contato direto com o paciente apresentam maior probabilidade de desenvolver desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho (DMRT). Segundo Peres (2002) isso refletiria como uma sobrecarga física e expõe o profissional a riscos de saúde, pois muitas vezes o paciente depende única e exclusivamente da presença e atenção direta desse profissional.

    Dentre os movimentos realizados durante a rotina de trabalho dos fisioterapeutas, os mais freqüentes foram: flexão parcial ou total do tronco em pé; rotação do tronco em pé; postura dinâmica por tempo prolongado em pé; transferência de pacientes (leito, maca, cadeira de rodas, etc.); utilização de técnicas manuais; sustentação de peso na postura em pé e deambulação assistida ao paciente. Trabalhar em uma mesma posição durante muito tempo; trabalhar em posições curvadas e levantar ou transferir pacientes são fatores de risco comumente relacionados à dor lombar entre os fisioterapeutas (D’Ávila e cols., 2005). Segundo Peres (2002) distúrbios nos membros superiores estariam relacionados aos esforços no manuseio de pacientes pesados e dependentes físicos, e, além disso, a fisioterapia utiliza-se de recursos terapêuticos como a eletroterapia, cinesioterapia, mecanoterapia, hidroterapia, termoterapia, e principalmente recursos terapêuticos manuais com movimentos repetitivos dos membros superiores (Peres, 2002). Salienta-se que tais técnicas fisioterapêuticas em si não representariam riscos à saúde do fisioterapeuta, mas sim quando associadas às más posturas poderiam representar fatores de risco relevantes.

    Os resultados obtidos no QNSO relataram uma alta incidência de sintomas osteomusculares nos fisioterapeutas do estudo. A porcentagem desses sintomas nesses profissionais em diferentes partes do corpo nos últimos 12 meses demonstrou a presença de distúrbios na coluna vertebral cervical (75%), dorsal (75%) e lombar (75%), já em relação ao relato desses sintomas nos últimos 7 dias, as regiões mais citadas foram a coluna lombar (50%) e dorsal (50%). Estes achados são reforçados por Peres (2002) de que há um consenso na literatura onde um número cada vez maior de fisioterapeutas vêm sendo acometidos por dores nas costas. Porém, a dor na região da coluna vertebral varia de localização conforme o tipo de atividade desenvolvida, sendo as lesões na coluna vertebral associadas às dores nas costas, tanto em região cervical, lombar como dorsal.

    A porcentagem de abandono das atividades diárias dos fisioterapeutas decorrente de sintomas osteomusculares nos últimos 12 meses esteve relacionada às dores nos ombros (50%), pescoço (50%) e lombar (25%). Sugerimos duas hipóteses para tentar elucidar o fato de que o abandono das atividades diárias se deu pela dor no ombro e pescoço, e não pelas dores nas costas, que foram citadas anteriormente como sintomas prevalentes nos últimos 12 meses e 7 dias. Primeiro, os fisioterapeutas estariam trabalhando mesmo com as dores nas costas e segundo que a intensidade da dor no pescoço e ombros poderia ser superiores às dores nas costas, levando assim ao abandono das atividades.

    Segundo D’Ávila e cols. (2005), a prática de atividade física regular mostrou estar relacionada à diminuição dos casos de DMRT, afirmando que alguns autores sugerem que exercícios físicos ajustam o nível de condicionamento e força muscular às demandas das atividades ocupacionais dos fisioterapeutas. A partir dessa premissa, poder-se-ia influir que o aparecimento dos distúrbios osteomusculares em nosso estudo poderia estar correlacionado à inatividade física, que correspondeu a 100%.

Conclusão

    As atividades nessa clínica são de alto risco para o surgimento de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Desse modo, algumas recomendações relativas aos fatores de risco para os fisioterapeutas como praticar atividade física regularmente, evitar jornadas de trabalho prolongado, prever pausas durante os atendimentos, dar orientações posturais, realizar alongamentos durantes as pausas e promover a melhor adequação da organização da forma de trabalho poderiam minimizar e/ou prevenir novos sintomas osteomusculares nos fisioterapeutas.

Referências bibliográficas

  • Coury, H. J. G e cols. Indivíduos portadores de L.E.R acometidos há 5 anos ou mais: um estudo da evolução da lesão. Rev Bras Fisiot, v. 3, n. 2, 1999.

  • D’Ávila, S e cols. Prevalência de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho em fisioterapeutas da rede hospital SUS-BH, Rev Bras Fisiot, v. 9, n. 2, 2005.

  • Rodrigues, F. L e cols. Comparação entre o duplo flexímetro e o eletrogoniômetro durante o movimento de flexão anterior da coluna lombar. Rev Bras Fisiot, v. 7, n. 3, 2003.

  • Viana, S. O e cols. Caracterização e análise da satisfação da clientela atendida pela fisioterapia do serviço de atenção à saúde do trabalhador/UFMG. . Rev Bras Fisiot, v. 7, n. 3, 2003.

  • Peres, C. P. A. Estudo das sobrecargas posturais em fisioterapeutas: uma abordagem biomecânica ocupacional. Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, 2002.

  • Pinheiro, F. A e cols. Validação do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares como medida de morbidade. Rev Saúde Pública, v. 36, n. 3, 2002.

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