efdeportes.com

Avaliação da qualidade de vida no trabalho de desportistas

profissionais de futebol de um clube de pequeno porte

Evaluación de la calidad de vida en el trabajo de jugadores profesionales de fútbol de un club chico

 

*Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG – Ponta Grossa

**Universidade Tecnologica Federal do Paraná – UTFPR – Ponta Grossa

***Faculdades Integradas de Itararé – FAFIT-FACIC – Itararé

(Brasil)

Evelise Adriane Deloski*

deloskimaia@hotmail.com

Alexandre Emrich Pinto Maia*

aepmaia@hotmail.com

Luiz Alberto Pilatti**

luiz.pilatti@terra.com.br

Bruno Pedroso***

brunops3@brturbo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo objetivou a avaliação da qualidade de vida no trabalho de jogadores de futebol profissionais. Foram coletados os dados de uma população de 26 jogadores profissionais atuantes em uma equipe de pequeno porte da cidade de Ponta Grossa – Paraná. O instrumento de coleta utilizado foi um questionário baseado no modelo proposto por Walton, composto de 35 questões fechadas e seccionadas em oito critérios. Notou-se que os fatores que receberam os menores níveis de satisfação foram Condições de Trabalho (65,83%), Constitucionalismo (62,5%), Oportunidades (55,25%) e Compensação Justa e Adequada (45,75%), enquanto os fatores que apresentaram os maiores níveis de satisfação foram Relevância Social (70,80%), Uso das Capacidades (70,60%), Trabalho e Vida (70%) e Integração Social (68,25%). Conclui-se que apesar de alguns fatores, individualmente, apresentarem um bom nível de satisfação, o resultado final se mostrou regular, atingindo apenas 63,62% de satisfação, estando abaixo do nível considerado satisfatório.

          Unitermos: Qualidade de vida. Trabalho. Futebol profissional.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

1 / 1

1.     Introdução

    O conceito de qualidade de vida tornou-se algo em constante mudança na sociedade atual, pois os fatores que influenciam na vida das pessoas mudam a cada dia. O Grupo WHOQOL (1998, p. 01) definiu qualidade de vida como sendo “a percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores no quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Já Tedesco (2006) cita qualidade de vida algo que envolve aspectos como “a capacidade de realizar tarefas do dia a dia, de cuidar de si mesmo física e funcionalmente, funções psicológicas como bem-estar emocional e mental, as relações sociais e a participação em atividades sociais, a percepção geral de saúde e de dor e a satisfação geral com a vida”. A qualidade de vida não se refere somente à ausência de doenças e ao bem estar físico, mas envolve outros aspectos como religião, cultura, socialização, etc.

    A qualidade de vida tem uma estreita relação com as atividades físicas, conforme citação da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (1996), que referencia a relação entre a saúde, atividade física e qualidade de vida. No mesmo posicionamento a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (CARVALHO et al., 1996, p. 79), afirma “a saúde e qualidade de vida homem podem ser preservadas e aprimoradas pela prática regular de atividade física”.

    O mesmo se pode dizer do conceito de qualidade de vida no trabalho, que, de acordo com Pilatti e Bejarano (2005, p. 89), representa “um indicador da qualidade da experiência humana no ambiente de trabalho”, pois cada vez menos se consegue diferenciar a vida do trabalhador fora e dentro da empresa. A disputa pelas vagas de trabalho tem tornado os trabalhadores marcados em relação às empresas que trabalham.

    A admissão de características de uma empresa ou setor, por um trabalhador como forma de fornecer algum acalento psicológico por se sentir parte de algo que não se sabe quando se deixará de fazer parte e por qual motivo, tem se tornado constante. A disputa por postos de trabalho torna o simples fato de se viver ou não a filosofia da empresa algo com que se preocupar fora do ambiente de trabalho, o que não costuma representar muitas horas no dia.

    Isto torna o trabalho ou fatores ligados a ele presentes, em quase todo momento do dia, na cabeça dos trabalhadores, causando a sensação que o trabalho é um fardo a se carregar. Esta pode ser enxergado como “uma maldição - o que surpreende é que seja tolerável. O trabalhador sofre um sentimento de aflição, um mal estar, uma sensação negativa em relação ao seu trabalho” (BRAVERMAN, 1974 apud PILATTI; BEJARANO, 2005, p. 91).

    O conceito de qualidade de vida no trabalho se desvinculou dos ambientes fabris e se inseriu em todos os ramos laborais. As discussões sobre quais fatores influenciam na produtividade do colaborador, independente do cargo dentro da empresa.

    Os jogadores profissionais de futebol sofrem também com a essa disputa acirrada por melhores postos de trabalho. Correa et al. (2002) define a profissão como sendo a mais exigente e a menos estável, com uma duração media de 11 anos exigindo brutalmente do jogador toda a dedicação e tempo.

    Essa busca incessante por resultados e melhores colocações podem submetê-los a vários fatores que, por sua vez, pode influenciar o seu desempenho naquilo que é o seu trabalho, o jogo de futebol.

    Portanto para conhecer as dificuldades dos principais profissionais do futebol no seu ambiente de trabalho, surge a necessidade de averiguar os níveis de qualidade de vida no trabalho destes profissionais. Avaliar os critérios de cada domínio da qualidade de vida no trabalho, com o objetivo de otimizar as condições de trabalho e minimizar as influências danosas destas interferências causadoras de estresse, com: baixa produção, abandono da carreira entre outros.

2.     Metodologia

    Os dados foram coletados junto à equipe do Operário Ferroviário Esporte Clube, na cidade de Ponta Grossa, estado do Paraná, no primeiro semestre do ano de 2008. Foi avaliada uma população de 26 jogadores com idades entre, 17 e 24 anos. Todos registrados junto ao Ministério do Trabalho, como jogadores de futebol. Os integrantes da população foram voluntários e autorizaram a publicação dos dados. O instrumento de coleta utilizado foi um questionário baseado no modelo proposto por Walton e adaptado por Timossi (2007), composto de 35 questões fechadas e seccionadas em oito critérios, também denominados domínios: Compensação justa e adequada; Condições de trabalho; Uso das capacidades; Oportunidades; Integração social; Constitucionalismo; Trabalho e vida e Relevância social.

    Cada questão disponibilizou cinco opções de resposta, onde o jogador deveria assinalar apenas uma, sendo esta a que retratasse sua condição de satisfação em relação ao domínio avaliado. As opções de resposta era 1- Muito insatisfeito, 2- Insatisfeito, 3- Nem satisfeito nem insatisfeito, 4- Satisfeito e 5- Muito satisfeito. A análise dos dados foi realizada com a utilização do programa Excel, com os cálculos da porcentagem de satisfação e índice de correlação de Pearson.

3.     Resultados

    Com o objetivo de avaliar os índices de qualidade de vida no trabalho de jogadores de futebol profissional em clubes de pequeno porte, foram avaliados 26 jogadores de uma equipe profissional da cidade Ponta Grossa- PR, com média de idade de 20,8 anos e mais de um clube na carreira. Os dados descritivos dos resultados e os índices de correlação estão apresentados na tabela 1 e quadro 1, respectivamente.

    Com relação aos índices de satisfação sobre Compensação justa e adequada, Condições de trabalho, Uso das capacidades, Oportunidades, Integração social, Constitucionalismo, Trabalho e vida e Relevância social, foram encontrados os resultados apresentados no gráfico 1.

Tabela 1. Características descritivas dos resultados obtidos em cada domínio

    Com análise da matriz de correlação entre os fatores, disposta no quadro 1, percebe-se que existe uma relação forte entre os fatores Condições de Trabalho e Uso das Capacidades (0,625) e Constitucionalismo e Relevância Social (0,692). As demais correlações entre fatores não alcançaram o mesmo índice. Porem somente o fator Trabalho e Vida não apresentou correlação final superior ao índice limite de 0,600, demonstrando assim uma correlação final relativamente baixa em relação às correlações finais apresentadas pelos outros fatores.

Quadro 1. Matriz de correlação

 

Gráfico 1. Níveis de Satisfação com relação aos domínios propostos por Walton

4.     Discussão dos resultados

    A pouca disponibilidade de estudos na área especifica da Qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho relacionado ao futebol profissional, dificultam a comparação direta com condições encontradas em outros locais. Essa realidade é reforçada pelo fato de o jogador de futebol ser o único esportista devidamente que possui a profissão registrada no ministério do trabalho, e, a maioria da população desconhecer que ser jogador de futebol é sim uma profissão regulamentada. Entretanto a diversidade de fatores envolvidos no estudo da qualidade de vida possibilita um estreitamento maior com cada fator separadamente.

    O nível total de satisfação encontrado na amostra estudada (63,62%), considerado regular, confirma de certa forma afirmações como as de Correa et al. (2002), que afirma que a carreira média de um jogador que atua em equipes de pequeno porte dura entre 9 e 11 anos. Contrastando com esses dados aparece uma realidade muito diferente em equipes de grande porte em que a carreira dura entre 16 a 18 anos, porém são poucos os casos de jogadores que conseguem manter-se sempre em clubes de grande porte por toda a carreira. Explicando assim, a grande rotatividade de clubes pelos quais esses jogadores atuam em toda sua carreira profissional.

    Analisando separadamente cada fator, podemos identificar Compensação justa e adequada como sendo o menor índice de satisfação apresentado com apenas 45,75% de satisfação. Entretanto Rodrigues (2004) apontou que somente 21,4% dos atletas escolhem o futebol porque pretendem enriquecer através dele. Amaral, Thiengo e Oliveira (2007) afirmam que para 28,6% dos jogadores que abandonaram a profissão, as principais causas foram baixos salários e falta profissionalismo dos dirigentes, confirmando também a satisfação na marca de 62,50% com o fator Constitucionalismo. Mostrando assim que os vencimentos obtidos através do futebol se apresentam abaixo do esperado até mesmo para aqueles que escolheram essa profissão por outro fator.

    Rodrigues (2004) aponta que para 50% dos jogadores o fator principal para a escolha da profissão, foi o fato de serem dotados de um “dom”, e não a vontade de ganhar dinheiro. Os números apresentados por este autor coincidem com os índices encontrados no fator Uso das capacidades, que se apresentou como um dos mais bem avaliados, chegando a 70,60% de satisfação entre os jogadores entrevistados.

5.     Conclusão

    A partir deste estudo conclui-se que diversos fatores influenciam o desempenho do jogador durante sua carreira, bem como a duração da mesma. E o melhor conhecimento de cada um deles, de maneira analítica ou global, é a chave para a otimização dos investimentos em melhorias.

    Apesar de alguns fatores apresentarem bons índices de satisfação, como Relevância Social, Uso das Capacidades e Trabalho e Vida, mesmo assim o índice geral de satisfação em relação à Qualidade de Vida no Trabalho de jogadores de clubes de pequeno porte se apresentou abaixo do nível considerado bom, ou seja, 70% de satisfação, ficando apenas na marca de 63,62%.

    Verificou-se por verdadeiras as hipóteses de baixos índices de satisfação relacionados com salários e condições de trabalho. Além do fator Oportunidades também se encontrar abaixo do nível mínimo de satisfação. Este baixo índice de satisfação se relaciona com a acirrada briga por melhores colocações, principalmente, no mercado dos clubes de pequeno porte, onde a oferta de mão de obra é efetivamente maior.

    A escassez de estudos específicos sobre a profissão dos jogadores de futebol e posteriormente a qualidade de vida no trabalho dos mesmos, mostra a falta de aceitação e reconhecimento da sociedade atual em relação a estes profissionais e seus mercados de trabalho.

Referências

  • AMARAL, P. R. T.; THIENGO, C. R.; OLIVEIRA, F. I. S. Os motivos que levaram jogadores de futebol amador a abandonarem a carreira de jogador profissional. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, v. 12, n. 115, dez. 2007. http://www.efdeportes.com/efd115/motivos-que-levaram-a-abandonarem-a-carreira-de-jogador-profissional.htm

  • CARVALHO, T. D. et al. Posição oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro v. 2, n. 4, p. 79-81, out./dez. 1996 – Out/Dez. Rio de Janeiro, 1996.

  • Correa, D. K. A. et al. Excelência na produtividade: a performance dos jogadores de futebol profissional. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 447-460, maio/ago. 2002.

  • GRUPO WHOQOL. Versão em português dos instrumentos de avaliação da qualidade de vida (WHOQOL). Faculdade de Medicina da UFRGS, 1998. Departamento de Psiquiatria. Disponível em: http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol1.html. Acesso em: 14 abr. 2008.

  • PILATTI, L. A. Qualidade de Vida e Trabalho: perspectivas na sociedade do conhecimento. In: VILARTA, R. et al. Qualidade de vida e novas tecnologias. Campinas: IPES Editorial, 2005. p. 41-50.

  • PILATTI, L. A.; BEJARANO, V. C. Qualidade de vida no trabalho: leituras e possibilidades no entorno. In: GONÇALVEZ, A.; GUTIERREZ, G. L.; VILARTA, R. Gestão da qualidade de vida na empresa. Campinas: IPES Editorial, 2005. p. 85-103.

  • RODRIGUES, F. X. F. Modernidade, disciplina e futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol no Brasil. Sociologias,  Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 260-299, jan./jun. 2004.

  • TEDESCO, J. Avaliação da Qualidade de Vida em participantes da Prova de São Silvestre. São Paulo: USP, 2006.

  • TIMOSSI, L. S. et al. Adaptação do modelo de Walton para avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho. Revista da Educação Física, Maringá, v. 20, n. 3, p. 395-405, jul./set. 2009.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, N° 146, Julio de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados